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domingo, 14 de maio de 2023

Coronavírus de morcego - EUA voltam a financiar pesquisa do tipo que pode ter começado a pandemia - Ideias

Ideias - Eli Vieira


Peter Daszak, zoólogo britânico que preside a ONG EcoHealth Alliance, que captava verbas americanas, e o Instituto de Virologia de Wuhan, receptador de parte das verbas que fazia pesquisa com coronavírus em condições inadequadas de segurança. Fotos de 2017 e 2016, respectivamente.| Foto: Uppsala Health Summit/Ureem2805

Apesar das suspeitas do FBI e do Departamento de Energia de que o coronavírus da Covid vazou de um laboratório na China que recebia fundos americanos, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, grande agência estatal de fomento à ciência, renovaram uma verba para a ONG que atuou como intermediária do dinheiro. A EcoHealth Alliance, que passou de pequena organização ambientalista a importante financiadora da virologia sob a expertise e o tino político do zoólogo britânico Peter Daszak, deve receber do governo americano US$ 2,9 milhões (R$ 14,34 milhões) pelos próximos quatro anos para o projeto de título “Entendendo o risco de emergência dos coronavírus de morcego”.

A ONG, em nota à imprensa publicada na segunda-feira (8), disse que esses vírus “representam uma ameaça significativa à saúde global, como demonstrado pela emergência do SARS-CoV [gripe asiática], MERS-CoV [síndrome respiratória do oriente médio] e SARS-CoV-2 [Covid-19]”. A EcoHealth Alliance reivindica crédito pela descoberta dos morcegos como reservatórios do vírus da gripe asiática, uma coronavirose que teve surtos no começo dos anos 2000, e pela estimativa de que 66 mil pessoas são infectadas com coronaviroses por ano.

O financiamento anterior dos NIH para a organização foi suspenso em abril de 2020, quando Donald Trump levantou a suspeita de que a verba repassada ao Instituto de Virologia de Wuhan, na China, havia de alguma forma ajudado a formar as condições que deram origem ao novo coronavírus. A ideia foi chamada de “teoria da conspiração” por autoridades científicas e por grande parte da imprensa, que impuseram sobre o assunto um tabu (o que não afetou a Gazeta do Povo, que publicou a respeito em novembro de 2020). O tabu só foi rompido em maio de 2021, quando evidências do vazamento laboratorial, não conclusivas, mas sugestivas, se acumularam e foram resumidas pelo veterano do jornalismo científico Nicholas Wade. 

A Gazeta do Povo publicou o texto de Wade com exclusividade no Brasil.

Citando como fonte da verba o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, parte dos NIH), que foi administrado por Anthony Fauci até sua aposentadoria em dezembro, a ONG diz que seu novo projeto tem os seguintes objetivos: caracterizar e analisar mais de 300 novos materiais genéticos completos (genomas) de coronavírus coletados na natureza em seu arquivo, identificando entre eles quais têm a maior chance de saltar para humanos; e examinar dados clínicos de pessoas com coronaviroses para identificar novas transmissões de animais para humanos e quais comportamentos humanos estão por trás dos casos, na tentativa de identificar zonas de risco.

Novas restrições à pesquisa
Pesquisadores que falaram com a revista científica Nature aplaudiram a renovação da verba, alegando que a pesquisa é importante para evitar a próxima pandemia. “A integridade da ciência exige uma barreira contra a interferência política”, disse Gerald Keusch, vice-diretor do Laboratório Nacional de Doenças Infecciosas Emergentes na Universidade de Boston.

Mas há condições não impostas antes à EcoHealth. Ela está proibida de financiar pesquisa na China (a ONG anunciou que colaborará com pesquisadores de Singapura), de coletar novas amostras de morcegos ou quaisquer outros vertebrados; terá de ser mais transparente com suas finanças, pois no passado foi inconsistente na contabilidade de US$ 90 mil em financiamento (levando a desconfianças de que houve desvio). Além disso, o governo americano proibiu a ONG de fazer pesquisa que aumente a infecciosidade de vírus em humanos, atividade conhecida como “ganho de função”.

“Não sei se qualquer outro contemplado com verba dos NIH já foi submetido a esse nível de escrutínio”, comentou Peter Daszak. Em entrevista ao tabloide britânico Daily Mail nesta quarta (10), ele disse que nunca rejeitou a hipótese da origem laboratorial da Covid-19, mas que acredita que “é extremamente improvável com base nas evidências”. Entretanto, ele articulou nos bastidores, sem incluir o próprio nome, uma carta à revista médica The Lancet em 2020 que atacava a hipótese e dava certeza da origem entre animais silvestres. Dois anos depois, a revista mudou de ideia e admitiu que a possibilidade não podia ser descartada.

Reações
Em 2017, revelam documentos encontrados por investigadores independentes e publicados pelo site Intercept, a EcoHealth Alliance pediu verba à Darpa, agência de financiamento de pesquisa do Departamento de Defesa dos EUA, para inserir uma estrutura molecular chamada “sítio de clivagem da furina” no material genético de coronavírus. O pedido foi rejeitado porque, segundo um membro da Darpa que falou à revista Vanity Fair, tinha “uma horrível falta de bom senso”. A estrutura, importante para a infecciosidade de vírus em humanos, está presente no vírus da Covid, mas ausente em seus parentes mais próximos encontrados na natureza.

Congressistas republicanos já estão se movimentando contra a renovação de verba para a ONG, e o aplauso dos cientistas não é unânime. Richard Ebright, biólogo da Universidade Rutgers e especialista em segurança laboratorial que acusou inadequação dos laboratórios de Wuhan, disse ao Daily Mail que “é um ultraje que a EcoHealth Alliance — uma organização que potencialmente partilha da culpa pela origem da pandemia de Covid-19 — continue a receber verbas e contratos do governo americano”. Ele critica, também, o papel de Daszak em obstruir as investigações das origens do vírus em uma fase crítica. “Essa decisão trai a confiança dos pagadores de impostos americanos e mina completamente as metas declaradas dos NIH de ‘dar o exemplo e promover o maior nível de integridade científica, responsabilidade pública e social na conduta da ciência’”, acrescentou Bryce Nickels, que leciona genética na mesma instituição.

Eli Vieira, colunista - Gazeta do Povo - Ideias

 

domingo, 3 de abril de 2022

GESTAPO, KGB, PIDE, STASI…e o STF

ADONIS OLIVEIRA - LÍNGUA FERINA

CASO 01 – Polícia Federal.

Há alguns anos atrás, fui vítima do ataque de um hacker em um processo de importação que estava sob a minha responsabilidade. O bandido conseguiu acessar minha caixa de mensagens e, não só as ler como alterá-las. 
Desta forma, ao recebermos a Fatura Proforma do exportador chinês, esta havia sido adulterada pelo hacker sem que soubéssemos ou nos déssemos conta. No local onde deveria estar indicada a conta bancária para a qual deveria ser feita a transferência do sinal (quantia bem significativa e de alguns milhares de dólares), passou a constar uma outra conta. Em lugar da conta do fornecedor, em Xangai, passou a constar uma conta num banco em Singapura. Soubemos depois que esta era uma conta do tipo Off-Shore e que havia sido aberta a partir de Londres.

Quando cheguei na China, na fábrica do exportador, para fazer a inspeção final de embarque, qual não foi a minha surpresa ao ser informado de que estes não haviam recebido o pagamento do sinal. Comparamos as nossas correspondências e vimos imediatamente a fraude que havia sido feita conosco. A consequência? Como dizem os advogados: “Quem paga errado paga duas vezes! ”

Ao retornar ao Brasil, fui à Polícia Federal dar queixa, a fim de justificar o envio de uma grande quantia em dólares para o exterior sem que tivesse uma contrapartida na importação de algum bem. Na mesma ocasião, solicitei ao Delegado que nos disponibilizasse o acesso ao departamento daquele órgão com competência para rastrear as mensagens e saber de onde haviam partido, de modo a poder ir atrás do “Hacker” e dar-lhe alguns “conselhos” e admoestações. Que dizer: uma surra muito bem dada.

Qual não foi minha surpresa ao ser advertido pelo brioso delegado de que (sic) “A função da Polícia Federal é proteger o Estado, e não um cidadão qualquer”. Fiquei perplexo, atônito, estupefato, boquiaberto, embasbacado, abilolado, e o mais que não consigo encontrar palavras para expressar. Perguntei aos meus botões:

Ué! E essa porra não é para proteger os cidadãos não, é?

Tornei a perguntar:

É para isso que sustentamos essa cambada imensa a pão de ló e com toda as mordomias possíveis e imagináveis?

E o exemplar funcionário “público” respondeu candidamente: – SIM!

Foi só aí que me dei conta de que a única função do público pagante, nesta festa pobre, é entrar fantasiado de bunda numa festa de bilôla, gerenciada pelos donos do aparato estatal.

CASO 02 – Procuradoria do meio ambiente do Piauí.

Nas andanças pelo mundo, mantive contato com empresas da China e da Índia que desenvolveram uma tecnologia fantástica para a reciclagem de lixo urbano. A principal característica é a produção de energia, com uma parte do lixo, e óleo diesel com a outra parte. Tudo isso de forma altamente limpa, sem odores desagradáveis no entorno das instalações de tratamento e, altamente viável em termos econômicos. Nosso país sofre cronicamente com os famigerados “lixões”. Fazem uns 30 anos que tentam erradica-los. São lugares, nas periferias das cidades, onde o lixo é amontoado. A esperança é que o tempo lhe dê um tratamento adequado. São locais dantescos: Urubus voando, uma catinga desgraçada, lençol freático contaminado com o chorume (aquela gosma que escorre), alta produção de metano (efeito estufa), dezenas de miseráveis, inclusive crianças, catando algo que os ajude a sobreviver, e por aí segue.

Descobri nos jornais que havia um imenso aparato estatal voltado para estas questões: o Ministério Público Estadual para o Meio Ambiente do Piauí
Prédio imenso, novíssimo e todo em mármore, uns 5 ou 6 andares, recepção, grande aparato de segurança, e por aí vai. 
Parecia a sede de uma grande empresa multinacional e gerando bilhões de dólares em faturamento. Liguei e solicitei uma reunião com o comando. O jovem que me “atendeu” no horário marcado era extremamente bem vestido, com a aparência de ser um advogado muito bem-sucedido e remunerado. Estava numa azáfama pois, segundo ele, tinha outros compromissos urgentes e só dispunha de alguns minutos para mim. Assim, enquanto se dedicava a outras atividades, expliquei meu caso enquanto ele me dava as costas e tratava de outras coisas. 
Minha proposta era que, em lugar dos caminhões que recolhiam o lixo seguirem para a lixão, apodado agora de “Aterro Sanitário”, seguirem para minha fábrica, que ficaria bem mais perto e o trajeto seria menor. Sua resposta foi irada:

– O senhor está querendo que eu faça advocacia administrativa para sua empresa?!?!?!

Só acertei dizer:

– Doutor, o senhor não entendeu a minha proposta.

Foi quando ele disse:

– Pois passe outro dia e explique em mais detalhes. Veja com a minha secretária.

Contatada, esta afirmou que só teria espaço na agenda para daí a alguns dias. Fui embora e não voltei até hoje!

MINHA CONCLUSÃO:

Poderia continuar relatando casos e mais casos em que o imenso e custoso aparato estatal mostrou que só serve para proteger seus apaniguados. Seria redundante!

As conclusões a que chego são:

1- Todas as vezes em que algum crápula asqueroso vem com a conversa sebosa de que “Está defendendo a democracia; ou defendendo o Estado” e coisas que tais, o que está defendendo na realidade é a integridade do próprio orifício corrugado póstero lombar. Está defendo suas mordomias, privilégios, seu poder de cometer arbítrios, prender, perseguir, arrebentar, desmonetizar, extorquir financeiramente, e por aí segue.

O ESTADO É ABSOLUTO!

2- No caso do Brasil atual, a coisa está muito mais sutil e disfarçada. Os crápulas mentes tão completamente que chegam a acreditar nas próprias mentiras. Afirmam sempre estar “protegendo a democracia e o estado”. Isso só enquanto não se assenhoram completamente do aparato estatal. Enquanto ainda resta alguns resquícios esfarrapados de democracia para impedi-los de darem total vazão a seus instintos baixos. 
Não precisamos ir muito longe para ver que, ao tomarem o poder, seja de que maneira for, retirarão as máscaras e declararão que toda a prioridade será a maldita SEGURANÇA DO ESTADO.


KGB – Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti
,
ou Comitê para a Segurança do Estado. Polícia secreta da antiga União Soviética.

STASI – Ministerium für Staatssicherheit ou Ministério para a Segurança do Estado. Principal organização de polícia secreta e inteligência da Alemanha Oriental (RDA).

GESTAPO – Geheim Staatspolizei ou Polícia Secreta do Estado – Nazista

PIDE – Polícia Internacional e de Defesa do Estado – Polícia política portuguesa.

SECURITATE – Departamentul Securităţii Statului ou Departamento de Segurança do Estado. Foi a agência de Polícia Secreta da República Socialista da Romênia.

3- O povo brasileiro vive com medo do aparato estatal. Vivemos numa tirania absoluta.

Michael Foucault (Comunista de carteirinha), em sua obra VIGIAR E PUNIR, descreveu brilhantemente o estado de selvageria a que a humanidade regrediu nas mãos de ditaduras socialistas:

“De acordo com a ordenação de 1670, …, era impossível ao acusado ter acesso às peças do processo, impossível conhecer a identidade dos denunciadores, impossível saber o sentido dos depoimentos antes de recusar as testemunhas, impossível fazer valer, até os últimos momentos do processo, os fatos justificativos, impossível ter um advogado, seja para verificar a regularidade do processo, seja para participar da defesa. Por seu lado, o magistrado tinha o direito de receber denúncias anônimas, de esconder ao acusado a natureza da causa, de interrogá-lo de maneira capciosa, de usar insinuações. Ele constituía, sozinho e com pleno poder, uma verdade com a qual investia o acusado; e essa verdade, os juízes a recebiam pronta, sob a forma de peças e relatórios escritos; para eles, esses documentos sozinhos comprovavam; só encontravam o acusado uma vez para interrogá-lo antes de dar a sentença. A forma secreta e escrita do processo confere com o princípio de que em matéria criminal o estabelecimento da verdade era, para o soberano e seus juízes, um direito. ”

Tudo isto era coerente para Luiz XIV, quando o princípio básico era: “L’état c’est moi!”

Hoje, no Brasil, em que vivemos uma situação de proto-comunismo instalado, e onde o estado é tudo, temos um STF amaldiçoado e execrado pela maioria acachapante da população, e que se arvorou no papel do rei absolutista. Dizendo ser o “Defensor da Democracia” e do “Estado”, transformou-se numa KGB ou numa GESTAPO. [em situações especiais -  classificação que cabe ao STF -   o STF acumula funções de Vítima (por autodeclaração)  Polícia (investigando) MP (denunciando) Juiz de 1º Grau (julgando). Por óbvio,  se o condenado decidir recorrer,  o STF analisa o recurso como Instância máxima do Poder Judiciário.] As  policias políticas das ditaduras comunistas, ou os tribunais absolutistas de Luiz XIV, não fariam melhor.

Quer entender melhor?

Jornal da Besta Fubana - Adonis Oliveira - Língua Ferina


domingo, 19 de dezembro de 2021

Uma santa vitória dos evangélicos - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Evangélicos travaram trama da jogatina na Câmara

Bancada evangélica travou trama que pretendia legalizar os jogos de azar e reabrir cassinos, chamando-os de resorts 

Evangélicos travaram trama da jogatina na Câmara

O filé mignon e o pote de veneno dessa iniciativa estão na abertura dos cassinos. Por trás de uma panaceia arrecadatória e turística, há muito mais

Os bons costumes nacionais devem a boa parte da bancada evangélica da Câmara um grande serviço. Ela travou a trama que pretendia legalizar o jogo em Pindorama. À primeira vista, o que havia era apenas um truque do presidente da Câmara, Arthur Lira, levando ao plenário no escurinho de Brasília um velho projeto, que legaliza os jogos de azar e permite a reabertura de cassinos, chamando-os de resorts. O filé mignon e o pote de veneno dessa inciativa estão na abertura dos cassinos. Por trás de uma panaceia arrecadatória e turística, há muito mais.

Aos fatos:
Em maio de 2018, entrando pela cozinha do Copacabana Palace, o candidato a presidente Jair Bolsonaro e o economista Paulo Guedes se encontraram com o bilionário americano Sheldon Adelson. Ele veio ao Brasil com dois objetivos: obter a promessa da instalação da embaixada brasileira em Jerusalém e tratar da abertura de cassinos em cidades turísticas. Adelson, grande financiador do partido Republicano nos Estados Unidos, tinha cassinos em Las Vegas, Singapura e Macau.

O jabuti andou. Em dezembro daquele ano, o então prefeito do Rio, Marcelo Crivella, defendeu a criação de um complexo hoteleiro com cassino no Porto Maravilha. Meses depois, já na presidência da República, Bolsonaro informou: “Não quero adiantar aqui. Brevemente, estará sendo apresentado aos senhores um projeto que, com todo o respeito ao Paulo Guedes, a previsão é de termos dinheiro em caixa maior do que a reforma previdenciária em dez anos”.

Nas contas dos amigos do jabuti, os cassinos poderiam render à Viúva até R$ 18 bilhões em arrecadação. Bolsonaro teria discutido o assunto num de seus encontros com o presidente americano Donald Trump, dono de cassinos na sua terra. Em novembro de 2019, o ministro Paulo Guedes veio para a vitrine e louvou os cassinos de Las Vegas: “Imagina ter o mesmo na região da Amazônia? Mistério, turismo, entretenimento e um centro mundial de energia sustentável”. Outros príncipes do bolsonarismo circularam pelo circuito mundial da jogatina e pelo escritório de Adelson.

Na famosa reunião do ministério de abril de 2020, o tema dos resorts reapareceu com sua roupagem de vestal do turismo. Foi rebatido pela terrivelmente evangélica ministra Damares Alves: “Pacto com o diabo.” Damares vocalizava uma posição arraigada no meio evangélico que não bebe, não fuma e não joga. O assunto poderia ter morrido, mas Paulo Guedes retomou-o: “Tem problema nenhum. São bilionários, são milionários. Executivos do mundo inteiro. (...) O turismo saiu de cinco milhões em Singapura para 30 milhões por ano. O Brasil recebe seis. (...) O sonho do presidente de transformar o Rio de Janeiro em Cancún lá, Angra dos Reis em Cancún . (...) É um centro de negócios. É só maior de idade. O cara entra, deixa grana lá que ele ganhou anteontem, ele deixa aquilo lá, bebe, sai feliz da vida. Aquilo ali não atrapalha ninguém. Deixa cada um se foder. Ô Damares. Damares. Damares. Deixa cada um ... Damares. Damares. O presidente fala em liberdade. Deixa cada um se foder do jeito que quiser. Principalmente se o cara é maior, vacinado e bilionário. Deixa o cara se foder, pô! Não tem ... Lá não entra nenhum, lá não entra nenhum brasileirinho.”

Ninguém seria capaz de imaginar que esse seria o nível do debate de um doutor pela universidade de Chicago, mas vá lá. A discussão de abril se tornou pública e o projeto continuou sua caminhada pelo escurinho de Brasília. Se uma parte da bancada evangélica tivesse ficado quieta, Arthur Lira teria colocado na pauta a legalização dos cassinos. Com a reação, ele aprovou a urgência, mas se comprometeu a só colocar o mérito do projeto em votação a partir de fevereiro. Até lá, como diz o croupier da roleta: façam seus jogos, senhores.

Sheldon Adelson terá que esperar. Ele morreu em janeiro passado, aos 87 anos, deixando algo como US$ 30 bilhões.

Madame Natasha saúda o neologismo
Madame Natasha adorou ouvir que delegados da Polícia Federal criticaram o espetáculo da ação praticada contra os irmãos Ciro e Cid Gomes na terça-feira, classificando-a de “lavajatismo”.

A expressão Lava-Jato, que designava ações contra a corrupção de políticos e empresários, gerou um neologismo que designa teatralidades intimidatórias, destinadas a condenar suas vítimas pela construção de espetáculos.

Natasha encantou-se com o neologismo, que a remeteu ao grande momento literário de Dean Acheson, o secretário de Estado americano (1949-1953) que ela adorava na sua juventude. Imponente, chique e mordaz, Acheson comeu o pão que Asmodeu amassou nas mãos do senador Joseph McCarthy, que comandou uma caça às bruxas na administração americana. Bebum e mentiroso, ele acabou censurado pelos colegas. Morreu em 1957, levado pela cirrose e pela amargura.

Anos depois, ao escrever suas magníficas memórias, Acheson deu-lhe poucas e memoráveis palavras. Disse que, como o juiz Lynch (pai do verbo linchar) e do capitão Boycott (pai do verbo boicotar), o senador “enriqueceu a língua inglesa” gerando a palavra macartismo.


sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A tacada de Fux no STF para restaurar a moralidade - Merval Pereira

 O Globo

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luis Fux, foi surpreendentemente explícito ontem, durante a fala de abertura do 14º Encontro Nacional do Poder Judiciário promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ao fazer uma ligação clara entre a decisão que tomou logo depois de assumir o cargo, em outubro, de tirar das turmas e levar para o plenário as ações penais e inquéritos, e a vontade de não permitir a desconstrução da Operação Lava Jato. “O primeiro ato praticado por mim, não quero nenhum louvor, estou apenas dando esse esclarecimento: todas as ações penais e todos os inquéritos passarão pela responsabilidade do plenário, porque o STF tem o dever de restaurar a imagem do país a um patamar de dignidade da cidadania, de ética e de moralidade do próprio país".

[Apesar do evento em que resolveu consolidar sua autoridade, o ministro Fux ao declarar que pretende "esclarecer esses pontos na sessão administrativa da próxima semana", demonstra não ter confiança absoluta da Segunda Turma aceitar a decisão.

Exemplo de resistência jurídica de alguns ministros é que o habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio ao condenado André do Rap, foi revogado pelo presidente do STF, decisão confirmada pelo plenário, por unanimidade  - revogação inócua, visto que o condenado já estava solto, condição em que permanece. Apesar da unanimidade contrária a sua primeira decisão, o ministro Marco Aurélio em novo julgamento pelo plenário votou pela liberdade do agora foragido - resta saber se o associado do PCC for preso pela Interpol qual decisão vai valer.

Vale ter presente que de forma discreta, vazada no juridiquês, o plenário do STF expressou sua discordância com a decisão do ministro Fux revogando a primeira decisão do ministro Marco Aurélio.]

Foi a maneira que Fux encontrou para reafirmar seu empenho de evitar que a Segunda Turma, que é responsável por analisar os processos da Lava-Jato, use uma maioria já firmada para obstruir as investigações. A Segunda Turma tinha o ministro Celso de Mello com fiel da balança. Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski votam na maioria das vezes na mesma direção, assim como a ministra Carmem Lucia e o ministro Edson Fachin. Enquanto não foi escolhido o substituto de Celso de Mello, a dupla Gilmar e Lewandowski levou a melhor, pois o empate favorece ao réu.

Eles ganharam depois o reforço do novo ministro indicado por Bolsonaro, Nunes Marques. O pronunciamento de Fux aconteceu dois dias depois que a 2ª Turma do STF decidiu que manterá no colegiado os recursos que já começaram a ser julgados antes da decisão que definiu a competência do plenário. A posição foi entendida como uma reação do presidente da 2ª Turma, ministro Gilmar Mendes, que vem se destacando como um dos adversários mais ferrenhos da Lava-Jato no Supremo.

Mesmo que o próprio ministro tenha afirmado que a decisão não tem relação com a mudança regimental que restabeleceu a competência do plenário para julgar ações penais, aprovada por unanimidade. “Nenhuma dúvida sobre a competência do pleno para dar continuidade a julgamento pela aplicação imediata da emenda. Aqui se trata de julgamentos já iniciados com votos já proferidos”, esclareceu.

O presidente do Supremo Luis Fux concorda com a explicação: “Ali eram Embargos de Declaração, com voto proferido pelo próprio relator, já iniciado o julgamento. Recursos ainda não interpostos vão para o plenário, e ações penais deslocam-se também”. O presidente do Supremo pretende “esclarecer esses pontos na sessão administrativa semana que vem”.

Mais uma
Uma decorrência do menosprezo do atual governo brasileiro pelos organismos internacionais teve um desfecho agora na Organização Mundial de Propriedade Industrial (OMPI). A vaga para diretor-geral, disputada entre a América Latina e a Ásia, em março, tinha um candidato brasileiro apoiado por grupos políticos e de dentro do governo, o advogado José Graça Aranha, membro da OMPI há 35 anos, candidato há 12 anos que perdeu por um voto para o australiano Francis Gurry, que a dirige desde então.

A vitória era considerada fácil, pois diversos países já haviam dado seu apoio, mas como os governos é que indicam os candidatos, o Itamaraty decidiu não apoiar a candidatura brasileira devido ao fato de Graça Aranha ter sido diretor-geral do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) no governo Fernando Henrique, e candidato a diretor-geral com o apoio do governo Dilma.

O Brasil acabou optando pelo candidato de Singapura, Daren Tang, que foi eleito, numa vitória estratégica dos Estados Unidos contra a China que poderia ter sido de um brasileiro. Agora, ao preencher as oito vagas de diretor-geral adjunto, o governo brasileiro apresentou um primeiro-secretário do Itamaraty, Maximiliano Arienzo para uma delas, que havia sido prometida na campanha. O novo diretor-geral nomeou representante da Colômbia para a vaga da América Latina. Indonésia, Gana, Estados Unidos, França, Inglaterra, China e Japão, cada qual ficou com uma vaga. Resultado, perdemos tudo na OMPI.

