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quarta-feira, 29 de março de 2023

Oeste é isso - Ana Paula Henkel

 Revista Oeste

A coragem para remar contra o aplauso fácil, para dizer o que é significativo e verdadeiro — e não o que é confortável e conveniente —, para defender políticas, e não políticos

Ilustração: Jorm Sangsorn/Shutterstock

Ilustração: Jorm Sangsorn/Shutterstock  

Há 11 anos, meu telefone tocava às 5h23 da manhã. Era minha irmã, chorando do outro lado, quase sem conseguir falar… “O papai morreu… Ana, minha irmã, o papai morreu…” 

Meu coração parou. 

Fiquei sem ar e entrei em um estado catatônico, como se eu estivesse dentro de uma nuvem, em um sonho estranho e sem poder respirar. Levantei da cama, caminhei dois passos e perdi toda a força em minhas pernas… Tudo ficou escuro na eternidade daqueles cinco ou seis segundos no chão. Aquilo não poderia estar acontecendo. Não poderia ser verdade. “Calma, Ana. Você vai acordar. Você vai acordar…”, eu pensava. Os eternos minutos que se seguiram impunham a realidade diante de um aperto no peito que jamais imaginei sentir.  

Meu pai, meu melhor amigo, meu parceiro, meu mestre, havia, de fato, nos deixado. Não era apenas o meu corpo sem forças que estava no chão. Meu mundo havia desabado diante de um abismo e eu me sentia em um pesadelo. 

Para quem acompanha o meu trabalho há mais tempo, também em outras plataformas, artigos e entrevistas, não é difícil perceber quanto minha vida era estabelecida na relação com o meu pai, quão ele era profundamente importante para mim. Além de um provedor e um exemplo, meu pai era um verdadeiro cristão que seguia o que está escrito em Mateus 6:3 “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”. Ajudou dezenas e dezenas de pessoas sem contar nada para ninguém, histórias que só ficamos sabendo depois de sua morte. 

Curiosamente, em mais uma demonstração de cuidado com um filho precioso, Deus decidiu levar o meu pai em um 19 de março, Dia de São José — protetor da família e dos pais. O mais incrível é que, mesmo depois de sua partida, ele continua tocando muitas vidas de várias maneiras. Seus exemplos e palavras continuam ecoando e auxiliando decisões na vida de muitas pessoas. Quem sabe um dia eu escreva um livro sobre o meu pai, seu legado e como, na magnitude de seus defeitos, ele viveu para servir. E serviu em silêncio. Serviu indivíduos e famílias que nem conhecíamos. A vontade é de começar a escrever esse livro hoje, tamanha saudade que não cabe no peito. 

Detalhe de estátua com Menino Jesus pegando a mão de São José, 
Montepaone, Calábria, Itália | Foto: Shutterstock
Foi com o meu pai que ouvi sobre política pela primeira vez. Foi através do meu pai que me interessei por questões econômicas e com ele me apaixonei por história. 
Foi com o meu pai que ouvi nomes como Reagan, João Paulo II e Margaret Thatcher. 
Foi com o meu pai que aprendi o que era comunismo e por que uma guerra tinha o nome de “Guerra Fria”. 
Foi ao lado do meu pai que vi na TV a queda do Muro de Berlim. 
Foi com o meu pai que ouvi quem era Tancredo Neves. 
Com o meu pai acompanhei os cruzeiros, cruzados, os cortes de zeros e, ao vivo em sua companhia, as incontáveis remarcações de preços nos supermercados. 
Por causa do meu pai, tirei meu título de eleitor aos 16 anos, para poder fazer parte da vida política do Brasil de alguma maneira. 
 
Clique aqui, para continuar lendo
 

Leia também “O desfecho da trilogia sobre o império do mal”

 

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


domingo, 11 de outubro de 2020

Solto pelo STF, André do Rap [chefão do PCC] fugiu para Paraguai, dizem investigadores

Josmar Jozino - UOL

Oito horas depois de ser colocado em liberdade, o narcotraficante André Oliveira Macedo, 43, o André do Rap, teve a soltura cassada pelo ministro Luís Fux, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal). Ao deixar a penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), o chefe do PCC (Primeiro Comando da Capital) prometeu ir para casa, no Guarujá, litoral de São Paulo. Porém, seu destino verdadeiro foi outro lugar. André do Rap chegou de carro até a cidade paranaense de Maringá, onde pegou um avião particular até o Paraguai.

[Em Post de ontem sobre a 'suprema' decisão liberando criminoso perigosíssimo perguntamos: "chega ou querem mais?".

Apresentamos uma nova pergunta, sem retirar a de ontem: "e agora, como fica?". Cabe também perguntar: até quando decisões judiciais que libertam presos condenados a longas penas, ligados a organizações criminosas, serão expedidas tendo como garantia  apenas o compromisso do criminoso de que se apresentará sempre que a Justiça o convocar? = algo do tipo assegurando  ficará em casa ao inteiro dispor das autoridades judiciárias.

Bandidos condenados a longas penas, não podem ser soltos devido filigranas jurídicas.]

As informações são de fontes do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) e de investigadores policiais que seguiram veladamente André do Rap.  André do Rap havia sido solto por determinação do ministro do STF, Marco Aurélio Mello. Por volta das 21h30 de hoje, a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), Luís Fux cassou a soltura do criminoso.

Graças a essas trapalhadas judiciais, os três maiores narcotraficantes do país, ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), deixaram a prisão pela porta da frente, apesar de condenados, e sumiram. Eles são responsáveis pelo envio de dezenas de toneladas de cocaína para a Europa nos últimos anos. Os narcotraficantes foram investigados durante dois anos pela Polícia Federal, na Operação Oversea, deflagrada para desmantelar as ações do PCC nas remessas mensais de drogas para a Europa via porto de Santos, e acabaram denunciados à Justiça Federal por tráfico internacional.

 O Ministério Público do Estado de São Paulo, por intermédio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), não mediu esforços para manter os narcotraficantes atrás das grades. Porém, o Judiciário não deu ouvidos aos apelos dos promotores. Condenado a 15 anos a 6 meses de prisão em primeira instância, André do Rap estava preso desde 14 de setembro do ano passado. Ele foi capturado pela equipe do delegado Fábio Pinheiro Lopes, da Polícia Civil de São Paulo, em uma mansão em Angra dos Reis, litoral sul do Rio de Janeiro.

No luxuoso imóvel, havia dois helicópteros e uma lancha. Só a embarcação foi avaliada em R$ 6 milhões. André do Rap chegou a ter outros 44 barcos. No entendimento do STF, o narcotraficante estava preso desde o final de 2019 sem uma sentença condenatória definitiva, ultrapassando o limite de tempo estabelecido pela legislação brasileira. Ao assinar o alvará de soltura na penitenciária 2 de Presidente Venceslau, presídio destinado a presos do PCC considerados de alta periculosidade, André do Rap foi advertido de que teria de atender aos chamados judiciais e não mudar de residência. O narcotraficante forneceu como endereço a rua Júlio Inácio de Freitas, número 1, em Vicente de de Carvalho, no Guarujá. Para o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco de Presidente Prudente e um dos responsáveis pelas ações de combate ao PCC em São Paulo, André do Rap não vai se entregar e, sim, voltar a comandar o narcotráfico para a maior facção criminosa do Brasil.

Parceria no crime 

Parceiro de crime de André do Rap, o narcotraficante Suaélio Martins Lleda, 55, condenado a 41 anos em regime fechado, foi solto no dia 24 de julho deste ano por decisão monocrática (de um único magistrado) da 13ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Advogados do preso alegaram no pedido de habeas corpus que Suaélio é hipertenso. O traficante internacional foi beneficiado com a prisão domiciliar por ser considerado do grupo de risco para covid-19 na Penitenciária 1 de Mirandópolis, onde o criminoso estava recolhido. No alvará de soltura constava, como endereço fornecido por Suaélio uma importante avenida de Santos. Porém, ele não foi para casa cumprir a prisão domiciliar assim que deixou a cadeia pela porta da frente. 

O Ministério Público recorreu da decisão. Mas quando a 13ª Câmara de Direito Criminal voltou atrás e cassou o pedido de liminar em favor de Suáelio, ele já havia sumido. Segundo Lincoln Gakiya, o criminoso deve estar foragido no Paraguai ou Bolívia. Quem também está até hoje bem longe das grades é Anderson Lacerda Pereira, 40, o Gordo, comparsa de André do Rap e de Suaélio. Uma investigação sobre lavagem de dinheiro conduzida pelo delegado Fernando José Góes Santiago, do 4º DP de Guarulhos, apontou que o criminoso é dono de 38 clínicas médicas e odontológicas e de uma uma empresa de limpeza.

Admirador de Pablo Escobar, narcotraficante colombiano, Anderson também mantinha um mini zoológico em Santa |sabel (SP), além de veículos importados e luxuosas mansões em condomínios na grande São Paulo e na praia Riviera de São Lourenço, em Bertioga, Litoral Norte. O patrimônio dele é estimado em R$ 150 milhões. Anderson foi condenado a sete anos de prisão na Operação Oversea, da PF, por tentar enviar 32 kg de cocaína para a Europa, via porto de Santos, em 2014. A droga era destinada à máfia italiana Ndrangueta, da Calábria. Ele está com prisão decretada pela Justiça de Guarulhos e é procurado pelo crime de lavagem de dinheiro. Em abril de 2010, ele Em abril de 2010, ele havia sido preso pela PF na Operação Alquimia, acusado por tráfico de drogas em Mongaguá. Em agosto de 2011, a 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo mandou soltá-lo por excesso de prazo para formação de culpa.

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