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terça-feira, 5 de setembro de 2023

Perguntas sem respostas sobre 8 de janeiro - Sérgio Moro

Gazeta do Povo - VOZES

CPMI

8 de janeiro
Manifestantes em frente ao Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro.| Foto: André Borges/EFE

A CPMI do 8 de Janeiro caminha para sua fase final e encerramento. No início, o governo Lula era contra a sua instauração. Após a divulgação, em abril deste ano, de vídeos constrangedores da atuação do ministro Gonçalves Dias (do GSI), rendeu-se ao inevitável e permitiu [?] a instalação da comissão de inquérito.

As pessoas que realizaram a invasão dos prédios dos três poderes e que depredaram patrimônio público devem ser punidas na proporcionalidade de sua responsabilidade individual. 
Isso já está sendo feito na esfera policial e judicial, sendo pouco relevante a CPMI para esta finalidade. Todos esperam que tenham um julgamento justo. Pelo menos, neste momento, a maioria já responde em liberdade, o que me parece apropriado já que muitos cometeram excessos levados pelas emoções do momento e do ânimo da multidão.
 
Outro ponto importante da investigação é entender como foi possível acontecer o 8 de janeiro. Sem pretender aliviar a responsabilidade dos invasores, é forçoso reconhecer que as forças de segurança federais e distritais falharam em impedir as invasões. 
Caso tivessem atuado de maneira convergente ou mesmo isoladamente, não teriam tido grandes dificuldades de impedir a invasão ou pelo menos de minorá-la. A apuração das causas dessa falha é fundamental para evitar que se repita.

Até o momento, a responsabilidade pela falha tem sido atribuída exclusivamente à Polícia Militar do Distrito Federal, inclusive com alguns ex-dirigentes presos, mas falta um escrutínio melhor sobre as omissões das forças de segurança federais.

Sem pretender aliviar a responsabilidade dos invasores, é forçoso reconhecer que as forças de segurança federais e distritais falharam em impedir as invasões

A maioria dos parlamentares que compõem a CPMI é da base do governo e tem atuado para impedir esses esclarecimentos. A exemplificar, requerimentos para oitiva do diretor da Força Nacional de Segurança Pública não foram aprovados, mesmo se tratando de uma diligência simples e necessária, já que a Força Nacional estava presente na Esplanada no dia da invasão. ]
É de se duvidar que essa falta de vontade de apurar as omissões das forças de segurança federais seja sanada até o fim da CPMI.

Assim, baseado no que já se encontra comprovado, tomo a liberdade de elencar uma série de perguntas que faltam ser respondidas sobre o ocorrido no dia 8 de janeiro:

As invasões e depredações havidas no dia 8 de janeiro foram resultado de uma ação coordenada e centralizada em um ou mais comandos, ou foi produto de uma ilusão coletiva passageira aliada ao descontrole da turba na Praça dos Três Poderes?

Tendo os órgãos federais de segurança e distritais sido expressamente avisados desde pelo menos o dia 6 acerca dos riscos de invasão de prédios públicos e de vandalismo, conforme alertas feitos pela Abin, como não foi possível, com antecedência, evitar a violência?

Tendo o ministro do GSI, Gonçalves Dias, [homem da confiança total do atual presidente,  incluindo mandatos anteriores] recebido desde o dia 6 alertas de risco de violência e de invasões, inclusive no início da manhã do dia 8, provenientes do diretor da Abin, por que ele não tomou as providências para pelo menos deixar o Palácio do Planalto guarnecido pelo inteiro efetivo da Batalhão da Guarda Presidencial?

Por que o GSI enviou, no dia 6, comunicado ao Batalhão da Guarda Presidencial, responsável pela proteção do Palácio do Planalto, dispensando o reforço da segurança do Planalto nos dias 7 e 8? 

Caso o GSI tivesse uma informação errada sobre os riscos no dia 6, quando mandou a mensagem, por que não retificou sua posição nos dois dias seguintes, antes da invasão, e quando o cenário já era bem mais grave e os riscos se acentuaram?

Por que o GSI solicitou o envio ao Planalto de somente um pelotão do Batalhão da Guarda Presidencial – cerca de 30 soldados – às 11:54 do dia 8, e não de todos os 198 disponíveis e que estavam de prontidão?

Por que o comandante do Comando Militar do Planalto teve, ele mesmo, de tomar a iniciativa de enviar o restante da tropa ao Planalto quando os invasores já estavam em ação, sem que tivesse havido prévia solicitação do GSI?

Se a Força Nacional foi autorizada a agir pelo ministro da Justiça no dia 7 de janeiro, por que ela não foi empregada para prevenir as invasões dos prédios dos três poderes?

Por que o governo escondeu inicialmente os vídeos que mostravam a atuação frouxa do ministro Gonçalves Dias e de seus subordinados dentro do Palácio do Planalto no dia da invasão, sendo depois atropelado pelo vazamento deles à imprensa?

Tendo o ministro Gonçalves Dias sido alertado expressamente do risco de invasão e de violência, ele comunicou o presidente Lula ou outros ministros?

O ministro Gonçalves Dias mandou suprimir, de relatório enviado pela Abin à Comissão de Inteligência do Congresso, a informação de que ele era um dos destinatários dos alertas da Abin de que haveria risco de invasões e de violência, com a finalidade de acobertar a sua omissão no dia 8. 
Assim sendo, outros membros do governo tiveram conhecimento dessa fraude empregada pelo ministro?

Tendo a Força Nacional de Segurança Pública sido autorizada a agir pelo ministro da Justiça no dia 7 de janeiro, por que ela não foi empregada para prevenir as invasões dos prédios dos três poderes?

Tendo sido revelado que quatro pelotões da Força Nacional de Segurança Pública – cerca de 120 soldaldos – ficaram parados no estacionamento do Ministério da Justiça, e que apenas dois agiram, depois da invasões, para retirar os invasores, por que eles não atuaram desde logo para prevenir ao menos a invasão do prédio do Palácio do Planato, ao lado?

Por que o Ministério da Justiça permitiu, em uma situação de urgência e assistindo-se a tudo do prédio do Ministério, a invasão do Congresso, do STF e do Planalto, enquanto os pelotões da Força Nacional ficavam parados, sem uso, no estacionamento do Ministério?

Por que o ministro da Justiça insiste no álibi de que precisaria de autorização do governo do Distrito Federal quando há precedentes de atuação da Força Nacional na Esplanada dos Ministérios, sem que tenha havido autorização do governo distrital, em 2017, 2019, 2020 e até mesmo na posse do presidente Lula?

Por que o ministro da Justiça, quando a ele foram solicitadas as gravações das câmeras do Ministério do dia 8, não disse desde logo que não as teria conservado e, em vez disso, protelou ao máximo o atendimento dessa solicitação até culminar com a informação?

Não se trata de construir teorias da conspiração, de realizar ataques pessoais a membros do governo federal, ou mesmo de aliviar para os responsáveis pela invasão. Estas questões são objetivas e relevantes, e merecem ser respondidas ao povo brasileiro

Somando o efetivo que, naquela data, estava de prontidão – 198 soldados do BGP e 214 da Força Nacional de Segurança Pública –, seria possível evitar as invasões, dissuadir a sua ocorrência ou pelo menos em muito minorá-las.  

Difícil de entender, no contexto, por que ele não foi utilizado antes das invasões para proteger os prédios públicos. Por que esses efetivos, disponíveis, não atuaram?

Uma última questão diz respeito ao presidente Lula. Em entrevista para a Globo News em 18 de janeiro, ele afirmou que o 8 de janeiro teria se tornado possível por um “apagão de inteligência” do governo federal. Atualmente sabemos que a inteligência não falhou e que comunicou o que iria ocorrer a diversos dirigentes de órgãos federais e distritais, via Abin, desde o dia 6. 
O que falhou foi a parte operacional – na parte do governo federal, com a manutenção do BGP e da FNSP paradas e sem ação antes das invasões. 
Lula, no dia 8, estava mal informado e, portanto, não sabia que estava mentindo na entrevista?  
Ou, se ele sabia, já estava construindo um álibi para a primeira grande omissão de seu governo?