Merval Pereira, jornalista - O Globo

 

sábado, 2 de maio de 2020

E daí? - Editorial - Folha de S. Paulo

Epidemia acelera em meio a isolamento em xeque e mais descaso de Bolsonaro

Se estimar a curva aproximada de uma epidemia viral se mostra complexo em países de menor porte, o esforço assume caráter divinatório em um local como o Brasil. Isso dito, há uma expectativa entre autoridades de saúde de que este mês de maio registrará o pico das infecções — com as óbvias divergências regionais. Natural, pois, que se questione a eficácia de medidas de isolamento social aplicadas por todo o país.

[perguntas que não querem calar:
1 -  o que querem que o presidente Bolsonaro faça no combate à pandemia do coronavírus?
2 -  o que resta ao presidente fazer?
- Todas as medidas na área econômica e operacional que estão na sua competência e que Congresso e o Supremo permitem que faça ele tem feito;
- o isolamento que é considerado vital para o êxito no combate à pandemia foi retirado da competência do Presidente da República e depositado nas mãos dos governadores e prefeitos. Oportuno destacar que antes de ser proibido de interferir na política de isolamento e similares, o presidente em nenhum momento adotou qualquer medida boicotando tal providência.
Apenas expressou sua opinião desfavorável à medida.

Estranho, convenhamos, é esse estudo da Universidade de Cambridge - no Brasil os dados de georreferenciamento só ficam disponíveis dois dias após, lá é até antecipado;
- Quanto a desejar, no dia 1º de maio, Dia do Trabalho, que todos voltem ao trabalho é um desejo normal, natural, saudável e promissor = a volta ao trabalho só ocorrerá após a pandemia ser controlada. ]

A experiência internacional tem favorecido graus diversos de fechamento e de reabertura da sociedade para o controle da curva de infecção pelo Sars-CoV-2.  Não há solução universal, como a necessidade de adoção da rigidez em Singapura provou. [outra prova indubitável de que o isolamento não tem grande eficácia é que o Japão, país que não adotou o isolamento, tem no mundo o mais baixo índice de letalidade pela Covid-19, duas mortes por milhão de habitantes.] Mas uma coisa é certa: é o principal instrumento à mão enquanto vacinas e remédios eficazes não chegam.

No Brasil, o debate foi sequestrado a partir da insistência de Jair Bolsonaro em minimizar a Covid-19. Com 6.329 corpos até sexta-feira (1º), o presidente logra rebaixar seu patamar de humanidade e discernimento a cada semana.  Na terça passada, atingiu um novo nível do abismo ao ser questionado sobre o fato de o país ter ultrapassado a China, berço da crise, em número de óbitos“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”, foi a pérola turva emitida pelo chefe de Estado. Nem Donald Trump chegou a tanto.

Na quinta, Bolsonaro afirmou que as restrições impostas por chefes municipais e estaduais haviam sido inúteis, apesar de haver casualidade entre elas e o ritmo da epidemia. No 1º de Maio, desejou que todos voltassem ao trabalhoA desinformação propagada como cálculo, dado que a inevitável tragédia econômica à espreita deverá dificultar sua sobrevivência política, além de tudo é fútil. Não se imagina imagem pior a ser associada a um político, e no presidencialismo brasileiro o titular do Planalto é destinatário de quase tudo, de pilhas de caixões a sacos com corpos pelo país.

Mas Bolsonaro —que, além de tudo, falta com a transparência ao se recusar a exibir seu próprio exame para a doença, supostamente negativo— teima, e a redução no apoio às quarentenas que se verifica pode ser ao menos parcialmente colocada em sua conta. Estudo de brasileiros apresentado na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, mostra a partir do cruzamento de dados de georreferenciamento e votação de Bolsonaro em 2018 que, quando o presidente profere suas tolices, o isolamento cai mais em seus redutos.

É um pequeno exemplo, ao qual podem ser somadas inúmeras manifestações de apoio aos ditames do aspirante a curandeiro. Enquanto isso, autoridades mais sérias se preparam como podem para o pior, como a manutenção e eventual endurecimento das regras de isolamento da cidade de São Paulo demonstram.

 Editorial - Folha de S. Paulo 

domingo, 12 de abril de 2020

Quem se candidata? - Alon Feuerwerker

Análise Política


Está em xeque o sucesso da contenção da Covid-19 em certos lugares da Ásia que não se inclinaram inicialmente por isolamentos radicais. Coreia do Sul, Japão e Singapura, entre outros. As autoridades são agora obrigadas a algum endurecimento. Porque a ameaça volta a rondar. É a pergunta da moda: quando se poderá dizer, finalmente, “acabou!”?

Segundo os entendidos, quando a Covid-19 tiver reduzido um certo tanto o número de hospedeiros amigáveis do vírus, por morte ou imunização.  Em resumo, depende de quanto tempo demora a vacina.

Também porque as sociedades não parecem dispostas a arcar com mortes em massa para acelerar a volta à “normalidade”. Tampouco dá para parar tudo à espera de pelo menos 60% estarem imunes. Dizer que o determinante de toda matriz nula é zero pode ser uma verdade matemática, mas não é uma solução aceitável para a economia.

Melhor que esperar pelo “acabou” será buscar formas eficazes de conviver com a ameaça, minimizando os danos e maximizando a atividade social produtiva possível.

Quem se candidata? 

Alon Feuerwerker, analista político e jornalista - Análise Política

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Tentativa e erro – Editorial - Folha de S. Paulo

Sem estudos, países tateiam na intensidade das restrições contra o coronavírus

Ainda não se dispõe de resposta auspiciosa para os que perguntam quando o pesadelo da pandemia do coronavírus estará superado e a vida voltará ao normal.  Países que pareciam estar lidando bem com a crise, mantendo a curva epidemiológica sob relativo controle sem sacrificar demais a circulação de pessoas e a economia, como Singapura, Japão e Suécia, já se preocupam com as estatísticas mais recentes e anunciam medidas de restrição mais drásticas.

A própria China, que começa a relaxar o cerco sobre as áreas mais atingidas, age com extrema cautela. O receio é que o vírus volte a ter transmissão sustentada, dando início a um segundo surto epidêmico. Os europeus Áustria, Dinamarca, Noruega, República Tcheca e Bélgica previram retomadas graduais de atividades após a Páscoa, e a Eslováquia reabriu parte do comércio. Mesmo nessas nações, cujos sistemas de saúde não ficaram sobrecarregados, a cautela predomina.
Não é simples conter uma pandemia. A melhor forma de fazê-lo consiste em desenvolver uma vacina, e alguns dos melhores cientistas do mundo trabalham nisso. Não há garantia, porém, de que conseguirão achá-la rapidamente e produzi-la em escala comercial.

Sem isso, epidemias de grande porte tendem a só acabar depois que determinada parcela da população já tiver sido infectada e desenvolvido imunidade contra o patógeno. À medida que a proporção de imunes aumenta, diminui a probabilidade de uma pessoa infectada encontrar uma suscetível para transmitir-lhe a doença. A certa altura, chega-se à chamada imunidade de rebanho. Não sabemos, porém, quando a teremos.  Faltam bons estudos epidemiológicos sobre o Sars-CoV-2. A quantidade de pessoas que um doente típico infecta —a informação mais importante a ser obtida— foi inicialmente estimada em algo entre 1,4 e 3,9, mas trabalhos mais recentes sugerem números mais elevados.

Também se desconhece a proporção de pacientes assintomáticos para cada infectado que identificamos. Se elevada, como sugeriu um modelo de pesquisadores da Universidade Oxford, a distância para a imunidade de rebanho cai.  A boa notícia é que estão em curso trabalhos que prometem oferecer algumas dessas respostas, indispensáveis para um bom planejamento tanto das necessidades hospitalares como de um eventual relaxamento das restrições.  Alguns desses estudos, como o conduzido em Heinsberg, na Alemanha, devem trazer resultados preliminares já nos próximos dias.  Até o devido conhecimento, resta aos governos de todo o mundo guiarem-se por prudência e flexibilidade para rever orientações a partir da experiência acumulada.

Editorial  - Folha de S. Paulo




terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Disney corta cena de beijo entre duas mulheres em Star Wars em Singapura - VEJA

Empresa cortou a cena no país para não obter uma classificação etária mais alta; filme é permitido para maiores de 13 anos

Da Redação
 
A Disney cortou uma breve cena de duas mulheres se beijando na versão de Singapura do mais recente filme da saga Star Wars.
 
