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quarta-feira, 29 de março de 2023

Oeste é isso - Ana Paula Henkel

 Revista Oeste

A coragem para remar contra o aplauso fácil, para dizer o que é significativo e verdadeiro — e não o que é confortável e conveniente —, para defender políticas, e não políticos

Ilustração: Jorm Sangsorn/Shutterstock

Ilustração: Jorm Sangsorn/Shutterstock  

Há 11 anos, meu telefone tocava às 5h23 da manhã. Era minha irmã, chorando do outro lado, quase sem conseguir falar… “O papai morreu… Ana, minha irmã, o papai morreu…” 

Meu coração parou. 

Fiquei sem ar e entrei em um estado catatônico, como se eu estivesse dentro de uma nuvem, em um sonho estranho e sem poder respirar. Levantei da cama, caminhei dois passos e perdi toda a força em minhas pernas… Tudo ficou escuro na eternidade daqueles cinco ou seis segundos no chão. Aquilo não poderia estar acontecendo. Não poderia ser verdade. “Calma, Ana. Você vai acordar. Você vai acordar…”, eu pensava. Os eternos minutos que se seguiram impunham a realidade diante de um aperto no peito que jamais imaginei sentir.  

Meu pai, meu melhor amigo, meu parceiro, meu mestre, havia, de fato, nos deixado. Não era apenas o meu corpo sem forças que estava no chão. Meu mundo havia desabado diante de um abismo e eu me sentia em um pesadelo. 

Para quem acompanha o meu trabalho há mais tempo, também em outras plataformas, artigos e entrevistas, não é difícil perceber quanto minha vida era estabelecida na relação com o meu pai, quão ele era profundamente importante para mim. Além de um provedor e um exemplo, meu pai era um verdadeiro cristão que seguia o que está escrito em Mateus 6:3 “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”. Ajudou dezenas e dezenas de pessoas sem contar nada para ninguém, histórias que só ficamos sabendo depois de sua morte. 

Curiosamente, em mais uma demonstração de cuidado com um filho precioso, Deus decidiu levar o meu pai em um 19 de março, Dia de São José — protetor da família e dos pais. O mais incrível é que, mesmo depois de sua partida, ele continua tocando muitas vidas de várias maneiras. Seus exemplos e palavras continuam ecoando e auxiliando decisões na vida de muitas pessoas. Quem sabe um dia eu escreva um livro sobre o meu pai, seu legado e como, na magnitude de seus defeitos, ele viveu para servir. E serviu em silêncio. Serviu indivíduos e famílias que nem conhecíamos. A vontade é de começar a escrever esse livro hoje, tamanha saudade que não cabe no peito. 

Detalhe de estátua com Menino Jesus pegando a mão de São José, 
Montepaone, Calábria, Itália | Foto: Shutterstock
Foi com o meu pai que ouvi sobre política pela primeira vez. Foi através do meu pai que me interessei por questões econômicas e com ele me apaixonei por história. 
Foi com o meu pai que ouvi nomes como Reagan, João Paulo II e Margaret Thatcher. 
Foi com o meu pai que aprendi o que era comunismo e por que uma guerra tinha o nome de “Guerra Fria”. 
Foi ao lado do meu pai que vi na TV a queda do Muro de Berlim. 
Foi com o meu pai que ouvi quem era Tancredo Neves. 
Com o meu pai acompanhei os cruzeiros, cruzados, os cortes de zeros e, ao vivo em sua companhia, as incontáveis remarcações de preços nos supermercados. 
Por causa do meu pai, tirei meu título de eleitor aos 16 anos, para poder fazer parte da vida política do Brasil de alguma maneira. 
 
Clique aqui, para continuar lendo
 

Leia também “O desfecho da trilogia sobre o império do mal”

 

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 20 de maio de 2022

Luz em tempos de escuridão - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

Enquanto Gorbachev, Reagan e Thatcher desempenharam papéis políticos e militares cruciais, João Paulo II foi o líder espiritual da revolução pacífica que destruiu o comunismo 

Imagem do papa João Paulo II | Foto: Erik Laan/Shutterstock

Imagem do papa João Paulo II -  Foto: Erik Laan/Shutterstock

Diante de tantos desmandos e absurdos pelo mundo, como as atrocidades que vivemos durante a pandemia e que agora se alastram como praga em forma de ações políticas que ferem a liberdade de vários povos; diante de ativismos judiciais no Brasil que mais parecem ter saído das páginas de um manual soviético de poder ou dos parágrafos de uma distopia orwelliana; diante de eleições para lá de suspeitas nos EUA e no Brasil; diante de guerras violentas uma contra os ucranianos e outra que se espalhou pelo mundo contra a liberdade de expressão —, nesta semana decidi que não escreveria sobre nenhum fato ocorrido nos últimos dias. É claro que precisamos estar cientes de todas as nuances de tudo o que acontece à nossa volta, mas também precisamos respirar para prosseguir. Nada melhor do que uma visita ao passado, acessar nossa assembleia de vozes, “olhar nos olhos” de quem emana coragem e parar para refrigerar a alma, mesmo que por apenas alguns minutos, para que possamos continuar caminhando sem desespero, sem desânimo.