Não se trata aqui de construir teorias da conspiração, de realizar ataques pessoais a membros do governo federal, ou mesmo de aliviar para os responsáveis pela invasão. As questões acima são objetivas e relevantes. Elas merecem ser respondidas ao povo brasileiro. O governo quer silenciar. A ver.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

terça-feira, 4 de julho de 2023

General G. Dias tem muito o que explicar à CPMI do 8 de Janeiro - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo - VOZES

Ex-ministro do GSI
 
Na CPMI do 8 de Janeiro, o senador Sergio Moro está insistindo, com mais um requerimento, na convocação do general Gonçalves Dias, que era o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Lula. Como se sabe, ele foi visto circulando no Planalto, enquanto Lula estava em Araraquara e enquanto o ministro da Justiça estava olhando tudo pela janela do seu gabinete no ministério. Moro quer esclarecimentos com base em um documento que o Exército enviou no último dia 30 à CPMI, a pedido da comissão. 
Ali se explicava que a tropa estava em prontidão do Comando Militar do Planalto há referência a duas unidades; devem ser o Batalhão da Guarda Presidencial e o Regimento de Cavalaria de Guardas, que são as guardas do Palácio do Planalto, cerimonial e de segurança, embora não sejam a segurança mais próxima pessoal do presidente Lula  [essa última condição em nada influi no valor,conceito,  das duas unidades - a vantagem, caso fossem da guarda pessoal do petista, seria mais facilidade para prendê-lo, caso recebessem ordens para tanto.]  
E que o CMP só foi avisado por telefone, verbalmente, às 11h54, quase ao meio-dia do dia 8 de janeiro.
 
Moro lembra que o próprio general G. Dias, no depoimento à CPI do Legislativo de Brasília, admitiu ter cancelado avisos da Abin enviados nos dias 6 e 7.  
O general disse também que não podia falar de nenhuma responsabilidade de Anderson Torres, que está em prisão domiciliar,   de férias ["crime": estava no exterior, em gozo de férias, tendo deixado o exercício de suas atribuições, funções,  por conta do seu substituto legal.]assim como o comandante de Operações da PM, o coronel Jorge Naime, que está preso sem motivo nenhum que não seja uma declaração da ex-mulher dele, que disse que ele pretendia fugir, não sei o quê. E ele está aí. Ele estava de folga no dia 8 de janeiro, se apresentou, vestiu a farda e agiu, inclusive foi ferido inclusive. 
O exército ainda esclareceu que chegou um pelotão do BGP e depois, às 12h30, vieram mais 182 soldados. 
Às 14h50, o pessoal começou a entrar no Palácio do Planalto, pela rampa e pelo térreo. 
Depois chegaram mais tropas, que fizeram prisões e evacuação do prédio. É isso que G. Dias está sendo chamado para explicar.
 
Agora, entre nós aqui, a grande explicação que nos devem é: por que os governistas, ou seja, a liderança do governo, comandaram essa votação e, por 22 votos, negaram o requerimento de convocação do general G. Dias?  
Deve ser pelo mesmo motivo pelo qual o governo não queria mostrar as imagens, nem queria CPI. 
Ficamos nos perguntando, será que ninguém avisou o presidente? 
Ele saiu de Brasília naquele dia; deveria ter ficado no Alvorada para comandar a proteção do palácio, mas foi para Araraquara. 
Tudo isso intriga muito o pessoal da CPMI e, de um modo geral, os eleitores, os cidadãos brasileiros. 
Foram 22 votos impedindo a convocação de G. Dias, e agora se insiste para ele vir. A CPI aceitou, mas ele está protelando a data e ficamos nos perguntando por quê.

Bolsonaro entra com recurso, mas sua situação parece irreversível

Jair Bolsonaro entrou com recurso na Justiça Eleitoral contra sua condenação. 
O recurso vai ser examinado pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Ainda pode ter embargo, pode ter agravo, mas, quando a pessoa entra com recurso, não há embargo nem agravo.  
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come: é mais ou menos essa a situação de Bolsonaro, e tudo indica que ela é irreversível. 
Bem diferente da Dilma, que, ao ser condenada, não ficou inelegível por oito anos, como manda a Constituição expressamente, claramente, com todas as linhas da língua portuguesa, que o artigo 13 da Carta Magna diz ser a língua oficial do Brasil. 
Até hoje, temos de lembrar dessa sessão presidida pelo presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, com o Senado presidido por Renan Calheiros, em que a maioria dos senadores optou por rasgar a Constituição.[Resta agora ao ex-presidente JAIR BOLSONARO, se valer de que continua em pleno gozo dos seus direitos políticos, não pode ser votado mas pode apoiar e votar - ainda que a turma do 'establishment' não goste, é fato que as pessoas apoiadas por BOLSONARO COSTUMAM GANHAR; por oportuno, lembramos que temos o atual governador paulista e outros nomes que não serão vencidos.]
 
 Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
 
 Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES




domingo, 22 de janeiro de 2023

A anatomia de um golpe pifado - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Na sua entrevista à repórter Natuza Nery, Lula mostrou que, por instinto, protegeu seu mandato na tarde do dia 8, ao refugar a proposta de decretação do expediente de Garantia da Lei e da Ordem, a GLO. 
Se ele aceitasse a proposta, mobilizaria as Forças Armadas para restabelecer a paz em Brasília. 
Depois disso, sabe-se lá o que aconteceria, mas esse era o caminho defendido também por pessoas que não gostam dele.

Há anos, Jair Bolsonaro sonhava com Apocalipses que chamariam a tropa. Às 17h10min do dia 8, o general da reserva Hamilton Mourão, ex-vice presidente e senador eleito pelo Rio Grande do Sul, escreveu: “Repito que o governo do Distrito Federal é responsável e, caso não tenha condições, que peça ao governo federal um decreto de Garantia da Lei e da Ordem.”

Quando Mourão ofereceu esse caminho, o Congresso, o Planalto e o Supremo Tribunal já haviam sido invadidos. O painel de Di Cavalcanti, esfaqueado, o relógio de D. João VI, atirado ao chão, e o armário do ministro Alexandre de Moraes, arrombado. Às 17h02min, a Agência Brasil informou que uma tropa do Batalhão da Guarda Presidencial estava chegando ao Planalto e o Choque da PM havia retomado o Supremo.

Às 17h55min, foi ao ar a fala de Lula chutando a bola na pequena área ao decretar a intervenção federal na segurança pública de Brasília. Era a exclusão da alternativa da GLO que vinha de seus correligionários.(Esta foi a segunda vez que aliados de Lula tentavam mover a peça errada. No dia do segundo turno, quando a Polícia Rodoviária Federal parava ônibus de eleitores no Nordeste, petistas queriam prorrogar o encerramento da coleta de votos. Nesse episódio, quem tirou a bola da pequena área foi Alexandre de Moraes. Ele percebeu que o adiamento poderia robustecer uma proposta de cancelamento do pleito.)

Só as investigações mostrarão o que havia no panelão do golpe do dia 8 de janeiro. Deixando de lado as palavras, o que não é pouca coisa, trata-se de juntar os pontos.

Desde dezembro, incendiaram-se carros e ônibus em Brasília, numa noite em que a sede da Polícia Federal foi atacada. Quatro torres de transmissão de energia foram derrubadas. Três pessoas já confessaram que preparavam um atentado explodindo um caminhão de combustível nas cercanias do aeroporto e detonando uma subestação de energia. George Washington de Oliveira e Souza, metido nesse projeto de atentado, foi claro: Dariam “início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio.”

A GLO é a prima pobre do estado de defesa proposto no papel guardado pelo ex-ministro Anderson Torres que, por sua vez, é a prima pobre do estado de sítio.

A confiança de Lula
No seu café da manhã com jornalistas, Lula tratou da invasão do Palácio do Planalto e disse o seguinte: “Eu perdi a confiança, simplesmente. Na hora que eu recuperar a confiança, eu volto à normalidade”  “Eu pego no jornal um motorista do (general) Heleno dizendo que vai me matar e que não vou subir a rampa. Outro tenente diz que vai me dar um tiro na cabeça, que não vou subir a rampa. Como vou ter uma pessoa na porta da minha sala que pode me dar um tiro?”

No dia seguinte, o general da reserva Sérgio Etchegoyen -SAIBA MAIS, AQUI, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo de Michel Temer, respondeu:“Passado o triste episódio do dia 8, o presidente Lula, comandante supremo das Forças Armadas, dá uma declaração clara à imprensa de que não confia nas Forças Armadas. Como é que se pacifica o país a partir daí?"

Lula tratava de situações concretas. Noves fora as diatribes do motorista e do sargento, o mundo viu a invasão do palácio presidencial na tarde do dia 8. O prédio, bem como o Palácio da Alvorada, é protegido pelo Batalhão da Guarda Presidencial, e sua inação ficou documentalmente comprovada. Se um general tem o seu quartel vandalizado numa tarde de domingo, o mínimo que tem a fazer é desconfiar da guarda. A raiz dessa desconfiança não precisa ser política, é operacional. Lula não disse que “não confia nas Forças Armadas.” Podia ter sido mais preciso, porém o comentário envolvia uma inação operacional.

Em 1977, quando o presidente Ernesto Geisel decidiu demitir o ministro do Exército, general Sylvio Frota, acautelou-se montando três dispositivos, sem que cada um deles soubesse da existência dos outros. Além disso, escolheu a primeira quinzena de outubro porque, naquele período, de acordo com um rodízio, os palácios estavam sob a proteção do Regimento de Cavalaria de Guarda. Com razão, ele não confiava no coronel que comandava o Batalhão da Guarda Presidencial. (Duas semanas depois, sem estridência, o novo ministro substituiu-o.)

Guarda Nacional
Não podia ser pior, por inútil e redundante, além de mal afamada, a ideia de criação de uma Guarda Nacional para ser encarregada da segurança de uma área específica do Distrito Federal. É inútil e redundante, porque em Brasília há oito polícias, a Civil, a Militar, a Federal, a da Câmara, a do Senado e mais uma para cada Força Armada.[falta apenas a polícia do Poder Judiciário, visto que a que chamam de 'polícia judicial' não foi criada por Lei.]

A ideia seria criar uma Guarda Nacional formada por pessoas aprovadas em concurso público. Nada a ver com milícia, mas o nome remete a uma instituição criada no Império. Depois da Guerra do Paraguai, essa Guarda passou a ser vista com desconfiança por muitos militares. No dia 9 de novembro de 1889, um renomado político e jornalista publicou um artigo intitulado “O plano contra a pátria”, excitando os brios da tropa. Numa excelsa vivandagem, ele dizia: “O exército ir-se-á escoando, batalhão a batalhão, até desaparecer da capital do Império o último soldado, e ficar o Rio de Janeiro entregue às forças do conde d’Eu: a polícia, a guarda cívica, a Guarda Nacional.”

Uma semana depois, a tropa depôs o Imperador, desterrou-o com o genro conde e a família, empossando um marechal. O jornalista foi nomeado ministro da Fazenda. Chamava-se Rui Barbosa.

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domingo, 15 de janeiro de 2023

A controversa ação do GSI com os militares durante a invasão ao Planalto

Órgão responsável pela segurança presidencial dispensou a guarda e depois recuou. Em meio à invasão, não houve pedidos de reforço aos 30 homens 

palácio Golpistas invadiram o Palácio do Planalto //  Hugo Marques/VEJA

Passada quase uma semana após a invasão e a destruição das sedes dos três poderes, o apagão das forças de segurança no último domingo, 8, ainda é um dos principais questionamentos sobre como um grupo de fanáticos conseguiu agir com tanta facilidade e avançar sobre locais que deveriam manter um esquema robusto de proteção.

A entrada dos manifestantes bolsonaristas no Palácio do Planalto rende um capítulo especial que precisa ser desvendado. Sede do Executivo, o local é resguardado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que deve zelar pela segurança do presidente da República e de seus familiares e também dos palácios e residências presidenciais. Cabe ao gabinete coordenar a ação da guarda presidencial exercida por militares.

Um dia antes do protesto, um integrante do GSI enviou uma mensagem ao Comando Militar do Planalto (CMP) solicitando a dispensa dos cerca de 30 homens do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) que estariam no local. Naquele momento, a manifestação já era de conhecimento de todos, e centenas de ônibus levavam milhares de pessoas à capital federal.

O local permaneceu desguarnecido até momentos antes do início da manifestação. Era quase meio dia de domingo quando a decisão do dia anterior foi revista, e o GSI solicitou o envio de um pelotão – os mesmos 30 homens que haviam sido dispensados e que, nitidamente, não dariam conta do volume de manifestantes que já se preparava para descer a Esplanada dos Ministérios.

Naquele domingo, o Comando Militar do Planalto (CMP) tinha um efetivo de cerca de 400 homens de prontidão no local, localizado a cerca de 7 quilômetros do Planalto. A ideia seria deixar o efetivo mobilizado para proteger o Setor Militar Urbano (SMU), onde estava instalado o acampamento montado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. O grupo somente deveria ser deslocado ao Planalto caso houvesse uma solicitação do GSI – o que não aconteceu.

No entanto, quando a situação saiu do controle e os vândalos invadiram a barreira de proteção e avançaram sobre o Planalto, o comando militar decidiu, mesmo sem solicitação, enviar cerca de 100 homens ao local. “Eram 30 homens contra 1.000”, relatou um militar que acompanhou a ação.

Somente após a comunicação de que mais homens estavam se deslocando ao local é que o GSI solicitou um reforço na segurança e pediu o envio de todo o efetivo. No entanto, quando os militares chegaram lá, já era tarde demais, e o cenário era de destruição total. Coube ao grupo articular junto com a Polícia Militar a prisão e a retirada dos manifestantes – o que também rendeu desentendimentos entre as forças policiais.

Os militares do BGP, em sua maior parte, usam um armamento de munição menos letal, como granadas de efeito moral, balas de borracha e cassetetes.[por estarmos um pouco desatualizados sobre as condições operacionais atuais do BGP, vamos opinar de forma limitada. 
Ao que sabemos o efetivo estacionado no Palácio do Planalto, atua mais como um sistema de vigilância de defesa - o tradicional SENTINELA, -  apto a impedir ingresso de intrusos na área sob guarda e que utiliza  armamento letal - acreditamos ainda o FAL .7,62 e que jamais poderia ser utilizado contra uma multidão - o ideal seria empregar a Tropa de Choque do próprio Exército, especialmente da PE -   da PMDF = Bope, comando Tático e outras forças, em operação conjunta,  que além de atuar com um efetivo numeroso dispunha de armamento não letal = gás lacrimogênio, spray de pimenta, escudos e outros meios. 
Loucura total seria empregar a Guarda estacionada no Palácio para conter a multidão = imagine, 30 ou 40 soldados disparando com fuzil, contra milhares de pessoas.
Certamente, o Brasil tomaria o recorde que a China detém, obtido no chamado MASSACRE DA PRAÇA DA PAZ CELESTIAL, no qual tanques foram lançados contra a multidão.]

O GSI é comandado pelo general Marco Edson Gonçalves Dias, responsável pela segurança de Lula nos mandatos anteriores. Durante a transição, o G. Dias, como é conhecido, costumava dizer que era apenas um “pitaqueiro” para assuntos de segurança – ele foi um dos principais responsáveis, por exemplo, pela escolha do comandante do Exército, de quem é amigo pessoal. Mas, desde domingo, o general submergiu e evitou dar declarações públicas. VEJA tentou contato com o órgão desde o início da semana, mas não obteve resposta.

Internamente, há um clima de desconfiança tanto envolvendo o GSI quanto o Exército. Durante conversa com jornalistas, o presidente Lula disse na quinta-feira, 13, que está convencido de que o Planalto foi aberto para os invasores entrarem, e que houve conivência tanto por parte da Polícia Militar quanto por militares “das Forças Armadas aqui de dentro”.[há fortes suspeitas da presença de esquerdistas infiltrados e que já estavam desde cedo dentro do Palácio e que usou os manifestantes para incendiar o clima e fortalecer ações repressivas. Destaque-se que este é um pensamento nosso, editores do Blog Prontidão Total, que não podem não deve,  ser considerado um fato.
Há dezenas de pensamentos, entendimentos, suposições, sobre o que ocorreu,  sendo a acima apresentada a nossa.]

Em nota divulgada na quinta-feira, 12, o GSI informou que a tropa permaneceu “de prontidão” no BGP, e que os reforços foram solicitados “assim que ficou demonstrado o caráter violento dos agressores”.

“Tão logo chegaram mais reforços da tropa de choque do Exército Brasileiro e da Polícia Militar do Distrito Federal, alguns agressores foram retirados e outros contidos no mesmo local, sendo, posteriormente, presos pela Polícia Militar”, informou o gabinete.

Marcela Mattos - Política - Revista VEJA