[felizmente ainda existe leis, vergonha, moral e bons costumes em alguns países - ainda que na China e em Singapura.
Já no Brasil, revista em quadrinhos com material pornográfico inserido em seu conteúdo, é comprado em plena vigência de uma proibição judicial, distribuída para quem quiser, incluindo cranças, e nada acontece.
Só após a distribuição é que uma decisão cassou a liminar -quem desobedece uma liminar vigente comete crime e tem que ser punido.] 
 
 

A Ascensão Skywaker apresenta o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo na história da franquia. A cena foi descrita como “um breve flash de duas mulheres se beijando entre uma multidão de personagens”. Mas a versão lançada em Singapura omite a cena, interpretada por duas personagens coadjuvantes.

De acordo com o órgão regulador de mídia do país asiático, a Disney cortou a cena para o filme não ter uma classificação etária mais alta. Sem o beijo, Star Wars: A Ascensão Skywaker é classificado para maiores de 13 anos em Singapura.

Existem relatos de cortes da cena em outros países, como a China. A Disney não se pronunciou sobre o assunto até o momento.

Filmes com cenas de beijos entre pessoas do mesmo sexo, como Brokeback Mountain, tem classificação indicativa acima de 21 anos em Singapura. O casamento entre pessoas do mesmo sexo é proibido no país.

VEJA

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Empresa grega Delta Tankers é dona de navio suspeito por vazamento no NE

Juiz federal expediu mandados de busca e apreensão em empresas brasileiras relacionadas à embarcação

O navio de bandeira grega apontado como origem do vazamento de petróleo que atingiu as praias dos nove estados do Nordeste se chama Bouboulina e é propriedade da empresa Delta Tankers, também sediada na Grécia. O juiz federal Francisco Eduardo Guimarães Farias, da 14ª Vara Federal em Natal, autorizou que fossem feitas buscas e apreensões em endereços ligados à Lachmann Agência Marítima e Witt O Brien’s — ambas com endereços no centro do Rio de Janeiro.
O cargueiro Boubolina, da empresa grega Delta Tankers (Reprodução/Reprodução)

De acordo com as investigações da Polícia Federal, que contam com a colaboração da Interpol, o derramamento teve origem entre os dias 28 e 29 de julho. A apuração identificou, a partir de imagens de satélite, uma mancha inicial de petróleo cru a aproximadamente 700 quilômetros da costa brasileira no dia 29 de julho, de extensão ainda não calculada. Isso permitiu identificar um único petroleiro que navegou pela área suspeita na data provável do vazamento.
“A embarcação, de bandeira grega, atracou na Venezuela em 15 de julho, permaneceu por três dias, e seguiu rumo a Singapura, pelo oceano Atlântico, vindo a aportar apenas na África do Sul. O derramamento investigado teria ocorrido nesse deslocamento”, afirma a Polícia Federal. O navio, segundo informações no site da Delta Tankers, tem 274 metros de comprimento e tem capacidade de 178.385 metros cúbicos de carga.

A PF concluiu não haver indicação de outro navio “que poderia ter vazado ou despejado óleo, proveniente da Venezuela.” De acordo com a Marinha, que também colabora com as investigações, o Bouboulina chegou a ficar detido nos EUA por quatro dias, devido a “incorreções de procedimentos operacionais no sistema de separação de água e óleo para descarga no mar”.
blog Radar adiantou que a principal suspeita do vazamento já recaía sobre navios-tanque que trafegam em alto mar sem rastreamento. É cada vez mais recorrente a prática de se desligar os transmissores para que os navios não possam ser rastreados por satélite com o intuito de burlar as barreiras e tarifas. É o chamado off transponder, que configura uma verdadeira frota crescente de “petroleiros piratas”.

Nesta sexta-feira, são cumpridos dois mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, expedidos pela 14ª Vara Federal Criminal de Natal, em sedes de representantes e contatos da empresa grega no Brasil, que não teve o nome divulgado. Foram solicitadas diligências para a obtenção de dados adicionais sobre a embarcação e sua tripulação.  “Há fortes indícios de que a empresa, o comandante e tripulação do navio deixaram de comunicar às autoridades competentes acerca do vazamento/lançamento de petróleo cru no Oceano Atlântico”, afirmam os procuradores da República no RN Cibele Benevides e Victor Mariz. Por isso, pediram os mandados de busca e apreensão.
Segundo o MPF, os responsáveis pelo vazamento devem responder nas esferas cível (com o pagamento de multas e indenização por danos morais) e penal pelo crimes de poluição e por terem deixado de comunicar o incidente às autoridades.

Desastre ambiental
O derramamento de óleo que atingiu as praias de todos os nove estados nordeste é considerado o maior do gênero em extensão. Até 29 de outubro, foram registradas manchas em 94 municípios e 264 localidades. Foram encontrados 107 animais afetados pelo óleo, com 81 mortes. Cerca de 70% dos animais contabilizados eram tartarugas marinhas. A reação demorada e confusa ao desastre ambiental faz o governo passar do papel de vítima à condição de vilão do problema. Foi apenas em 5 de outubro, ou mais de um mês depois do primeiro sinal de alerta, que o presidente Jair Bolsonaro acionou a Polícia Federal, a Marinha e os órgãos ambientais do governo para investigar as causas do vazamento e os responsáveis por ele.

Procuradores do Ministério Público Federal na região foram à Justiça acusar o governo foram à Justiça acusar o governo de omissão e pedir que ele fosse compelido a acionar o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo, uma espécie de protocolo que lista procedimentos a ser adotados em emergências. Para o MPF, a União foi omissa ao demorar a tomar medidas de proteção ao meio ambiente e não atuar de forma articulada na região.

A crise também ganhou contornos políticos. Enquanto as manchas de óleo se multiplicavam, a conhecida animosidade do Palácio do Planalto com os governadores do Nordeste — quase todos de esquerda — ganhou novo combustível com a cobrança por um apoio efetivo de Brasília. O ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) trocou farpas com o governador baiano Rui Costa (PT) e ouviu de Paulo Câmara (PSB-PE) que a reação federal era improvisada. O chefe da pasta também atacou o Greenpeace ao sugerir que a entidade não participa dos mutirões de limpeza.

 VEJA - Brasil - Leonardo Lellis




quarta-feira, 6 de março de 2019

Crivella quer o Porto Jogatina

Cariocas são obrigados a suportar fantasias e empulhações do prefeito do Rio

Num mesmo dia, o prefeito Marcelo Crivella disse que "o Rio de Janeiro é o epicentro da corrupção" e anunciou um futuro radiante para o projeto do Porto Maravilha. Prometeu R$ 10 bilhões em investimentos com a construção de duas torres de hotéis, um centro de convenções e... um cassino. O prefeito do "epicentro da corrupção" defende a legalização da jogatina para salvar um projeto megalomaníaco atolado na zona portuária da cidade. Isso num estado que tem dois governadores presos, e foram apanhados em roubalheiraa dezenas de deputados, secretários do governo e conselheiros do Tribunal de Contas. Dois cardeais da sacrossanta Arquidiocese de d. Eugênio Salles viram suas atividades tisnadas por malfeitos de pessoas que lhes eram próximas. Tudo isso sem que o jogo seja legalizado.
Um policial militar que trabalhou com a família Bolsonaro e orgulhou-se de "fazer dinheiro" ainda não ofereceu uma versão consistente para explicar suas movimentações financeiras. Um capitão da tropa de elite da PM teve a mãe e a mulher empregadas no gabinete do filho do presidente. Alcunhado "Caveira", o oficial foi expulso da corporação e está foragido. Ele era donatário de uma milícia da cidade. [Bolsonaro é o único empregador que é responsável pelo que seus empregados (dele ou de seus familiares) fazem após deixar o emprego.]
O Rio de Janeiro elegeu um juiz para o governo do estado. Outro policial, que se apresentava como seu consultor para assuntos de segurança, está na cadeia, acusado de extorsão. Na última eleição esse policial foi candidato a deputado federal pelo partido do governador. O filho do presidente homenageou-o numa sessão da Assembleia Legislativa. Sem cassinos, o Rio já está assim. Nenhuma pessoa de boa-fé pode acreditar que alguma coisa melhorará com estímulos à jogatina e a abertura de lavanderias de dinheiro. Ao crime organizado Crivella que juntar o jogo legalizado. O prefeito não joga, não fuma, não bebe e sabe que está apenas criando uma nova miragem para uma cidade ludibriada por fantasias como as da Copa do Mundo e da Olimpíada. De miragem em miragem o Rio vive uma eterna Quarta-Feira de Cinzas. Crivella sabe que a reabertura dos cassinos depende da aprovação de uma lei pelo Congresso. Conhecendo a tessitura do crime organizado na cidade, dificilmente Jair Bolsonaro perfilhará a legalização do jogo.
No mundo real, a única pessoa tenuemente interessada nas torres e no cassino prometidos por Crivella é o bilionário americano Sheldon Adelson, que tem complexos de turismo e jogo em Las Vegas, Macau e Singapura. Ele começou a trabalhar aos 12 anos (tem 85) e já juntou US$ 33,3 bilhões (R$ 125,7 bilhões). É um campeão da causa de Israel e a ele se atribui a abertura dos cofres de muitos republicanos para Donald Trump. É também um protetor do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Dele viriam os R$ 10 bilhões imaginados por Crivella.
O Porto Maravilha de Eduardo Paes atolou porque era um projeto demófobo. O Rio da zona portuária nunca poderia ter sido o que é o Puerto Madero argentino, como a Barra da Tijuca nunca será uma Miami. Aquela área está num bairro popular e centenário. Quem quiser conferir, que ande pelas ruas da Gamboa e de São Cristóvão. A megalomania imobiliária encalhou porque foram poucos os interessados em levar suas empresas para lá. Ali, o povo do Rio sempre viveu em casas modestas. Miami é em outro lugar.
Na região do Porto Maravilha construíram-se dois novos museus. A poucos quilômetros dali, pegou fogo o Museu Nacional. (Quarenta anos antes, incendiou-se o museu de Arte Moderna. Ganha um fim de semana em Caracas quem souber de outra cidade com semelhante desempenho.)
 
 

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Tradutor de presidente sofre, mas se diverte



O trabalho dos tradutores dos presidentes não se limita a verter palavras para outras línguas — eles, muitas vezes, melhoram o script 

Em um momento do encontro em Roma em 2008 com Silvio Berlusconi, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva segurou a gravata do italiano e ficou esfregando os dedos polegar e indicador como se avaliasse a qualidade da seda. Olhando para o rosto do primeiro-ministro, disparou: “Esse aqui tem a cara do Collor e do Maluf juntos!”. Berlusconi não entendeu nada. “Che cosa ha detto?”, indagou. O carioca Sérgio Xavier Ferreira, que estava ao lado do ex-presidente, atuando como intérprete, imediatamente atalhou. “O presidente elogiou muito sua gravata”, respondeu. No dia seguinte, Il Cavaliere mandou uma caixa com 50 gravatas daquelas como presente para Lula.

A história ilustra o papel essencial — e nem sempre discreto — assumido pelos tradutores à medida que a diplomacia presidencial se tornou mais ativa nas ações de política externa. Entre os intérpretes, Sérgio Ferreira, que traduzia para Lula desde 1992 e era petista, tornou-se uma lenda porque fazia um trabalho muito além de traduzir e interpretar o que Lula falava. Ferreira polia frases, sofisticava o vocabulário, tornava compreensíveis as metáforas de futebol e casamento frequentes em seus discursos, assim como dava graça, em outras línguas, às piadas de Lula, quando não as omitia, como no caso da gravata de Berlusconi.

(...) 

O fim do regime militar e os primeiros anos de redemocratização não deixaram mais espaços para o amadorismo. Com o fim da Guerra Fria, o andamento veloz da globalização e a criação de uma infinidade de agrupamentos de nações, a profissionalização da tradução tornou-se regra para países que, como o Brasil, tinham ambições na cena internacional. Os anos 1990 marcaram uma mudança substancial na maneira como o Brasil se colocava no plano internacional, e, de lá para cá, tradutores se tornaram tão presentes no gabinete e nas comitivas do presidente quanto os chanceleres.

Desde 1995, com a posse de Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto, até abril passado, os quatro presidentes brasileiros comandaram 449 visitas internacionais e receberam, no Brasil, centenas de chefes de Estado e governo. Michel Temer deverá completar a 450ª visita ao desembarcar em Singapura, no próximo dia 7 de maio. Só não houve mais visitas internacionais porque Temer, entre tantos incêndios para apagar em Brasília, pouco tempo teve para despender no exterior. E sua antecessora, Dilma Rousseff, tinha pouca disposição para se dedicar à política externa. Esses encontros entre chefes de Estado e governo — com olho no olho, leitura de expressões faciais, apertos de mãos, cochichos com assessores, sinais, mensagens em voz natural — ainda não foram superados pelos engenhos do mundo virtual.

(...)

Apesar da familiaridade com Lula, certa vez engasgou quando o presidente se referiu às comunidades de mulheres quebradeiras de coco de babaçu para uma plateia de empresários estrangeiros. Rapidamente, encontrou uma versão adequada em inglês: “coconut cracking women”. Lula percebia seu esforço. Em um jantar oficial, enquanto falava com um chefe de Estado, picou o pão em pedacinhos, passou manteiga em cada porção e as deu a Ferreira, uma a uma, como se fosse seu canário do reino.

Ferreira chegou ao Palácio do Planalto de “salto alto”, lembram funcionários do gabinete presidencial daquela época. Assinara um contrato como assessor especial do gabinete da Presidência, cargo de confiança para o qual estava prevista a remuneração como DAS-5, o segundo patamar mais alto. Estava orgulhoso disso. Tanto que passou a corrigir os demais servidores quando era chamado de “tradutor”. Sarcásticos por natureza, os diplomatas passaram a referir-se a ele, as suas costas, como “DAS-5”.

Na primeira participação de Lula na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, que o Planalto demorara a confirmar, Ferreira brigou com o chefe do cerimonial da Presidência, o embaixador Paulo César Oliveira, no lobby do Waldorf Astoria, porque fora hospedado em um hotel vizinho. Com o passar dos tempos, Ferreira percebeu que sua condição de “assessor especial da Presidência” o impedia de fazer outros trabalhos de tradução e diminuía sua renda.

Ferreira tentou salvar Lula de várias gafes. Algumas vezes, não conseguiu. Em novembro de 2003, em visita oficial à Namíbia, o então presidente afirmou em discurso que estava surpreso “porque quem chega a Windhoek não parece estar num país africano. Poucas cidades do mundo são limpas e bonitas (como esta)”. Ferreira interrompeu o raciocínio do presidente, dando-lhe uma chance de refazer a frase controversa, e disse que não o estava entendendo. Lula retomou: “A visão que se tem da África é de que são todos pobres”. O tradutor omitiu o que Lula dissera sobre Windhoek ser uma capital limpa, apesar de africana e pobre. Somente os brasileiros entenderam o deslize. Lula costumava chamar Ferreira de “meu dublê” e o salvava com frequência dos seguranças estrangeiros que, quase sempre, barravam a passagem do tradutor.

Às vezes, a carga de humor de Lula também se perdia na tradução. Em 2007, durante uma coletiva de imprensa ao lado de George W. Bush, em São Paulo, Lula descontraiu-se suficientemente para dizer que o chanceler Celso Amorim e a secretária de Estado Condoleezza Rice deveriam ser trancados em uma sala até atingirem o “ponto G” da negociação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca). O tradutor verteu a expressão para “dot G”, que nada tinha a ver com a conotação erótica dada por Lula que, em inglês, seria “G spot”. Enquanto os jornalistas brasileiros e o próprio Lula riam, Bush e a delegação americana só entenderam a piada mais tarde, quando propriamente traduzida.

(...)

Época
 

 

sábado, 16 de janeiro de 2016

João Santana - marqueteiro e orientador das mentiras de Dilma (embora ela também minta por ser mitomaníaca) recebeu dinheiro do PETROLÃO

João Santana pode ter recebido dinheiro do petrolão no exterior

Carta assinada pela mulher e sócia do marqueteiro petista, agora em poder da PF, foi endereçada a um dos operadores do esquema criminoso indicando contas na Inglaterra e nos Estados Unidos

Um empreiteiro do primeiro time está diante de um advogado de sua empresa e, pensando alto, reclama da atitude da presidente Dilma Rousseff, que, na visão dele, estava pouco se lixando para a sorte dos empresários pegos na Operação Lava-Jato.


João Santana tinha grande influência sobre as decisões dos dois presidentes petistas(Roberto Stuckert/VEJA)
Com influencia ou não os três vão terminar presos. Apesar de sempre que penso no destino de Lula e Dilma me vem a mente o fim do Duce e Clara Petacci
 
Diz ele: "A Dilma fica posando de virtuosa como se não tivesse nada com o que está acontecendo. Ela declarou pouco mais de 300 milhões de gastos de campanha, e nós demos para ela quase 1 bilhão. Como ela pensa que o restante do dinheiro foi parar na campanha?". Esse desabafo reflete uma situação de fato e, além de ser uma confissão de crime, descreve com exatidão o sentimento comum entre muitos dos maiores doadores do PT na campanha presidencial de 2014. Eles deram dinheiro contabilizado, devidamente registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas também fizeram contribuições clandestinas das mais diversas maneiras usando suas poderosas estruturas empresariais. 

Outro empreiteiro avança mais: "Essas doações foram feitas a partir da contratação de consultorias indicadas pelos políticos ou por meio de pagamentos a publicitários diretamente no exterior". A Polícia Federal já encontrou evidências dessas operações casadas em que empresas são agraciadas com obras e financiamentos públicos generosos e, em troca, contratam aqui ou no exterior "consultorias" ou agências de publicidade às quais devolvem parte do butim. Um exemplo dessa triangulação criminosa está sendo investigado em um inquérito sigiloso que tramita em Curitiba e tem como personagem principal o marqueteiro João Santana, artífice das campanhas eleitorais do ex-presidente Lula e da presidente Dilma.

A história começa nas primeiras horas da manhã do dia 5 de fevereiro do ano passado, quando uma equipe de policiais federais bateu na porta do engenheiro Zwi Skornicki, em um condomínio da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Os agentes estavam atrás de computadores e documentos. As buscas eram parte da nona fase da Operacão Lava-Jato, batizada de My Way. Estavam na mira dos policiais onze operadores do petrolão que haviam sido denunciados por Pedro Barusco, ex-­gerente da Petrobras. Em acordo de delação, Barusco revelou os detalhes de como funcionava o esquema de corrupção na diretoria de Serviços da estatal. Apenas ele, um funcionário de terceiro escalão, havia embolsado 97 milhões de dólares, dinheiro que escondia em contas secretas no exterior. 

Barusco contou como eram pagas as propinas em troca dos contratos, em especial aqueles destinados à construção de plataformas e sondas para exploração de petróleo em águas profundas. Organizado, ele tinha uma lista com o nome de todos os operadores, quem cada um deles representava e, principalmente, o que cada um fazia.

Zwi Skornicki, o morador do condomínio de luxo da Barra da Tijuca visitado pelos federais, era um dos nomes da lista de pagadores de propina. Havia anos ele era o representante no Brasil do estaleiro Keppel Fels, de Singapura, dono de contratos bilionários com a Petrobras. Segundo Barusco, de 2003 a 2013 Zwi foi o responsável por pagar - a ele, a outros funcionários da Petrobras e também ao PT - as comissões devidas pelo estaleiro asiático. Eram provas desses pagamentos que os agentes procuravam na casa do operador, mas a busca acabaria abrindo uma nova linha de investigação. Ao analisarem o material apreendido, os investigadores encontraram uma carta enviada em 2013 a Zwi com as coordenadas de duas contas no exterior, uma nos Estados Unidos e a outra na Inglaterra. 

A remetente da correspondência, manuscrita, era Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro João Santana. Intrigante. Que ligação financeira poderia haver entre a esposa e sócia do marqueteiro da presidente da República e um operador de propinas do petrolão? Estranho. Num mundo digital, a comunicação ainda se deu por carta - talvez para não deixar rastros em e-mail ou mesmo em mensagem telefônica.

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Quase 1.000 brasileiros estão presos por tráfico de drogas em outros países - O desterro atrás das grades



Número representa 30% do total de brasileiros em prisões fora do Brasil, diz Itamaraty
Além do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, cuja execução por tráfico de drogas ocorreu sábado, pelo menos outros 962 brasileiros estão presos no exterior pelo mesmo crime. O balanço foi divulgado pelo Itamaraty, com base em dados de dezembro de 2013. O número representa 30% dos 3.209 brasileiros em prisões fora do país.

 O número de brasileiros presos, cumprindo pena ou aguardando julgamento no exterior flutua entre 2.500 e 3.000 pessoas (Thinkstock Images/VEJA)

Moreira foi condenado na Indonésia, e os dois pedidos de clemência apresentados foram negados. Um novo apelo foi feito nesta sexta-feira pela presidente Dilma Rousseff em conversa telefônica com o presidente indonésio, Joko Widodo, que se recusou a suspender a execução.

Na Indonésia há ainda outro brasileiro no corredor da morte por tráfico de drogas, o paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte. Além da Indonésia, há outros países nos quais todos os brasileiros presos foram condenados por tráfico: Turquia (45 brasileiros), África do Sul (36), Austrália (seis) e China (quatro), além de Cabo Verde, Catar, Jordânia, Líbano, Moçambique, Nicarágua, Nova Zelândia, República Dominicana, Singapura e Tailândia, cada um com entre um e três brasileiros presos.  A maior quantidade de brasileiros presos por causa desse tipo de crime está na Europa, com 496, ou 44%, de um total de 1.108. Eles são 150 na Espanha, 118 na Itália, 76 em Portugal, 45 na França, 45 na Turquia, 36 na Alemanha, treze na Bélgica e treze no Reino Unido.

Américas Na América do Sul, são 128 brasileiros presos por envolvimento com drogas no Paraguai, 48 na Bolívia, 34 na Argentina, 23 no Peru, dezessete na Venezuela, catorze na Colômbia e doze no Uruguai. Na América Central, dos dezoito brasileiros presos, seis foram acusados de tráfico de drogas. Na América do Norte, são catorze presos por tráfico nos Estados Unidos e um no México, entre mais de 700 tipos diferentes de delitos.

Na África, todos os quarenta brasileiros presos no fim de 2013 respondiam por envolvimento com drogas. Na Ásia, a proporção é de 26%, com 110 dos 417 brasileiros presos, sendo que 101 respondiam por tráfico ou porte de drogas somente no Japão. No Oriente Médio, de vinte brasileiros presos, dez o foram por envolvimento com drogas. Na Oceania, nove dos treze detidos (69%) o foram pelo menos motivo.

Assistência psicológica Os demais brasileiros presos no exterior respondem a crimes leves ou pesados, como situação migratória irregular, falsificação de documentos, desacato, roubo, fraude, dano material, violência doméstica, porte ilegal de armas, formação de quadrilha, tráfico de pessoas, latrocínio, garimpo ilegal e até suspeita de atividade terrorista.

Entre os 3.209 brasileiros em prisões estrangeiras no fim de 2013, os registros mostram que 2.459 são homens, 496 mulheres e 36 transexuais. Os 218 restantes não foram especificados. Apesar de presos, pelo menos 1.421 ainda aguardavam julgamento. O Itamaraty afirma prestar assistência psicológica e jurídica aos presos, o que não inclui pagamento de honorários dos advogados. No caso de Marco Archer, o acompanhamento psicológico ocorre desde 2012, quando sua situação piorou, após a recusa dos dois pedidos de clemência a que tinha direito.

Segundo o Itamaraty, no fim de 2010, existiam 2.659 brasileiros encarcerados em alguma parte do globo.
Entre os sentenciados, dois estão condenados à morte [resta um, já que um dos condenados foi executado anteontem.]
João Paulo Escudeiro de Mauro, 20 anos, é piloto de corridas. Ricardo Costa, 39, é modelo. Rodrigo Moreto Cubek, 30, é advogado. Rodrigo Gulart, 37, é surfista - condenado à morte na Indonésia e deve ser executado em fevereiro/2015; . Marco Archer Cardoso Moreira, 48, é instrutor de voo livre - tinha 53 anos e foi executado anteontem; Luiz Antonio Scavone Neto, 20, é estudante. Esses seis brasileiros têm algo em comum. Todos estão ou estiveram presos em países estrangeiros. Segundo o Itamaraty, no fim de 2010, existiam 2.659 brasileiros encarcerados em alguma parte do globo. Entre os sentenciados, dois foram condenados à morte.

Enquanto Ricardo Costa prepara a volta ao Brasil depois de mais de 1.100 dias preso sem julgamento nos Estados Unidos, dois novos casos ganharam as manchetes dos jornais em janeiro deste ano. Durante um cruzeiro do Allure of the Seas, o maior transatlântico do mundo, Luiz Antonio Scavone Neto foi detido em território americano sob suspeita de ter estuprado uma garota de 15 anos. A adolescente, nascida nos Estados Unidos, relatou à polícia ter sido forçada a manter relações sexuais com Scavone e com outro brasileiro menor de idade numa das cabines do navio. No último dia 19, João Paulo Escudero Mauro acabou preso em Miami acusado de dirigir sob a influência de entorpecentes, homicídio culposo e posse de cocaína. Todos juram inocência.

De acordo com o Itamaraty, o número de brasileiros presos, cumprindo pena ou aguardando julgamento no exterior tem flutuado nos últimos anos entre 2.500 e 3.000 pessoas. Entre os países com maior quantidade de brasileiros detidos estão a Espanha (465), Portugal (256) e Estados Unidos (243). Nos EUA e na Europa, um dos crimes mais comuns é “situação imigratória irregular”. Nos países vizinhos da fronteira norte do Brasil, principalmente na Guiana Francesa “atividade ilegal de garimpagem”. Só em Caiena, capital da Guiana Francesa, existem 114 brasileiros detidos.

Garimpo ilegal - Na Guiana e no Suriname, embora não sejam presos por garimpo ilegal, a maior parte dos detentos cometeu crimes vinculados a essa prática, como contrabando de combustível, tráfico de mercúrio e homicídios. "O garimpo é uma atividade extremamente violenta e normalmente envolve dezenas de outros crimes", explica Luiza Lopes da Silva, diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior do Itamaraty. Na primeira vez em que são flagrados pela Justiça, essas pessoas são deportados para o Brasil. Da segunda em diante, ficam alguns meses detidas, o que faz com que muitas usem identidades falsas, dificultando o trabalho dos diplomatas brasileiros.

"A detenção máxima na Guiana Francesa é de três anos", revela Luiza. "A intenção deles não é manter essas pessoas na prisão e aumentar o contingente carcerário, mas mandá-las o mais rápido possível de volta para o país de origem". De acordo com Luiza, esse crime tem se mantido estável nos últimos anos. Na Venezuela, entretanto, onde era bastante comum, praticamente desapareceu. "A polícia venezuelana militarizou as regiões de garimpo, coibindo a prática", diz Luiza. Moradores dos estados do Amapá, Pará ou Amazonas, os garimpeiros são homens, de uma classe social baixa.

Acima dessas particularidades regionais, a acusação que lidera o ranking é a de tráfico de substâncias ilícitas, normalmente cometido por homens, com idade entre 18 e 35 anos, sem antecedentes criminais. São os chamados mulas. Os países onde os brasileiros mais cometem esse delito estão na Europa e na América do Sul. As cidades campeãs em número de detentos são Ciudade del Este (75) e Pedro Juan Caballero (79), no Paraguai, Buenos Aires (128), na Argentina, Lisboa (250), em Portugal, Roma (65) e Milão (94), na Itália, e Madri (300) e Barcelona (141), na Espanha – muitos brasileiros também estão presos na Espanha por falsificação de documentos e violência doméstica (a legislação local sobre o tema é bastante rígida).

"As mulheres também cometem esses crimes, mas os homens ainda são maioria", afirma Luiza. "Esses chamados mulas são atraídos por promessas de dinheiro fácil e enxergam nisso uma possibilidade de conseguir recursos para começar uma nova vida num país estrangeiro. De 10 mulas, só um é pego. Já que normalmente não têm antecedentes criminais, eles costumam alegar que não sabiam que estavam portando drogas". Esses presos raramente ganham notoriedade. Os casos que costumam ganhar visibilidade envolvem algumas particularidades (veja galeria abaixo).

Pena capital - Na categoria "narcotráfico" se enquadram Marco Archer Cardoso Moreira, hoje com 48 anos, e Rodrigo Gularte, 37, condenados à morte na Indonésia por tráfico de drogas. Moreira foi preso em 2003 e, Gularte, em 2005. O primeiro transportava 13,4 quilos de cocaína numa asa delta. O segundo, 6 quilos da droga em pranchas de surfe. Pedidos de clemência do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados não comoveram o presidente indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono.

Também condenado por tráfico de drogas, Rogério Paez, 54, ficou encarcerado na Indonésia por oito anos, antes de ser solto em 2011. Parado numa blitz em Bali, onde morava fazia 10 anos, foi preso por causa de um cigarro de 3,8 gramas de haxixe. Engenheiro civil, fluente em oito idiomas, Rogerinho Rock’n’roll – como era conhecido nas areias de Niterói, sua terra natal – afirmou em entrevistas que foi salvo pelo budismo, religião a qual se converteu quando já estava atrás das grades.

Ricardo Costa, preso em Sedona, no estado do Arizona, em 19 de dezembro de 2008, foi acusado pela ex-mulher de abusar sexualmente dos próprios filhos. Ele ficou mais de 1.100 dias atrás das grades, sem julgamento. A fiança, que só poderia ser paga em dinheiro, foi estipulada em 75 milhões de dólares – uma das maiores da história dos EUA. Michael Jackson, por exemplo, acusado do mesmo crime, pagou 3 milhões de dólares para recuperar a liberdade.

O reencontro - Embora ignore o dia, a hora e o local, Cristina Costa, mãe de Ricardo, espera abraçar o filho antes do Carnaval. “Eles dizem que não podem revelar os detalhes por uma questão de segurança”, diz ela. “Sei apenas que ele será deixado em solo brasileiro. Pode ser em Porto Alegre, ou em Manaus, de manhã, ou à noite”. O Itamaraty só admite que Ricardo estará no Brasil “nos próximos meses” (o Ministério das Relações Exteriores evita aprofundar-se em casos específicos “para preservar a privacidade dos cidadãos envolvidos”).

O pesadelo de Ricardo começou durante uma audiência do processo de divórcio com a ex-mulher Angela Denise Martin. Cristina e o pai de Ricardo, Sérgio de Souza Costa, testemunharam a chegada dos policiais incumbidos de capturá-lo. A denúncia se baseou na palavra da psicóloga Linda Bennardo, que na época atendia os três filhos do casal. Segundo Linda, as crianças descreveram os crimes durante as sessões de psicoterapia. Meses depois, a terapeuta foi acusada pela entidade que regulamenta a profissão no estado de induzir pacientes menores de idade a mentir, declarando-se vítimas de abuso sexual. Ela renunciou à profissão antes que fosse formalmente proibida de exercê-la. Mesmo alegando inocência, Ricardo continuou preso.

O imbróglio jurídico se estende desde então. A família de Ricardo acredita que a demora excessiva do julgamento do caso pela Justiça americana resulta da ausência de provas e dos equívocos processuais. “Conceder a liberdade era o mesmo que confessar que mantiveram um inocente preso por anos”, afirma Cristina. “As irregularidades começaram no momento em que detiveram meu filho e se estenderam durante todo o processo, que passou pelas mãos de cinco juízes e cinco promotores. Ninguém queria assumir essa culpa”. Ricardo recusou dezenas de acordos que, em troca da confissão e do completo afastamento dos filhos, garantiriam a liberdade e a deportação para o Brasil.
A campanha pela soltura de Ricardo mobilizou o Itamaraty, a Secretaria de Direitos Humanos, embaixadores, senadores e deputados. “Recebemos toda a ajuda possível”, agradece Cristina. “Não somos de família influente, não temos pistolão e mesmo assim a solidariedade e o apoio foram totais”.

Relações exteriores - Conforme explica o Ministério das Relações Exteriores, as autoridades consulares começam a agir assim que são comunicadas oficialmente das detenções. O primeiro passo é entrar em contato com a Divisão de Assistência Consular do Itamaraty e visitar o preso para verificar sua condição física e psicológica. Caso seja autorizado pelo detento, o Itamaraty entra em contato com os familiares. “Alguns presos pedem que a detenção não seja informada, ou que alguns dados relativos à acusação não sejam divulgados, o que é respeitado”, afirmou o ministério, em nota. “A partir daí, a atuação da autoridade consular depende dos dados concretos de cada ocorrência. No entanto, a assistência consular tem como diretriz acompanhar os casos de que o consulado toma conhecimento, sempre buscando se certificar de que os direitos dos brasileiros estão sendo respeitados”. Os parentes podem apelar para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Segundo Luiza Lopes, o Itamaraty sempre procura transferir o preso de volta para o Brasil. Dependendo do país onde estão detidos, entretanto, alguns preferem não retornar. "Na Escandinávia, na Austrália e na Nova Zelândia, por exemplo, eles têm estudo e trabalho de qualidade na prisão", conta. "No Paraguai a situação é diferente. Muitos querem continuar por lá porque já respondem a crimes, as vezes mais graves, no Brasil".

Apesar da atuação ser condicionada às leis de cada país, bons advogados podem ter papel determinante para que o caso chegue com mais rapidez a um final feliz. O empenho das autoridades brasileiras também pode ajudar bastante, como atesta o exemplo de Ricardo Costa. Nem sempre dá certo, como comprovam os casos de Cardoso Moreira e Gularte. As muitas tentativas fracassadas não diminuíram as esperanças. Eles ainda acreditam que podem converter em prisão perpétua a condenação à morte.

Com Agência Brasil