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quarta-feira, 28 de junho de 2023
Ricos ou pobres, conservadores são mais felizes, conclui estudo com quase dois milhões de pessoas - Gazeta do Povo
Eli Vieira - Ideias
Sir
Roger Scruton (1944-2020), filósofo conservador britânico, disse que “A
felicidade não vem da busca do prazer, nem é garantida pela liberdade,
ela vem do sacrifício”. - Foto: Fronteiras do Pensamento
Uma revisão de 1.627 estudos, envolvendo 1,8 milhão de
pessoas de 121 países, confirma uma suspeita sugerida há anos na psicologia
social: os conservadores são mais felizes.
A metanálise conduzida por um grupo
de psicólogos, cuja publicação prévia foi feita domingo (25), também traz um
resultado novo:o status social elevado não é a razão pela qual uma pessoa
conservadora tende a ser mais feliz,uma vez que o mesmo efeito é encontrado
entre indivíduos de status mais baixo.
Em geral, a relação entre o conservadorismo, que os autores
chamaram de “ideologias que apoiam o status quo”, e o bem-estar psicológico foi
baixa e positiva, mas bastante significativa.
Isso quer dizer que ser
conservador eleva levemente a chance de bem-estar, e o efeito é observado com
tamanha consistência que é extremamente improvável (chance menor do que uma em
mil) de o resultado ser fruto do acaso.
Quando
resultados do tipo foram observados antes, alguns pesquisadores
propuseram que isso se explicaria pela hipótese da justificação do
sistema mediada pela estratificação social. A visão até então era a de
que, se uma pessoa não considera a sociedade injusta, é porque é rica,
ou seja, beneficiária do status quo.
A metanálise derruba essa ideia:
para conservadores ricos e pobres, a satisfação com a vida e a
felicidade nada têm a ver com a conta bancária.Também não foi observada
diferença entre os sexos.
Detalhando os resultados Entre os quase dois milhões de participantes, há um excesso de pessoas de países ocidentais (o que não foge do esperado, dadas as diferenças de produção acadêmica entre os países)com bons índices de educação, industrialização, riqueza e democracia. A relação entre bem-estar mental e conservadorismo foi marginalmente maior nesses países, mas ainda positiva no resto do mundo.
Outro enviesamento presente em estudos de psicologia é a
prevalência de estudantes de graduação entre os participantes.
Os autores da
metanálise também levaram isso em conta, concluindo que o efeito é maior nos
graduandos do que nos não graduandos.
Entre os que não são estudantes, a
relação é basicamente a mesma que a do resultado geral. Já entre os estudantes,
a relação entre felicidade e tradicionalismo foi moderada, ou seja, maior que a
média geral.
Quando a ideologia com a qual os
participantes concordavam comunica de forma direta que há justiça e
legitimidade na organização social, aumentava a relação com o bem-estar
psicológico, elevando para moderada (em comparação ao efeito geral
baixo, mas positivo) a conexão entre conservadorismo e satisfação
subjetiva.
A revisão descartou que os pesquisadores
dos mais de mil estudos tenham publicado somente confirmações para suas
hipóteses, de modo a aumentar a confiabilidade dos resultados.
Autores comentam suas descobertas Assinam a revisão os psicólogos Salvador Vargas Salfate, Julia Spielmann e D. A. Briley, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign. O estudo, que ainda não foi submetido a uma revista científica, encontra-se em um banco de artigos preliminares.
O
estudo aponta uma correlação de 7% entre felicidade e conservadorismo.
Embora pareça um efeito pequeno, os autores recordam que, em ciência
psicológica, a classificação “baixa” é em parte arbitrária.
Para efeito
de comparação, eles lembram que outra associação bem aceita pelo senso
comum – felicidade e apoio social (ter por perto pessoas com as quais se
pode contar) – alcança apenas o dobro deste índice em estudos da área.
Os
próprios autores confessam surpresa diante do resultado de que o
conservadorismo associado ao bem-estar não é exclusivo de pessoas com
alto status.“Um indivíduo que está em desvantagem em uma dada área”,
ponderam, “pode endossar uma forma da justificação do sistema que o
beneficia em uma outra área”.
Em suma, as ideologias que não pregam a
derrubada, mas a reforma dos sistemas atuais — o que presume que são
mais positivos que negativos e, por isso, também devem ser conservados —
são adotadas pelos indivíduos por diferentes razões, que não se limitam
ao seu status social atual.
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