Nesta semana, decidi visitar uma das mais importantes influências em minha assembleia de vozes para me alimentar da bravura de quem realmente viu o mal de perto e seguiu sem medo. Sempre que presto visitas a este homem, seja lendo artigos seja vendo seus vídeos, algo acontece. Duas horas depois, como em um transe, ainda estou com os olhos fitados na tela do computador, completamente hipnotizada por seu caráter, sua coragem, sua simplicidade estampados em seu semblante, e pela profunda capacidade que ele tem de revigorar meus pensamentos. Estou falando do papa João Paulo II.

Na Polônia devastada logo após a Primeira Grande Guerra, a jovem Emilia Kaczorowska descobre que está grávida e é aconselhada a abortar devido a muitos problemas de saúde. Além da vida em risco, Emilia estava em uma nação ameaçada por instabilidades, conflitos armados e invasões, e, por isso, um aborto, aconselhado por um dos melhores médicos da região, parecia uma solução plausível. Apoiada por seu marido, a polonesa aceitou o risco de perder a própria vida e decidiu ter o bebê. As palavras do médico de que a gestação de alto risco poderia matá-la ou gerar um bebê que não seria saudável não foram concretizadas. Há 102 anos, em 18 de maio de 1920, na cidade de Wadowice, depois de meses de angústia, nasceu Karol Józef Wotjyla.

A Polônia sofreria com outra terrível grande guerra e, em 1939, com a invasão alemã ao país na Segunda Guerra Mundial, a universidade na qual o jovem Karol estudava foi fechada. Ele foi obrigado a se alistar no serviço militar e trabalhar em uma mina de calcário e, aos 20 anos, o jovem rapaz já havia perdido todos os membros de sua família. Wotjyla se interessou pela vida sacerdotal, mas teve de se dedicar aos estudos de forma clandestina e absolutamente secreta para não ser descoberto pelos alemães. Em janeiro de 1945, as tropas nazistas deixaram sua cidade, e a vida no seminário voltou ao normal. A ordenação sacerdotal de Karol Wotjyla acontece no ano seguinte, em novembro de 1946. Em 1958, então com 38 anos, ele é ordenado bispo auxiliar de Cracóvia e nove anos depois é nomeado cardeal pelo papa Paulo VI. Após 11 anos de intenso trabalho e defesa da fé como cardeal, a Igreja Católica o escolhe para uma nova missão: ele é eleito papa pelo segundo conclave papal de 1978. Os sinos da Basílica de São Pedro, em Roma, anunciavam que Karol Wotjyla, agora João Paulo II, era o novo pontífice.

Não é difícil associar o nome de Joao Paulo II a figuras políticas importantíssimas para o mundo, como Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Não é possível falarmos do atual mundo e todas as liberdades conquistadas até aqui, principalmente com a queda do Muro de Berlim, em 1989, sem o trio que lutou bravamente contra o que Reagan denominou como “o império do mal”: o comunismo. Pode ser tentador caracterizar o papa João Paulo II como um dos inimigos políticos que derrotaram o nefasto regime. Mas isso seria raso e simplista demais. Sua posição desafiou, de fato, o comunismo no reino metafísico antes de qualquer coisa, não na arena política. É claro que podemos enumerar ações estratégicas do papa que minaram algumas bases políticas comunistas. No entanto, a profundidade dos efeitos de suas ações estava no entendimento do erro do comunismo em sua compreensão fundamental do homem, em não ser colocado apenas como uma unidade de trabalho engajada em uma perpétua luta de classes, mas uma criatura feita à imagem de Deus, com uma alma e um destino eterno.

