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terça-feira, 9 de julho de 2019

“Vivemos sob constante tensão”, diz cardeal sobre cristãos no Paquistão



Joseph Coutts é arcebispo de Karachi e cardeal do Paquistão, quinto país do mundo em perseguição aos seguidores do cristianismo

A cristã Asia Bibi teve de deixar o Paquistão e se refugiar no Canadá após ser condenada pela lei da blasfêmia e passar oito anos no corredor da morte. A mãe de cinco filhos é apenas uma das muitas vítimas da controversa legislação paquistanesa e da perseguição cada vez mais violenta contra os seguidores do cristianismo no país.  Segundo a organização de monitoramento e trabalho humanitário Portas Abertas, com sede na Holanda, o Paquistão é o quinto país do mundo onde os cristãos sofrem mais oposição à prática de sua fé. A nação só perde para Coreia do Norte, Afeganistão, Somália e Sudão.

Atualmente, os seguidores do cristianismo representam 1,59% da população do país, onde 96,28% de seus habitantes se declaram muçulmanos. Os cristãos compõem um grupo maior apenas que os hindus, budistas, qadianis e outros seguidores de variações do islamismo, estes também vítimas de organizações extremistas islâmicas.
O cardeal Joseph Coutts, arcebispo de Karachi, explica que a tensão contra os cristãos no país se tornou maior nas últimos 25 anos, com a ascensão da ideologia islâmica extremista em todo o Oriente Médio e em outras regiões do mundo.
“Vimos o crescimento gradual de um novo tipo de Islã, muito mais militante e pronto para usar da violência”, afirma o religioso, que visitou o Brasil e participou da Assembleia Geral da CNBB em maio. “Agora vivemos em constante tensão, sempre nos perguntando quando será o próximo ataque”.

Os atentados contra igrejas destacam a situação precária dos cristãos do Paquistão. Em setembro de 2013, um ataque suicida reivindicado pelos talibãs paquistaneses contra a Igreja de Todos os Santos, em Peshawar, matou 81 pessoas. Dois anos depois, explosões atingiram dois templos próximos em Lahore, matando 15. Em 2016, terroristas de um grupo filiado ao Talibã atacaram o parque Gulshan-e-Iqbal, também em Lahore, onde cristãos celebravam a Páscoa. No ano seguinte, jihadistas armados e homens-bomba atacaram a Igreja Metodista do Memorial Bethel na cidade de Quetta, no oeste do país, matando mais nove pessoas.

A violência não se restringe a atos terroristas contra templos. Uma média de 700 mulheres e crianças cristãs são raptadas, violentadas e convertidas ao islamismo todos os anos, segundo a Portas Abertas. Os seguidores dessa fé e outras minorias religiosas também sofrem discriminação no dia a dia e são frequentemente preteridos nas seleções para postos de trabalho e em vagas para escolas e universidades de maioria muçulmana.  Para o arcebispo da maior cidade do país, a violência se intensificou com o apoio aos terroristas do Talibã pelo governo paquistanês durante a investida soviética no Afeganistão, entre 1979 e 1989. Mais recentemente, aumentou com a invasão dos Estados Unidos ao país após os atentados de 11 de setembro de 2001. “Nunca precisamos de proteção antes, mas agora em toda missa ou encontro nas igrejas católicas do país há policiais fazendo a segurança e controlando a entrada de pessoas”, conta o cardeal Coutts. Joseph Coutts foi nomeado cardeal pelo papa Francisco durante o consistório de 28 de junho de 2018. Antes de servir como arcebispo de Karachi, o religioso foi bispo auxiliar da diocese de Hyderabad e bispo de Faisalabad. Também foi presidente da Conferência Episcopal do Paquistão e presidente do Caritas Paquistão.

Lei da Blasfêmia
O caso de Asia é só mais um lembrete da violência contra os cristãos e outras minorias religiosas do Paquistão. A mulher de 48 anos foi denunciada em 2009 por supostamente ter insultado o profeta Maomé durante uma discussão com duas mulheres em Punjab, na fronteira com a Índia.  A acusação tomou como base a lei da blasfêmia, que agrupa várias outras regras contidas no Código Penal e inspirada diretamente na Sharia, a norma religiosa muçulmana, para punir qualquer ofensa contra Alá, Maomé ou ao Corão.

A rígida legislação foi estabelecida na época em que o Paquistão era uma colônia britânica e voltou a valer no país nos anos 1980, implantada pelo ditador Mohammad Zia-ul-Haq sem aprovação parlamentar. Desde então, foram registradas mais de 1.000 acusações por blasfêmia, um crime que pode ser punido com a pena de morte, embora nenhum condenado tenha sido executado pela Justiça do país até hoje.  Ainda que a norma tenha a intenção de proteger a honra do Profeta Maomé e do Livro Sagrado, ela pode ser facilmente usada de maneira imprópria. É muito fácil para um muçulmano acusar alguém de blasfêmia, mesmo sem provas consistentes.

