Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Las Vegas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Las Vegas. Mostrar todas as postagens

domingo, 19 de dezembro de 2021

Uma santa vitória dos evangélicos - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Evangélicos travaram trama da jogatina na Câmara

Bancada evangélica travou trama que pretendia legalizar os jogos de azar e reabrir cassinos, chamando-os de resorts 

Evangélicos travaram trama da jogatina na Câmara

O filé mignon e o pote de veneno dessa iniciativa estão na abertura dos cassinos. Por trás de uma panaceia arrecadatória e turística, há muito mais

Os bons costumes nacionais devem a boa parte da bancada evangélica da Câmara um grande serviço. Ela travou a trama que pretendia legalizar o jogo em Pindorama. À primeira vista, o que havia era apenas um truque do presidente da Câmara, Arthur Lira, levando ao plenário no escurinho de Brasília um velho projeto, que legaliza os jogos de azar e permite a reabertura de cassinos, chamando-os de resorts. O filé mignon e o pote de veneno dessa inciativa estão na abertura dos cassinos. Por trás de uma panaceia arrecadatória e turística, há muito mais.

Aos fatos:
Em maio de 2018, entrando pela cozinha do Copacabana Palace, o candidato a presidente Jair Bolsonaro e o economista Paulo Guedes se encontraram com o bilionário americano Sheldon Adelson. Ele veio ao Brasil com dois objetivos: obter a promessa da instalação da embaixada brasileira em Jerusalém e tratar da abertura de cassinos em cidades turísticas. Adelson, grande financiador do partido Republicano nos Estados Unidos, tinha cassinos em Las Vegas, Singapura e Macau.

O jabuti andou. Em dezembro daquele ano, o então prefeito do Rio, Marcelo Crivella, defendeu a criação de um complexo hoteleiro com cassino no Porto Maravilha. Meses depois, já na presidência da República, Bolsonaro informou: “Não quero adiantar aqui. Brevemente, estará sendo apresentado aos senhores um projeto que, com todo o respeito ao Paulo Guedes, a previsão é de termos dinheiro em caixa maior do que a reforma previdenciária em dez anos”.

Nas contas dos amigos do jabuti, os cassinos poderiam render à Viúva até R$ 18 bilhões em arrecadação. Bolsonaro teria discutido o assunto num de seus encontros com o presidente americano Donald Trump, dono de cassinos na sua terra. Em novembro de 2019, o ministro Paulo Guedes veio para a vitrine e louvou os cassinos de Las Vegas: “Imagina ter o mesmo na região da Amazônia? Mistério, turismo, entretenimento e um centro mundial de energia sustentável”. Outros príncipes do bolsonarismo circularam pelo circuito mundial da jogatina e pelo escritório de Adelson.

Na famosa reunião do ministério de abril de 2020, o tema dos resorts reapareceu com sua roupagem de vestal do turismo. Foi rebatido pela terrivelmente evangélica ministra Damares Alves: “Pacto com o diabo.” Damares vocalizava uma posição arraigada no meio evangélico que não bebe, não fuma e não joga. O assunto poderia ter morrido, mas Paulo Guedes retomou-o: “Tem problema nenhum. São bilionários, são milionários. Executivos do mundo inteiro. (...) O turismo saiu de cinco milhões em Singapura para 30 milhões por ano. O Brasil recebe seis. (...) O sonho do presidente de transformar o Rio de Janeiro em Cancún lá, Angra dos Reis em Cancún . (...) É um centro de negócios. É só maior de idade. O cara entra, deixa grana lá que ele ganhou anteontem, ele deixa aquilo lá, bebe, sai feliz da vida. Aquilo ali não atrapalha ninguém. Deixa cada um se foder. Ô Damares. Damares. Damares. Deixa cada um ... Damares. Damares. O presidente fala em liberdade. Deixa cada um se foder do jeito que quiser. Principalmente se o cara é maior, vacinado e bilionário. Deixa o cara se foder, pô! Não tem ... Lá não entra nenhum, lá não entra nenhum brasileirinho.”

Ninguém seria capaz de imaginar que esse seria o nível do debate de um doutor pela universidade de Chicago, mas vá lá. A discussão de abril se tornou pública e o projeto continuou sua caminhada pelo escurinho de Brasília. Se uma parte da bancada evangélica tivesse ficado quieta, Arthur Lira teria colocado na pauta a legalização dos cassinos. Com a reação, ele aprovou a urgência, mas se comprometeu a só colocar o mérito do projeto em votação a partir de fevereiro. Até lá, como diz o croupier da roleta: façam seus jogos, senhores.

Sheldon Adelson terá que esperar. Ele morreu em janeiro passado, aos 87 anos, deixando algo como US$ 30 bilhões.

Madame Natasha saúda o neologismo
Madame Natasha adorou ouvir que delegados da Polícia Federal criticaram o espetáculo da ação praticada contra os irmãos Ciro e Cid Gomes na terça-feira, classificando-a de “lavajatismo”.

A expressão Lava-Jato, que designava ações contra a corrupção de políticos e empresários, gerou um neologismo que designa teatralidades intimidatórias, destinadas a condenar suas vítimas pela construção de espetáculos.

Natasha encantou-se com o neologismo, que a remeteu ao grande momento literário de Dean Acheson, o secretário de Estado americano (1949-1953) que ela adorava na sua juventude. Imponente, chique e mordaz, Acheson comeu o pão que Asmodeu amassou nas mãos do senador Joseph McCarthy, que comandou uma caça às bruxas na administração americana. Bebum e mentiroso, ele acabou censurado pelos colegas. Morreu em 1957, levado pela cirrose e pela amargura.

Anos depois, ao escrever suas magníficas memórias, Acheson deu-lhe poucas e memoráveis palavras. Disse que, como o juiz Lynch (pai do verbo linchar) e do capitão Boycott (pai do verbo boicotar), o senador “enriqueceu a língua inglesa” gerando a palavra macartismo.


quarta-feira, 21 de abril de 2021

Más intenções - CPI da Covid já está fabricada. Agora é só fazer barulho - Alexandre Garcia

Vozes - Gazeta do Povo

Enquanto isso, no Brasil, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, deu um prazo de 30 dias para a Anvisa decidir se vai aprovar a importação do imunizante. A agência pediu a suspensão do prazo afirmando que precisa de mais dados sobre segurança, qualidade e eficácia da Sputnik V. E lembrou que está tratando de vidas humanas e, por isso, a análise criteriosa.
 
É de novo a história do Supremo intervindo em tudo: na ciência, no Legislativo, no Executivo... Outro exemplo é a abertura da CPI da Covid. O ex-presidente Fernando Collor deu uma entrevista em que lembrou que antes o STF se limitava a fazer a análise da Constituição e só. Bons tempos aqueles.

CPI tem roteiro pronto
Por falar em CPI da Covid, o autor da comissão, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), já finalizou um roteiro para dar andamento aos trabalhos da comissão. Serão investigados 19 temas e feitos 60 pedidos de informação. Assim como no jornalismo parece que a reportagem já sai pronta na reunião de pauta o repórter apenas é incumbido de ir para a rua colher depoimentos e capturar imagens que reforçam a tese pré-estabelecida — a CPI da Covid dá a entender que já está fabricada e só é preciso colher depoimentos.
 
Será preciso somente promover discussões, fazer bastante barulho para gerar manchetes sobre o assunto e haver declarações pomposas. Tudo isso é uma tentativa de provar uma tese de que o presidente da República é responsável pela piora na pandemia. Mas como se o Supremo deu prioridade de decisão para prefeitos e governadores quando o assunto é Covid-19. A única coisa que ele pode fazer é distribuir dinheiro.
Se o presidente quiser acabar com um lockdown, permitir cultos religiosos presenciais durante a pandemia ou mudar o Plano Nacional de Imunização em algum estado ou município ele não consegue. Eu reitero que essa comissão é focada nas eleições do ano que vem.
 
Urna eletrônica é segura?
Eu recebi um vídeo que lembra uma grande exposição de tecnologia digital em julho de 2017, em Las Vegas (EUA). Eles expuseram cinco urnas eletrônicas — de cinco fabricantes diferentes — usadas em alguns estados dos Estados Unidos.
 
Essas urnas foram testadas por hackers.  
Após uma hora e meia eles conseguiram invadir o sistema. 
Nenhuma daquelas urnas resistiu a uma invasão. 
Eu ainda me pergunto porque a Justiça derrubou três pedidos de que urnas eletrônicas tenham comprovantes de votação — assim como saem os comprovantes na máquina do cartão.
 
Linha de produção do 5G
São José dos Campos (SP) tem a primeira linha de produção de 5G ao sul do Equador, é da Erickson. A empresa acaba de anunciar a patente de uma tecnologia, desenvolvida por três pesquisadores brasileiros, que evita congestionamento no 5G.
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Nova Zelândia entra em 2021 sem restrições; veja celebrações pelo mundo

País na Oceania conteve a pandemia e festejou a entrada no Ano Novo com certa normalidade

Exemplo na luta contra a pandemia do novo coronavírus, a Nova Zelândia entrou em 2021 com sua tradicional queima de fogos na torre do edifício SkyCity e luzes comemorativas na Ponte do Porto, ambos em Auckland, maior cidade do país na Oceania. Ao contrário de boa parte do mundo, por lá pessoas comemoraram nas ruas e sem máscaras de forma autorizada.

Outras nações do Sul do Pacífico foram os primeiros a saudar a chegada de 2021. A Austrália, ao contrário da vizinha Nova Zelândia, não liberou a presença do público na queima de fogos no Porto de Sydney, próximo à famosa casa de ópera da cidade. Cidades como Melbourne, porém, registraram aglomerações e pessoas nas ruas.

Em Seul, na Coreia do Sul, o governo cancelou, pela primeira vez desde 1953, a tradicional festa de Réveillon na região de Jongno, que costumava receber em torno de 100.000 pessoas por ano. Restrições e pedidos de que as pessoas evitem aglomerações também pautaram a chegada do novo ano no Japão. Oficiais foram fotografados nas ruas de Tóquio com placas dizendo que a contagem regressiva para o Ano Novo nas ruas estava cancelada.

