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terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Os dilemas da vacina - Revista Oeste

 Paula Leal

25 perguntas e respostas sobre as principais questões a respeito da vacinação no Brasil

Apesar das indefinições e incertezas que ainda cercam as questões relacionadas às vacinas anticovid-19, há uma série de informações e dados concretos que merecem atenção. Para ajudar a esclarecer algumas das principais dúvidas, a Revista Oeste lista a seguir 25 perguntas e respostas sobre os imunizantes e a vacinação.


1 — Em que estágio estão as principais vacinas no Brasil?
Até o momento, nenhuma vacina recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nem mesmo para uso emergencial. Veja a situação dos quatro imunizantes que realizaram ensaios clínicos no Brasil:
• AstraZeneca/Oxford, em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz): A Fiocruz solicitou nesta sexta-feira, 8, o pedido de uso emergencial para 2 milhões de doses prontas da vacina que serão importadas da Índia.

• Pfizer/BioNTech: a Anvisa concluiu a análise dos resultados dos estudos da fase 3. A fabricante ainda não solicitou pedido de uso emergencial nem registro definitivo da vacina.

• CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan: os resultados dos estudos da fase 3 foram apresentados à Anvisa ontem. O governo federal solicitou nesta sexta-feira, 8, o pedido de uso emergencial da vacina.

• Janssen (braço farmacêutico da Johnson & Johnson): a fabricante ainda não apresentou documentos com os resultados dos estudos da fase 3 e não solicitou pedido de uso emergencial nem registro definitivo da vacina.

2 — Quais as diferenças entre a aprovação para uso emergencial e o registro definitivo de uma vacina?
A aprovação para uso emergencial é temporária e pode ser cancelada a qualquer momento. Seu uso se destina a parcela específica da população, o produto não pode ser comercializado e, portanto, só tem autorização para ser disponibilizado na rede pública. No Brasil, só poderão fazer o pedido para uso emergencial as empresas que realizam testes clínicos de fase 3 no país. São elas: AstraZeneca, Janssen, Sinovac e Pfizer/BioNTech. Já o registro definitivo permite a vacinação em massa, a utilização do imunizante nas redes pública e privada e é permanente.
 
3 — Qual o grau de eficácia das principais vacinas contra a covid-19?
Especialistas explicam que nenhum imunizante é 100% eficaz. O grau de eficácia, no entanto, é importante para definir qual a cobertura vacinal será necessária para frear a doença. A vacina da gripe tem de 40% a 60% de eficácia; a BCG (contra tuberculose), de 70% a 80%, por exemplo. Para a vacina contra a covid-19, a Anvisa estabelece um mínimo de 50% de eficácia como parâmetro de proteção. Nessa hipótese, só uma em cada duas pessoas ficará protegida da doença ao receber a dose da vacina. A outra continuará suscetível ao novo coronavírus.
• Pfizer/BioNTech
Países: Estados Unidos e Alemanha. Eficácia: 95%.
• Moderna
País: Estados Unidos. Eficácia: 94,5%.
• AstraZeneca/Oxford
País: Reino Unido. Eficácia: 70%, em média.
• Coronavac (Sinovac)
País: China. Eficácia: 78%.
• Sputnik V
País: Rússia. Eficácia: 92%, segundo o governo russo, mas testes ainda não foram concluídos.
   
4 — Quantas doses de cada vacina são necessárias por pessoa? E qual o intervalo entre as doses?
Para as vacinas fabricadas pela Pfizer/BioNTech, Moderna, AstraZeneca/Oxford, Sinovac (CoronaVac) e Gamaleya (Sputnik V), são necessárias duas doses, com intervalo médio de 21 dias entre uma dose e a outra. Ainda em avaliação, a Janssen estuda se será necessária a aplicação de uma ou duas doses de seu produto.

5 — É possível tomar doses de diferentes vacinas?

A recomendação de especialistas é não misturar diferentes doses de vacinas. Ou seja, quem iniciar a aplicação com a vacina da Pfizer, por exemplo, deverá aguardar o intervalo e tomar a segunda dose da mesma vacina. Um documento publicado no último dia 31 pela Public Health England admite que não há evidências sobre a intercambialidade das imunizações, embora o coordenador dos ensaios clínicos do imunizante da Oxford tenha defendido a possibilidade de usar uma vacina e depois reforçar com outra diferente.

6 — Posso não querer tomar a vacina?
Pode, mas estará sujeito a restrições ainda não definidas. Em dezembro, a maioria do Supremo Tribunal Federal votou a favor de medidas restritivas para quem se recusar a vacinar-se contra a covid-19. Entretanto, para os ministros do Supremo, vacinação obrigatória não é vacinação “forçada”. Segundo o STF, a obrigatoriedade deve ser imposta pela União, Estados e municípios por meio indireto — ou seja, quem não tomar a vacina pode ser impedido de frequentar determinados lugares, como escolas e transporte público. Hoje, por exemplo, já existe portaria do Ministério da Saúde que condiciona a apresentação do atestado de vacinação obrigatória para recebimento de benefícios sociais concedidos pelo governo, matrícula em creches, pré-escola, ensino fundamental e universidade, assim como para alistamento militar e contratação trabalhista.

7 — É verdade que alguns laboratórios, em seus acordos, incluem termos de isenção de responsabilidade sobre potenciais efeitos adversos de seu produto?
Sim. Fabricantes de vacinas do mundo todo buscaram proteção para seus membros contra processos, em caso de problemas com seus imunizantes contra a covid-19. A AstraZeneca, por exemplo, não responderá a futuras reclamações de responsabilidade de sua vacina. A Pfizer também exige cláusula de isenção de responsabilidade por complicações decorrentes de seu produto. 
Esse foi um dos pontos que emperraram a negociação com o governo brasileiro, mas o laboratório norte-americano já fechou acordos nessas condições com os Estados Unidos, o Canadá e o Reino Unido, países que aprovaram o uso emergencial da vacina. “A velocidade e a escala de desenvolvimento e implementação significam que é impossível gerar a mesma quantidade de evidência subjacente que normalmente estaria disponível por meio de ensaios clínicos e da aquisição de experiência por profissionais da saúde”, informa um memorando da Vaccines Europe, divisão da Federação Europeia das Associações e Indústrias Farmacêuticas (Efpia) que representa empresas como AstraZeneca, GlaxoSmithKline, Janssen, Merck, Novavax, Pfizer, Sanofi, Takeda, Abbott e CureVac. 

8 — Vai faltar seringa para vacinar a população?
Segundo o superintendente da Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos), Paulo Henrique Fraccaro, não haverá falta de seringas no Brasil para a vacinação contra a covid-19. “Não teremos problemas no fornecimento que seja compatível com o volume de vacinas que vamos ter.” Anualmente, as empresas ligadas à Abimo produzem cerca de 1,5 bilhão de seringas. Fraccaro estima que será necessário algo entre 30 e 45 dias para que novos pedidos sejam distribuídos. No pregão realizado pelo Ministério da Saúde (MS) em 29 de dezembro para a aquisição de 330 milhões de kits com seringa e agulha, a pasta conseguiu comprar apenas 2,4% do que desejava. Entretanto, o que emperrou a negociação não foi a falta de produto no mercado, mas o preço apresentado pelo governo, “extremamente defasado da realidade”, diz Fraccaro. O fato é que, com cerca de R$ 44 milhões a mais, o governo teria adquirido 91% da demanda programada no último pregão. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse no último dia 6 que o Brasil tem cerca de 60 milhões de seringas e agulhas disponíveis nos estoques de Estados e municípios. Segundo o general, o número “é suficiente para iniciar a vacinação da população ainda neste mês de janeiro”. Além disso, o governo restringiu exportações e o MS propôs isenção de impostos de importação para itens necessários para a vacinação como forma de evitar a falta de insumos no mercado interno.
 
Revista Oeste, continuar lendo - Paula Leal - Colaborou Artur Piva

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Uma vacina contra a estupidez - Fernando Gabeira

In Blog
Com a vacina no horizonte, a dois meses de completar 80 anos, a Covid-19 me visitou. Se a ideia era me matar na praia, o vírus perdeu. Tornou-se apenas uma memória no meu sangue, na forma de IgG reagente. Um retrato na parede, como dizia Drummond. Pouca febre, muita dor de cabeça: é bom vencer uma batalha, mesmo sabendo que, no final, perde-se a guerra. [os quase 80 anos e o passado agitado do articulista, não deixam dúvidas ser ele 'duro na queda'. No agitado passado perdeu batalhas, agora venceu a peste chinesa.  
A seu favor teve, e tem, um fato reconhecido pelo nosso presidente: devemos combater e nos prevenir contra o coronavírus, mas a covid-19 é na maior parte das vezes uma "gripezinha". Graças a DEUS,  seu índice de contágio é inferior ao da influenza e sua letalidade a torna menos mortífera do que muitas outras doenças tradicionais que continuam, e infelizmente continuarão matando milhares e milhares de brasileiros.]

Ainda assim, estarei na fila da vacina. Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas a Covid-19 tem negado essa crença popular. Bolsonaro está tirando o bumbum da seringa. E o faz em situações diferentes. Em primeiro lugar, quer que as pessoas assumam um termo de responsabilidade ao tomar a vacina. Ele não leu a Constituição no trecho que afirma que a saúde como direito de todos é dever do Estado.

Em segundo lugar, afirma que não vai se deixar vacinar e ponto final. Em muitos lugares do mundo, os estadistas se vacinam em público para estimular as pessoas. Obama, Clinton e Bush se dispuseram a isso. O vice-presidente dos EUA o fez. A rainha da Inglaterra espera na fila de vacinação. Depois de muito resistir à CoronaVac, que chama de vacina chinesa, Bolsonaro decidiu autorizar o general Pazuello a comprá-la, no Instituto Butantan. [essa vacina tem um problema: não aparece, não existe pedidos de registro, encalhou na FASE 3 de TESTE e em todo o mundo conta apenas com aprovação da China e do 'bolsodoria'.]

Aqui, o movimento de tirar o bumbum da seringa é mais sutil. Ele percebeu que não será fácil conseguir vacinas rapidamente, além da CoronaVac. E o exame cotidiano das pesquisas mostra que a incapacidade de oferecer vacinas derrubará seus índices de popularidade. A ideia de sabotar a CoronaVac não era boa. Na década de 1980, no auge da epidemia de aids, o governo francês sabotou uma técnica de exame de sangue, formulada pelo Abbott. Havia uma iniciativa semelhante, porém mais atrasada, no Instituto Pasteur.

Quando se descobriu que o governo empurrou com a barriga a licença de uma técnica que salvaria muitas vidas, foi um deus-nos-acuda. Famílias de hemofílicos entraram na Justiça, houve até uma tentativa de explodir uma bomba. Para simplificar a história: dois diretores do Centro Nacional de Transfusão de Sangue foram condenados a quatro e dois anos de cadeia. São eles Michel Garreta e Jean-Pierre Allain.

Em síntese: atrasar por razões políticas uma vacina que possa salvar vidas dá cadeia. É importante que os militares da Anvisa saibam disso. O próprio general Pazuello também deveria entender. Se for difícil para ele, sempre haverá alma caridosa para explicar com desenhos e animação. Outro dia, vi nas redes um vídeo em que o general Pazuello, numa festa, cantava “Esperando na janela”. O ministro da Saúde cantando numa festinha, em plena pandemia, é sempre estranho. Pazuello já teve Covid. Foi tratado com todos os recursos disponíveis, não lhe faltou leito.

Ao dizer em discurso que não entende a ansiedade de todos nós, ele se esquece de milhões de pessoas que têm medo de não encontrar vaga em hospital, medo da falta de ar, medo de ser intubadas, medo da morte. A frase de Pazuello é a versão edulcorada do “país de maricas” que Bolsonaro enunciou num dos seus discursos no Planalto. No fundo, são pessoas que não entendem o medo em nossa economia psíquica, muito menos as qualidades do feminino. Associam ideias estupidamente.

Percebo agora como subestimei o perigo que Bolsonaro representava em 2018. Calculava apenas a ameaça à democracia e contava com os clássicos contrapesos institucionais: STF e Congresso, imprensa. Não imaginei que um presidente poderia enfrentar uma tragédia como o coronavírus ou precipitar dramaticamente a tragédia anunciada pelo aquecimento global.

Os Estados Unidos passaram por um flagelo semelhante e o superaram, apesar das marcas. A versão tropical é mais devastadora, não só pela profundidade da ignorância de Bolsonaro, mas também pelas circunstâncias. Trump deixa os Estados Unidos com pelo menos uma vacina produzida nos EUA e quantidade de doses contratada suficiente para imunizar o país. No seu lugar, entra Biden: consciência ambiental e sintonia absoluta com a ciência no combate ao coronavírus. [ser recorrente torna-se necessário: quanto estiver disponível para compra a vacina chinesa, ou outra, devidamente registrada na Anvisa ou no FDA, e o governo Bolsonaro se recusar a comprar, pode, e até deve, ser denunciado.

Por conquanto, cabe preocupação aos muitos que desde o inicio da pandemia adotam medidas estapafúrdias, conflitantes, inúteis, quase sempre cerceiam ações governamentais, . Estes certamente terão que prestar contas.]

Não tenho dúvidas de que também vamos acordar do pesadelo. Mas uma importante tarefa, assim como aconteceu com uma geração de intelectuais alemães no pós-guerra, será estudar as causas disso tudo: as raízes no imaginário nacional que nos tornam tão vulneráveis à barbárie, tão seduzidos pelo discurso da estupidez.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira,  jornalista

Artigo publicado no jornal O Globo em 21/12/2020