Nunca se soube exatamente o que aconteceu com Asia naquela discussão com as duas mulheres e muito menos se a paquistanesa, de fato, blasfemou o profeta. Após a denúncia, contudo, ela e sua família passaram a ser vítimas de forte opressão e violência. Até Salmaan Taseer, governador de Punjab, a província mais poderosa do Paquistão, foi morto como consequência da lei da blasfêmia e de sua intolerância. Ele visitou Asia na prisão e prometeu ajudá-la em seu caso. Apesar de seguir o islamismo, Taseer foi assassinado na capital paquistanesa, Islamabad, pelo seu próprio guarda-costas, incentivado por muçulmanos fanáticos.

Muitos dos envolvidos no julgamento da cristã também foram vítimas de ameaças e acabaram sendo influenciados, segundo Coutts. A decisão de libertá-la e absolvê-la da pena de morte só veio oito anos depois, quando o caso ganhou repercussão internacional e foi revisto pela Suprema Corte do país. Na última instância, constatou-se que os depoimentos das principais testemunhas ouvidas eram inconsistentes.  O caso de Asia não é o único entre a comunidade cristã e até mesmo entre muçulmanos moderados. Legisladores e membros do governo já tentaram fazer modificações na lei, mas o governo controlado por muçulmanos sunitas e as ameaças sofridas pelos grupos radicais impedem qualquer mudança.

Em 2010, a deputada Sherry Rehman, do Partido Popular do Paquistão (PPP), apresentou um projeto de lei para incluir uma emenda na lei. Seu objetivo era fazer com que todos os casos passassem obrigatoriamente pela Suprema Corte. O projeto passou por uma primeira comissão parlamentar, mas foi abandonado em 2011, após pressão de grupos religiosos. Rehman passou a receber ameaças constantes e, para protegê-la, o governo a nomeou embaixadora nos Estados Unidos. No mesmo ano, o então ministro de Minorias e único cristão no gabinete do governo, Clement Shahbaz Bhatti, foi assassinado por membros do Talibã paquistanês após protestar contra a norma. O Vaticano recebeu o pedido de sua beatificação em 2016.

Ameaças e proteção constante
O próprio cardeal Joseph Coutts já foi vítima de ameaças e recebe proteção policial 24 horas ao dia por ordem do governo paquistanês. Sua casa, localizada em um complexo da Igreja Católica, é sempre guardada por uma van e quatro agentes.
“Eles sabem que se algo acontecer comigo será um incidente internacional”, afirma Coutts. “E o Paquistão já tem uma imagem ruim no exterior.”  O arcebispo recebeu ameaças pela primeira vez quando ainda era responsável pela diocese de Faisalabad. Na época, desenvolveu laços com clérigos muçulmanos e chegou a participar de uma festa de Natal com um imã muçulmano da cidade em sua Madrasa, escola ou casa de estudos islâmicos.

Ao final do evento, em que os dois grupos religiosos falaram em esforços para consolidar a paz entre as comunidades, Coutts recebeu uma série de telefonemas intimidadores. “Recebi também uma carta assinada por ‘Tigres Islâmicos’, que ameaçaram me matar e arrancar minha língua”, conta. “Nunca descobrimos a qual grupo radical os autores pertenciam”.
 
O cardeal hoje lidera uma batalha para tentar tornar o Paquistão uma nação igualitária para todas as vertentes religiosas. Graças aos esforços de sua comunidade, os livros escolares de Karachi passaram a incluir citações do fundador do país, Muhammad Ali Jinnah, sobre a convivência pacífica dos povos. A convite da entidade ACN (Ajuda à Igreja que Sofre), Joseph Coutts esteve no Brasil entre os dias 5 e 12 de maio e participou da 57ª Assembleia Geral da CNBB em Aparecida do Norte, onde também falou sobre os desafios dos cristãos no Paquistão.
 
https://veja.abril.com.br/mundo/vivemos-sob-constante-tensao-diz-cardeal-sobre-cristaos-no-paquistao/

Revista Veja
 



segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Cristãos se unem a muçulmanos em atos contra ‘Charlie Hebdo’

No Paquistão, o alvo das manifestações era o presidente francês e seu apoio às novas charges publicadas pelo semanário 

Governo belga pede extradição de preso na Grécia - Homem é suspeito de particiapação em célula desbaratada na semana passada

Autoridades europeias e israelenses continuavam neste domingo a ofensiva antiterrorista desencadeada pelo ataque ao jornal “Charlie Hebdo" há 12 dias, enquanto milhares de manifestantes mantêm protestos diários em países diversos como Níger, na África, e Paquistão, no sudoeste asiático. Na Bélgica, o Ministério Público pediu a extradição de um dos dois suspeitos presos em Atenas, na Grécia, por supostas ligações com uma célula terrorista belga. Segundo a imprensa belga, um terceiro homem ainda é procurado, e poderia estar na Grécia ou na Turquia. As autoridades belgas, porém, afirmaram que a célula não possuía ligações com o ataque de Paris.