Cidades com tradicionais queimas de fogos nas festas de Ano Novo tiveram de se adaptar. O Arco do Triunfo, em Paris, e a iluminada Las Vegas, este ano, não vão soltar fogos. Já a festa na Times Square, em Nova York, será sem plateia, apenas transmitida pela TV e internet.

Mundo - Revista VEJA

 

quarta-feira, 24 de junho de 2020

A praga e a peste - Nas entrelinhas


A pandemia da covid-19 atingiu 57 mortes por hora, quase uma por minuto. O relaxamento do isolamento social e a imunização de rebanho caminham de mãos dadas

[se decisão judicial não tivesse atribuído aos governadores e prefeitos o combate à covid-19, a imunidade de rebanho teria sido a política adotada.
A opção por isolamento e distanciamento sociais, via"quarentenas meia boca", não tem se mostrado eficiente  e retardou em muito o alcance da imunidade de rebanho.]

Uma nuvem de gafanhotos ronda a fronteira do Brasil com a Argentina, ameaçando as lavouras do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, depois de atacar as do Paraguai, onde os insetos destruíram plantações de milho. As principais regiões atingidas na Argentina são as províncias de Santa Fé, Formosa e Chaco, onde existe produção de cana-de-açúcar e mandioca e a condição climática é favorável. Uma nuvem de gafanhotos, em um quilômetro quadrado, pode ter até 40 milhões de insetos, que consomem, em um dia, pastagens equivalentes ao que 2 mil vacas ou 350 mil pessoas consumiriam.

Na Bíblia, nuvens de gafanhotos são uma das 10 pragas do Egito (Êxodus), lançadas por Deus para obrigar o faraó a libertar os hebreus. Moisés foi o portador da mensagem divina: “Assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: ‘Até quando você se recusará a humilhar-se perante mim? Deixe ir o meu povo, para que me preste culto. Se você não quiser deixá-lo ir, farei vir gafanhotos sobre o seu território amanhã. Eles cobrirão a face da terra até não se poder enxergar o solo. Devorarão o pouco que ainda lhes restou da tempestade de granizo e todas as árvores que estiverem brotando nos campos. Encherão os seus palácios e as casas de todos os seus conselheiros e de todos os egípcios: algo que os seus pais e os seus antepassados jamais viram (…)”.

Mas o Senhor disse a Moisés: “Estenda a mão sobre o Egito para que os gafanhotos venham sobre a terra e devorem toda a vegetação, tudo o que foi deixado pelo granizo”. Moisés estendeu a vara sobre o Egito, e o Senhor fez soprar sobre a terra um vento oriental durante todo aquele dia e toda aquela noite. Pela manhã, o vento havia trazido os gafanhotos, os quais invadiram todo o Egito e desceram em grande número sobre toda a sua extensão. Nunca antes houve tantos gafanhotos, nem jamais haverá. Eles cobriram toda a face da terra de tal forma que ela escureceu. Devoraram tudo o que o granizo tinha deixado: toda a vegetação e todos os frutos das árvores. Não restou nada verde nas árvores nem nas plantas do campo, em toda a terra do Egito.

Em julho do ano passado, uma nuvem de gafanhotos invadiu Las Vegas, nos Estados Unidos. Simultaneamente, no Iêmen, devastado pela fome e pela guerra civil, outra nuvem de gafanhotos destruiu as plantações. Os gafanhotos circularam por mais de 60 países, principalmente na África, no Oriente Médio e na Ásia Central. Os cientistas acreditam que as mudanças climáticas estão fazendo os insetos agirem de maneira mais destrutiva e imprevisível. Estudo publicado por cientistas americanos na revista Science mostrou que o clima mais quente torna os gafanhotos mais ativos e reprodutivos. Um gafanhoto adulto é capaz de comer o equivalente ao seu peso corporal por dia. Plantações de trigo, arroz e milho são um banquete para os insetos. Um ataque de gafanhotos à nossa agricultura em plena pandemia pode ser um desastre. O agronegócio é o setor mais dinâmico da nossa economia. Em 2004, na África, os insetos causaram danos no valor de US$ 2,5 bilhões para as lavouras. O historiador romano Plínio, o Velho, registrou a morte de 800 mil pessoas na região que atualmente engloba Líbia, Argélia e Tunísia por causa da devastação das lavouras por essa praga bíblica. A China acaba de anunciar a mobilização de 100 mil patos para combater uma nuvem de 400 bilhões de gafanhotos que se aproxima da fronteira com a Índia e o Paquistão.

A pandemia
Já nos basta a peste. Aqui no Brasil, a pandemia da covid-19, ontem, atingiu a marca de 57 mortes por hora, ou seja, quase uma por minuto. O relaxamento precoce do isolamento social e a política de imunização de rebanho não-declarada caminham de mãos dadas, estamos longe do pico. Ontem, em audiência no Congresso, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pozuello, garantiu que o governo dará “transparência infinita” às informações e anunciou que o Ministério da Saúde passará a considerar o diagnóstico dos médicos, e não apenas os testes, para contabilizar os casos confirmados. Ou seja, jogou a toalha em relação à política de testagem em massa para monitoramento dos infectados.


Os números oficiais de ontem são 52.645 mortes e 1.145.906 casos confirmados, sendo 1.374 mortes e 39.436 novos casos nas últimas 24 horas. Segundo o Ministério da Saúde, há 479.916 pacientes em acompanhamento, enquanto 613.345 foram recuperados, o que não deixa de ser uma boa notícia. A notícia pior é a queda de anticorpos em pacientes assintomáticos dois meses após a infecção por covid-19. Em artigo publicado pela Nature Medicine, o cientista Ai-Long Hua, da Universidade Médica de Chongqing, na China, constatou em 37 pacientes assintomáticos com o Sars CoV-2 que, oito semanas depois, os níveis de anticorpos neutralizantes diminuíram 81,1%. O estudo não é conclusivo, mas acendeu uma luz amarela para a possibilidade de as pessoas contraírem a doença mais de uma vez.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense




quarta-feira, 6 de março de 2019

Crivella quer o Porto Jogatina

Cariocas são obrigados a suportar fantasias e empulhações do prefeito do Rio

Num mesmo dia, o prefeito Marcelo Crivella disse que "o Rio de Janeiro é o epicentro da corrupção" e anunciou um futuro radiante para o projeto do Porto Maravilha. Prometeu R$ 10 bilhões em investimentos com a construção de duas torres de hotéis, um centro de convenções e... um cassino. O prefeito do "epicentro da corrupção" defende a legalização da jogatina para salvar um projeto megalomaníaco atolado na zona portuária da cidade. Isso num estado que tem dois governadores presos, e foram apanhados em roubalheiraa dezenas de deputados, secretários do governo e conselheiros do Tribunal de Contas. Dois cardeais da sacrossanta Arquidiocese de d. Eugênio Salles viram suas atividades tisnadas por malfeitos de pessoas que lhes eram próximas. Tudo isso sem que o jogo seja legalizado.
Um policial militar que trabalhou com a família Bolsonaro e orgulhou-se de "fazer dinheiro" ainda não ofereceu uma versão consistente para explicar suas movimentações financeiras. Um capitão da tropa de elite da PM teve a mãe e a mulher empregadas no gabinete do filho do presidente. Alcunhado "Caveira", o oficial foi expulso da corporação e está foragido. Ele era donatário de uma milícia da cidade. [Bolsonaro é o único empregador que é responsável pelo que seus empregados (dele ou de seus familiares) fazem após deixar o emprego.]
O Rio de Janeiro elegeu um juiz para o governo do estado. Outro policial, que se apresentava como seu consultor para assuntos de segurança, está na cadeia, acusado de extorsão. Na última eleição esse policial foi candidato a deputado federal pelo partido do governador. O filho do presidente homenageou-o numa sessão da Assembleia Legislativa. Sem cassinos, o Rio já está assim. Nenhuma pessoa de boa-fé pode acreditar que alguma coisa melhorará com estímulos à jogatina e a abertura de lavanderias de dinheiro. Ao crime organizado Crivella que juntar o jogo legalizado. O prefeito não joga, não fuma, não bebe e sabe que está apenas criando uma nova miragem para uma cidade ludibriada por fantasias como as da Copa do Mundo e da Olimpíada. De miragem em miragem o Rio vive uma eterna Quarta-Feira de Cinzas. Crivella sabe que a reabertura dos cassinos depende da aprovação de uma lei pelo Congresso. Conhecendo a tessitura do crime organizado na cidade, dificilmente Jair Bolsonaro perfilhará a legalização do jogo.
No mundo real, a única pessoa tenuemente interessada nas torres e no cassino prometidos por Crivella é o bilionário americano Sheldon Adelson, que tem complexos de turismo e jogo em Las Vegas, Macau e Singapura. Ele começou a trabalhar aos 12 anos (tem 85) e já juntou US$ 33,3 bilhões (R$ 125,7 bilhões). É um campeão da causa de Israel e a ele se atribui a abertura dos cofres de muitos republicanos para Donald Trump. É também um protetor do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Dele viriam os R$ 10 bilhões imaginados por Crivella.
O Porto Maravilha de Eduardo Paes atolou porque era um projeto demófobo. O Rio da zona portuária nunca poderia ter sido o que é o Puerto Madero argentino, como a Barra da Tijuca nunca será uma Miami. Aquela área está num bairro popular e centenário. Quem quiser conferir, que ande pelas ruas da Gamboa e de São Cristóvão. A megalomania imobiliária encalhou porque foram poucos os interessados em levar suas empresas para lá. Ali, o povo do Rio sempre viveu em casas modestas. Miami é em outro lugar.
Na região do Porto Maravilha construíram-se dois novos museus. A poucos quilômetros dali, pegou fogo o Museu Nacional. (Quarenta anos antes, incendiou-se o museu de Arte Moderna. Ganha um fim de semana em Caracas quem souber de outra cidade com semelhante desempenho.)
 
 

domingo, 16 de dezembro de 2018

Cadê o Fabrício Queiroz?



Desde que o Coaf acendeu o sinal amarelo, Bolsonaro está dois lances atrasado 

Jair Bolsonaro lidou com a primeira crise do seu governo com uma mistura de onipotência e ingenuidade. Diante de um problema no qual ele e o filho Flávio (eleito senador) não são investigados ou acusados de coisa alguma, transformaram o silêncio em suspeita. 
[salvo improvável engano a legislação que fundamenta as atividades do Coaf não exige que o autor de uma movimentação considerada atípica, tenha que comparecer, sem intimação ou mesmo uma simples notificação, àquele Conselho ou a qualquer outro órgão e apresentar esclarecimentos.

Cabe ao Coaf, Ministério Público, Polícia notificar o autor da movimentação e intimá-lo para que preste esclarecimentos dentro de determinado prazo.
É assim que funciona em um 'estado democrático de direito'. 
Ao que nos consta, até o presente momento o Fabricio Queiroz não foi formalmente citado, intimado ou equivalente.

Sendo intimado é seu dever comparecer e fornecer os esclarecimentos e se estes forem considerados insuficientes cabe ao MP ou mesmo a Polícia Federal adotar as providências necessários, providência também válida se os esclarecimentos implicarem  qualquer outra pessoa, incluindo, sem limitar, integrantes da família Bolsonaro, devendo os implicados serem intimados  a apresentar esclarecimentos.
Se os esclarecimentos prestados não forem satisfatórios as autoridades competentes devem tomar as providência necessárias.

Se o ex-assessor não foi intimado ele não tem obrigação de comparecer ou de prestar qualquer esclarecimento e menos ainda aceitar ser entrevistado.

O mesmo vale para qualquer outro cidadão, incluindo qualquer um do clã Bolsonaro - o único erro dos Bolsonaros até o presente momento é prestar esclarecimentos que não estão, até o presente momento, obrigados a fornecer.]

Queiroz pediu demissão do gabinete de Flávio Bolsonaro no dia 16 de outubro, uma semana depois do primeiro turno. Ele teria feito isso para cuidar de sua passagem para a reserva. No mesmo dia, foi afastada sua filha Nathalia, que trabalhava com Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. (Fernando Haddad, derrotado na disputa pela Presidência, levantou a suspeita de que a surpresa do Coaf tenha chegado ao conhecimento de Bolsonaro, “no máximo, em 15 de outubro”.) [levantou a suspeita - o 'levantador de suspeita' é exatamente o candidato derrotado fragorosamente por Jair Bolsonaro. Esse individuo - que até hoje não se sabe suas fontes de renda, como suas viagens e outros gastos são bancados, que responde a 32 processos - tem alguma moral ou isenção  para levantar suspeita? 

(...)

Durante uma semana os Bolsonaro reiteraram sua confiança em Queiroz, e o senador eleito informou que ouviu dele “uma explicação plausível”. Apesar da plausibilidade do que ouviu o senador eleito, Queiroz manteve-se em silêncio e, pelo que se sabe, pretende falar ao Ministério Público nesta semana. Deixando-se de lado o piti do futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que interrompeu uma entrevista ao ser questionado sobre o assunto, Bolsonaro foi onipotente e ingênuo ao supor que o silêncio de Queiroz poderia ser compensado por suas breves declarações. Tanto ele como o filho, repetiram que estão fora da investigação e quem tiver feito algo errado deverá pagar. Até hoje, a questão é só uma: Cadê o Queiroz? [um dos procedimentos que costuma ser adotado quando um cidadão é intimado, na forma da lei, para prestar esclarecimentos e não comparece, é  que seja conduzido coercitivamente, sendo válido até mesmo decretar sua prisão e não não se apresentando e/ou localizado, seja declarado fugitivo.
Até o presente momento nada disso ocorreu com Fabricio o que representa evidente indicio de que falta às autoridades motivação para que tais medidas sejam estabelecidas.]

(...)

Caneladas
A União Europeia nunca esteve disposta a fechar um acordo comercial com o Mercosul, e Bolsonaro presenteou-a com um álibi.
Em poucas semanas a França e a Alemanha afastaram-se das negociações atribuindo as dificuldades ao novo governo brasileiro.
Com um ministro da Economia dizendo que o Mercosul “não é prioridade” e um chanceler condenando o “globalismo”, a equipe de Bolsonaro pôs a cereja no bolo da Europa.
Na diplomacia da canelada, o Brasil entrou com a canela.
 
Dilma fala
A ex-presidente Dilma Rousseff deu uma entrevista ao repórter Leonardo Fernandes. Tratou de seu legado, da desigualdade social e das formas de oposição ao novo governo. Num momento de bom humor, disse que “a alegria é a forma básica de resistência”.

(...)

“Eu acho que esse vai ser um momento fundamental para se voltar a investir nas lutas fora da institucionalidade, na organização fora da institucionalidade. E dessa combinação entre a institucionalidade e as lutas fora da institucionalidade é que está o ‘X’ da nossa resistência. A luta das mulheres, dos trabalhadores, dos sem-terra, dos desempregados… É importantíssimo buscar organizar os desempregados porque hoje não há uma perspectiva que dê sentido para a luta deles. (...) Não basta só a luta institucional. Não basta só a organização de massa. Ela é crucial, mas não basta uma só, isolada da outra.”
“Fora da institucionalidade” pode significar muita coisa, inclusive nada.

(...)

Matéria Completa, Folha de S. Paulo
 

domingo, 18 de novembro de 2018

Crimes de ódio, lá e aqui

Os números são impressionantes. Os crimes de ódios relatados nos Estados Unidos cresceram 17% de 2016 para cá, e vêm aumentando de maneira regular e consistente desde a eleição do presidente Donald Trump. No ano passado, 7.100 crimes desta natureza foram registrados, sendo que três em cada quatro ocorreram por questões raciais ou étnicas. Religião e orientação sexual são as outras duas motivações mais importantes de crimes de ódio, segundo relatório do FBI publicado na quarta-feira pelo jornal The New York Times.

Os dados divulgados estão com certeza subestimados. Apenas 12,6% das delegacias e outras instituições policiais relataram ao FBI crimes de ódios em suas jurisdições. Os departamentos de polícia de Miami e Las Vegas, por exemplo, não notificaram um caso sequer em 2017, o que é claramente impossível. Por outro lado, crimes que ficam apenas no campo da agressão verbal ou física muitas vezes não são sequer denunciados pelos agredidos, que não acreditam que a sua notificação vá resolver alguma coisa.

O elemento que causou o aumento expressivo nesse tipo de crime foi a crescente tensão política no país desde a posse de Trump. Nenhuma dúvida sobre a enorme mudança de clima, em se comparando o governo do presidente Barack Obama com o do seu sucessor. Os Estados Unidos pularam de um estado de espírito tranquilo e quase passivo, sob Obama, para um de permanente excitação, com Trump. O exemplo americano pode ser muito útil no Brasil, que, em 45 dias, inaugura novo governo que, sob todos os aspectos, quer se parecer com o de Donald Trump.  Um chefe de estado que transpira intolerância, como é o caso do presidente americano, contamina todo o tecido social. Se o presidente pode ser agressivo e destilar ódio, por que o cidadão não pode? A pergunta é ridícula, mas ela é sistematicamente feita nos Estados Unidos por pessoas suscetíveis, de perfil psicológico frágil e limitadas cognitivamente. E as respostas aparecem nesses dados coletados pelo FBI.

O presidente eleito do Brasil vem moderando de maneira consistente seu velho e conhecido discurso de ódio e intolerância. Se Bolsonaro tivesse mantido o mesmo tom, correríamos altíssimo risco de ver prosperar no país a mesma onda que atravessa os Estados Unidos desde a chegada de Trump. Também arriscamos trilhar o mesmo caminho se o futuro presidente tiver uma recaída e retomar seu antigo e antiquado perfil, hipótese que não pode ser de maneira alguma descartada. É cedo para dizer que Bolsonaro mudou.
São raras no Brasil agressões geradas por motivação política, como a do atentado contra o próprio Bolsonaro e o assassinato do petista Moa do Katendê. O que temos por aqui, e em abundância, são as agressões de natureza racial e de gênero, e os crimes em razão da orientação sexual do agredido, que são quase banais no Brasil. Esses crimes podem aumentar ainda mais se o futuro líder da nação não consolidar esta sua mudança de estilo.

 Não discriminar e não deixar que se discrimine qualquer um e em nenhuma hipótese. Repudiar a agressão e o agressor. Deter, julgar e prender o agressor. Promover práticas de inclusão, investir, apoiar e priorizar as minorias. [alguém cite um único motivo, uma miserável razão, para priorizar as minorias???]  Bolsonaro deverá não apenas suavizar o seu discurso, mas efetivamente mudá-lo. O brasileiro saberá agradecer um sinal de grandeza de seu presidente. Mesmo os que o apoiam, os que votaram nele, e que são hoje a maioria no Brasil, vão aceitar e aplaudir um líder mais moderado.

Ascânio Seleme - O Globo
 

sábado, 10 de fevereiro de 2018

A militância subversiva do TSE

A rejeição do TSE ao voto impresso assume tom militante

A rejeição do TSE ao voto impresso, como complemento ao voto eletrônico, assume tom militante e ilegal. Infringe a lei 13.165, de 2015, que o impõe, para além da opinião dos juízes e burocratas. Age assim o tribunal como os petistas que, ignorando a condenação de Lula, afirmam que irão lançá-lo como candidato, não obstante a lei da Ficha Limpa.

Tem-se então um cenário singular: juízes subversivos contrários à aplicação de uma lei. Para contornar essa anomalia, acabam de receber apoio da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que, três anos após a sanção da lei, descobriu que é inconstitucional. Ingressou com uma ação de inconstitucionalidade no STF alegando que o voto impresso ameaça o sigilo do voto.

A impressora, diz ela, pode enguiçar, e o técnico, ao repará-la, pode bisbilhotar aquele voto. A menos que enguiçassem numa escala inimaginável, que obrigasse a formação de um exército de técnicos bisbilhoteiros, a restrição poderia fazer um vago sentido. Muito vago. O oposto, porém, é mais plausível: o destino ignorado do voto, que, sem o comprovante impresso, se torna inauditável e, nesses termos, sujeito às mais variadas formas de manipulação.

Não se trata de paranoia. Em julho do ano passado, foi realizada em Las Vegas, EUA, a maior conferência “hacker” do mundo, a Defcon, evento que ocorre anualmente desde 1993. A do ano passado teve como foco justamente as urnas eletrônicas.  E vejam só: todos E vejam só: todos os modelos testados – todos, inclusive o fabricado no Brasil – foram violados em menos de duas horas. Alguns, segundo Ronaldo Lemos, representante do MIT Media Lab no Brasil, “foram hackeados sem sequer a necessidade de contato físico, utilizando-se apenas de uma conexão wi-fi insegura”.

Não é casual que essas urnas tenham sido rejeitadas em países tecnologicamente avançados, como EUA, Alemanha, Inglaterra, França e Espanha. Na Alemanha, nem foi preciso a chancela tecnológica. A Suprema Corte vetou-a pelo simples (e definitivo) fato de que provocavam a desconfiança do eleitor. Sem essa confiabilidade, entenderam os juízes alemães, o resultado fica comprometido. Parece óbvio – e é. Mas o óbvio, por aqui, é um detalhe – ao menos no TSE e na PGR.

As eleições deste ano, diante da magnitude da crise, serão das mais importantes da história. Podem consolidar todo o processo de saneamento e renovação da política proporcionado pela Lava Jato.
Ou não. Se prevalecer a militância subversiva do TSE, desconsiderando a lei, a suspeita de fraude precederá – e sucederá – o pleito, comprometendo-o. A modalidade anterior, das cédulas de papel, era também imperfeita, mas verificável. A eletrônica, não.
Raquel Dodge considera o voto impresso, mesmo como complemento ao eletrônico, “um retrocesso”.
Melhor retroceder que avançar no escuro


Ruy Fabiano,   jornalista  - Blog do Noblat - Veja

 

sábado, 20 de janeiro de 2018

Casal preso por torturar 13 jovens planejava 14º filho; Os Turpin passaram anos acorrentando e maltratando os treze filhos dentro de casa, nuncaninguém desconfiou



David e Louise Turpin fugiram juntos e dirigiram por mil quilômetros há 30 anos



Presos sob fiança multimilionária por acusações de tortura contra os 13 filhos, David e Louise Turpin planejavam ter o 14º membro da prole pouco antes da detenção. Uma jovem de 17 anos conseguiu escapar do cativeiro — no qual os irmãos eram mantidos desnutridos, imundos e capturados e relatar à polícia o cotidiano de abusos na casa de Perris, na Califórnia. O meio-irmão de Louise, Billy Lambert, e a irmã Teresa Robinette revelaram ao "Daily Mail" o começo do conturbado relacionamento, que minou a relação da americana detida com os parentes.


DE QUE SORRIAM? - David e Louise, com os filhos (acima), em Las Vegas, onde foram renovar os votos conjugais: dentro da casa confortável, com quatro carros na frente, a polícia encontrou escuridão, sujeira e tortura (Bill Wetcher/AFP)

Os irmãos de Louise contaram à "DailyMail TV" que David Turpin, aos 24 anos, "sequestrou" Louise, então com 16, da escola em que ela estudava, em Princeton. Ele convenceu a diretoria a liberar a namorada sob sigilo e dirigiu com ela por mais de mil quilômetros sem avisar ou pedir o consentimento dos pais dela. O casal acabou pego pela polícia e foi levado de volta para casa. Teresa, que tinha 3 anos na ocasião, destaca que a relação da irmã nunca mais foi a mesma com a família.  Pais foram presos sob acusações de tortura e ameaça à infância

Apesar da diferença de idade, a mãe de Louise, Philly, a deixava namorar com David por ser um jovem de família cristã e porque confiava na filha. Ainda assim, as duas mantinham segredo para o pai, Wayne. O pai só descobriu o namoro a partir da fuga, do desaparecimento e da confirmação da escola de que a aluna havia sido liberada e partido com o parceiro. "Ele ficou furioso com a minha mãe por deixá-los namorar. Ele ficou chateado e disse que era culpa dele. Pelo telefone, ele falou para a Louise: 'Esta é a vida que você quer, você agora é uma adulta. Eu te amo e sempre serei o seu papai, mas agora você pode cuidar de si mesma'", recordou Teresa sobre o episódio.

Billy Lambert, meio-irmão da presa, destacou que foi o último parente a falar com Louise antes da revelação dos abusos e da prisão. Ela contou que iria comprar um ônibus escolar para a família e expressou o plano de ter um 14º filho.  "Aí ela me disse que queria outra criança. Eu perguntei: 'Você está falando sério? Por que você quer outra criança, você não tem filhos o suficiente?' Mas ela reforçou que queria outra criança", frisou o empreendedor, que mora no Tennessee.

As autoridades americanas atribuíram a David e Louise 75 acusações, como tortura, cárcere privado, abuso infantil, abuso de adultos dependentes. Ele, de 57 anos, também vai responder por atos sexuais com filhos menores de idade. Os dois se declaram inocentes e podem pegar a prisão perpétua, caso condenados. "Eu tenho quatro irmãos agora, em vez de cinco. Ela está fora da minha árvore genealógica, está morta para mim", frisou Teresa, para quem a irmã sempre levou uma vida rica e feliz com os filhos, afastada dos parentes.

O Globo 

Os Turpin passaram anos acorrentando e maltratando os treze filhos dentro de casa, em um bairro de classe média da Califórnia. Nenhum vizinho desconfiou

As linhas inaugurais do clássico Anna Kariênina, de Liev Tolstói, estão entre as mais conhecidas da literatura universal: “Todas as famílias felizes se parecem, mas as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira”. Infelicidade como a dos Turpin, do sul da Califórnia, é difícil de atingir. David, de 56 anos, e Louise, 49, têm treze filhos. Moravam em uma casa térrea confortável, de quatro quartos, como a de todas as outras famílias de Perris, a 100 quilômetros de Los Angeles. Na frente dela, estacionavam três carros e uma van, em bom estado. Na sua página no Facebook, postavam fotos de viagens à Disneylândia e a Las Vegas, aonde o casal foi três vezes para renovar seus votos de casamento com um oficiante vestido de Elvis Presley, acompanhado da filharada (dez meninas e três meninos), que usava roupas idênticas. No domingo 14, pela primeira vez a polícia entrou na residência dos Turpin. Descobriu que, da porta para dentro, nada era normal. O interior era escuro e malcuidado. Em um quarto imundo encontrou crianças e jovens mal nutridos, famintos e sujos, três deles acorrentados a camas. O lar dos Turpin era uma prisão.

O alerta foi dado por uma filha de 17 anos que fugiu pela janela às 6 da manhã. Munida de um celular que os pais não usavam mais, desativado, mas que permite chamadas de emergência, a garota ligou para o 911. A polícia foi ao seu encontro, ouviu sua história e viu fotos que ela havia tirado. Confirmado o relato, liberou o que pareciam doze crianças pálidas e raquíticas — para surpresa geral, sete tinham mais de 18 anos; o mais velho, 29. A própria adolescente que deu o alarme, à primeira vista, “parecia não ter mais de 10 anos”, disse a polícia. Louise demonstrou surpresa com a batida policial; David não esboçou reação. Nenhum dos dois “foi capaz de dar uma explicação lógica” para o estado dos filhos. O casal foi preso, acusado de maus-tratos e tortura, sob fiança de 9 milhões de dólares. Os irmãos foram alimentados e hospitalizados.

Outros pais torturaram filhos durante anos e acabaram expostos. O austríaco Josef Fritzl encarcerou a filha Elisabeth num porão e a estuprou por 24 anos. Teve com ela sete filhos, e o caso veio à tona em 2008, quando uma das crianças adoeceu. Fritzl cumpre prisão perpétua. No ano passado, os japoneses Yasukata e Yukari Kakimoto foram presos após a morte por congelamento da filha que mantiveram trancafiada por mais de quinze anos. Ela tinha 33 anos e pesava 19 quilos. Mas nunca tantas crianças juntas foram vistas sendo torturadas por pai e mãe.

De tudo o que se descobriu sobre os Turpin — e muita coisa ainda tem de ser esclarecida , o que mais deixou os moradores de Perris estarrecidos foi que ninguém havia notado que aquela casa não era igual às outras. Agora, alguns vizinhos do bairro de classe média dizem ter estranhado o fato de as crianças raramente aparecerem na rua ou no quintal e serem excepcionalmente pálidas e arredias. Eles haviam notado, mas não quiseram se meter na vida dos outros. David Turpin, atualmente sem trabalho, teve bons empregos, mas pediu falência pessoal duas vezes, a mais recente em 2011. “Eles pareciam pessoas normais endividadas por causa da quantidade de filhos”, descreveu seu advogado no processo, Ivan Trahan. “Eram simpáticos e falavam com orgulho das crianças.” Em 2014, Turpin registrou no seu endereço uma escola, a Sandcastle Day School, que o tinha como diretor e seis dos filhos como alunos — o que é permitido na Califórnia. O Departamento de Educação nunca fiscalizou nem as instalações nem as aulas.

Afastados havia anos do resto da família, pai e mãe nunca as crianças — falavam por telefone com alguns parentes. Segundo a avó Betty Turpin, que não os via fazia “quatro ou cinco anos”, ambos eram “bastante protetores” e muito religiosos. A educação era “rígida” e os filhos, todos com nomes começando com J, “de Jesus ou José”, tinham de decorar longos trechos da Bíblia. “Eu queria poder explicar como isso aconteceu”, disse Greg Fellows, porta-­voz da delegacia local, em uma coletiva. Até agora, ninguém pôde.