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domingo, 11 de agosto de 2019

De novo com vocês, delações de Palocci - Revelações de Palocci cheiram a pirotecnia - Elio Gaspari





Folha de S. Paulo - O Globo





A colaboração do ex-ministro, divulgada a seis dias do primeiro turno da eleição, era um pastel de vento. Há forte cheiro de pirotecnia nas novas revelações 

[preciso lembrar que houve um segundo turno e muitos esperam um terceiro; 

o capitão não espera, caso esperasse com certeza sequer pensaria na volta da CPMF, ainda que com outro nome.]

Foi assim no ano passado: faltavam seis dias para o primeiro turno e o juiz Sergio Moro divulgou um anexo da colaboração do ex-ministro Antonio Palocci à Polícia Federal. Era um pastel de vento em cujo recheio havia uma única informação (Lula organizou uma caixinha de fornecedores da Petrobras e colocou o comissário como gerente), mas faltava a investigação. Quem pagou? Como? Para quem foi o dinheiro?
 
O efeito da “mão de Deus” no gol de Moro foi sentido no escarcéu que acompanhou a revelação. Hoje, graças ao Intercept Brasil, conhecem-se as mensagens trocadas pela turma da Lava-Jato em torno do assunto. Uma semana antes, no dia 25 de setembro, referindo-se a Moro e às confissões de Palocci, um procurador escreveu:
“Russo (apelido do juiz) comentou que embora seja difícil provar, ele é o único que quebrou a ‘omertà’ petista”. (Falava do código de silêncio dos mafiosos.)

Uma procuradora acrescentou: “Não só é impossível provar como é impossível extrair algo da delação dele.”
Um terceiro procurador foi além: “O melhor é que fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja. Não que talvez não fosse.”
Dois dias depois da divulgação do anexo por Moro, uma procuradora perguntava:
“Vamos fazer uso da delação do Palocci?”
Outro respondeu:
“O que Palocci trouxe parece que está no Google”.
Segundo outro procurador:
“O acordo é um lixo, não fala nada de bom (pior que anexos Google).” [os hackers (marginais contratados para invadir celulares) são bons na prática criminosa;
já o que redigiu os diálogos e os inseriu, fraudando as conversas roubadas, não é bom em criar clima de suspense.]
Fez-se um banquete com o lixo e o resto é história. Dez meses depois, Antonio Palocci volta a atacar com um novo vazamento de sua colaboração para a Polícia Federal. Moro é ministro da Justiça e uma parte da turma da Lava-Jato está sendo confrontada com suas próprias malfeitorias, mas pode ser coincidência.

Desta vez o comissário teria contado que a Ambev, uma das maiores empresas do país, fez “pagamentos indevidos” a Lula e Dilma Rousseff. Não se conhecem os anexos e, portanto, não se pode saber que pagamentos são esses, nem como foram feitos. Inicialmente a Ambev disse que não comentaria o caso (o que foi má ideia), mas sabe-se que durante três anos ela pagou legalmente um total de R$ 1,2 milhão à empresa de consultoria de Antonio Palocci. Como essa firma era um lindo biombo, nesse caso os doutores da Ambev foram comprar pasta de dentes na Cracolândia. Há um forte cheiro de pirotecnia nessa nova série de revelações de Palocci. Quanto mais cedo forem conhecidos os anexos, melhor.

Levando areia para o vento pirotécnico, Palocci teria contado que em 2002 o ditador líbio Muamar Kadafi deu o equivalente a um milhão de dólares ao PT. Para quem olha esse caso de fora, a primeira pista de que havia algo de estranho na relação de Lula com Kadafi surgiu em 2003, quando ele foi a Trípoli e disse que “jamais esqueci os amigos que eram meus amigos quando eu ainda não era presidente”.Palocci mencionou o dinheiro líbio pela primeira vez no final de 2017, quando negociava sua colaboração com o Ministério Público. Os procuradores acharam que suas revelações tinham muito pirão e pouca carne, e ele foi se confessar na Polícia Federal. Lá, voltou a falar do caso. É razoável supor que em dois anos o comissário tenha sido capaz de lembrar como esse dinheiro chegou ao Brasil e a quem foi entregue.

Na semana passada Palocci tornou-se o primeiro comissário a ganhar o direito de andar livre pelas ruas (de tornozeleira eletrônica). Ex-quindim da plutocracia, comprovadamente tornou-se um milionário durante o consulado petista.

A força de Bolsonaro no Brasil seguro
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgaram a lista das 20 cidades mais violentas e de outras 20 que poderiam ser consideradas as mais pacíficas. Cruzando-se esses dados com os números da última eleição, resulta que o capitão venceu em todas as 20 cidades onde a taxa de homicídios é baixa. Em 17 teve mais de 70% dos votos e em cinco delas, mais de 80%. Essas cidades estão em São Paulo (14), Minas Gerais (3) e Santa Catarina (3). No mapa das 20 mais violentas, Bolsonaro venceu em seis, divididas entre o Pará (3), Acre (1), Rio de Janeiro (1) e Rio Grande do Sul (1). Nas demais, todas do Nordeste, venceu Fernando Haddad. [interpretação simples: os eleitores das cidades com menos homícidios optaram pelo capitão, pela certeza que ele iria manter os índices baixos, até mesmo, reduzindo-os - não imaginaram que os inimigos do capitão, iriam criar muitas dificuldades para impedir, no mínimo dificultar, o governo do capitão;
já as cidades mais violentas (a campeã, Maracanaú, fica no Nordeste, Ceará) por razões desconhecidas, temeram que o capitão acabasse com a violência.]

Esse resultado reflete a tendência geral do eleitorado, que ficou com Bolsonaro nas regiões Sudeste e Sul, enquanto o Nordeste preferiu Haddad.Foram poucas as cidades de São Paulo e Santa Catarina onde Haddad venceu, mas mesmo assim, o desempenho do capitão nas 20 cidades mais pacíficas superou o percentual que ele obteve nos dois estados.

A segurança pública foi um fator relevante na eleição, mas não foi o único. Houve sobretudo o fator “medo”, real e manipulado. Se o discurso da lei e da ordem do capitão fosse aceito nas cidades violentas, ele teria vencido em Maracanaú (CE), a campeã na desgraça. Lá deu Haddad. [a violência. o crime e tudo que não presta estão associados ao Perda Total e Haddad foi o candidato petista.] Num raciocínio inverso, se ele fosse repelido, Bolsonaro teria perdido na vice-campeã, Altamira (PA), mas ali ele venceu.

O comportamento do eleitorado nas cidades violentas ficou tremido, mas nas cidades mais seguras bateu um 100% onde deve-se reconhecer que estava embutido um aviso. Algumas explicações para o resultado de 2018, coisas como “voto anti-PT” ou “efeito facada” valem pouco para quem quer pensar na eleição do ano que vem ou na de 2022. Quem olha a lista das 20 cidades menos violentas e vê que 14 delas estão em São Paulo deve reconhecer que Geraldo Alckmin, o “picolé de chuchu”, podia não ter sabor, mas refrescava.

 

(...)

Lula livre
Quem conhece as costuras das togas da magistratura acha que Lula pode ir para o regime semiaberto a partir do mês que vem. A decisão poderá vir do juízo de primeira instância. Se não vier, a questão irá para o Superior Tribunal de Justiça. Em último caso, a decisão será do Supremo Tribunal. [resta torcer que o TRF-4 confirme antes do presidiário cumprir 1/6 da pena confirme a segunda condenação;
devido o tratamento especial que o ladrão petista recebe do Supremo - Lula vai ao Supremo, atropelando todas as instâncias, com mais facilidade do que a encontrada por um cidadão comum para falar com o guarda da esquina - o STF é a primeira instância para Lula.
Podemos também esperar que confirmada pelo TRF-4 a segunda condenação, o presidiário mais famoso do Brasil vá direito para uma penitenciária comum.]]
O desfecho será a saída de Lula da carceragem da Polícia Federal.

(...)

Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari




sábado, 9 de dezembro de 2017

O PT e o dinheiro de Kadafi: Outra bomba ameaça implodir Lula e o PT? Sugiro que militância antipetista não se entusiasme

Epa! Então mais uma bomba ameaça destruir Lula e o PT? É mesmo, é? E quem teria acendido o estopim? Ele! Antonio Palocci.

Muamar Kadafi voltou do inferno para assombrar a companheirada, carregando uma maleta com US$ 1 milhão.  Será mesmo?  Um espectro ronda o universo das delações premiadas: justamente Palocci. Tudo, no seu caso, obedece a caminhos um tanto heterodoxos. Saiu de sua boca aquela que era, até ontem, a mais bombástica acusação contra o ex-presidente: o petista teria feito um “pacto de sangue” com Emílio Odebrecht que envolvia o tal sítio de Atibaia, palestras a R$ 200 mil (fora impostos), o terreno para a construção do Instituto Lula e, bem…, uma reserva de R$ 300 milhões para enfrentar o interregno fora do poder. O dinheiro seria de livre uso de Lula ou do partido.  Primeira estranheza: Palocci poderia ter contado essas coisinhas nada irrelevantes, se verdadeiras, no âmbito da delação. Mas preferiu acender velas no altar de Sérgio Moro, ao qual devotava tal sujeição e submissão no depoimento que beirou a caricatura, o que não escapou ao olhar atento de advogados treinados na arte de construir a imagem do seu cliente.

Nunca é demais lembrar: delator é bandido. Palocci ambicionava o lugar não do marginal pego com a boca na botija, mas o do arrependido por ter colaborado com o malfeito.  Em que aquilo tudo lhe poderia ser individualmente útil? Não ficou claro. Que o objetivo ali fosse incriminar Lula, bem, isso era evidente. Palocci contou o que lhe foi indagado e também o que não foi. E se ofereceu para revelar mais coisas.  Desde aquela data, aguarda-se com certa ansiedade a sua delação. Empacou. Uma das dificuldades, tudo indica, está no fato de que a Procuradoria-geral da República não quer ter um novo Joesley Batista nas costas. Sim, as acusações do açougueiro eram também explosivas, mas a população não engoliu os benefícios que o empresário recebeu. Ainda pior: descobriu-se depois que parte daquelas ações que procuraram atingir Michel Temer e Aécio Neves eram armações, com características de flagrante armado.

A Lava Jato não precisa de uma nova desmoralização, agora com Palocci. Uma das dificuldades estaria no fato de que ele é bom para apontar crimes alheios, mas fraco quando se trata de revelar os seus próprios. Prefere ser, assim, aquela testemunha ocular da história, entenderam? Tudo indica que a operação já tem impunes demais.  Depois que Palocci fez aquelas graves acusações contra Lula, o petista saltou do patamar de 30% para o de 35% nas intenções de voto no primeiro turno; no segundo, ele alargou a dianteira no confronto com possíveis adversários. E olhem que, naquele caso, o ex-ministro fazia acusações cujo conteúdo é compreensível para as massas: sítio, terreno, R$ 300 milhões, palestras a R$ 200 mil. O próprio Lula chegou a imaginar estragos na sua imagem. O eleitorado não deu a menor pelota. [fácil de entender o  pouco caso que o 'eleitorado' de Lula faz com as acusações contra o filho do 'coisa ruim': quem vota dem Lula, Dilma, não tem capacidade de pensar, discernir.
Quando não estão preocupado com as bolsas que vão ganhar ou se consideram 'intelectuais', 'militantes'. estão concentrados em arrumar boquinhas no governo lulopetista para roubarem - ainda que ninharia, restos do festim, tipo fazia Rosemary, a amiga íntima.]   No país em que tudo vai se mostrando possível, por que não isso?

E, agora, mais uma bomba ameaça implodir o PT: o carniceiro Muamar Kadafi, então ditador da Líbia, teria repassado ao PT US$ 1 milhão para a campanha eleitoral de… 2002!!! Reportagem da Veja informa que Palocci teria feito essa acusação em seu pré-acordo de delação.
A acusação, obviamente, é gravíssima. Se for comprovada, o PT pode perder o registro, segundo dispõe o Artigo 28 da Lei 9.096, a dos partidos políticos, a saber: O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão, determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado:
I – ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de procedência estrangeira; II – estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros.

Mas é precisamente nesse ponto que a porca torce o rabo. Como provar que se fez uma doação irregular em 2002? Não existe mais nem mesmo a elite que governava, então, a Líbia.  Recomendo aos senhores leitores antipetistas entusiasmo comedido com a notícia.
Parece-me estranho — e a qualquer pessoa minimamente experimentada nas artimanhas da política — que aquele que era o braço operante do PT do mercado financeiro tenha como “a grande bomba” contra o partido a doação ilegal feita em 2002 por um ditador que já está morto. O atual governo da Líbia mantém segredo até sobre o local do sepultamento.

A menos que haja uma prova, coisa de que duvido, esse negócio vai gerar muito barulho nas redes sociais, excitar o ânimo da militância antipetista, inflamar ainda mais os já inflamados e morrer no nada.  Ah, sim: servirá para Lula dizer que não só tentam tirá-lo da eleição como querem agora fechar o partido.
Lá vem vitimismo triunfante pela frente.

domingo, 22 de novembro de 2015

O mundo encolheu


À parte as vítimas e os estragos que espalha pelo caminho, o terrorismo produz uma mensagem


Bamako não tem Torre Eiffel nem Louvre, Arco do Triunfo ou Praça da Bastilha. As luzes que funcionam na capital do Mali em nada evocam a joie de vivre associada à antiga metrópole. Um dos cartões-postais da cidade africana é um massudo Monumento da Paz — horrendo arco branco estilizado em forma de duas mãos que seguram um globo terrestre.

Na manhã desta sexta feira, uma semana após os atentados múltiplos em Paris, a enorme pomba branca que encima o monumento turístico de Bamako voltou a falhar. Com a irrupção armada de terroristas no hotel cosmopolita Radisson Blu de Bamako, o mundo pareceu ter encolhido ainda mais. Fossem outros os tempos, é possível, senão provável, que esse último atentado ficasse relegado ao noticiário menos nobre. Com pouco mais de cem mil visitantes estrangeiros por ano, o Mali tem presença quase clandestina em folhetos turísticos populares, enquanto a França, campeoníssima mundial no quesito, registra quase 85 milhões de visitantes/ano.

Apesar de já ter sido berço orgulhoso de uma civilização antiga, o Mali e suas 26 etnias foram tantas vezes atacados, conquistados, abandonados e reconquistados que incautos costumam passar ao largo. O último grande solavanco ocorrera em 2013, quando rebeldes tuaregues e radicais islâmicos afiliados à al-Qaeda assumiram o controle da metade norte do país. Batizaram de Azaad o território conquistado, declararam-no Estado independente e impuseram obediência absoluta à lei da sharia, banindo da vida a música, a televisão e outras infidelidades ocidentais. Só não estabeleceram o primeiro poder terrorista no coração da África porque o governo de Bamako pediu ajuda a Paris, e tropas francesas enxotaram os rebeldes.

Enxotaram, porém não eliminaram, e a revanche ficou na incubadora — é vasto o vivedouro de bandidagem, terrorismo e tráfico de armas em que se transformou a região do Sahel desde a derrubada do ditador líbio Muamar Kadafi. A mera listagem dos grupos terroristas em atividade na região e dos subgrupos com capacidade operacional e lideranças conhecidas ocuparia parte deste espaço. Ademais, as filiações dessa miríade de células com organizações de porte como o Estado Islâmico (EI), al-Qaeda ou Boko Haram são cambiantes. Daí ser temerário apontar desde já uma lógica entre os atentados dos últimos dias.