Na Alemanha, uma manifestação islamofóbica marcada para hoje foi cancelada após suspeitas de um ataque terrorista. Segundo a polícia alemã, “todas as manifestações públicas ao ar livre estão proibidas na segunda-feira, 19 de janeiro, no território da cidade de Dresden” devido a “um risco terrorista concreto". A cidade seria palco de mais um protesto semanal do movimento Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente). Uma manifestação anti-Islã também foi proibida pelas autoridades em Paris por receios de que causasse desordem pública.

No Paquistão, o alvo das manifestações era o presidente francês François Hollande e seu apoio às novas charges publicadas pela Charlie Hebdo retratando o profeta Maomé de forma considerada ofensiva para muitos muçulmanos. Cerca de 5 mil pessoas se reuniram na cidade de Lahore, no leste do Paquistão e outras milhares em outras cidades do país. Bandeiras francesas e fotos de Hollande foram queimadas. Os protestos reuniram seguidores de partidos religiosos e seculares também nas cidades de Karachi, Islamabad, Quetta, Peshawar, Multan e em várias outras. Em Karachi, duas mil pessoas se reuniram no mausoléu do fundador da nação, Mohamed Ali Jinah. Um grupo de pastores cristãos também se uniu à comitiva em solidariedade aos fiéis muçulmanos. Uma delegação do partido Tehreek-e-Insaf visitou a residência do cônsul francês para entregar a ele uma resolução pedindo que Paris proibisse a publicação “Charles Hebdo” por "transmitir ao mundo uma mensagem de ódio religioso". Hafiz Mohammad Saeed, líder do partido Jamaat-ud-Dawa, pediu que a ONU declare toda forma de blasfêmia um crime internacional.  — Se as Nações Unidas não dá atenção, então os Estados muçulmanos devem formar sua própria ONU — disse.

Em 2012, 21 pessoas morreram e 229 ficaram feridas em distúrbios com a polícia após a publicação de outras charges da mesma revista francesa e a divulgação de um filme americano de baixo orçamento que zombava de Maomé. No Níger, manifestações contra a difamação do profeta foram proibidas pelas autoridades e ocorreram sob forte repressão policial.

Deportações e prisões na Europa e em Israel
Na Europa, dezenas de suspeitos de envolvimento com atividades terroristas foram presos em ao menos quatro países nos últimos dias, e em Israel autoridades afirmaram terem desmantelado uma célula do grupo Estado Islâmico após prenderem sete árabes-israelenses.
 Paquistaneses pedem o banimento da revista satírica “Charlie Hebdo”: milhares protestaram em todas as maiores cidades do país e tiveram apoio de grupos cristãos - Arif Ali / AFP

A informação, divulgada neste domingo, diz respeito a detenções realizadas em novembro e dezembro. Um tribunal de Haifa os acusou de pertencer ao Estado Islâmico, grupo considerado ilegal em Israel desde setembro. Segundo a polícia israelense, um dos membros, Karim Abu Sallah, foi detido no aeroporto Ben Gurion quando se preparava para se unir à jihad na Síria. Na Itália, o ministro do Interior, Angelino Alfano, afirmou que nove pessoas foram deportadas desde o início deste ano por supostas ligações com grupos terroristas.  Segundo Alfano, eram cinco tunisianos, um turco, um egípcio, um marroquino e um paquistanês, todos eles tinham autorizações de residência e foram expulsos do país.
Temos feito tudo o necessário, dentro dos limites, para nos proteger contra uma ameaça — afirmou Alfano, observando que as deportações começaram antes dos ataques de Paris. — Nove pessoas foram deportadas. Não vamos parar por aqui. E, no que diz respeito a expulsões, vamos continuar a ser extremamente duros.

Na França, nove das 12 pessoas presas na última sexta-feira continuam em detenção preventiva. Os suspeitos foram detidos nos arredores de Paris para serem questionados por um possível “apoio logístico” — especialmente no que diz respeito a armas e veículos — a Amedy Coulibaly, que matou um policial e quatro civis em em uma loja judaica no dia 9. Hollande afirmou que a França está “travando uma guerra” contra o terrorismo e que isso podia ser visto nas ruas de Paris e de outras cidades, onde 122 mil policiais e soldados estão de prontidão.


Fonte: AFP