Cariocas são obrigados a suportar fantasias e empulhações do prefeito do Rio
Num mesmo dia, o prefeito Marcelo Crivella disse que "o Rio de Janeiro é
o epicentro da corrupção" e anunciou um futuro radiante para o projeto
do Porto Maravilha. Prometeu R$ 10 bilhões em investimentos com a
construção de duas torres de hotéis, um centro de convenções e... um
cassino. O prefeito do "epicentro da corrupção" defende a legalização da jogatina
para salvar um projeto megalomaníaco atolado na zona portuária da
cidade. Isso num estado que tem dois governadores presos, e foram
apanhados em roubalheiraa dezenas de deputados, secretários do governo e
conselheiros do Tribunal de Contas. Dois cardeais da sacrossanta
Arquidiocese de d. Eugênio Salles viram suas atividades tisnadas por
malfeitos de pessoas que lhes eram próximas. Tudo isso sem que o jogo
seja legalizado.
Um policial militar que trabalhou com a família Bolsonaro e orgulhou-se
de "fazer dinheiro" ainda não ofereceu uma versão consistente para
explicar suas movimentações financeiras. Um capitão da tropa de elite da
PM teve a mãe e a mulher empregadas no gabinete do filho do presidente.
Alcunhado "Caveira", o oficial foi expulso da corporação e está
foragido. Ele era donatário de uma milícia da cidade. [Bolsonaro é o único empregador que é responsável pelo que seus empregados (dele ou de seus familiares) fazem após deixar o emprego.]
O Rio de Janeiro elegeu um juiz para o governo do estado. Outro
policial, que se apresentava como seu consultor para assuntos de
segurança, está na cadeia, acusado de extorsão. Na última eleição esse
policial foi candidato a deputado federal pelo partido do governador. O
filho do presidente homenageou-o numa sessão da Assembleia Legislativa. Sem cassinos, o Rio já está assim. Nenhuma pessoa de boa-fé pode
acreditar que alguma coisa melhorará com estímulos à jogatina e a
abertura de lavanderias de dinheiro. Ao crime organizado Crivella que
juntar o jogo legalizado. O prefeito não joga, não fuma, não bebe e sabe que está apenas criando
uma nova miragem para uma cidade ludibriada por fantasias como as da
Copa do Mundo e da Olimpíada. De miragem em miragem o Rio vive uma
eterna Quarta-Feira de Cinzas. Crivella sabe que a reabertura dos
cassinos depende da aprovação de uma lei pelo Congresso. Conhecendo a
tessitura do crime organizado na cidade, dificilmente Jair Bolsonaro
perfilhará a legalização do jogo.
No mundo real, a única pessoa tenuemente interessada nas torres e no
cassino prometidos por Crivella é o bilionário americano Sheldon
Adelson, que tem complexos de turismo e jogo em Las Vegas, Macau e
Singapura. Ele começou a trabalhar aos 12 anos (tem 85) e já juntou US$
33,3 bilhões (R$ 125,7 bilhões). É um campeão da causa de Israel e a ele se atribui a abertura dos cofres
de muitos republicanos para Donald Trump. É também um protetor do
primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Dele viriam os R$ 10 bilhões
imaginados por Crivella.
O Porto Maravilha de Eduardo Paes atolou porque era um projeto demófobo.
O Rio da zona portuária nunca poderia ter sido o que é o Puerto Madero
argentino, como a Barra da Tijuca nunca será uma Miami. Aquela área está
num bairro popular e centenário. Quem quiser conferir, que ande pelas
ruas da Gamboa e de São Cristóvão. A megalomania imobiliária encalhou
porque foram poucos os interessados em levar suas empresas para lá. Ali,
o povo do Rio sempre viveu em casas modestas. Miami é em outro lugar.
Na região do Porto Maravilha construíram-se dois novos museus. A poucos
quilômetros dali, pegou fogo o Museu Nacional. (Quarenta anos antes,
incendiou-se o museu de Arte Moderna. Ganha um fim de semana em Caracas
quem souber de outra cidade com semelhante desempenho.)
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