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sábado, 10 de novembro de 2018

Como nunca se viu

Investigadores frustram plano de complexidade inédita para libertar Marcola e descobrem que a bandidagem está em alerta depois da eleição de Bolsonaro

Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2018, edição nº 2608

Desde a prisão em 1999 de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, chefão do Marcola, (PCC), as autoridades descobriram pelo menos seis planos para tirá-lo da cadeia, local onde cumpre condenações que somam mais de 330  anos de pena. Nenhum plano, no entanto, foi tão audacioso como o desvendado em outubro pelos setores de inteligência da Secretaria de Administração Peniten­ciá­ria (SAP) e do Ministério Público do Estado de São Paulo. Segundo as investigações, a nova operação envolveu a contratação de mercenários estrangeiros equipados com fuzis, lança-granadas e metralhadoras calibre .50, com poder de fogo para derrubar helicópteros em pleno voo. O plano, estima-se, custou ao PCC cerca de 100 milhões de reais. De acordo com as investigações, o uso de tamanho aparato é inédito, e tudo foi arregimentado com um objetivo concreto: soltar os cabeças da facção antes da posse de Jair Bolsonaro (PSL).

(...)

[A transferência de presos para presídios federais é uma das medidas esperadas na gestão Bolsonaro.]. Neles estão encarcerados os chefes do Comando Vermelho (Fernandinho Beira-Mar), dos Amigos dos Amigos (Nem da Rocinha) e da Família do Norte (Zé Roberto da Compensa). Marcola e outras doze lideranças do PCC estão, hoje, na penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, mantida pelo governo paulista — e não pelo governo federal.  O envio das lideranças do PCC para outros estados sempre foi um pleito da Polícia Civil e do Ministério Público rechaçado à exaustão pela cúpula dos governos tucanos.

 Oficialmente, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) sempre argumentou que os presídios paulistas eram seguros o suficiente para manter os bandidos. Mas, nos bastidores, havia a preocupação de que as transferências desencadeassem represálias, como a ocorrida em 2006, em que a facção comandou uma série de atentados a policiais e agentes penitenciários. O que não se sabe é por que os criminosos fazem tanta questão de permanecer em presídios de São Paulo.

A ousadia da operação do PCC, a segunda tentativa de resgate frustrada em menos de seis meses, revela a um só tempo o enorme poder de fogo e o grau de apreensão da bandidagem. O plano seguiria o modelo de “sitiamento”, o mesmo aplicado em grandes assaltos a transportadoras de valores e agências bancárias em São Paulo. A ideia era a seguinte: um comboio com dezenas de veículos chegaria de surpresa pela madrugada às proximidades do presídio, e homens armados com fuzis se posicionariam em frente às delegacias e quartéis para impedir a saída dos policiais. Em seguida, caminhões e carros seriam queimados em ruas e rodovias, servindo como barricadas de fogo para liberar o caminho para a fuga. Por fim, um helicóptero estaria à disposição para apanhar os detentos, enquanto os guardas ficariam ocupados trocando tiros com os assaltantes do lado de fora e contendo a rebelião do lado de dentro. Segundo as investigações, os criminosos estariam posicionados na fronteira com o Paraguai esperando o aval para agir.

(...)


Desde o início de outubro, blitz começaram a ser feitas nas estradas de Presidente Venceslau, bloqueios foram armados na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, dois helicópteros sobrevoam diariamente o presídio e há pelo menos um blindado da Tropa de Choque, comprado do Exército israelense, de prontidão. O aeroporto de Presidente Venceslau foi interditado. “Estamos preparados para a guerra”, disse a VEJA o deputado Coronel Telhada (PP), que comandou a Rota por três anos e cujo filho, Rafael, integra a equipe em treinamento. Nas penitenciárias do estado impera um “silêncio estranho”, na avaliação de agentes ouvidos pela reportagem. Não há rodas de conversa na hora do banho de sol nem troca de bilhetes entre as celas. Para os agentes, o estado é de alerta máximo, no mesmo patamar de 2006.
O governador Márcio França (PSB) passou os últimos dias em contato permanente com o secretário de Segurança Pública, Mágino Alves, e com o secretário de Administração Penitenciária, Lourival Gomes, que foram avisados pelos investigadores de que o plano de fuga ainda não havia sido abortado pela facção. O sinal disso é que, na segunda-­feira, dois drones foram vistos sobrevoando a região da penitenciária, sem que a polícia conseguisse abatê-los. Contudo, prestes a deixar o cargo para João Doria (PSDB), França decidiu não agir. Manterá as tropas em Presidente Venceslau até o final de seu mandato, deixando que seu sucessor tome a decisão que julgar mais adequada.
Tratando-se de Marcola, todo cuidado é pouco. Antes de virar líder de facção, fugiu duas vezes da prisão. Na última, em 1998, quando estava em liberdade, estruturou as rotas de tráfico que são usadas até hoje pelo PCC. Foi recapturado, mas o sistema que criou só prospera.

MATÉRIA COMPLETA  em VEJA de 14 de novembro de 2018, edição nº 2608

sábado, 17 de março de 2018

Execução foi recado [ou cobrança, estilo Comando Vermelho]

No Rio de Janeiro, as agências de coerção do Estado foram capturadas pelo crime organizado a partir do seu vértice, num pacto corrupto entre os donos do poder e o crime organizado

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) na noite de quarta-feira, crime que comoveu o país e mobilizou milhares de pessoas no Rio de Janeiro e outras cidades do país, entre as quais Brasília, desafia a intervenção federal no Rio de Janeiro. Não fosse o mandato popular e sua importância na luta contra a violência e em defesa dos direitos humanos, teria a mesma importância dada a outros assassinatos, assim como o de seu motorista Anderson Gomes, também executado. Ou seja, seria apenas um número a mais nas estatísticas de assassinatos não esclarecidos no Rio de Janeiro, estado no qual apenas 11% dos suspeitos de homicídio são denunciados à Justiça.

Marielle e Anderson foram mortos dentro de um carro na Rua Joaquim Palhares, por volta das 21h30 de quarta-feira. Segundo a polícia, bandidos emparelharam ao lado do veículo onde estava a vereadora e dispararam. Marielle foi atingida por quatro tiros na cabeça. A perícia encontrou nove cápsulas de balas no local. Não foi latrocínio, foi execução: os criminosos fugiram sem levar nada. O carro onde estava teria sido perseguido por cerca de quatro quilômetros. “É triste, muito triste, mas essa condição da morte da Marielle não é uma novidade. Basta ver o que aconteceu com a juíza Patrícia Acióli, assassinada em Niterói por combater PMs corruptos. No Brasil é assim: qualquer um que lute contra a corrupção e defenda os direitos humanos está em risco. E as forças de segurança, é claro, não fazem nada”, disse o deputado federal Chico Alencar (PSol-RJ) no velório da vereadora.

As autoridades evitam declarações sobre as razões do crime, mas o assassinato abriu uma disputa política pela agenda da violência, que vinha sendo um monopólio do governo federal desde a decretação da intervenção. Marielle era contra a medida. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, assumiu a responsabilidade de acompanhar pessoalmente as investigações.

Banda podre
A investigação está a cargo da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil. Não será  surpresa se surgir uma versão de que a vereadora foi executada por traficantes. Nos bastidores da intervenção federal, porém, já havia a preocupação com uma possível retaliação da chamada “banda podre” das polícias Civil e Militar. O caso da juíza Patrícia Aciolli citado pelo deputado Chico Alencar é exemplar. O assassinato da vereadora, porém, tem todas as características de retaliação política não somente às atividades desenvolvidas por ela contra as milícias e a violência policial. Os mandantes do crime têm plena consciência de que haveria repercussão política nacional e internacional, com poder de desmoralizar o interventor federal, general Braga Neto, e o recém-nomeado Jungmann.

Os dois estão na berlinda, depois de um mês de intervenção federal, com assassinatos diários de inocentes em assaltos, confrontos entre traficantes ou destes com a polícia. As operações diárias do Exército na Vila Kennedy, por exemplo, para retirada de obstáculos instalados nas ruas, e que são recolocados durante a noite, já estavam começando a ser ridicularizadas. Foram compensadas pela prisão de um delegado corrupto e a vistoria do Exército num quartel da Polícia Militar. As autoridades federais estão desafiadas a identificar os criminosos e puni-los exemplarmente.

Numa entrevista, o traficante Antônio Bonfim Neto, de 41 anos, o Nem da Rocinha, que está preso na penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, ao jornal espanhol El Pais, pôs o dedo na ferida ao apontar associação entre o tráfico de drogas e a banda podre da polícia fluminense. Há um “cluster” de negócios nas favelas do Rio de Janeiro, do qual fazem parte as bocas de fumo, os gatos elétricos, as TVs piratas, a distribuição de gás e o achaque aos comerciantes e empreendedores a título de proteção. No Rio de Janeiro, as agências de coerção do Estado foram capturadas pelo crime organizado a partir do seu vértice, num pacto corrupto e perverso entre os donos do poder e o crime organizado. Será duro desalojá-los.

[exercendo seu direito de ser bem informado, tendo acesso a mais de uma fonte de notícia,  clique aqui.

Blog nas Entrelinhas - CB - jornalista Luiz Carlos Azedo 
 

domingo, 11 de março de 2018

Estatuto do PCC revela que ‘preço da traição é a morte’

Documento obtido pela polícia revela que, mesmo presos, integrantes devem pagar contribuição mensal 

Conhecido por uma estrutura de funcionamento semelhante à adotada por empresas, com domínio da logística de transporte, armazenagem e comércio de drogas e armas, o PCC vende uma imagem de que sua atuação garante paz e tranquilidade nas áreas onde atua. Mas suas regras são duras e violentas, e quem adere a elas, como o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, é submetido a um rígido código de conduta. Uma cópia do estatuto da organização criminosa foi apreendida durante uma megaoperação da polícia do Paraná em 2015, em que foram interceptadas conferências telefônicas de integrantes de quadrilhas em 12 estados.

AUSÊNCIA DO ESTADO
No estatuto, é possível ver que, em troca de suporte para a atividade criminosa, quem entra para o grupo é punido com a morte caso desobedeça à hierarquia e à disciplina imposta. “O comando não admite acomodações e fraqueza diante da nossa causa”, diz o texto manuscrito. Com bocas de fumo próprias e franqueadas, que pagam percentual sobre o total da droga vendida, o PCC age na ausência do estado. Promete de cesta básica a auxílio a doentes, com pagamento de cirurgias e remédios, mas, em troca, ameaça a vida dos integrantes se suspeitar de traição. É o caso, por exemplo, de quem aceita ser batizado dentro das prisões, onde a quadrilha domina. Se pedir para deixar a facção quando estiver perto de ganhar liberdade, a situação também pode ser avaliada como traição, e o texto é taxativo: “O preço da traição é a morte”.

A morte também aparece como punição para presos que forem salvos pela quadrilha e, na hora de cumprir a obrigação de resgatar outro integrante do bando, falharem por “fraqueza, deslealdade ou desinteresse”. A punição é a mesma para quem superfaturar algo para levar vantagem sobre a organização, mudar para outra facção ou delatar. No caso de agentes penitenciários e policiais civis e militares que matarem algum integrante do bando ou tentarem algum tipo de extorsão, a resposta é a mesma: “Vida se paga com vida, sangue se paga com sangue”.

Segundo as investigações, o PCC domina inúmeras cadeias, e, sendo assim, os presos têm que pagar a chamada “cebola”, contribuição mensal à facção em troca de segurança, celular e assistência jurídica. A estimativa é que a facção tenha de 25 mil a 35 mil homens armados em todo o país.

O Globo

sábado, 23 de setembro de 2017

Guerra contra o tráfico

Mesmo ocupada, Rocinha volta a registrar tiroteios na madrugada

- Durou pouco o período de aparente tranquilidade na Rocinha, Zona Sul do Rio.A favela voltou a registrar tiroteios durante a madrugada deste sábado. A Autoestrada Lagoa-Barra e os túneis Zuzu Angel e Rafael Mascarenhas (Acústico) precisaram ser interditado por quase uma hora. As vias já foram liberadas, e neste momento não há relatos de novas trocas de tiros. 

O tiroteio começou depois que um taxista foi rendido por bandidos no Jardim Botânico. Sob o poder dos bandidos, ele foi levado para o alto da comunidade do Horto, onde traficantes entraram no veículo e seguiram em direção à Rocinha. Segundo a PM, o bando estava armado com fuzis e atacaram a patrulha que estava posicionada próximo ao acesso aos túneis Zuzu Angel e Acústico. Nenhum Militar ficou ferido.

Em seguida, o veículo seguiu pela via expressa e se deparou com homens das Forças Armadas nos acessos à Rocinha. Houve um novo confronto, e os criminosos conseguiram fugir para dentro da comunidade. O motorista de táxi foi liberado e não ficou ferido. [em uma situação dessa, as Forças Armadas precisam usar o poder que possuem e abater os bandidos;
é necessário que os bandidos aprendam - e essa aprendizagem precisa ser realizada de forma real, não sendo possível simulação ou treinamento - entrou em confronto com as Forças Armadas morre.
Outro ponto conveniente é que em prol do sucesso das operações contra o tráfico que essa turma de ONG de direitos humanos seja removida da área sob ocupação militar.
Finalmente, parece que o paisano que comanda as operações finalmente entendeu que tem que cercar as favelas, fazer a varredura e só assim os traficantes saem de circulação.
É uma operação lenta e que precisa ser realizada de forma simultânea em pelo menos três ou quatro locais distintos. Efetivo para realizar o cerco, primeiro passo para êxito nesta guerra para devolver o Rio aos cidadãos, as Forças Armadas possuem.
Feito o cerco é iniciar a redução do perímetro buscando  asfixiar.]

Por questões de segurança, o Centro de Operações da Prefeitura do Rio (COR) fechou os dois sentidos da Lagoa-Barra e dos túneis às 4h55m. A liberação das vias aconteceu por volta das 5h35m.


Armas, munição e drogas apreendidos pelo Bope na Rocinha - Uanderson Fernandes / Agência O Globo


A passagem dos criminosos deixou um rastro de violência no caminho entre o Horto e a Rocinha. Disparos feitos no acessos ao Túnel Zuzu Angel, na Avenida Padre Leonel França, acertaram carros, as paredes e até as escadas da entrada de pelo menos um prédio. Segundo um porteiro, cápsulas foram encontradas na parte inferior do imóvel. - Foi muito forte o tiroteio. Precisei me jogar no chão quando os disparos começaram. Muitos tiros mesmo - relatou ele, que pediu para não ser identificado.
FORÇAS ARMADAS ESTÃO NA REGIÃO
Até o início da manhã, menos cinco suspeitos foram detidos e levados para a 11ª DP (Rocinha). Também foram levados seis fuzis apreendidos, cinco deles encontrados pelo Bope, que também acharam munições ainda não contabilizadas, rádios transmissores e cadernos de anotações.

Equipes da Polícia Militar e das Forças Armadas permanecem desde a sexta-feira na região. A Rocinha vive em clima de guerra desde o último domingo, quando o bando do traficante Nem da Rocinha, que está preso, entrou na comunidade para retomar os pontos de venda de drogas. Na sexta, após seis dias de operações, o governo do estado solicitou a ajuda do Exército, que fez com cerco à favela com 950 homens.

Na noite da sexta, o delegado Antonio Ricardo Lima, da 11ª DP (Rocinha), enviou ao plantão judiciário um pedido de mandado de busca e apreensão em pontos específicos da Rocinha. Se expedido pela Justiça, os policiais poderão entrar em casas na comunidade. Ainda segundo o titular da unidade, o traficante Rogério 157 ainda permanece na Rocinha, mas estaria acuado. Ricardo Lima também confirmou que 27 integrantes da quadrilha ligada ao traficante já foram identificados.  - Ele está acuado. Chegamos muito perto dele hoje. Ele ainda na parte alta da comunidade.
O delegado ainda fez um apelo e disse que traficantes que quiserem se entregar podem comparecer à delegacia. [o delegado ao expedir pedido de mandado de busca e apreensão nas casas das favelas, agiu corretamente;
O próprio Ministério Público, tão eficiente em prender bandidos de colarinho branco, poderia se antecipar e ver a possibilidade de um mandado de busca coletivo, abrangendo todas as casas situadas nas favelas em que estão ocorrendo, ou vier a ocorrer, confronto com bandidos. 
Agora, senhor delegado, essa do senhor fazer apelo para que traficantes se entreguem espontaneamente, só pode ser brincadeira. Não vai funcionar. É necessário jogar duro, com firmeza, lembrando sempre que bandido bom, é bandido morto.]



Fonte: O Globo