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quarta-feira, 29 de março de 2023

Oeste é isso - Ana Paula Henkel

 Revista Oeste

A coragem para remar contra o aplauso fácil, para dizer o que é significativo e verdadeiro — e não o que é confortável e conveniente —, para defender políticas, e não políticos

Ilustração: Jorm Sangsorn/Shutterstock

Ilustração: Jorm Sangsorn/Shutterstock  

Há 11 anos, meu telefone tocava às 5h23 da manhã. Era minha irmã, chorando do outro lado, quase sem conseguir falar… “O papai morreu… Ana, minha irmã, o papai morreu…” 

Meu coração parou. 

Fiquei sem ar e entrei em um estado catatônico, como se eu estivesse dentro de uma nuvem, em um sonho estranho e sem poder respirar. Levantei da cama, caminhei dois passos e perdi toda a força em minhas pernas… Tudo ficou escuro na eternidade daqueles cinco ou seis segundos no chão. Aquilo não poderia estar acontecendo. Não poderia ser verdade. “Calma, Ana. Você vai acordar. Você vai acordar…”, eu pensava. Os eternos minutos que se seguiram impunham a realidade diante de um aperto no peito que jamais imaginei sentir.  

Meu pai, meu melhor amigo, meu parceiro, meu mestre, havia, de fato, nos deixado. Não era apenas o meu corpo sem forças que estava no chão. Meu mundo havia desabado diante de um abismo e eu me sentia em um pesadelo. 

Para quem acompanha o meu trabalho há mais tempo, também em outras plataformas, artigos e entrevistas, não é difícil perceber quanto minha vida era estabelecida na relação com o meu pai, quão ele era profundamente importante para mim. Além de um provedor e um exemplo, meu pai era um verdadeiro cristão que seguia o que está escrito em Mateus 6:3 “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”. Ajudou dezenas e dezenas de pessoas sem contar nada para ninguém, histórias que só ficamos sabendo depois de sua morte. 

Curiosamente, em mais uma demonstração de cuidado com um filho precioso, Deus decidiu levar o meu pai em um 19 de março, Dia de São José — protetor da família e dos pais. O mais incrível é que, mesmo depois de sua partida, ele continua tocando muitas vidas de várias maneiras. Seus exemplos e palavras continuam ecoando e auxiliando decisões na vida de muitas pessoas. Quem sabe um dia eu escreva um livro sobre o meu pai, seu legado e como, na magnitude de seus defeitos, ele viveu para servir. E serviu em silêncio. Serviu indivíduos e famílias que nem conhecíamos. A vontade é de começar a escrever esse livro hoje, tamanha saudade que não cabe no peito. 

Detalhe de estátua com Menino Jesus pegando a mão de São José, 
Montepaone, Calábria, Itália | Foto: Shutterstock
Foi com o meu pai que ouvi sobre política pela primeira vez. Foi através do meu pai que me interessei por questões econômicas e com ele me apaixonei por história. 
Foi com o meu pai que ouvi nomes como Reagan, João Paulo II e Margaret Thatcher. 
Foi com o meu pai que aprendi o que era comunismo e por que uma guerra tinha o nome de “Guerra Fria”. 
Foi ao lado do meu pai que vi na TV a queda do Muro de Berlim. 
Foi com o meu pai que ouvi quem era Tancredo Neves. 
Com o meu pai acompanhei os cruzeiros, cruzados, os cortes de zeros e, ao vivo em sua companhia, as incontáveis remarcações de preços nos supermercados. 
Por causa do meu pai, tirei meu título de eleitor aos 16 anos, para poder fazer parte da vida política do Brasil de alguma maneira. 
 
Clique aqui, para continuar lendo
 

Leia também “O desfecho da trilogia sobre o império do mal”

 

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


domingo, 16 de outubro de 2022

Lobos em pele de cordeiros - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Não bastou o novo “crime de opinião”. Agora temos o “crime de conclusão”! Você vai ver fatos reais, ler notícias verdadeiras — mas não pode tirar suas próprias conclusões 

 Ditador da Nicarágua, Daniel Ortega e Luiz Inácio Lula da SIlva | Foto: Wikimedia Commons 
Ditador da Nicarágua, Daniel Ortega e Luiz Inácio Lula da SIlva | Foto: Wikimedia Commons  
 

Explicar o Brasil. Essa tem sido uma tarefa impossível de ser realizada no meu cotidiano nos Estados Unidos. Se já era difícil durante a Lava Jato, ela ficou ainda mais complicada durante a manobra companheira do Supremo Tribunal Federal para soltar um corrupto condenado em três instancias. Agora, durante a era Alexandre de Moraes/TSE, essa tarefa é praticamente inexequível.

Acho curioso quando os iluministros do STF/TSE citam os “Pais Fundadores da América” com a pompa de quem tem o mínimo respeito por tudo aquilo que eles defendiam. A história da América mostra que os Pais Fundadores da nação mais próspera do mundo discordavam em vários pontos na estruturação do novo país nos tempos pós-revolucionários. Thomas Jefferson, por exemplo, almejava maior independência e autonomia dos Estados. Alexander Hamilton acreditava que o governo federal deveria ser o centro do poder e das grandes decisões. As discordâncias entre eles eram comuns e, talvez por isso, na respeitosa e rica troca de ideias por um bem maior, a nação mais livre do mundo tenha se formado em pilares sólidos e inegociáveis.

E, mesmo com algumas profundas discordâncias filosóficas, aqueles homens tinham um ponto de convergência sagrado na formatação do que seria vital na nova nação. A absoluta e irrestrita liberdade de se expressar. 
A Primeira Emenda à Constituição dos EUA protege a liberdade de expressão, religião e imprensa. Também protege o direito a protestos pacíficos e a peticionar ao governo. 
A emenda foi adotada em 1791, junto com outras nove emendas que compõem a Declaração de Direitos (Bill of Rights) — um documento escrito que protege exatamente as liberdades civis. 
A emenda, com quase 231 anos, é uma das mais protegidas até hoje, diz: “O Congresso não fará nenhuma lei a respeito de um estabelecimento de religião ou proibindo o livre exercício do mesmo; ou abreviar a liberdade de expressão ou de imprensa; ou o direito do povo de se reunir pacificamente e de pedir ao governo uma reparação de queixas”.

Benjamin Franklin, um dos Pais Fundadores, escrevia constantemente em seus artigos que a liberdade de expressão é o principal pilar de um governo livre e, que quando esse apoio é retirado, a constituição de uma sociedade livre é dissolvida e a tirania é erguida em suas ruínas. E ainda acrescentou: “Se todas as impressoras estivessem determinadas a não imprimir nada até terem certeza de que não ofenderiam ninguém, haveria muito pouco para impressão”.

Crime de conclusão
Pois bem, nessa minha árdua tarefa de explicar o inexplicável para o norte-americano, no capítulo desta semana tive de acrescentar as absurdas censuras do TSE a veículos de imprensa no Brasil. Nas canetadas vermelhas do tribunal-jaboticaba, trechos da história de nossa política que são mostrados em documentários da Brasil Paralelo terão de ser excluídos. Segundo a corte, eles são verdadeiros, masPASMEM! — podem levar o telespectador a conclusões falsas! Não bastou o novo “crime de opinião”, criado recentemente por esses monstros jurídicos. Agora temos o “crime de conclusão”! Você vai ver fatos reais, ler notícias verdadeirasmas não pode tirar suas próprias conclusões, apenas aquelas que os deuses do olimpo eleitoral permitirem!

Ah! Não podemos também falar do conteúdo da delação de Marcos Valério à Polícia Federal em que ele descreve as ligações pra lá de próximas entre o PT e o PCC. E aproveitando a bondade da tirania eleitoral na feira de censura, essa semana o PT acionou novamente o puxadinho-companheiro do STF com um pedido de retirada de conteúdo do site do jornal Gazeta do Povo que explica assim como a Brasil Paralelo, com fatos históricos — a relação do ex-presidiário Lula com o ditador nicaraguense Daniel Ortega.  

O partido também quer a censura prévia para que o jornal seja impedido de fazer novas reportagens que demonstrem a ligação de Lula com ditadores. No início do mês de outubro, o ministro da corte eleitoral Paulo de Tarso Sanseverino (ou assessor de imprensa do PT, como queiram) já havia determinado a remoção do tuíte de uma notícia publicada pela Gazeta do Povo cujo título era: “Ditadura apoiada por Lula tira sinal da CNN do ar”.

Nas ações do partido mais corrupto da história do Brasil, os asseclas legais de Lula alegam que: “As publicações dessa natureza são compartilhadas e espalhadas em velocidade exponencial, de modo a aumentar significativamente o alcance das desinformações aos eleitores e às eleitoras, ampliando, desta forma, o impacto negativo das publicações objeto desta representação”. O partido também deseja “que o Twitter, o Instagram e provedores de internet adotem todas as providências cabíveis quanto ao ponto — de modo a excluir essas e outras publicações que também versem sobre a fantasiosa relação de Lula com o ditador Ortega”.

“…fantasiosa relação de Lula com o ditador Ortega”.

Nada para ver aqui. Circulando. Os laços entre o ditador nicaraguense e o líder do PT e do Foro de São de Paulo são apenas imaginação da sua e da minha cabeça. Aliás, o Foro de São Paulo foi, durante muito tempo, apenas uma invenção, uma teoria conspiratória, daquele velho doido que morava na Virginia, aquele tal de Olavo de Carvalho.  
Não leia o que está escrito no documento do movimento que o TSE pode não gostar. Eu vou deixar aqui um resumo do que está lá, mas leia por sua própria conta e risco.
Reunião de membros do Foro de São Paulo. O grupo apoia a eleições 
de candidatos de esquerda em qualquer lugar da América Latina - 
 Foto: Reprodução

Os objetivos iniciais do Foro de São Paulo estão expressos na “Declaração de São Paulo”, documento que foi aprovado no final do primeiro encontro, na cidade de São Paulo, em 1990: “(…) o objetivo do foro é aprofundar o debate e procurar avançar com propostas de unidade de ação consensuais na luta anti-imperialista e popular, promover intercâmbios especializados em torno dos problemas econômicos, políticos, sociais e culturais que a esquerda continental enfrenta após a queda do muro de Berlim”. O documento afirma que o encontro foi inédito por sua amplitude política e pela participação das mais diversas correntes ideológicas da esquerda. A declaração também diz encontrar “a verdadeira face do Império” nas renovadas agressões a Cuba e também à Revolução Sandinista na Nicarágua, no aberto intervencionismo e apoio ao militarismo em El Salvador, na invasão e ocupação militar norte-americana do Panamá, nos projetos e passos dados no sentido de militarizar zonas andinas da América do Sul sob o pretexto de lutar contra o “narcoterrorismo”. E, assim, eles reafirmam sua solidariedade em relação à Revolução Cubana e à Revolução Sandinista, como seu apoio em relação às tentativas de desmilitarização e de solução política da guerra civil de El Salvador, além de se solidarizarem com o povo panamenho e com os povos andinos que “enfrentam a pressão militarista do imperialismo”.

Ok, é um documento do Foro de São Paulo que liga a esquerda em toda a América Latina. Ah, mas dizer que há uma relação de Lula com o ditador Daniel Ortega? Ah! Não… isso é coisa da cabeça de quem só quer sujar a reputação do ilibado ex-presidiário que também foi acusado, por mais de uma vez, por Mara Gabrilli, vice na chapa de Simone Tebet que hoje apoia Lula de estar envolvido diretamente no assassinato de Celso Daniel. [Ana, a do vôlei,  concluímos a leitura;  só que surgiu uma dificuldade: a quem devemos perguntar que conclusão devemos tirar da leitura?]

(Imaginou agora minha dificuldade em explicar a política do Brasil?)

Lula e Ortega
A desejada censura neste caso — com a ajuda do TSE e Alexandre de Moraes — se faz necessária porque os fatos que ligam Lula a Ortega são muito claros. 
Mais claro ainda é o regime totalitário do companheiro do PT que agora persegue e prende padres, freiras, persegue cristãos e fecha igrejas no país. A ditadura da Nicarágua está criminalizando a democracia, e a violência à qual os nicaraguenses estão sendo submetidos também está alimentando a migração ilegal desenfreada para os EUA, ajudando a causar a maior crise migratória da história norte-americana. 
Por que Lula não quer ser visto com o companheiro Ortega? 
Seria porque na Nicarágua de Ortega as empresas são extorquidas por policiais mafiosos, líderes católicos são perseguidos por apoiarem a democracia, moradores de todas as nacionalidades são detidos e condenados por décadas e organizações da sociedade civil foram fechadas? 
Ou porque essa dinastia familiar — assim como outra dinastia familiar companheira de Lula, os Castros — criminalizou a democracia, garantindo que a liberdade de expressão, a de participação política, movimento e crenças sejam legalmente eliminadas? Daniel Ortega e sua família transformaram a Nicarágua em um Estado pária.

O regime do amigo e parceiro de Lula eliminou todas as formas de pluralismo político e social. Cerca de 2 mil organizações sem fins lucrativos foram extintas por causa da proibição de liberdade de associação. Essas organizações trabalhavam em projetos de desenvolvimento social muito necessários, sendo que metade delas era focada na educação. As perdas materiais — em um país onde as crianças têm poucas oportunidades e a educação média está abaixo da 4ª série — chegam a pelo menos US$ 200 milhões por ano. Quase 60 organizações internacionais sem fins lucrativos também foram extintas e expulsas do país, afetando quase 1 milhão de beneficiários. No entanto, o impacto não é apenas material, mas ideológico. O regime redefiniu as regras da educação, subordinando o ensino à total obediência à ditadura, banindo livros, literatura e reescrevendo a história. Aqueles que desviarem do caminho imposto e ditado por Ortega são excluídos dos “direitos” aos serviços públicos (incluindo o acesso à saúde) e podem ser julgados por atos criminosos de conspiração contra o Estado.

As consequências do que o amigo do PT vem fazendo são terríveis para os nicaraguenses, que, através da imigração, fogem de maneira desesperada para os Estados Unidos. Desde 2018, pelo menos 200 mil pessoas escaparam da Nicarágua (em um cálculo conservador, quase 5% de sua população), especialmente após a fraude eleitoral em novembro de 2021. O inepto governo de Joe Biden testemunhou em primeira mão os ataques à imprensa, a autoridades religiosas, independência eleitoral, liberdade acadêmica e pluralismo, bem como ataques aos Estados Unidos. Dentre os vários mantras pregados por Ortega, o ditador acusa os Estados Unidos de conspirarem contra o regime. A resposta dos EUA incluiu sanções a 22 funcionários do governo de nível médio e menos de 100 tuítes condenando a repressão. Sim, tuítes… (Saudades do laranjão?)

Mas a caótica situação humanitária não é suficiente para um tirano que se preze. O revolucionário sandinista que se tornou ditador nunca foi favorável à Igreja Católica. A perseguição aos cristãos tem sido uma ocorrência comum em grande parte do Oriente Médio e na China, mas uma perseguição igualmente virulenta está exatamente sob o domínio do amigo de Lula — e com mínima atenção global.

Até hoje, os católicos espalhados pelo mundo, e atônitos diante das barbáries cometidas contra seus irmãos e irmãs na Nicarágua, aguardam uma palavra firme do papa Francisco contra as ações do ditador amigo de Lula

A Igreja Católica tem sido alvo comum de desprezo e acusações de minar o regime de esquerda, apesar das sementes firmemente plantadas da teologia da libertação e do ativismo pró-esquerda na Nicarágua. Ortega, que voltou ao poder em 2007 depois de governar a Nicarágua por mais de uma década na década de 1980, nunca foi favorável à Igreja Católica. Desde que o clero emprestou seu apoio aos manifestantes estudantis em 2018, no entanto, seu governo aumentou significativamente a perseguição contra qualquer setor da sociedade civil que se atreva a falar.                 E os católicos do país resolveram romper o silêncio para tantas barbaridades. Claro que por um preço alto. Até junho deste ano, Ortega mantinha mais de 200 presos políticos.

Perseguição aos católicos
Desde 2018, a Igreja Católica na Nicarágua enfrentou mais de 190 ataques distintos, desde incêndios criminosos, ataques paramilitares do governo e o exílio de proeminentes padres e figuras religiosas críticas ao regime de Ortega. 
Um total de 18 freiras católicas das Missionárias da Caridade foram destituídas de seu status legal em 28 de junho e escoltadas pela polícia para fora da Nicarágua e para o exílio na vizinha Costa Rica sob acusações de subversão política e apoio ao terrorismo. Em um relatório recente do Observatório Pró-Transparência e Anticorrupção, um grupo da sociedade civil da América Latina, a advogada Martha Patricia Molina Montenegro afirmou que o regime de Ortega “iniciou uma perseguição indiscriminada contra bispos, padres, seminaristas, religiosos, grupos leigos e a tudo o que tenha relação direta ou indireta com a Igreja Católica”.

Em resposta aos esforços da Igreja Católica para mediar os protestos em 2018 e defender os diretos civis, Ortega e seus aliados rotularam a igreja como “comprometida com os golpistas e parte do golpe”. Silvio Baez, monsenhor e um crítico proeminente do regime, foi forçado a fugir do país em 2019 depois de receber um telefonema da Embaixada dos EUA avisando-o de uma iminente tentativa de assassinato. Baez já havia sido espancado e esfaqueado por agressores desconhecidos. Antes de conseguir sair do país, ele recebia constantes telefonemas ameaçadores que falavam em tortura e morte. A Igreja Católica e seu clero têm sido críticos da corrupção e da violência do governo já há alguns anos, mas desde 2018 a violência tem sido mais direcionada, como visto pela situação com Baez. Embora os protestos que originalmente estimularam a repressão do governo nicaraguense tenham sido reprimidos em sua maior parte, o regime de Ortega continua a atacar a Igreja e seus crentes em uma busca para expurgar toda e qualquer dissidência.

O episódio mais recente dessa perseguição foi a prisão do monsenhor Rolando José Álvarez, bispo de Matagalpa, que está em prisão domiciliar desde 4 de agosto, quando a polícia da ditadura Ortega o impediu de ir à Catedral para celebrar a missa. Como alguns andam querendo apagar ou reescrever as páginas da história, não custa apontar que não é a primeira vez que acontece todo esse pesadelo na Nicarágua. A marca local do comunismo, através do sandinismo, já perseguia os cristãos na década de 1980. Em 2003, Ortega pediu desculpas por isso quando estava na oposição. Uma vez que ele voltou ao poder, o líder comunista recuperou a campanha anticatólica. Parece familiar? Alô, Brasil!!

João Paulo II
Para quem me acompanha aqui em Oeste ou em outras mídias, faço sempre questão de expressar meu mais profundo respeito àquele que foi, em minha opinião, não apenas um líder religioso de histórica magnitude, mas um dos homens mais importantes da humanidade: o papa João Paulo II. E foi exatamente na Nicarágua que o santo pontífice demonstrou sua coragem e seu propósito. Em 4 de março de 1983, o papa pousou em Manágua para uma visita oficial. As autoridades da Junta Governativa Sandinista esperavam pelo líder religioso, incluindo o coordenador da junta, Daniel Ortega, e sua esposa, Rosario Murillo. O papa polonês havia chegado ao país que estava em uma época em que seus cidadãos estavam à beira de uma guerra civil.

No aeroporto, havia uma faixa que dizia “Bem-vindo à Nicarágua livre graças a Deus e à revolução”. Nesse cenário, Ortega fez um discurso de apoio ao regime sandinista. João Paulo II cumprimentou as demais autoridades que o esperavam, bem como Ernesto Cardenal, padre e ativista marxista da teologia da libertação que ocupava um importante cargo público como ministro da Cultura do regime, algo incompatível com o ministério dos padres católicos.

Papa João Paulo II, no Vaticano em 1991 | Foto: Wikimedia Commons

Quando Joao Paulo II chegou aonde Cardenal estava, o marxista tirou sua boina e ajoelhou para beijar o anel do pontífice. Joao Paulo II não deixou que ele beijasse o anel e, com dedo em riste, chamou a atenção, em absoluto tom de reprovação, do ativista disfarçado de padre. O vídeo correu o mundo logo após seu discurso de chegada em que o papa disse que “em nome Daquele que deu sua vida por amor pela libertação e redenção de todos os homens, desejo dar minha contribuição para que cesse o sofrimento dos povos inocentes desta região do mundo”.

Na época, Cardenal era um dos quatro padres que trabalhavam para o regime. Ele e seu irmão, o jesuíta Fernando Cardenal, serviam ao governo revolucionário sandinista além de Miguel d’Escoto, como ministro das Relações Exteriores, e Edgar Parrales, um diplomata. Cardenal acreditava que seu serviço como ministro da Cultura era uma extensão de seu ofício sacerdotal. João Paulo II, que viu e viveu de perto as dores do comunismo, discordava veementemente e fez questão de não esconder isso — mesmo em público.

O corajoso ato de Joao Paulo II foi uma prévia do restante da viagem do papa. Ele também não escondeu sua oposição ao governo sandinista que pregava a integração dos ideais cristãos e marxistas (absolutamente incompatíveis!), e sua desaprovação daqueles cristãos, como Cardenal — que, abjetamente, viram na revolução nicaraguense uma oportunidade para promover a nefasta doutrinação marxista através da “caridade”.

Quando os padres do governo da Nicarágua recusaram a exigência do papa de que deixassem seus cargos, eles foram excomungados e privados de suas faculdades sacerdotais. No caso de Cardenal, essa situação continuou até 2020, quando o papa Francisco lhe concedeu a “absolvição de todas as censuras canônicas”. Até hoje, os católicos espalhados pelo mundo, e atônitos diante das barbáries cometidas contra seus irmãos e irmãs na Nicarágua, aguardam uma palavra firme do papa Francisco contra as ações do ditador amigo de Lula.

A visita de João Paulo II à Nicarágua, em 1983, deixa lições até hoje — principalmente para o Brasil, que enfrenta a tentativa de total ruptura de um possível estado de ordem e liberdades, mesmo com a atual insegurança jurídica perpetuada pelo STF, a um absoluto caos revolucionário proporcionado pela possível volta do lulocomunismo ao poder. Durante a homilia de João Paulo II em Manágua, além dos fiéis aplaudindo o papa, grupos de sandinistas também gritavam slogans a favor de sua revolução: “Entre o cristianismo e a revolução não há contradição”, “Poder ao povo”, “O povo unido nunca será vencido”, “A Igreja do povo” e “Queremos a paz” foram algumas das palavras de ordem que gritavam.

Os gritos enfureceram o papa, que pediu silêncio mais de uma vez e finalmente lhes disse: “Silêncio. A Igreja é a primeira a querer a paz”. João Paulo II então saiu do roteiro e disse: “Cuidado com os falsos profetas. Eles se apresentam em pele de cordeiro, mas por dentro são lobos ferozes”.

Ah, santo homem… que falta o senhor faz entre nós.

João Paulo II tinha um profundo amor pelo Brasil. João de Deus, nessa hora de aflição e medo do mal que pode devorar nossa nação e nosso futuro, rogai por nós.

Leia também “A proteção à vida em 2023”

Ana Paula Henkel (@AnaPaulaVolei

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 


quarta-feira, 24 de agosto de 2022

STF criou o “crime de pensamento” no Brasil - Gazeta do Povo

Alexandre Garcia

Operação contra empresários


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) está em reunião de trabalho, mas ao mesmo tempo pediu orações pela Igreja Católica na Nicarágua.  
Por lá um bispo foi preso, rádios e televisões católicas foram fechadas, freiras foram expulsas, houve destruição de objetos de culto. Isso não é de agora, vem de quatro anos pra cá. O papa João Paulo II, quando esteve no país, foi obrigado a rezar missa em um palco cheio de símbolos sandinistas, da revolução marxista da Nicarágua. 
Agora, o atual papa diz que é preciso diálogo. O bispo de Formosa (GO), dom Adair Guimarães, disse que os brasileiros têm de olhar para a Nicarágua para tomar cuidado, porque um regime socialista tira a liberdade, o direito ao culto e os valores familiares.

Operação contra empresários é arbítrio

Falando em liberdade, nesta terça levamos um susto quando a Polícia Federal chegou à casa de oito empresários, inclusive aquele que tem uma rede de lojas com a Estátua da Liberdade na frente.
 A acusação é de que estariam defendendo um golpe, e aí eu pergunto: estavam defendendo ou estavam preparando?  
Porque punir alguém por defender alguma coisa, alguma ideia, por mais absurda que seja, é instituir crime de pensamento. 
 Aliás, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, lembrou exatamente disso. Se está instituído “crime de pensamento”, é arbítrio. Tanto que o procurador-geral da República, Augusto Aras, está reclamando que não foi avisado. 
Uma terceirizada do Supremo deixou um papel em uma sala que nem sempre é frequentada pelo Ministério Público.


Veja Também: 

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E se um manifestante xingasse o Daniel Ortega como fez com Bolsonaro?
  

Consultei juristas e eles me responderam que não existe crime de ameaça à democracia que seja tipificado pelo ato de críticas e manifestações de repúdio pessoal a instituições da República
Até a questão de ameaça, no Direito, é diferente da ameaça entre nós, pessoas comuns. 
No Direito, tem de haver manifesta intenção e possibilidade objetiva de pôr em prática o ato violento, injusto ou ilegal, para forçar o ameaçado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa em proveito do ameaçador. 
Impropério não é ameaça; pode ser injúria, mas aí qualquer pessoa pode fazer o boletim de ocorrência. 
E isso tramita na primeira instância, na delegacia, não na suprema corte.
 
Muito estranho foi o fato de pelo menos duas pessoas parecem saber de antemão o que aconteceria
O André Janones postou no domingo, afirmando que algo lhe dizia que Luciano Hang não mexeria mais com ele. 
Depois, Roberta Luchsinger escreveu “fiquei sabendo que a caneta do Alexandre de Moraes vai descarregar tinta essa semana”. 
E o procurador-geral Aras disse que não ficou sabendo, a não ser depois do acontecido. Muito estranha essa história.
 
São coisas que deixam os brasileiros inquietos e assustados, e deve ter sido esse o principal motivo de uma ação assim; para quem já viveu mais de 80 anos, eu nunca vi nada parecido
No passado, vi pessoas sendo presas porque jogaram bombas, porque assaltaram bancos, sequestraram aviões; mas não assim, por criar uma “conspiração”, por uma troca de ideias entre pessoas em grupos de redes sociais, desses que a gente vê todos os dias.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Luz em tempos de escuridão - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

Enquanto Gorbachev, Reagan e Thatcher desempenharam papéis políticos e militares cruciais, João Paulo II foi o líder espiritual da revolução pacífica que destruiu o comunismo 

Imagem do papa João Paulo II | Foto: Erik Laan/Shutterstock

Imagem do papa João Paulo II -  Foto: Erik Laan/Shutterstock

Diante de tantos desmandos e absurdos pelo mundo, como as atrocidades que vivemos durante a pandemia e que agora se alastram como praga em forma de ações políticas que ferem a liberdade de vários povos; diante de ativismos judiciais no Brasil que mais parecem ter saído das páginas de um manual soviético de poder ou dos parágrafos de uma distopia orwelliana; diante de eleições para lá de suspeitas nos EUA e no Brasil; diante de guerras violentas uma contra os ucranianos e outra que se espalhou pelo mundo contra a liberdade de expressão —, nesta semana decidi que não escreveria sobre nenhum fato ocorrido nos últimos dias. É claro que precisamos estar cientes de todas as nuances de tudo o que acontece à nossa volta, mas também precisamos respirar para prosseguir. Nada melhor do que uma visita ao passado, acessar nossa assembleia de vozes, “olhar nos olhos” de quem emana coragem e parar para refrigerar a alma, mesmo que por apenas alguns minutos, para que possamos continuar caminhando sem desespero, sem desânimo.

Nesta semana, decidi visitar uma das mais importantes influências em minha assembleia de vozes para me alimentar da bravura de quem realmente viu o mal de perto e seguiu sem medo. Sempre que presto visitas a este homem, seja lendo artigos seja vendo seus vídeos, algo acontece. Duas horas depois, como em um transe, ainda estou com os olhos fitados na tela do computador, completamente hipnotizada por seu caráter, sua coragem, sua simplicidade estampados em seu semblante, e pela profunda capacidade que ele tem de revigorar meus pensamentos. Estou falando do papa João Paulo II.

Na Polônia devastada logo após a Primeira Grande Guerra, a jovem Emilia Kaczorowska descobre que está grávida e é aconselhada a abortar devido a muitos problemas de saúde. Além da vida em risco, Emilia estava em uma nação ameaçada por instabilidades, conflitos armados e invasões, e, por isso, um aborto, aconselhado por um dos melhores médicos da região, parecia uma solução plausível. Apoiada por seu marido, a polonesa aceitou o risco de perder a própria vida e decidiu ter o bebê. As palavras do médico de que a gestação de alto risco poderia matá-la ou gerar um bebê que não seria saudável não foram concretizadas. Há 102 anos, em 18 de maio de 1920, na cidade de Wadowice, depois de meses de angústia, nasceu Karol Józef Wotjyla.

A Polônia sofreria com outra terrível grande guerra e, em 1939, com a invasão alemã ao país na Segunda Guerra Mundial, a universidade na qual o jovem Karol estudava foi fechada. Ele foi obrigado a se alistar no serviço militar e trabalhar em uma mina de calcário e, aos 20 anos, o jovem rapaz já havia perdido todos os membros de sua família. Wotjyla se interessou pela vida sacerdotal, mas teve de se dedicar aos estudos de forma clandestina e absolutamente secreta para não ser descoberto pelos alemães. Em janeiro de 1945, as tropas nazistas deixaram sua cidade, e a vida no seminário voltou ao normal. A ordenação sacerdotal de Karol Wotjyla acontece no ano seguinte, em novembro de 1946. Em 1958, então com 38 anos, ele é ordenado bispo auxiliar de Cracóvia e nove anos depois é nomeado cardeal pelo papa Paulo VI. Após 11 anos de intenso trabalho e defesa da fé como cardeal, a Igreja Católica o escolhe para uma nova missão: ele é eleito papa pelo segundo conclave papal de 1978. Os sinos da Basílica de São Pedro, em Roma, anunciavam que Karol Wotjyla, agora João Paulo II, era o novo pontífice.

Não é difícil associar o nome de Joao Paulo II a figuras políticas importantíssimas para o mundo, como Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Não é possível falarmos do atual mundo e todas as liberdades conquistadas até aqui, principalmente com a queda do Muro de Berlim, em 1989, sem o trio que lutou bravamente contra o que Reagan denominou como “o império do mal”: o comunismo. Pode ser tentador caracterizar o papa João Paulo II como um dos inimigos políticos que derrotaram o nefasto regime. Mas isso seria raso e simplista demais. Sua posição desafiou, de fato, o comunismo no reino metafísico antes de qualquer coisa, não na arena política. É claro que podemos enumerar ações estratégicas do papa que minaram algumas bases políticas comunistas. No entanto, a profundidade dos efeitos de suas ações estava no entendimento do erro do comunismo em sua compreensão fundamental do homem, em não ser colocado apenas como uma unidade de trabalho engajada em uma perpétua luta de classes, mas uma criatura feita à imagem de Deus, com uma alma e um destino eterno.

Com um espírito forjado na guerra, João Paulo II estava preparado de maneira única para enfrentar o comunismo. A Polônia perdeu a Segunda Guerra Mundial duas vezes, primeiro para os nazistas e depois para os comunistas, e Karol Wojtyła viveu sob a opressão de ambos. Muito antes de se tornar papa, ele havia concluído que o conflito com o comunismo era, em última análise, um conflito no reino espiritual. O comunismo é inequivocamente ateu. Sua premissa é que o homem é uma unidade de trabalho, engajada em uma luta de classes que, após uma revolução sangrenta, promete produzir um novo homem, aperfeiçoado por meios políticos. O regime totalitário promete a visão material, despida de transcendência
Karol Wojtyła sabia que o homem é feito à imagem de Deus, criado para uma vida com propósito na Terra, com um destino que vai além da matéria.

Pois, em 1979, o papa João Paulo II acendeu um longo pavio espiritual na Polônia que queimaria por dez anos em toda a Europa Central e Oriental, explodindo sob o Muro de Berlim em 1989. As réplicas desse terremoto espiritual, moral e político derrubaram os tijolos remanescente da União Soviética em 1991. Enquanto Mikhail Gorbachev na Rússia, o presidente Ronald Reagan na América e Margaret Thatcher na Inglaterra desempenharam papéis políticos e militares cruciais nesses eventos, o papa João Paulo II foi o líder espiritual dessa revolução pacífica que destruiu o comunismo, libertando 400 milhões de pessoas.

O povo polonês se apegou à fé católica como a única fonte de sua identidade e ressuscitou como nação

A primeira visita do papa João Paulo II à terra natal, em junho de 1979, foi um evento crucial: nove dias que mudariam o mundo. A Praça da Vitória, em Varsóvia, foi transformada de um espaço secular para uma local sagrado quando o povo ergueu uma cruz de 15 metros e construiu um altar elevado onde o papa celebraria a missa. Bandeirinhas coloridas ondulavam acima da praça e enfeitavam quase todas as janelas da cidade. Varsóvia estava transbordando com 3 milhões de pessoas vindas de todas partes para tentar vislumbrar o papa. Da janela de um hotel, o líder do Partido Comunista polonês, Edward Gierek, olhava nervoso. O que diria o papa? O que ele poderia dizer sob os olhos totalitários que vigiavam tudo?

Pois o papa João Paulo II disse ao povo que sua peregrinação homenageava Santo Estanislau, que morreu defendendo a Igreja na Polônia, e que sua morte e suas vidas fazem parte da peregrinação que os poloneses estavam fazendo pela história da Igreja. Em uma homilia histórica, o papa questionava a multidão: “Assim como Cristo enviou os apóstolos para serem testemunhas, a Polônia não se torna agora uma terra de testemunho particularmente responsável?”. Todos sabiam que por mais de um século, a Polônia havia desaparecido dos mapas da Europa, esculpido por seus vizinhos agressivos. O povo polonês se apegou à fé católica como a única fonte de sua identidade e ressuscitou como nação. O papa perguntava-lhes então: “Não é este o lugar adequado para anunciar Cristo com singular humildade, mas também com convicção? Para reler o testemunho de sua Cruz e de sua Ressurreição?”. E com palavras que abalaram o Kremlin, desafiou: “Mas se aceitarmos tudo o que me atrevi a afirmar neste momento, quantos grandes deveres e obrigações surgirão? Somos capazes de suportá-los?”

Papa João Paulo II com o presidente Ronald Reagan, em 1987 | Foto: Wikimedia Commons

As implicações do que o papa estava dizendo começaram a ser absorvidas. O povo compreendeu a importância do momento da história, naquela nação da Polônia, como testemunho de Cristo. O papa os desafiava a afirmar sua fé, “aqui e agora”. Uma onda de aplausos varreu a praça, depois outra ainda mais forte — então aplausos explodiram em ondas que se tornaram estrondosas, enquanto centenas de milhares de testemunhas davam esse sinal de sua fé. O papa não tentou continuar com sua mensagem, mas ficou com a mão erguida como uma afirmação do povo. Juntos, reconheceram o significado dessa expressão catártica em um país onde o regime comunista havia proibido qualquer manifestação pública aberta da fé em Cristo. Por eternos 14 minutos para os comunistas, as pessoas aplaudiram e aplaudiram e gritavam: “Queremos Deus! Queremos Deus!”. Com um sorriso, o papa disse: “As pessoas estão pregando comigo! Cristo não pode ser mantido fora da história do homem em nenhuma parte do globo! A exclusão de Cristo da história do homem é um ato contra o homem. Sem Cristo é impossível compreender a história da Polônia. E a história de cada pessoa se desenrola em Jesus Cristo. Nele se torna a história da salvação”.

Através de muitos relatos, naquele momento, algo inexplicável incendiaria toda a nação. Por nove dias, toda a Polônia havia suspendido sua vida normal para ser ensinada e transformada espiritualmente. Um terço do país, 13 milhões de pessoas, viu o papa pessoalmente e praticamente todos os outros milhões o viram na televisão ou o ouviram no rádio. Sua mensagem elevou o povo da Polônia e evocou a memória de sua autêntica história, cultura e identidade. O povo polonês ouviu e se lembrou de quem eles realmente eram. Ao reunir publicamente milhões dessas pessoas, o papa deu-lhes coragem e dispersou o domínio do medo e do terror. Bogdan Szajkowski, cientista político polonês, descreveu o fenômeno da visita do papa como um “terremoto psicológico, uma oportunidade para catarse política em massa”. Adam Michnik, um proeminente dissidente e não católico, caracterizou a experiência como “uma grande lição de dignidade”. Ele ficou impressionado com a maneira como o papa falou de forma convincente a crentes e não crentes, apelando ao seu “ethos de sacrifício, em cujo nome nossos avós nunca pararam de lutar pela dignidade humana nacional”. João Paulo II havia pedido uma profunda renovação moral sem sequer mencionar os comunistas. Em vez disso, ele apontou o povo para um nível moral mais profundo para reconhecer que eles seriam culpados se permitissem que seu país continuasse como estava. O teólogo polonês Józef Tischner declarou que “a revolução é uma ocorrência no reino do espírito”.

Depois de apenas sete meses na Santa Sé, a mensagem de verdade, dignidade e contenção de João Paulo II se tornou, mesmo de maneira pacífica, uma violenta chama que ardeu impiedosamente para os comunistas na Polônia, inflamando os países vizinhos a se espalhando por todo o Bloco Oriental. Em dez anos, traria às cinzas seu símbolo mais supremo, o Muro de Berlim. Como disse George Weigel, biógrafo do papa João Paulo II: “Esses nove dias em junho de 1979 foram quando o século 20, de fato, virou”.

A notícia da notável visita do papa à Polônia percorreu o mundo, para deleite de muitas pessoas e consternação de outras. As pessoas nos países comunistas vizinhos observaram com espanto as enormes multidões reunidas no país e como não foram dispersadas por balas e tanques soviéticos. Os protestos de 1953 na Alemanha Oriental, as revoltas na Hungria em 1956 e a Tchecoslováquia em 1968 terminaram em derramamento de sangue quando os russos esmagaram a resistência com violência e terror.  
Mas se milhões de poloneses pudessem se reunir abertamente assim em 1979, isso também seria possível em outros países? Como esses eventos na Polônia eram reuniões religiosas e não protestos políticos, e porque permaneceram pacíficos, os líderes comunistas não encontraram provocação suficiente para esmagá-los. Nove dias que semearam mudanças indesejadas. Algo dizia que elas haviam sido desencadeadas a partir daquele momento, e os comunistas não sabiam ao certo como impedi-las.

A Polônia foi o primeiro país a sair da União Soviética, em 1989, realizando suas primeiras eleições livres em junho daquele ano. Os candidatos do Solidariedade elegeram todos os membros do recém-formado Senado, bem como todos os assentos disponíveis para a Câmara. A Hungria proclamou sua independência cortando o arame farpado da Cortina de Ferro em agosto de 1989, deixando as pessoas do Bloco Oriental atravessarem para a liberdade no Ocidente. Após o confronto em Leipzig em outubro, manifestantes em toda a Alemanha Oriental depuseram pacificamente o líder comunista Erich Honecker. O Muro de Berlim caiu em 9 de novembro de 1989. A Tchecoslováquia conquistou sua liberdade durante a Revolução de Veludo, uma série de eventos não agressivos que derrubaram o governo comunista daquele país. A Revolução de Veludo é vista como uma das mais importantes revoluções de 1989. A Romênia foi a única exceção nessa sequência pacífica. Os romenos prenderam e fuzilaram Nicolae Ceauşescu, secretário-geral do Partido Comunista Romeno de 1965 a 1989, segundo e último líder comunista do país.

Usando um pouco de licença poética, pode-se dizer que o que levou dez anos na Polônia levou dez meses na Hungria, dez semanas na Alemanha Oriental, dez dias na Tchecoslováquia e dez horas na Romênia. Esse terremoto moral, espiritual e político continuaria a ressoar por todo o restante da União Soviética, libertando os Estados Bálticos, a Bielorrússia e a Ucrânia, acabando por abalar também as fundações da Rússia. Em 1991, a União Soviética rangeu, deu um último suspiro e entrou em colapso. No dia de Natal de 1991, Mikhail Gorbachev renunciou ao cargo de presidente da União Soviética.

Como mencionei no início deste artigo, pode ser tentador caracterizar o santo papa João Paulo II como mais um inimigo político que derrotou o comunismo. Mas sua mensagem nunca foi de um posicionamento político dessa perpétua luta de classes, como afirmou Marx, mas de uma criatura feita à imagem de Deus, com direitos inalienáveis dados por Ele. João Paulo II nunca tirou os olhos de Deus, e seu coração e sua mente foram como uma bússola apontando para o verdadeiro Norte.

Em visita à minha assembleia de vozes, ficou claro, pelo menos para mim, que no conflito contra o atual império do mal, igualmente covarde e vil, mas travestido com pacotes de falsa bondade, tolerância e “defesa da democracia”, é preciso outras armas. Dê uma chegadinha ali no YouTube, procure por alguns vídeos de João Paulo II, seja na Polônia em 1979 seja em qualquer outra ocasião, e deixe a mágica acontecer com o seu coração e seu espírito. Nossa força também está além de conjunturas institucionais ou políticas. Para derrotar tiranos como Alexandres, Barrosos, Trudeaus ou Bidens, é necessário que entremos para o exército de homens como Wotjyla. Algumas armas não são encontradas em meio a togas, fardas ou Constituições.

Leia também “O ativismo judicial e a barbárie”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 18 de abril de 2022

Liberdade cristã - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino

Estamos em época de Semana Santa, então creio que seja adequada uma reflexão sobre a importância da fé cristã para a liberdade. O historiador Rodney Stark, em A Vitória da Razão, resume bem: “O sucesso do Ocidente, incluindo a ascensão da ciência, repousa inteiramente sobre fundações religiosas, e as pessoas que o tornaram possível eram cristãs devotas”. Tocqueville estaria de acordo. Muitos revisionistas, porém, tentam separar o legado ocidental de sua raiz cristã, num esforço ideológico que distorce a realidade.

O próprio conceito de liberdade, nesse ambiente dominado pelo iluminismo, tem sido subvertido por uma ideia de libertinagem, que aproxima os seres humanos de animais irracionais. É como se “dar vazão” aos impulsos mais primitivos fosse o ápice da liberdade, o que não faz qualquer sentido. O homem livre, no sentido cristão, é livre dentro de um contexto divino, em relação com o próximo, e não uma ilha separada do restante.

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Quem defendeu muito bem esse sentido da liberdade foi o papa João Paulo II, que, ao lado de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, formou o trio heroico no combate ao comunismo soviético, a “essência do mal” materialista. O papa e Reagan sofreram atentados que quase os mataram numa distância de apenas seis semanas, e esses eventos marcaram muito suas vidas, assim como a crença inabalável de que sobreviveram por um “plano divino” para agir contra esse mal. E assim o fizeram.

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Para ambos, liberdade não era “ser deixado em paz” apenas, mas sim uma liberdade atrelada ao sentimento de fé. A dignidade humana vinha dessa noção de vida sagrada feita à imagem de Deus, e o comunismo ateu era o seu oposto. Tanto o papa católico como o presidente protestante se enxergaram, com humildade, como parte de um desígnio divino, como instrumentos de uma causa maior e mais nobre. Essa crença fez toda a diferença em suas atitudes corajosas para enfrentar o inimigo totalitário.

Ambos foram atores antes de assumir as novas posições. E as ações do ator carregam significado. Karol Wojtyła e Ronald Reagan entenderam isso. Ao se posicionar contra o comunismo, eles repetidamente transmitiram uma verdade interna com uma ação externa. Ambos eram contra o individualismo radical e o coletivismo. A liberdade, para eles, não é apenas o que eu quero fazer. A liberdade é uma questão de fazer a coisa certa e fazer isso como uma questão de hábito. Essa seria uma liberdade genuinamente humana.

A liberdade não deve ser tratada como o fim supremo; o fim mais elevado, ou virtude, é como se age com o dom dessa liberdade. Uma liberdade com propósito elevado, eis o segredo. “A única liberdade verdadeira, a única liberdade que pode realmente satisfazer, é a liberdade de fazer o que devemos como seres humanos criados por Deus de acordo com seu plano”, disse o papa. Reagan estaria de acordo. Aprendizado, fé e liberdade: cada um reforça os outros, cada um torna os outros possíveis. Pois o que eles são um sem o outro?

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES