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sábado, 7 de janeiro de 2023

Missão impossível: explicar meu caso aos americanos - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo 

Deu na Gazeta e na Oeste: Após ter os perfis nas redes sociais suspensos, o jornalista e colunista da Gazeta do Povo, Rodrigo Constantino, também teve as suas contas bancárias bloqueadas e o passaporte cancelado por uma determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito das fake news (4.781). As informações foram confirmadas pela defesa de Constantino, porém o próprio jornalista achou melhor não comentar o caso, devido ao inquérito estar em sigilo.

Além de Constantino, o empresário e jornalista Paulo Figueiredo, também teve suas contas bancárias no Brasil bloqueadas e seu passaporte cancelado. Os advogados dos envolvidos creem que os jornalistas estão incluídos tanto no inquérito das fake news como no das milícias digitais (4.874) e reclamam da falta de acesso aos autos - integralmente.

Sobre as decisões de Moraes, o STF informa que não tem acesso às decisões dos inquéritos que tramitam em sigilo. E por isso mesmo o meu advogado recomendou que eu não comentasse detalhes do inquérito - até porque nem ele tem acesso aos detalhes! Mas vamos supor que seja isso mesmo, que minhas contas bancárias tenham sido congeladas e meu passaporte cancelado (e tanto a Gazeta do Povo como a Oeste são veículos sérios de jornalismo): como explicar meu caso aos americanos?

Preciso da ajuda dos universitários. Como explico nos Estados Unidos o que estou sofrendo no Brasil se existe aqui a Primeira Emenda, que rejeita o bizarro "crime de opinião" criado por Alexandre de Moraes? Como digo que sou alvo de um inquérito sigiloso do STF sem qualquer provocação do MP, basicamente por tuítes inocentes como elogio às Forças Armadas, se a Corte Suprema americana jamais poderia fazer isso ou qualquer coisa similar?

Eis a triste verdade: trata-se de uma missão impossível explicar como um jornalista pago para emitir opiniões pode ser tratado como um criminoso perigoso pelo governo só por... emitir opiniões!  
Terroristas do MST e do MTST são tratados como manifestantes legítimos, mesmo quando agem com violência. Eu, que nunca matei uma mosca, sou tratado como bandido. Como pode isso?

Claro, quando lembramos que todos os valores estão invertidos no Brasil fica mais fácil compreender: o ladrão voltou à cena do crime! Não é que o crime compense no Brasil; ele está no poder! O buraco é mais embaixo. Logo, as pessoas honestas serão tratadas como marginais, e os marginais como cidadãos de primeira classe. A partir de agora, quem for pego com arma na rua e não for ladrão será preso!

Para o gringo médio, isso é impensável. Ele não vai acreditar em mim! Já tentei conversar com alguns, com jornalistas, com advogados, e eles quase debocham de mim: "isso não é possível". Mais foi! E não sou a única vítima. Quando era Allan dos Santos ou Daniel Silveira, este com imunidade parlamentar, muita gente virara a cara pois eram "radicais demais", pois "provocaram". Mas eu? O Guilherme Fiuza?  O Paulo Figueiredo? E quem será o próximo?  
E onde isso vai parar? Dica: olhe para a Venezuela.
 
E aqui vai meu resumo: para tentar explicar o Brasil de hoje para os americanos, preciso constatar uma obviedade ululante para nós, brasileiros: nosso país já vive sob uma ditadura!  
Quando menciono que estou banido das redes sociais por canetada, sem qualquer condenação, eles duvidam. 
Aí menciono Cuba, China, Venezuela, e eles compreendem. 
O Brasil é como esses países agora, e precisa de VPN para acompanhar a opinião dos jornalistas independentes, se não quiser ficar só na mão dos militantes petistas que ocupam a maioria das redações.
 
O pior é que tem muita gente em silêncio ainda, achando que a sanha autoritária ficará restrita aos "bolsonaristas". Tadinhos! Nunca leram nada sobre tiranias! Falta-lhes bagagem cultural, conhecimento histórico. Alimentam um monstro que não poupará vítimas, pois o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. 
Se um ministro, em sigilo, de forma monocrática, com um inquérito ilegal, pode banir das praças públicas modernas, congelar contas bancárias, cancelar passaporte, tudo isso sem qualquer processo legal e transparente ou sem condenação, então esse sujeito é o imperador absolutista do país. Parabéns aos envolvidos!

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

TSE deu a si próprio uma missão impossível: estabelecer o que é a verdade - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Discurso de posse do novo presidente do ‘tribunal eleitoral’ é um dos grandes momentos dessa corrida para a escuridão

Não poderia haver retrato mais fiel do Brasil desfigurado que o Poder Judiciário construiu durante esses últimos anos do que a cerimônia de posse no novo presidente do TSE essa aberração que faz das eleições brasileiras um problema de justiça, ou um caso de polícia. 
As eleições para presidente, numa República, deveriam ser um momento de celebração da democracia. 
No Brasil de hoje, é ocasião para o TSE, autoridade que se apresenta como a dona do processo eleitoral, fazer um pacote de ameaças o mais importante, nas eleições do Brasil de hoje, não é o exercício do direito de voto pelo eleitor, e sim o que está proibido de se fazer na campanha, e as punições para quem desagradar os juízes do jogo. É pura e simples inversão de valores, direto na veia.

O discurso de posse do novo presidente do “tribunal eleitoral” é um dos grandes momentos dessa corrida para a escuridão.. Fala em “liberdade” durante um segundo – a partir dali, começa a denunciar o “mau uso” da liberdade, dizer quando ela não pode ser utilizada e ameaçar quem exercer os seus direitos de alguma forma que o TSE não admita

O presidente, no ponto que mais chamou atenção em sua fala, informou ao público que vai ser “implacável” na repressão aos que, em seu julgamento, não obedecerem às ordens do tribunal para a campanha.  
É isso: o que importa não é o direito de escolher o novo presidente da República, mas o que está proibido para os candidatos e os eleitores fazerem. Nada parece obcecar mais os juízes da eleição, nesse particular, do que a sua ideia fixa com as fake news, assim mesmo em inglês, ou notícias falsas.

Os ex-presidentes Lula e Dilma estiveram na posse do ministro Alexandre de Moraes no TSE
Os ex-presidentes Lula e Dilma estiveram na posse do ministro Alexandre de Moraes no TSE Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

O TSE deu a si próprio uma missão impossível estabelecer o que é a verdade, nada menos que a verdade, de hoje até o dia 2 de outubro. Como alguém pode imaginar que será capaz de conseguir uma coisa dessas? Fica a dúvida. É apenas mais um surto psicótico de mania de grandeza, arrogante, pretensioso e inútil?  
Ou será que estão pensando em usar a autoridade de proibir, tão festejada no discurso de posse, para interferir na campanha, contra um lado e a favor do outro? 
Os fatos vão mostrar se será assim, ou não. O que dá para dizer, logo de cara, é que o plano supremo do TSE começa com problemas. 
O ex-presidente Lula, o candidato que a mídia apresenta como vencedor, e de lavada, disse que o governo Bolsonaro bateu “o recorde” em queimadas na Amazônia. É mentira; no tempo em que passou na presidência, as queimadas foram cinco vezes maiores. Eis aí algo que cabe exatamente na definição básica de fake news – é uma notícia falsa. Como fica?
 
Lula apagou a notícia, depois de publicada. Tudo bem, então? É assim que vão ser as coisas? O sujeito publica uma notícia falsa, e depois apaga – e o TSE se dá por satisfeito?  
O presidente do TSE disse que vai ser “implacável”. 
 Será que vai ser “implacável” desde já, com esse caso das queimadas, ou ainda vai esperar mais um pouco? 
Lula também disse que Bolsonaro é “possuído pelo demônio”
Levando-se em conta que não será possível provar essa acusação cientificamente, ou de qualquer outra forma, o TSE vai classificar a coisa como fake news? Também poderia achar que é um insulto crime previsto no artigo 140 do Código Penal Brasileiro sob o título de “injúria”. Qual das duas coisas será feita pelo tribunal? Ou não se fará nenhuma? 
Vamos ver, a cada caso como esses, de que forma o TSE aplicará as ameaças que fez.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo

 

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Missão impossível - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Difícil convencer investidores de boas ações e intenções do Brasil no meio ambiente

Com Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente) sentados à mesa e deitando falação, como os investidores internacionais podem acreditar em boas intenções e ações do Brasil na defesa da Amazônia e das comunidades indígenas? Araújo ironiza a defesa do ambiente como “climatismo”, “coisa da esquerda”. Salles sofre uma repulsa geral por só pensar em “passar a boiada”. E o presidente Jair Bolsonaro acha tudo isso uma bobajada que atravanca o progresso.

[Missão Impossível,  ao que tudo indica, é convencer muitos brasileiros do BEM dos reais objetivos das ONGs, ativistas e investidores (fundos) gafanhotos escondem embaixo do falso interesse pela preservação do Meio Ambiente do Brasil - destruíram o deles e agora querem preservar o do Brasil... e tem muitos de boa fé que acreditam, apesar da maioria buscar apenas o dinheiro fácil em troca da SOBERANIA  do BRASIL = .]

Assim, há dúvidas quanto ao resultado da reunião de ontem do vice Hamilton Mourão, Tereza Cristina (Agricultura), Araújo e Salles com grandes investidores. No mundo de hoje, que governos, empresas e financiadores arriscam suas marcas apostando em países que desmatam, queimam, desrespeitam comunidades ancestrais?  (E cultura, educação, saúde...) É difícil e constrangedor pedir recursos a estrangeiros (ontem) e ao grande capital nacional (hoje) se... os R$ 33 milhões do Fundo da Amazônia estão mofando no BNDES, só 0,7% dos R$ 60 milhões da Operação Verde BR2 foram usados e o ministro do Meio Ambiente é alvo da Justiça, MP, Ibama, ICMBio e da torcida do Flamengo.

É difícil e constrangedor dizer que vai tudo bem, obrigada, se o desmatamento da Amazônia cresce há 13 meses seguidos e isso significa, como todo o mundo, literalmente, sabe, devastação no ato e queimadas depois. Sem falar de Cerrado, Mata Atlântica e das pujantes riquezas naturais brasileiras, ameaçadas por ideologia, ignorância e achismos. É difícil e constrangedor reclamar de “uma visão distorcida” do mundo sobre o meio ambiente no Brasil, como já reclamou Bolsonaro na reunião do Mercosul, já que é o próprio presidente que manda os fiscais do Ibama descumprirem as leis e deixar os desmatadores em paz.

É difícil e constrangedor, também, explicar que Bolsonaro esperou se eleger presidente para punir o fiscal do Ibama que o multou por pescar em área proibida, demitiu o presidente do Inpe porque não aceitava os dados do desmatamento, [o presidente do Inpe foi demitido por indisciplina, total desrespeito ao presidente da República - a exemplo daquele ministro palanqueiro que o presidente Bolsonaro demitir do MS.] tem ideias apavorantes para Abrolhos, Angra dos Reis e Fernando de Noronha e orienta seu governo a “passar a boiada” – como disse Salles na reunião de 22 de abril, referindo-se a leis e regras flexibilizando a proteção ambiental.

É difícil e constrangedor, ainda, jurar de pés juntos para o grande capital nacional e estrangeiro que o governo brasileiro se preocupa realmente com as comunidades indígenas e quilombolas, se o presidente acaba de vetar medidas de preservação da vida e das reservas, como fornecimento de água potável, cestas básicas e itens de higiene durante a pandemia. Argumento: a lei aprovada no Congresso não especificou as fontes de recursos? Ah, bem! Tudo explicado.

Por fim, é difícil e constrangedor explicar a proposta para escancarar as reservas indígenas para todo o tipo de exploração – mineral, agrícola, pecuária, até turística. Tudo isso, porém, pode ser explicado com uma única frase, do então ministro da Educação na histórica reunião ministerial de 22 de abril: “Odeio o termo ‘povos indígenas’, odeio esse termo. Odeio o povo cigano. Quer, quer, não quer, sai de ré”. Deveras educativo.

Só não é difícil, apesar de profundamente constrangedor, ver a imagem do Brasil esturricando pelo mundo afora, alvo de perplexidade de líderes democráticos, sociedades, parlamentos, empresas, mídia, chargistas e organismos internacionais. O “soft power” construído ao longo de décadas vira pó, deixando uma triste pergunta no ar: quanto tempo vai demorar para nosso País recuperar, não apenas investimentos e boa vontade do capital internacional, mas sobretudo a imagem, credibilidade e simpatia de todo o mundo?

Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo