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segunda-feira, 18 de maio de 2020

Celso de Mello deve autorizar divulgação de vídeo sigiloso - VEJA - Blog do Noblat

No entendimento da maioria deles, a possível decisão de Mello nesse sentido foi reforçada com a publicação, ontem, pela Folha de São Paulo, do relato que o empresário carioca Paulo Marinho diz que ouviu do senador Flávio Bolsonaro sobre uma operação da Polícia Federal que seria deflagrada entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 2018. A operação foi adiada para não prejudicar seu pai.

O desembargador Abel Gomes, presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, enrolou-se para explicar por que a operação ficou para depois do segundo turno. Primeiro negou o adiamento. Depois disse que ela ficara “para um momento mais oportuno”. Motivo: não para “favorecer quem quer que seja”, mas para evitar “a falsa percepção de que tinha “motivações políticas”. Taokey?

Um dos desembargadores do tribunal admitiu em sessão do ano passado que informações sobre a operação vazaram de fato. E não só para Flávio que, juntamente com Fabrício Queiroz, seu faz tudo, seria um dos alvos. Vazou também para outros políticos. A diferença é que emissários de Flávio ouviram de um delegado da Polícia Federal que a operação seria adiada para não ameaçar a eleição do seu pai. “Eu sugiro que vocês tomem providências. Eu sou eleitor, adepto, simpatizante da campanha [de Bolsonaro], e nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição”, afirmou o delegado à época. Orientado pelo pai, demitiu Queiroz. O pai demitiu a filha de Queiroz que era funcionária do seu gabinete em Brasília.

[a estória desse Marinho está parecendo, é o que uma amiga aqui acaba de dizer, com uma novela em que o marido de uma mulher que está fazendo inseminação artificial - sêmen e óvulos de doadores desconhecidos - vai ter um bebê que não é filho dela, de pai e mãe desconhecidos =filho de ninguém.]

A Polícia Federal abriu inquérito para apurar a veracidade da história que Marinho contou ter escutado de Flávio. A Procuradoria-Geral da República pediu à Polícia Federal que ouça Marinho no inquérito sobre a tentativa de Bolsonaro, o pai, de intervir no que não deveria. A oposição no Congresso reúne assinaturas para instalar a “CPI do Queiroz”. A temperatura política do país subiu mais ainda.

Se ao cabo do inquérito, Aras preferir arquivá-lo, que é o que pretende fazer, o conteúdo do inquérito servirá para alimentar outros pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Impeachment, como observou o ex-presidente americano Gerald Ford, é tudo aquilo que a Câmara, pelo voto de dois terços dos deputados, diz que é. Richard Nixon, o antecessor de Ford, renunciou para não ser cassado.

Como deputado federal, Bolsonaro assistiu a dois processos de impeachment (Fernando Collor e Dilma Rousseff) e a duas tentativas frustradas de abertura de processos de impeachment contra o presidente Michel Temer. Entende do riscado. É por isso que abriu o cofre público e as portas do governo para atender aos desejos de deputados que poderão salvá-lo de perder o mandato. Grupo que reúne os políticos mais fisiológicos do Congresso, o Centrão está de boca aberta à espera das iguarias que Bolsonaro lhe prometeu. Quanto mais se complica a situação do presidente e dos seus filhos, mais o Centrão saliva e escancara a boca. Venha a nós o vosso reino, amém.


Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA


terça-feira, 17 de setembro de 2019

Ataques à Arábia Saudita: por que os EUA guardam milhões de barris de petróleo debaixo da terra



Após os ataques às principais instalações petrolíferas da Arábia Saudita, as autoridades americanas cogitaram recorrer à reserva estratégica de petróleo dos Estados Unidos. À medida que o preço do barril disparava no mercado internacional, o presidente americano, Donald Trump, escreveu no Twitter que autorizava o uso desse reservatório "para manter os mercados bem abastecidos, se necessário".

A reserva a que ele se referia equivale a mais de 640 milhões de barris de petróleo, que estão armazenados em cavernas subterrâneas de sal nos Estados do Texas e da Louisiana. A ideia de manter "reservas estratégicas" remonta à década de 1970. Todos os países membros da Agência Internacional de Energia (AIE) precisam armazenar um estoque equivalente a 90 dias de importações de petróleo, mas a reserva emergencial dos EUA é a maior do mundo.

Por que a reserva foi criada?
Os políticos americanos tiveram a ideia de estocar petróleo no início dos anos 1970, depois que um corte no fornecimento de petróleo por parte de países do Oriente Médio fez com que os preços do barril disparassem em todo o mundo. Membros da Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (Opaep) - incluindo Irã, Iraque, Kuwait, Catar e Arábia Saudita - se recusaram a exportar petróleo para os EUA após o país apoiar Israel na Guerra Árabe-Israelense de 1973, também conhecida como Guerra do Yom Kippur.

O conflito, que ocorreu em outubro daquele ano, levou apenas três semanas. Mas o embargo —que também atingiu outros países— durou até março de 1974, fazendo com que os preços do barril quadruplicassem em todo o mundo, saltando de cerca de US$ 3 para quase US$ 12. As fotos das longas filas de carros nos postos de gasolina, provocadas pelo racionamento de combustível nos países afetados, se tornaram imagens icônicas da crise. Em 1975, o Congresso dos EUA aprovou a Lei de Política e Conservação de Energia, que estabeleceu a criação da Reserva Estratégica de Petróleo (SPR, na sigla em inglês) para o caso de outra grande crise de abastecimento.

Qual é o tamanho da reserva?
Atualmente, há quatro locais onde o petróleo está armazenado: perto de Freeport e Winnie, no Texas; e nos arredores de Lake Charles e Baton Rouge, na Louisiana. Cada um destes locais possui várias cavernas subterrâneas de sal feitas pelo homem de  até um quilômetro de profundidade, onde o petróleo é armazenado. O tamanho das cavernas varia; podem armazenar o equivalente entre 6 a 35 milhões de barris. É muito mais barato mantê-lo assim do que em tanques acima do solo, além de mais seguro —a composição química do sal e a pressão geológica evitam o vazamento de óleo. Além disso, as diferenças de temperatura entre o topo e a base da caverna fazem com que o petróleo circule continuamente, mantendo sua qualidade. Segundo o Departamento de Energia, o fato de o óleo flutuar sobre a água ajuda a mover petróleo desses reservatórios. Basta bombear água fresca na base da caverna para empurrar o petróleo para a superfície. Através de oleodutos, o produto pode ser enviado e terminais e refinarias do país.

O maior reservatório, localizado em Bryan Mound, perto de Freeport, tem 19 cavernas e uma capacidade de armazenamento equivalente a 254 milhões de barris de petróleo. O site da Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA afirma que no dia 13 de setembro deste ano havia, no total, 644,8 milhões de barris estocados nessas cavernas. De acordo com a Agência de Informação de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês), os americanos usaram 20,5 milhões de barris de petróleo por dia, em média, em 2018, o que significa que há petróleo suficiente para manter o país funcionando por cerca de 31 dias.

Como a reserva funciona?
Segundo a lei de 1975 assinada por Gerald Ford, então presidente dos EUA, o presidente só pode autorizar a liberação das reservas de petróleo se houver uma "grave interrupção no fornecimento de energia". Devido a restrições físicas, apenas uma pequena quantidade de petróleo pode ser removida das cavernas diariamente, o que significa que, mesmo que haja uma autorização presidencial para liberar o petróleo, levaria quase duas semanas para chegar aos mercados.

Em UOL, MATÉRIA COMPLETA


 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

“Cadeia verde-amarela” e outras notas de Carlos Brickmann


Todos os governadores eleitos do Rio nos últimos 20 anos foram presos. Dois ex-governadores de São Paulo foram delatados. Ninguém se salva?


A Rádio Bandeirantes, potência maior do rádio paulista, montou uma rede nacional de emissoras afiliadas, que retransmitiam sua excelente programação de esportes. Era a Cadeia Verde-Amarela Norte-Sul do Brasil. Com a TV nos estádios, permitindo que rádios menores transmitissem o jogo a partir das imagens, dissolveu-se a Cadeia Verde-Amarela.

Mas o mundo gira. Hoje, a Cadeia Verde-Amarela Norte-Sul do Brasil está de volta, com autoridades sendo presas em todo o país. O esporte é o mesmo de antes: atuar em estádios, receber boladas, montar boas jogadas e sempre seguir a máxima de um grande técnico, Gentil Cardoso: “Quem pede recebe”. Alguns deram o azar de fazer o que não deviam na hora em que o juiz estava olhando, e a torcida, irritada, exigiu o cartão.
Resultado: todos os governadores eleitos do Rio nos últimos 20 anos foram presos. Um, Sérgio Cabral, está condenado a mais de cem anos. Os dois Garotinhos, Anthony e Rosinha, passaram pela cadeia, mas foram logo soltos. E Pezão foi o primeiro dos quatro a ser preso ainda no exercício do mandato. Perto de Cabral, Pezão é argent de pôche, dinheiro de pinga: falam em mesada de R$ 150 mil, mais 13º, eventualmente algo a mais, mas nada que se compare, ao menos por enquanto, ao anel de R$ 800 mil que Cabral recebeu como propina de um empreiteiro para dar à esposa.
Dois ex-governadores de São Paulo foram delatados. Ninguém se salva?

A hora das vaias
Atenção: o que se discute no Supremo é uma questão constitucional, não partidária, se o presidente da República tem ou não o direito de conceder indulto a presos que se enquadrem em certas normas. Este colunista, do alto de sua ignorância em Direito, acha que, seguidas as normas legais (sem mexer no que está escrito), indultar é direito do presidente. Siga-se a lei.  Se o STF mexer nas normas, interferirá em outro poder. Indulto não é jabuticaba, existe mundo afora. Quando o presidente Nixon renunciou, seu vice Gerald Ford o perdoou, livrando-o de processos. Sem promessa de perdão, renunciaria? Ou lutaria na Justiça, tumultuando a vida do país?

É sério, mas não é
O Governo paulista destinou no Orçamento à Linha 18 do Metrô um total de R$ 40,00 (sim, quarenta reais). A Linha 18 terá 15 km de trilhos, com 13 estações, e deve ligar as sete cidades do Grande ABC, uma das regiões mais importantes do Estado, à capital. Aliás, já deveria estar em funcionamento, porque a inauguração era prevista para 2018, A obra está parada há quatro anos ─ mas, com R$ 40 para gastar no ano, como andar? Esta verba só tem uma vantagem: não sobra espaço para nada errado.

Erramos 1
Esta coluna se equivocou ao noticiar a empresa na qual Marconi Perillo, ex-governador de Goiás, está trabalhando em São Paulo: a firma é a CSN, do empresário Benjamin Steinbruch. Perillo se mudou para São Paulo depois de ser derrotado na eleição para senador.

Erramos 2
Nos anos mais duros da ditadura militar, o Painel da Folha de S. Paulo chamou o ministro Júlio de Sá Bierrenbach, do Superior Tribunal Militar, de “almirante de esquerda”. Erro, claro: Bierrenbach era almirante de esquadra, a mais alta patente da Marinha. Houve a reclamação, a habitual chuva de protestos, e no dia seguinte o Painel publicou algo como “houve um erro na referência à patente” do almirante Bierrenbach. “O correto é almirante de esquerda”. Não é que esta coluna cometeu o mesmo tipo de erro? Ao publicar esclarecimentos sobre vida e obra do ex-ministro Roberto Campos, errou o nome de quem gentilmente nos corrigiu. O nome correto do professor e diplomata é Paulo Roberto de Almeida.

Nosso herói
Mickey Mouse completa 90 anos: em 1928, estreou no desenho animado Steamboat Willie, em que trabalha num navio e tem como inimigo João Bafodeonça. Mickey fez sucesso no cinema, nos quadrinhos, na área de entretenimento ─ os parques da Disney o têm, ao lado de Pateta, como o grande chamariz de turistas. Mickey e seus companheiros de Disney são também grandes exemplos internacionais. No Brasil, por exemplo, velhos ratos estão sempre próximos do poder. Nem dão bola para os Patetas e, graças ao jeitinho brasileiro, ficaram muito amigos de João Bafodeonça e dos Irmãos Metralha, hoje seus companheiros em tantas aventuras. Essas mudanças no perfil dos personagens lhes fizeram bem: nossos ratos, mesmo não sendo atrações turísticas, ganham muito mais que o Mickey.

Aberje
O arresto e penhora de bens da Aberje, Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, foram suspensos: a Aberje está pagando a dívida trabalhista que havia motivado o processo. Tudo em ordem.

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
 

domingo, 20 de maio de 2018

O MP entrou na defesa dos maganos




O MP precisa se olhar no espelho: defendeu no STF o fim do foro privilegiado, mas fez o oposto no STJ

No Supremo Tribunal Federal (STF), ele defendeu o fim do foro privilegiado para deputados e senadores. Essa decisão pontual foi festejada como uma conquista genérica. Engano. Menos de um mês depois, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o MP sustenta exatamente o contrário, defendendo a manutenção do foro na parte que lhe cabe do latifúndio.
 
Com o apoio da Procuradoria-Geral da República (PGR), deputados e senadores que cometam crimes fora do período de seus mandatos serão julgados na primeira instância. No STJ, contudo, o Ministério Público pediu que se preserve o foro especial para governadores, desembargadores, conselheiros do Tribunal de Contas e procuradores que atuam junto à Corte. Em poucas palavras, diante da brecha aberta pelo Supremo, o “Tribunal da Cidadania", defende a jurisprudência do quem manda aqui sou eu". Aceita, ela haverá de se propagar pelos estados.

O pedido do MP foi endossado pelo ministro Mauro Campbell e estava sendo julgado pela Corte Especial do STJ, composta pelos 15 ministros mais antigos. Como o ministro Luiz Felipe Salomão pediu vistas, o caso será apreciado em junho. (Salomão remeteu à primeira instância um processo onde é réu o governador da Paraíba).

Num exemplo hipotético, que poderá ocorrer em alguns estados:
Se um senador e um vereador (ou procurador) forem casados com duas irmãs e ambos matarem as mulheres, o senador será julgado na primeira instância e o vereador (ou o procurador) irão para o Tribunal de Justiça do seu estado. O senador não tem foro privilegiado, mas os outros dois têm.

Expandida, a festa preservará o foro de todos os desembargadores, juízes de tribunais federais regionais, conselheiros de contas estaduais e municipais. E mais, Bingo: dos membros do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais.

O foro privilegiado favorece 58 mil maganos com funções em 40 tipos de cargos. A decisão do Supremo Tribunal, restrita a parlamentares, alcança algo como mil pessoas, levando-se em conta que há casos de cidadãos cujo mandato acabou. Na ponta do lápis, o Supremo livrou-se de mais de 60 processos.
A Corte Especial do STJ deverá decidir a questão no dia 6 de junho. Aberta a brecha, ficará a lição do “poetinha” Vinicius de Moraes:
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata, ou da jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira.

O indulto de Lula está no forno
Ciro Gomes tem toda razão quando diz que não se pode oferecer um indulto a Lula enquanto ele tiver recursos tramitando na Justiça. Seria o mesmo que considerá-lo culpado.

Isso não elimina o fato de que, se vier a ser eleito presidente da República, Ciro poderá indultar Lula no primeiro dia de governo. (O ministro Luís Roberto Barroso parece ter farejado essa carta ao restringir o indulto de fim de ano de Temer).

Em princípio, há um famoso precedente histórico. Em 1974, um mês depois de ter assumido a presidência do Estados Unidos, Gerald Ford perdoou Richard Nixon, arrastado pelo Caso Watergate.

Mas nem tudo é o que parece. Ford perdoou Nixon argumentando que seu julgamento demoraria pelo menos um ano, dividindo o país. Segundo Ford, ele já havia sido obrigado ao inédito constrangimento de deixar a presidência dos Estados Unidos.
Lula não renunciou e já foi condenado em duas instâncias judiciais.

(...)

Recordar é viver
José Dirceu foi mandado de volta para a cadeia no mesmo dia em que, há 50 anos, podia comemorar a adesão de 200 mil trabalhadores à revolta estudantil de Paris. A greve expandiu-se e parou dois terços da força de trabalho francesa.
A coisa assumiu tal proporção que o general Charles de Gaulle sumiu, achando que seria derrubado. Viajou em segredo para o quartel-general das tropas francesas na Alemanha e garantiu o apoio da tropa. Voou de volta e virou o jogo.
Quando 1968 terminou, todos os jogos estavam virados. O Brasil tinha o Ato 5, as tropas russas estavam em Praga e o republicano Richard Nixon foi eleito presidente dos Estados Unidos.

(...)

Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e comoveu-se com a bancada de presos da Lava-Jato que se queixa dos ratos existentes no presídio de Bangu 8.
O cretino estranhou a falta de compaixão para com os ratos quadrúpedes, que também podem estar incomodados com a nova vizinhança.

Elio Gaspari, jornalista - O Globo