Para os serviços de inteligência mundiais, ainda mais arriscado é distinguir bazófia de perigo real nas recentes ameaças terroristas disseminadas nas redes sociais. O poder do terror reside justamente nisso: fazer crer que ele é capaz do impossível. Como já se escreveu aqui em ocasião anterior, ao contrário de outros “ismos” como marxismo, budismo ou nacionalismo, o terrorismo não está atrelado a um corpo de crenças ou sistema de ideias. Definido como ato de violência organizada contra civis, cabe a pergunta paralela: ele é da família dos meios ou dos fins?

Para o pesquisador francês François-Bernard Huyghe, o terrorismo é a exceção e o exemplo. À parte as vítimas e os estragos que espalha pelo caminho, o terrorismo produz uma mensagem. É a propaganda através do ato, ou a pedagogia através do assassinato. No fundo, a bomba caseira que explodiu na ruela medieval por onde passava Napoleão no Natal de 1800 tinha elementos semelhantes aos de um atentado de hoje numa rua de Paris ou Bamako. A diferença abissal é que lá atrás não havia mídia. Hoje há mídia social. E como já prenunciara Marshall McLuhan, o guru fashion dos anos 60, depois de acompanhar a primeira cobertura mundial de um atentado (o massacre de atletas israelenses nos Jogos de Munique em 1972), “o satélite vai espalhar a paranoia terrorista mundo afora e aperfeiçoar os atos de violência”.

Desde o atentado às Torres Gêmeas em 2001, a paranoia está instalada. Deixou de ser paranoia. É pânico, medo. “Temos medo de entrar num avião. Temos medo de determinados países. Determinadas religiões. Temos medo de navios cargueiros, cartas e pacotes, comidas importadas. No fundo, temos medo de tudo que está à nossa volta”, já constatara tempos atrás o primeiro-ministro da Malásia, Mahathir bin Mohamad.

Hoje, por força da situação de alto risco, governos colaboram involuntariamente com o terror ao fabricarem o medo preventivo. A fronteira entre criar pânico e proteger a população é crítica e complexa. Em 2003, o Ministério do Interior britânico teve de recolher às pressas um documento de 35 páginas, meia hora após sua distribuição, pois o alerta falava em agentes da al-Qaeda se infiltrando em cidades da Inglaterra através de botes e trens, com armas nucleares caseiras e gás venenoso. Outro documento divulgado pelo governo da época mencionava planos terroristas de ataque aéreo contra o Castelo de Windsor, da rainha da Inglaterra. Nos Estados Unidos, o ar de túneis e galerias de metrô já chegou a ser testado para detectar eventual contaminação. O leite e alimentos frescos, também.

A irlandesa Louise Richardson, ex- professora de Harvard e recém-indicada vice-presidente da Universidade de Oxford, deu uma contribuição relevante ao debate com o estudo “O que querem os terroristas: compreendendo o inimigo, contendo a ameaça”, publicado em 2006. Rejeitando a noção generalizada de que “compreender e explicar o terrorismo significa simpatizar com sua causa”, ela trabalhou em cima de um leque de características que atribui ao terrorismo. Algumas delas:
— ter inspiração política e visar à população civil;
— ter por imperativo a violência física (o ciberterrorismo seria apenas acessório);
— suas vítimas não serem as mesmas que a audiência pretendida;
— ter por propósito a disseminação da mensagem, não a derrota do inimigo;
— terroristas são mais fracos do que seus inimigos, por isso recorrem ao terror;
— exceções à parte, atentados são praticados por grupos, não por estados.

Até hoje um dos paradoxos clássicos do terror consistia em proliferar em todos os cantos, não triunfar em lugar algum e renascer sempre. Nem mesmo a autoproclamação física e territorial do Estado Islâmico e seu corolário de matanças em escala planetária altera esse paradoxo. Apenas o exacerbam.

Como ficou patente no atentado de Bamako, é mais fácil enxotar terroristas de um território conquistado do que eliminar suas raízes.

Por: Dorrit Harazim,  jornalista - O Globo