Hussein Kalout, secretário especial de assuntos
estratégicos da Presidência do Brasil, com passaporte diplomático, é
“selecionado” para vistoria física quando já estava no finger para voo
da American Airlines
Fez muito bem Hussein Kalout, secretário
especial de assuntos estratégicos da Presidência do Brasil, em se
recusar a se submeter a uma inspeção especial em voo da American
Airlines para os EUA. O episódio aconteceu nesta segunda. Só que houve
um desdobramento: ele não pôde embarcar. O nome do que se viu? Bem,
parece que se deu o que costumam chamar por aí de racismo. Vamos ver.
Kalout estava no finger, prestes a
entrar na aeronave. Já havia passado pelo raio-X. Sua mala de mão tinha
sido vistoriada. Do nada, foi o único passageiro a ser retirado da fila
— E QUE SE DESTAQUE: AINDA ESTAVA EM SOLO BRASILEIRO — para uma
vistoria especial, física. Ele viajava com passaporte diplomático e iria
participar, como representante do Brasil, de eventos no Council of the
Americas e no Council on Foreign Relations.
O secretário quis saber por que fora o
escolhido. Ouviu apenas que se tratava de ordens do governo americano…
“Fui a única pessoa a ser retirada da fila, quase entrando no avião,
porque meu nome é árabe. Está evidente que foi racismo”. O nome é árabe. A cara é de árabe, e isso é, quando menos, discriminação racial.
É intolerável sob qualquer aspecto que
se queira, mas se reveste de especial gravidade, aí já no que concerne à
relação entre Estados, que alguém com passaporte diplomático,
funcionário do governo, seja submetido a um constrangimento dessa
natureza: pergunta Kalout. “Não estou pedindo tratamento VIP, só não quero ser humilhado.
É aceitável uma autoridade do governo brasileiro ser submetida a um
constrangimento dentro do aeroporto de Brasília, por regras do governo
americano?”,
A pergunta é retórica apenas: é claro que é inaceitável!
Leio no jornal:
“O secretário havia sido
selecionado para a inspeção e deveria ter passado pela revista antes de
chegar ao portão de embarque. Por alguma falha, ele chegou à porta do
avião com o carimbo no cartão de embarque indicando que ele precisava
ser revistado, mas ainda não havia passado pela inspeção, por isso foi
retirado da fila.”
Não muda nada. Uma seleção bem marota essa, não é mesmo? Bem, tanto houve uma exorbitância que,
informa o secretário, o número dois da embaixada americana no Brasil,
William W. Popp, foi a seu gabinete pedir desculpa. E que fique claro: durante todo o tempo
em que durou o constrangimento, os funcionários da American Airlines
sabiam que Kalout carregava passaporte diplomático. Assim, ele acertou
duplamente: reagiu porque, como indivíduo, a discriminação era evidente.
E o fez também em defesa da soberania do Brasil, que representa os
brasileiros.
“Vai negar, Reinaldo, que boa parte dos
atentados terroristas é cometida no mundo por árabes ou descendentes?”
Não! Não nego. Mas não porque são árabes e sim porque expressam um
entendimento perturbado de uma religião. De resto, isso não justifica o
que se viu, não é? Até porque, vamos convir, sem querer abusar do óbvio,
os agressores, quando atacam, não costumam mostrar a cara, passar por
Raio-X em aeroporto e portar passaporte diplomático. Têm bastado uma
van, um caminhão ou uma panela de pressão com pregos.
Nada contribui mais para corromper a norma do que a aplicação burra da norma.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo