Não se requer muita imaginação para perceber uma certa ordem (no sentido
filosófico da palavra) quando se rememora a sequência de decisões
judiciais que iniciou com aquele voto do ministro Gilmar Mendes. Em
2016, com Lula e outros réus graduados soltos, o ministro votou a favor
da prisão após condenação em segunda instância. Em 2019, com Lula e seus
amiguinhos, o ministro mudou de ideia e prisão de quem tem bons
advogados ficou para a véspera do Juízo Final.
Essa foi a
ponta de uma corrente de decisões judiciais ordenadas e irrecorríveis.
Na outra, aparecem duas bizarrices da política brasileira: 1ª) Lula
candidato à presidência da República e
2ª) interdição judicial a
quaisquer referências a seu passado recente. Sobre todo um período
triste da nossa história se impôs silêncio. Recaiu sobre aqueles
“malfeitos” uma espécie de sigilo de cem anos, servilmente obedecido
pela mesma mídia que cobriu as denúncias, investigações e julgamentos a
que se submeteram corruptos e corruptores.
Como se
sabe, há uma diferença importantíssima entre as palavras casual e
causal. “Casual” se diz do que acontece por acaso; já a palavra “causal”
refere algo que dá causa a determinado efeito. Acontecimentos fluem
quando se abre a torneira das causalidades.
De outro
lado, tenho bem presente o estupor nacional quando irrompeu na pauta
política a impensável aproximação entre Luiz Inácio e Geraldo Alckmin.
Muito foi dito sobre isso, ao longo de vários meses, sempre na sessão de
curiosidades.
Tratou-se como loucura, devaneio, coisa de terraplanistas
a ideia de que essa aproximação fosse possível. [o maligno, ateu, ex-presidiário, servidor do diabo, das forças satânicas, unir-se a um ex-membro da OPUS DEI.]
Que curvatura
precisaria ter a espinha dorsal de alguém que, um dia disse ser a volta
de Lula à presidência o retorno do criminoso à cena do crime e, noutro
dia, ambicionava ser seu vice-presidente?
A linha das
causalidades seguia seu curso. Tudo que parecia impossível se foi
tornando provável e o provável se convertendo em fato, como se os
movimentos fugissem das leis da mecânica política. Só que não! As
consequências do ingresso de Alckmin na chapa da oposição, mobilizou os
caciques partidários e os “donos do poder” (nas palavras de Faoro) que
farejam habilmente a atmosfera política e institucional mesmo quando
rarefeita. E isso ela não era. Verdadeira enxurrada de siglas
partidárias e patrões da Economia, com apoio das grandes máquinas da
comunicação social, fechou fileiras com a dupla.
Os
primeiros cem dias do novo governo, se para algo serviram, foi para
mostrar que o Poder Executivo, sob a regência do petismo e de Lula, age
com uma obstinação: destruir. Destruir não apenas o que foi feito após
sua saída do poder, mas, até mesmo, a memória do que foi feito.
Editados
com furor missionário, decretos e medidas provisórias destes cem dias
lembram marretas, marteletes demolidores e rompedores, furadeiras e
cortadores de concreto. Derruba tudo!
As atenções
se voltam para Geraldo Alckmin e as especulações do ano passado sobre
os planos dos donos do poder ganham consistência.
E se a sequência de
causalidades estiver seguindo seu curso?
E se Alckmin for, desde o
início, o Plano A, com Lula de Plano B, só cumprindo todo o mandato se
algo der errado? [mesmo com toda a contaminação sofrida por Alckmin ao se associar ao maligno e a sua seita de demônios - lembrando que o antes vulgo 'picolé de chuchu', já não era boa coisa quando era apenas o sucessor de Covas - Alckmin é para o Brasil e milhões de brasileiros que não fizeram o L e outros milhões que fizeram e hoje se arrependem, a melhor, quiçá, a única, opção para o Brasil se livrar de todo o mal que o maligno está ainda iniciando a execução.]
Como Miguel de Cervantes, “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”...
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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