Gazeta do Povo
Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.
Ao discursar na abertura da Conferência Sobre Democracia Defensiva, nesta quarta-feira (16), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, falou em combater o avanço do que chamou de “populismo de extrema-direita”, movimento caracterizado, segundo o ministro, pelo uso das redes sociais para compartilhamento de críticas ao sistema eleitoral e às “instituições democráticas”.
“O que nós estamos vendo já há pouco mais de uma década, no mundo todo, é um aumento dos ataques à democracia com estratégias diversas do que ocorreu na década de 1960, principalmente, na América Latina […] Estamos vendo um crescimento do populismo baseado na ideologia de extrema-direita, mas um populismo que, eu diria de forma inteligente, passou a atacar a democracia internamente. Um populismo que verificou a incapacidade de um ataque externo no sentido de romper formalmente com os ideais democráticos e fez toda uma reconstrução estratégica a partir da utilização, da redes sociais, de milícias digitais, para com a desinformação atacar as instituições democráticas e os mecanismos democráticos por dentro”, disse o ministro.
Não vou entrar na polêmica se nossos ministros falam demais da conta ou não, se aceitam palestras em demasia.
Sequer vou entrar na delicada questão de como explicar para um gringo que um ministro de uma corte constitucional que é guardiã das leis existentes se coloca como alguém disposto a "combater" determinada visão ideológica, pois essa missão seria já bastante impossível. Nem mesmo vou adentrar o debate sobre definir extrema direita, conceito que é utilizado pela esquerda, imprensa e ministros supremos de forma um tanto elástica e vaga, para enquadrar qualquer um mais à direita dos tucanos.
Vou me ater a um aspecto menor, ou mais revelador:
- por que Moraes só parece se importar com um extremismo?
Será que o populismo de esquerda não mereceria menção?
Será que comunistas não ameaçam nossa democracia?
Será que políticos que bajulam ditadores cruéis em regimes nefastos não são um tiquinho perigosos?
Será que o narcoestado em avanço na América Latina não deveria estar nas prioridades do nosso combatente democrata?
A fala de Moraes, no fundo, revela a postura ideológica da própria Suprema Corte, e seu viés de perseguição ao que ela considera inadequado para a democracia, enquanto companheiros de ditadores comunistas não despertam qualquer reação ou assombro.
É uma narrativa que serve para justificar a censura em curso, a perseguição a conservadores, o autoritarismo evidente e a "inovação" jurídica - como o próprio Moraes chamou o ativismo que agride as leis vigentes.
A tentativa de reescrever a história tem sido a marca de quem pretende apagar os rastros de uma implacável perseguição ideológica.
Gilmar Mendes, colega de Moraes, chegou a dizer que nunca houve dúvidas sobre as urnas eletrônicas no Brasil. Não?
Então Lula nunca desconfiou?
Ciro Gomes, Simone Tebet, Roberto Requião e tantos outros que "atacaram" as urnas no passado recente foram apenas fruto de nossa imaginação coletiva, ainda que suas falas estejam na internet?
Até mesmo ministros supremos colocaram em xeque, como o próprio Gilmar Mendes, sem falar da Polícia Federal em inquérito para investigar ataque hacker, ou o ministro Fachin quando se mostrou preocupado com a ação de hackers russos.
Nada disso existiu?
Foi coisa da minha cabeça?
Estou ficando louco?
Ou estou vivendo numa distopia totalitária em que todo o passado terá de ser alterado para pintarmos os ministros supremos como os grandes salvadores da democracia e protetores da Constituição?
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo
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