Com um espírito forjado na guerra, João Paulo II estava preparado de maneira única para enfrentar o comunismo. A Polônia perdeu a Segunda Guerra Mundial duas vezes, primeiro para os nazistas e depois para os comunistas, e Karol Wojtyła viveu sob a opressão de ambos. Muito antes de se tornar papa, ele havia concluído que o conflito com o comunismo era, em última análise, um conflito no reino espiritual. O comunismo é inequivocamente ateu. Sua premissa é que o homem é uma unidade de trabalho, engajada em uma luta de classes que, após uma revolução sangrenta, promete produzir um novo homem, aperfeiçoado por meios políticos. O regime totalitário promete a visão material, despida de transcendência
Karol Wojtyła sabia que o homem é feito à imagem de Deus, criado para uma vida com propósito na Terra, com um destino que vai além da matéria.

Pois, em 1979, o papa João Paulo II acendeu um longo pavio espiritual na Polônia que queimaria por dez anos em toda a Europa Central e Oriental, explodindo sob o Muro de Berlim em 1989. As réplicas desse terremoto espiritual, moral e político derrubaram os tijolos remanescente da União Soviética em 1991. Enquanto Mikhail Gorbachev na Rússia, o presidente Ronald Reagan na América e Margaret Thatcher na Inglaterra desempenharam papéis políticos e militares cruciais nesses eventos, o papa João Paulo II foi o líder espiritual dessa revolução pacífica que destruiu o comunismo, libertando 400 milhões de pessoas.

O povo polonês se apegou à fé católica como a única fonte de sua identidade e ressuscitou como nação

A primeira visita do papa João Paulo II à terra natal, em junho de 1979, foi um evento crucial: nove dias que mudariam o mundo. A Praça da Vitória, em Varsóvia, foi transformada de um espaço secular para uma local sagrado quando o povo ergueu uma cruz de 15 metros e construiu um altar elevado onde o papa celebraria a missa. Bandeirinhas coloridas ondulavam acima da praça e enfeitavam quase todas as janelas da cidade. Varsóvia estava transbordando com 3 milhões de pessoas vindas de todas partes para tentar vislumbrar o papa. Da janela de um hotel, o líder do Partido Comunista polonês, Edward Gierek, olhava nervoso. O que diria o papa? O que ele poderia dizer sob os olhos totalitários que vigiavam tudo?

Pois o papa João Paulo II disse ao povo que sua peregrinação homenageava Santo Estanislau, que morreu defendendo a Igreja na Polônia, e que sua morte e suas vidas fazem parte da peregrinação que os poloneses estavam fazendo pela história da Igreja. Em uma homilia histórica, o papa questionava a multidão: “Assim como Cristo enviou os apóstolos para serem testemunhas, a Polônia não se torna agora uma terra de testemunho particularmente responsável?”. Todos sabiam que por mais de um século, a Polônia havia desaparecido dos mapas da Europa, esculpido por seus vizinhos agressivos. O povo polonês se apegou à fé católica como a única fonte de sua identidade e ressuscitou como nação. O papa perguntava-lhes então: “Não é este o lugar adequado para anunciar Cristo com singular humildade, mas também com convicção? Para reler o testemunho de sua Cruz e de sua Ressurreição?”. E com palavras que abalaram o Kremlin, desafiou: “Mas se aceitarmos tudo o que me atrevi a afirmar neste momento, quantos grandes deveres e obrigações surgirão? Somos capazes de suportá-los?”

Papa João Paulo II com o presidente Ronald Reagan, em 1987 | Foto: Wikimedia Commons

As implicações do que o papa estava dizendo começaram a ser absorvidas. O povo compreendeu a importância do momento da história, naquela nação da Polônia, como testemunho de Cristo. O papa os desafiava a afirmar sua fé, “aqui e agora”. Uma onda de aplausos varreu a praça, depois outra ainda mais forte — então aplausos explodiram em ondas que se tornaram estrondosas, enquanto centenas de milhares de testemunhas davam esse sinal de sua fé. O papa não tentou continuar com sua mensagem, mas ficou com a mão erguida como uma afirmação do povo. Juntos, reconheceram o significado dessa expressão catártica em um país onde o regime comunista havia proibido qualquer manifestação pública aberta da fé em Cristo. Por eternos 14 minutos para os comunistas, as pessoas aplaudiram e aplaudiram e gritavam: “Queremos Deus! Queremos Deus!”. Com um sorriso, o papa disse: “As pessoas estão pregando comigo! Cristo não pode ser mantido fora da história do homem em nenhuma parte do globo! A exclusão de Cristo da história do homem é um ato contra o homem. Sem Cristo é impossível compreender a história da Polônia. E a história de cada pessoa se desenrola em Jesus Cristo. Nele se torna a história da salvação”.

Através de muitos relatos, naquele momento, algo inexplicável incendiaria toda a nação. Por nove dias, toda a Polônia havia suspendido sua vida normal para ser ensinada e transformada espiritualmente. Um terço do país, 13 milhões de pessoas, viu o papa pessoalmente e praticamente todos os outros milhões o viram na televisão ou o ouviram no rádio. Sua mensagem elevou o povo da Polônia e evocou a memória de sua autêntica história, cultura e identidade. O povo polonês ouviu e se lembrou de quem eles realmente eram. Ao reunir publicamente milhões dessas pessoas, o papa deu-lhes coragem e dispersou o domínio do medo e do terror. Bogdan Szajkowski, cientista político polonês, descreveu o fenômeno da visita do papa como um “terremoto psicológico, uma oportunidade para catarse política em massa”. Adam Michnik, um proeminente dissidente e não católico, caracterizou a experiência como “uma grande lição de dignidade”. Ele ficou impressionado com a maneira como o papa falou de forma convincente a crentes e não crentes, apelando ao seu “ethos de sacrifício, em cujo nome nossos avós nunca pararam de lutar pela dignidade humana nacional”. João Paulo II havia pedido uma profunda renovação moral sem sequer mencionar os comunistas. Em vez disso, ele apontou o povo para um nível moral mais profundo para reconhecer que eles seriam culpados se permitissem que seu país continuasse como estava. O teólogo polonês Józef Tischner declarou que “a revolução é uma ocorrência no reino do espírito”.

Depois de apenas sete meses na Santa Sé, a mensagem de verdade, dignidade e contenção de João Paulo II se tornou, mesmo de maneira pacífica, uma violenta chama que ardeu impiedosamente para os comunistas na Polônia, inflamando os países vizinhos a se espalhando por todo o Bloco Oriental. Em dez anos, traria às cinzas seu símbolo mais supremo, o Muro de Berlim. Como disse George Weigel, biógrafo do papa João Paulo II: “Esses nove dias em junho de 1979 foram quando o século 20, de fato, virou”.

A notícia da notável visita do papa à Polônia percorreu o mundo, para deleite de muitas pessoas e consternação de outras. As pessoas nos países comunistas vizinhos observaram com espanto as enormes multidões reunidas no país e como não foram dispersadas por balas e tanques soviéticos. Os protestos de 1953 na Alemanha Oriental, as revoltas na Hungria em 1956 e a Tchecoslováquia em 1968 terminaram em derramamento de sangue quando os russos esmagaram a resistência com violência e terror.  
Mas se milhões de poloneses pudessem se reunir abertamente assim em 1979, isso também seria possível em outros países? Como esses eventos na Polônia eram reuniões religiosas e não protestos políticos, e porque permaneceram pacíficos, os líderes comunistas não encontraram provocação suficiente para esmagá-los. Nove dias que semearam mudanças indesejadas. Algo dizia que elas haviam sido desencadeadas a partir daquele momento, e os comunistas não sabiam ao certo como impedi-las.

A Polônia foi o primeiro país a sair da União Soviética, em 1989, realizando suas primeiras eleições livres em junho daquele ano. Os candidatos do Solidariedade elegeram todos os membros do recém-formado Senado, bem como todos os assentos disponíveis para a Câmara. A Hungria proclamou sua independência cortando o arame farpado da Cortina de Ferro em agosto de 1989, deixando as pessoas do Bloco Oriental atravessarem para a liberdade no Ocidente. Após o confronto em Leipzig em outubro, manifestantes em toda a Alemanha Oriental depuseram pacificamente o líder comunista Erich Honecker. O Muro de Berlim caiu em 9 de novembro de 1989. A Tchecoslováquia conquistou sua liberdade durante a Revolução de Veludo, uma série de eventos não agressivos que derrubaram o governo comunista daquele país. A Revolução de Veludo é vista como uma das mais importantes revoluções de 1989. A Romênia foi a única exceção nessa sequência pacífica. Os romenos prenderam e fuzilaram Nicolae Ceauşescu, secretário-geral do Partido Comunista Romeno de 1965 a 1989, segundo e último líder comunista do país.

Usando um pouco de licença poética, pode-se dizer que o que levou dez anos na Polônia levou dez meses na Hungria, dez semanas na Alemanha Oriental, dez dias na Tchecoslováquia e dez horas na Romênia. Esse terremoto moral, espiritual e político continuaria a ressoar por todo o restante da União Soviética, libertando os Estados Bálticos, a Bielorrússia e a Ucrânia, acabando por abalar também as fundações da Rússia. Em 1991, a União Soviética rangeu, deu um último suspiro e entrou em colapso. No dia de Natal de 1991, Mikhail Gorbachev renunciou ao cargo de presidente da União Soviética.

Como mencionei no início deste artigo, pode ser tentador caracterizar o santo papa João Paulo II como mais um inimigo político que derrotou o comunismo. Mas sua mensagem nunca foi de um posicionamento político dessa perpétua luta de classes, como afirmou Marx, mas de uma criatura feita à imagem de Deus, com direitos inalienáveis dados por Ele. João Paulo II nunca tirou os olhos de Deus, e seu coração e sua mente foram como uma bússola apontando para o verdadeiro Norte.

Em visita à minha assembleia de vozes, ficou claro, pelo menos para mim, que no conflito contra o atual império do mal, igualmente covarde e vil, mas travestido com pacotes de falsa bondade, tolerância e “defesa da democracia”, é preciso outras armas. Dê uma chegadinha ali no YouTube, procure por alguns vídeos de João Paulo II, seja na Polônia em 1979 seja em qualquer outra ocasião, e deixe a mágica acontecer com o seu coração e seu espírito. Nossa força também está além de conjunturas institucionais ou políticas. Para derrotar tiranos como Alexandres, Barrosos, Trudeaus ou Bidens, é necessário que entremos para o exército de homens como Wotjyla. Algumas armas não são encontradas em meio a togas, fardas ou Constituições.

Leia também “O ativismo judicial e a barbárie”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 30 de abril de 2021

Recados - Carlos Alberto Sardenberg

Os recados de Biden para a China e sobre a economia [resta saber se o mandatário chinês viu os tais recados, se mereceram ser traduzidos = afinal, a tal reunião  nada produziu, exceto imagens sobre um futuro incerto.

Tanto que famoso jornalista - por merecimento, não por servilismo - considerou que "Na cúpula de Biden, houve só a parte inútil.

Recados de Biden

“Precisamos demonstrar que a democracia ainda funciona” – essa foi a frase mais importante do discurso dos 100 dias de Joe Biden. Parece óbvio que um líder americano diga isso, mas nos tempos de hoje a frase ganha diversos sentidos.  Dirigida ao presidente da China, Xi Jin Ping, significa o seguinte: o sistema americano é superior nos quesitos econômicos e políticos, embora precise de algumas reformas.

O chefão chinês sustenta que o modelo deles é mais eficiente no desenvolvimento econômico e na administração de crises. Não apenas porque seus gestores seriam mais competentes, mas porque não precisam se preocupar nem com as urnas livres e votações no Legislativo, nem com eventuais restrições do Judiciário. Ou seja, a democracia no “modelo chinês”, como chamam a ditadura por lá, funciona melhor que o modelo americano, confuso e lento. [PERGUNTA: alguém lembra quando ocorreu a última morte na China causada pela covid-19? 
já nos países com excesso de democracia, interpretada ou não, os números continuam, infelizmente, diários.] Mas e as liberdades? Ora, tem alguém reclamando? – respondem os chineses.

Eles não admitem, mas sabemos que tem – a começar pelos chineses de Hong Kong, que os ingleses entregaram como democracia capitalista liberal e o governo chinês está transformando numa ditadura com capitalismo controlado pelo Partido Comunista. Dentro da China, é difícil saber. Não tem imprensa livre, nem outro partido. E  daí? – dizem. O importante é que o país cresce, saiu da pandemia rápida e eficientemente, e todo ano tira milhões da pobreza.

Visto assim, a questão proposta por Biden é a seguinte: a democracia e o capitalismo podem funcionar melhor, gerando e distribuindo riqueza em um ambiente de liberdades. Dirão: mas Biden não foi para a esquerda? No critério americano, sim, foi para a esquerda – que está longe de indicar um caminho para o socialismo ou mesmo para um estado de bem estar social como o da França.

No caso de Biden, significa aumentar a atividade dos governos em alguns setores , especialmente infraestrutura, geradores de emprego, e tomar dinheiro dos mais ricos (via impostos) para financiar programas de saúde, renda e educacionais para as camadas mais pobres. O recado agora é interno, para todo o público americano, rico ou pobre. Está dizendo o seguinte: não é possível que o país mais rico do mundo abrigue tantas famílias com renda abaixo da média; não é possível que o país mais rico do mundo não consiga oferecer um bom sistema de saúde e de escolas para os mais pobres.

Pesquisas recentes mostram que a classe média concorda com isso. Muitos ricos também. E mais alguns super-ricos, como Bill Gates e Warren Buffet. Olhando no longo prazo, Biden está movendo o pêndulo. Roosevelt, seu ídolo, aumentou impostos e acentuou a atuação do Estado, como os trabalhistas faziam na Inglaterra. Com o tempo, o Estado e os impostos começam a pesar. Vêm então Reagan e Thatcher para dizer que o Estado não é a solução, é o problema.

Caem os impostos, eliminam-se regulações à atividade econômica, incluindo nas relações trabalhistas. Os países prosperaram. Aí vem Biden e diz: mas muita gente ficou para trás. O Estado pode resgatá-las, com um governo democrático e mantendo a força geradora do capitalismo. Muita gente já está dizendo por aqui: estão vendo? Isso de ajuste fiscal é bobagem, o Estado tem mesmo é que gastar. A  dívida americana, em proporção do PIB, é maior que a nossa. Logo, qual é o problema?

Vários. O governo americano se financia a juro zero. O brasileiro, se quiser colocar título de dez anos, paga 6% reais. A dívida americana é em dólar, moeda aceita no mundo. Os impostos nos EUA são menores do que no Brasil e na Europa, havendo espaço para aumentar.

E, finalmente, mais importante, o Estado brasileiro já gasta demais – mais de 40% do PIB – e não se pode dizer que seja um modelo de eficiência. Nosso problema é outro: é que quando o pêndulo vai para a direita liberal, caímos na dupla Bolsonaro/Guedes.

Aí fica difícil.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

Coluna publicada em O Globo - Economia
 

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Terror islâmico, 15 anos após o 11 de Setembro

Ao se completar 15 anos dos audaciosos ataques terroristas perpetrados pela rede Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001, nas cidades de Washington e New York, há elementos de juízo suficiente para avaliar a dinâmica do terrorismo islâmico contra os “infiéis” ocidentais e os “apóstatas” muçulmanos.

Durante este agitado lapso, não só a rede Al-Qaeda se fortaleceu, senão que surgiu de seu seio o auto-denominado Estado Islâmico (ISIS), muito mais radical e violento do que seu gestor. Hoje, este novo grupo constitui uma séria ameaça contra a liberdade humana, e por suas conotações geopolíticas e estratégicas poderia ser a chispa que inicie uma conflagração maior no sempre convulsionado Oriente Médio.

Desde o ângulo geopolítico internacional, o recrudescimento do terrorismo islâmico coincidiu com o re-assentamento político internacional da Rússia depois da desintegração da antiga União Soviética, o desdobramento econômico e militar da China, a imersão de vários países latino-americanos no socialismo pró-castrista pela mão do venezuelano Hugo Chávez, a Primavera Árabe que estremeceu a estrutura montada com governos inclinados ao ocidente, o desenvolvimento da capacidade nuclear na Coréia do Norte, 16 anos contínuos de desacertados governos nos Estados Unidos, altos e baixos da União Européia, mais atraso no continente africano e extensão das ramificações do jihadismo na Nigéria, Somália, Iêmen, Tanzânia, Quênia, Afeganistão, Paquistão e outros lugares.

As guerras no Iraque e Afeganistão encabeçadas pelos Estados Unidos para derrotar o terrorismo islâmico e a suposta existência de armas de destruição massiva no Iraque, se empantanaram em um empate estratégico de soma zero, no qual os terroristas saíram folgadamente favorecidos, que com armas de infantaria ligeira e os letais homens-bomba, ou o estalido de trampas explosivas se multiplicaram em células jihadistas e multiplicaram o recrutamento de adeptos nos cinco continentes.

No âmbito militar ficou para decantar em doutrina de guerra contra-terrorista a execução de exitosas operações aero-terrestres como a que conduziu Osama Bin Laden à morte, ou a impactante eficiência dos drones guiados por experts em inteligência eletrônica e equipes de especialistas em inteligência tática. É uma guerra de nova geração que pelas condições do problema se estenderá por várias décadas nos quatro pontos cardeais do globo terrestre.

A derrota da riqueza financeira e econômica deixada por Reagan, que começou a ser mal-gasta por Bill Clinton, encontrou em George Bush e Barack Obama dois mandatários inferiores ao desafio de manter os Estados Unidos no topo de seu outrora vertiginoso crescimento econômico.   Por razões politiqueiras, democratas e republicanos se trasladam as culpas dessa debacle sem ir ao fundo do assunto. Por isso, com um discurso agressivo Donald Trump capta adeptos frente a uma candidata que o questiona pelas saídas em falso do magnata, porém, para desgraça dos Estados Unidos e de tantos países interdependentes da grande potência, tampouco é a pessoa adequada para chegar à Casa Branca. A crise de liderança mundial também é evidente nos Estados Unidos.

De quebra, o crescimento geométrico e matemático do terrorismo internacional distribuído pelo mundo mas com epicentro no Oriente Médio, exacerbou a guerra fria entre Arábia Saudita (sunita) e Irã (shiita), a qual se materializou no envio de tropas e recursos de toda ordem para oxigenar as guerras civis na Síria e no Iêmen, o duvidoso acordo de suspensão do projeto nuclear iraniano, o incremento das relações clandestinas da Arábia Saudita com o Paquistão para islamizar a Ásia Meridional e parte da Ásia Central, com o gravíssimo risco da possessão de armas nucleares no Paquistão e Índia, cujos governantes promovem um ódio irreconciliável mútuo.

Por sua parte a Rússia, com óbvios interesses geopolíticos não só nessa região senão no mundo, aproveitou a circunstancial guerra contra a ditadura de Bashar Al Assad na Síria, para entrar no conflito e com o ímã de seu poderio militar atraiu a Turquia que pretende matar dois coelhos com uma cajadada só, tirar vantagens da guerra síria, consolidar-se como o líder muçulmano do Oriente Médio, ser potência e catalizador frente ao Ocidente e eliminar a sangue e fogo os independentistas curdos. 

O problema se agrava para a Turquia e para o resto do mundo, devido à mentalidade ditatorial de seu presidente Erdogan, o descontentamento de um amplo setor militar turco com seu governo, a presença do ISIS em seu território, a pressão dos Estados Unidos e Europa para que combata com maior eficiência toda a infra-estrutura terrorista, e a necessidade de manter boas relações com Israel.

Em síntese, à previsível e marejada dinâmica de mudanças geopolíticas deduzíveis e esperadas depois da queda do muro de Berlim, se acrescentou com força irresistível o incremento do terrorismo islâmico no mundo que, como já se disse, poderia ser a chispa que desate uma conflagração maior em um mundo no qual não há líderes com estatura similar à de Churchill, Roosevelt ou De Gaulle, porém há sim condições muito mais tensas que as que originaram a Segunda Guerra Mundial.

Essa é a mais clara herança que os ataques terroristas do 11 de setembro de 2001 deixaram nos Estados Unidos, ao coincidir com as mudanças permanentes da ordem mundial.


TraduçãoGraça Salgueiro
 

terça-feira, 26 de abril de 2016

Bolsonaro e a verdade sufocada pelo MBL e seus comparsas



Tirar Dilma, prender Lula e banir o PT é apenas o inicio - Professor Olavo de Carvalho

Fernando Holiday, cria do MBL e um de seus coordenadores, numa tentativa patética de reforçar suas falas, sempre inicia seus discursos dizendo que é "negro, gay e da periferia" (sic).

Puxa vida, é mesmo? Se você não falasse, ninguém perceberia!  Não sei se Fernando age 24 horas por dia como parece ser em seus vídeos -- histérico, exageradamente dramático, fora do tom, cheio de gesticulações, de afetação, de trejeitos e histriônico, diga-se de passagem --, mas a impressão fica é a de que aquilo ali é tudo pose, que ele age como um ator. A partir do momento que seus atributos pessoais e gestos precisam ter mais destaque e evidência que o conteúdo do que você tem a dizer, seu discurso fica em segundo plano e sua performance evidencia uma farsa.

Ou tem alguém explorando a situação do Fernando e maliciosamente orientando-o a agir como um militante de sinal trocado (mero boneco de ventríloquo), ou ele realmente ainda está contaminado de luta de classes e gramscismo ao ponto de acreditar que, ao agir assim, irá blindar seus argumentos, realmente convencido de que está arrebentando a boca do balão. Não sei qual o caso do garoto, mas ele parece sinceramente acreditar que essa estratégia irá elegê-lo futuramente a algum cargo dentro do estamento burocrático, que ele, como libertário, diz tanto odiar. Vamos ver até que ponto os eleitores de Direita irão tolerar tal comportamento sem questionar. O sujeito pensa que essa ferramenta retórica lhe concede, automaticamente, superpoderes para falar qualquer merda sem que seja contestado e criticado. Quem discordar é racista, "homofóbico" e preconceituoso. 

 Uma atitude não muito diferente da de um ex-BBB -- que Fernando diz combater, mas que transformou-se em seu arquétipo oposto. Os Holidays da vida é que são a outra face do ex-BBB, e não Jair Bolsonaro, como têm afirmado gente como Reinaldo Azevedo, Leandro Narloch e Antagonistas (Diogo Mainardi, Mário Sabino e Cláudio Dantas).

Autodescrever-se antes de sua fala como negro, gay, da periferia -- ou qualquer outra característica que o valha -- não lhe dá salvo-conduto para opinar com ares de autoridade sapiencial em assuntos dos quais você não sabe nada a respeito. Eu tenho inúmeros amigos negros, gays e da periferia que não precisam ficar se gabando e usando esse fato como argumento, pois se garantem. Eu mesmo recebi Bolsa Família e, quando cito isto, é para falar que usei a grana para ir para a lan house estudar, já que, por também ser pobre, eu não tinha computador e internet na minha casa da periferia. Diferente do Fernando eu só tenho a melanina na pele e a orientação sexual. Estudei com Olavo de Carvalho usando a grana do Bolsa Família, e através dele conheci o outro lado da história sobre o regime militar, o lado do contra-golpe aos comunistas em 1964. Foi com a grana do Bolsa Família que eu li, entre diversos livros, aquele de autoria do Coronel Brilhante Ustra.

Agora vem esse moleque do Holiday e divide quatro deputados federais, colocando Glauber e Gian Uilis na extrema-esquerda e Eduardo e Jair Bolsonaro na extrema-direita, e em seguida diz que, entre comunistas assassinos e coronéis torturadores, ele escolhe lutar até a morte pela liberdade (lutar de que forma, contra o quê e contra quem, meu filho?), como se comunistas assassinos representassem definitivamente a extrema-esquerda e coronéis torturadores representassem a extrema-direita.

É como se numa luta de boxe o sujeito falasse que está torcendo para o Palmeiras. Não é questão de escolher lado e tomar posição, mas de esclarecer os fatos e encontrar a verdade. Primeiro: não há provas razoáveis de que Ustra tenha cometido tais torturas (apenas alegações verbais dos próprios guerrilheiros comunistas e assassinos da época, sem exame de corpo de delito, cicatrizes, fotos, nem mesmo daqueles que foram presos e posteriormente exilados em outros países). Segundo: tão somente combater comunistas não torna ninguém de extrema-direita. Essa associação de tortura com os Bolsonaros e à Direita não cola. Se assim o fosse, Stalin seria de Direita ao mandar matar Trotsky. 

A história do comunismo se resume em comunistas matando comunistas com a justificativa de que o comunista assassinado havia se tornado um inimigo da Revolução, um burguês, ou seja, alguém da Direita. Tirando o anticomunismo, o regime militar brasileiro se encontra à esquerda do espectro político, com suas monstruosas estatais construídas com dinheiro da alta carga tributária, sua supressão das liberdades civis, sua censura, sua perseguição às lideranças conservadoras, sua proteção à Esquerda não-armada e a sua conivência com o marxismo cultural, na estratégia da panela de pressão do general Golbery do Couto e Silva. Leia o livro 'Ideais Traídos' e veja o que diz o general Sylvio Frota, ex-ministro do Exército do governo Geisel.

Situação diferente do Chile de 1973 a 1990, mas sei que muitos liberais não vão aceitar que se chame de extrema-direita o regime de Pinochet, no Chile, só porque o general seguiu as orientações econômicas do liberal Milton Friedman e da Escola de Chicago. Poderíamos chamar de Direita, com as devidas proporções, os governos de Churchill, Thatcher e Reagan. Mas não seriam de extrema-direita só porque passassem a cometer torturas.

Eduardo e Jair defendem a verdade histórica do que foi o regime militar, tanto que a carreira política do segundo se resume basicamente e deve seu sucesso e fama no esclarecimento dos fatos, contra a farsa da Comissão da Verdade. Ser de Direita não é defender torturadores, mas defender a verdade sufocada, a história que a Esquerda não quer que o Brasil conheça.

Atacar a família Bolsonaro dessa forma, como tem feito o MBL e seus advogados da mídia como Reinaldo Azevedo, Leandro Narloch e Luciano Ayan, é um golpe muito baixo. Ainda mais depois de todos os favores e ajuda que os Bolsonaros prestaram ao MBL, emprestando-lhes hotel, defendendo-os na CPI de crimes virtuais, chamando o povo para eventos do MBL, etc.

É típico de liberal e libertário posar de isentão, como um lorde da liberdade que paira acima de qualquer polêmica, um intocável que está no alto e além dos extremismos, que não se mistura com a ralé. Assim é fácil manter a pose de superior, em cima do muro.
O problema é que o muro pertence à Esquerda.

Por: Pedro Henrique Medeiros