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domingo, 23 de abril de 2023

A CPI do 8 de janeiro dará trabalho - Elio Gaspari

 

O Globo

Na quarta-feira deverá ser instalada a Comissão Parlamentar de Inquérito do 8 de janeiro. Ela tem todos os elementos para mostrar o óbvio: 
 O  Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal foram invadidos por uma multidão que pedia um golpe de Estado contra o governo de Lula. [ao escrever a fase acima, Elio Gaspari, nos surpreendeu e também a milhões de brasileiros - ele, apesar de sua renomada competência, também cumpre pauta.
Não podemos deixar de registrar nossa opinião, ainda que contradizendo o grande Elio Gaspari, de que não seria uma boa ideia, aliás,uma ideia sensata considerar que os eventos do 8 de janeiro (do qual começam a surgir provas de que contou com o apoio logístico, por ação e omissão, do governo Lula) tenham tido como como objetivo um GOLPE DE ESTADO.
Favorecer a quem? é pacífico que qualquer golpe de estado objetivo remover uma autoridade do poder e colocar uma outra. Pela ordem natural das coisas - incluindo  acusações assacadas contra ele - o FAVORECIDO o a SER COLOCADO,  seria JAIR MESSIAS BOLSONARO.
Nos raros golpes sobre os  quais lemos alguma coisa, o FAVORECIDO está presente, está liderando ou na retaguarda mas próximo = correndo o golpe ELE ASSUME.
E em 8 de JANEIRO de 2023,  o cidadão JAIR MESSIAS BOLSONARO completava o oitavo dia na condição de EX-PRESIDENTE da República Federativa do Brasil e FORA DO BRASIL - já no seu DÉCIMO DIA nos Estados Unidos da América. 
Portanto, sem a menor condição de assumir o cargo em disputa, caso houvesse um golpe.
QUEM SERIA O FAVORECIDO? Falta identificar a apresentar tal cidadão.
O ÚNICO FAVORECIDO com os eventos, alcunhados de golpistas, de 8 janeiro 2023, foi  então, e atual, presidente do Brasil, o cidadão Lula da Silva, que com aqueles eventos teve fortalecida sua posição do REVANCHISMO, do PRENDE e ARREBENTA,da CENSURA - ele e seus asseclas.
É A NOSSA OPINIÃO.]
 Apesar disso, o comissariado petista se enrolou, tentando administrar uma realidade paralela implausível. 
Nela, fazia-se de conta que o apagão da segurança de Brasília ocorreu fora do seu alcance.

O governo continuou cultivando a realidade paralela na semana passada, ao dizer que o general da reserva Gonçalves Dias “saiu por conta própria” da chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Ele teve que ir embora depois da divulgação, pelo repórter Leandro Magalhães, dos vídeos gravados pelas câmeras do Planalto no 8 de janeiro. Eles mostraram a cordialidade do apagão no GSI invadido.

Esses vídeos, captados por 22 câmeras, somavam 165 horas, ocupando 250 gigabytes de memória e estavam sob a guarda do GSI. Em abril, ele negou o acesso à CPI da Câmara Distrital de Brasília, informando que a tarefa era impossível, dado o tamanho do material. [foi um dos poucos atos corretos do  G Dias - em nossa opinião a CLDF não tem autoridade, competência legal, moral, motivação e razão para investigar nada - exceto a si própria.]  = Patranha, não só porque ele poderia ser copiado em poucas horas, mas também porque uma semana depois da invasão do Planalto uma parte dos vídeos havia sido divulgada. Segundo Gonçalves Dias, todos os vídeos foram entregues às autoridades que investigam os acontecimentos. Nenhuma câmera estava quebrada ou desligada. Elas mostram, por exemplo, que o relógio oitocentista do Planalto foi derrubado às 15h33m, recolocado no lugar às 15h43m e derrubado de novo às 16h12m.

Gonçalves Dias contou à repórter Delis Ortiz que chegou ao Planalto quando a manifestação passava pelo Ministério da Justiça. Logo depois informou que ao chegar ao Palácio ele já estava invadido. O chefe do Gabinete de Segurança Institucional não estava no Palácio. Basta. (Vale lembrar que na véspera GDias havia dispensado o reforço do Batalhão da Guarda Presidencial. No dia 8, essa tropa manteve-se inerte nos momentos críticos).

Desde a véspera, sabia-se que centenas de ônibus haviam chegado a Brasília. Manifestantes pedindo um golpe de Estado estavam acampados diante do QG do Exército há semanas. Nas redes sociais, monitoradas pelo governo, convocavam-se pessoas para a “festa da Selma”. Às 9h30m daquela manhã uma mensagem informava: “Não tem que invadir nada, a não ser na hora certa de comer o bolo da festa da Selma.”

O bolo da Selma foi comido entre as 15h e 15h25m, com a invasão do Congresso, do Planalto e do Supremo. Estupendo sincronismo.

Estabeleceu-se que houve um apagão da segurança em Brasília naquele dia. Ele também foi relativamente sincrônico, e a investigação da Polícia Federal e do ministro do STF Alexandre de Moraes reúnem os dados para esclarecer os dois sincronismos.

Às 17h55m, Lula decretou a intervenção federal na segurança pública de Brasília. O presidente desprezou diversas sugestões para que decretasse um regime de Garantia da Lei e da Ordem, entregando a questão a um comandante militar. Essa ideia era defendida por aliados, como o ministro da Defesa, José Múcio, e também por adversários, como o senador e general da reserva Hamilton Mourão. Lula sentiu na GLO o cheiro do golpe.

Até agora, o melhor levantamento dos fatos do 8 de janeiro veio do interventor na segurança de Brasília, Ricardo Cappelli, atual chefe interino do Gabinete de Segurança Institucional. Nele, vê-se uma parte de quem fez o que e de quem não fez o que, antes e durante as invasões. Na última quinta-feira, Cappelli identificou para o ministro Alexandre de Moraes os servidores civis e militares que estavam no Palácio do Planalto no dia 8. G. Dias devia ter feito isso há meses.

O general matou a charada noturna
O 8 de janeiro teve dois momentos críticos. Um, diurno, deu-se com as invasões. O outro, noturno, esteve envolvido em brumas. Ele aconteceu quando o país, surpreso, viu que uma tropa do Exército barrou viaturas da PM de Brasília que pretendiam desmontar o acampamento montado em frente ao QG do Exército, onde pessoas pediam um golpe. [em nossa opinião, seria uma insensatez, uma irresponsabilidade,  que forças policiais, invadissem um acampamento formado por civis desarmados e pacíficos, na madrugada - além do caráter e clima pacífico do acampamento, havia também crianças, mulheres e idosos. Também havia a opção de cercar a área, - ninguém entra, ninguém sai - e durante o dia efetuar a invasão.]

Durante mais de três meses acreditou-se que havia ocorrido uma queda de braço, com generais desafiando o governo. O comandante militar do Planalto, Gustavo Henrique Dutra de Menezes saiu do silêncio e revelou que, naquela noite, falou por telefone com Lula, explicando-lhe o risco de uma operação noturna. Acertaram que o acampamento seria desmontado na manhã seguinte, e assim foi feito.

A ideia de que o Exército havia escorraçado a PM injetou uma tensão desnecessária àquele ambiente carregado. O que poderia ter sido limonada virou limão.

Arquivo vivo
Seja qual for o governo, o chefe do serviço de segurança sabe, e guarda, segredos dos titulares.
O general GDias chefiou a segurança de Lula durante seus dois primeiros governos.
Nos últimos quatro anos, com Bolsonaro na Presidência, GDias mostrou que tinha boa memória.

Moral variável
Depois de deixar o cargo, GDias deu uma entrevista à repórter Delis Ortiz: lembrou seus 40 anos de serviços ao Exército, defendeu sua moral e criticou a reportagem de Leandro Magalhães, que expôs seus movimentos no Planalto no dia 8 de janeiro. Tudo bem.

No mesmo dia, o general da reserva deveria ter comparecido à Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados para falar sobre o dia dos atos, mas faltou, apresentando um atestado médico da Coordenação de Saúde da Presidência.

Seu quadro clínico exigiria medicação e observação, “devendo ter ausência em compromissos justificados por motivo de saúde”.

Noves fora o mau português, ficaram mal o paciente e o médico que assinou a peça.[e a falta do CID.]

941 na transição
Vitorioso nas urnas, Lula mobilizou uma equipe de 941 pessoas, divididas em 31 grupos temáticos que lidavam com 217 assuntos. Cinco pessoas cuidavam da área da Defesa, 40 da Justiça e Segurança Pública.

Ao que se sabe, nenhum servidor civil ou militar do Gabinete de Segurança Institucional de nível médio foi substituído.

O major que no dia 8 de janeiro dava literalmente refresco um invasor, passando-lhe uma garrafa de água, era o responsável pela segurança do Palácio naquele domingo.

Risco no agro
As invasões do MST, bem como a presença de seu líder João Pedro Stédile na comitiva de Lula na viagem à China, debilitaram a banda do agronegócio que se opõe aos agrotrogloditas bolsonaristas.

Folha/UOL e Jornal O Globo  Elio Gaspari, colunista
 
 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

‘Realidade Paralela’

 Revista Oeste

Em cartaz: ‘Realidade Paralela’

A proposta do governo Lula não é de “incluir os pobres”, mas, sim, de sugar, ainda mais, e ainda que seja de forma “legal”, os recursos do Brasil real para a engorda do Brasil “oficial” 
 
Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
 
Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock  

Há alguns meses, discuti, neste artigo, o conceito de groupthinke sua aplicação ao caso de um grupo de analistas. Naquele momento, em que a campanha eleitoral entrava em sua fase decisiva, o clube de groupthink de economistas tupiniquins estava focado na construção da narrativa de que a economia brasileira estava em “frangalhos”, a situação fiscal era “calamitosa” e a inflação não estava em queda, mas refletia apenas “o controle dos preços dos combustíveis pelo governo”. Esta narrativa, falsa, como se sabe, contribuiu para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro, e portanto a manutenção de políticas econômicas responsáveis, como o teto de gastos, peça fundamental na estabilidade da dívida bruta observada no Brasil nos últimos anos, a despeito de todos os choques do período. Segundo a edição de outubro do “Fiscal Monitor” do FMI, a média de crescimento dessa estatística, entre 2019 e 2022, considerando economias emergentes e maduras, foi de 9% do PIB.

Passada a eleição, e de forma amplamente esperada, para qualquer pessoa que tenha acompanhado a economia brasileira entre 2003 e 2016, o novo governo já deu mostras evidentes de suas intenções, que — surpresa ! — miram a reedição do modelo implementado, com consequências catastróficas, no período mencionado, em que o PT esteve no poder.

Nas últimas semanas, o novo governo manobrou para aprovar no Congresso uma PEC que autoriza gastos superiores a R$ 170 bilhões, ou 1,7% do PIB, em 2023. Parte desses gastos será alocada em aumentos salariais, também já aprovados pelo Parlamento, nos últimos dias, para as carreiras de servidores mais organizadas, e na nova estrutura administrativa, que passou dos antigos 23 ministérios para 37 (!), pelo que se sabe até aqui. A PEC também remove a constitucionalidade do marco fiscal, e não há nada que sugira que a nova regra, que a princípio deveria ser enviada ao Congresso pelo Executivo nos próximos meses, imporá qualquer restrição ao crescimento dos gastos à frente a ponto de reverter a trajetória de divergência da dívida que se desenha, em que o resultado primário do setor público deverá passar de um superávit em torno de 1% a ser registrado em 2022 a uma expectativa de déficit de aproximadamente 2% do PIB.

PEC Gastança Senado
Senadores comemoram aprovação da PEC da Gastança no 
Senado | Foto: Reprodução

No plano parafiscal, embora os indicados ao comando do BNDES apregoem que não se contempla o retorno ao crédito subsidiado em larga escala do período 2006-2014, já se admite a busca de um mecanismo que permita juros mais baixos para “prazos mais longos”. Na Petrobras, o político indicado — à revelia da Lei das Estatais, que hoje não permitiria indicações como esta para o comando dessas empresas; um mero detalhe que provavelmente será “corrigido” em breve pelo Congresso — já deu sinais de que a estatal deverá recomprar refinarias operações de reconhecida baixa rentabilidade — e realizar alterações na paridade de preço dos combustíveis, práticas que, no passado, contribuíram para a quase insolvência da companhia. No que se refere à equipe econômica, as credenciais dos indicados não incluem experiência de sucesso com políticas públicas, nem capacidade gerencial comprovada no setor privado. Sobram, por outro lado, simpatia a ideias heterodoxas com extensa ficha de contribuição ao aumento da pobreza e do desemprego por onde foram implementadas.

Em suma, para ficar apenas no plano da economia, os prognósticos, conforme esperado, e de acordo com o que alertamos meses atrás, por exemplo, neste artigo, são os piores possíveis, ressalva feita a variáveis fora do controle das autoridades locais, como preços de commodities.

Petrobras recorde
Plataforma no campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos - 
 Foto: Divulgação/Petrobras

Diante desse quadro, como se posiciona o clube de groupthink dos economistas locais? Passada a encenação da telepatia, o grupo agora procura alertar a nova equipe acerca dos “perigos” envolvidos na política pretendida. Um membro sênior do grupo, tucano da velha guarda, expressa sua preocupação com a “política fiscal expansionista, e a visão bem antiga do papel do Estado na economia ”que “parece” emergir das discussões da equipe de transição.

O aparente equilíbrio que estamos por ora vivendo é extremamente instável e escamoteia um futuro próximo que pode ser bem desagradável

De fato, a “visão de Estado” embutida no pensamento do PT é antiga. Daquelas bem antigas mesmo, muito mais do que a implícita no artigo em questão. Só analistas muito inocentes — ou cínicos — e economistas heterodoxos jovens, como alguns dos indicados para a equipe, são capazes de acreditar que o objetivo de pacotes de gastos, como o embutido na PEC de transição, seja mesmo de, num raciocínio keynesiano bem raso, “induzir crescimento”. Que crescimento pode ser induzido com a interrupção deliberada de privatizações?  
Ou pela criação de ministérios como o de “Portos e Aeroportos”, e a reativação do Ministério da Pesca?  
Que gasto pode ser pior em qualidade do que aquele que concede aumento de salário às categorias mais privilegiadas entre os servidores públicos, pois que engessa ainda mais as despesas obrigatórias do governo e aumenta ainda mais a desigualdade? 
Sim, a concepção do papel do Estado embutida no projeto do PT é bem mais antiga do que a desenhada por Keynes, num contexto de necessidade de reconstrução da infraestrutura ocidental no pós-Primeira Guerra Mundial. 
Diversamente desta última, ela objetiva apenas drenar os recursos do setor real em direção ao estamento burocrático; sufocar o setor produtivo com uma carga tributária inviável; e multiplicar a presença do Estado em todas as atividades econômicas, maximizando as possibilidades de extração de rendas — “legais” ou não — por aqueles que orbitam o poder. 
É o mecanismo descrito por Raymundo Faoro, que se encontra em movimento no Brasil, com breves interstícios, desde o governo-geral de Tomé de Sousa, que começou em 1549. Um desses hiatos, ressalvada a óbvia impossibilidade de desarme desta potente máquina de coleta de rendas em tão curto espaço de tempo, deu-se nos últimos quatro anos. (Discuto neste artigo a reação do estamento ao governo Bolsonaro.)
Prédio do Ministério da Pesca e Aquicultura - 
Foto: José Cruz/Agência Brasil

Outro representante do clube argumenta que bastaria que os gastos não fossem expandidos ao limite permitido pela PEC, ou que “se negociem com a sociedade e com o Congresso Nacional medidas que elevem os impostos e reduzam gastos e subsídios”, para que a taxa de câmbio deslizasse para o patamar de 4,5 ou menos.

Aqui temos um caso de quase dissonância cognitiva. Por acaso houve momento em que o teto de gastos, em algum instante dos seus seis anos de existência, não tenha sido utilizado até o seu limite, mesmo por governos que, reconhecidamente, praticaram políticas fiscais menos expansionistas do que as do PT? 

Para além desse devaneio, o articulista implicitamente parece acreditar que tudo se resume a um jogo de soma zero. Basta “negociar com a sociedade” mais 2% do PIB em carga tributária evoilá — a conta fecha, como se nossa já reduzida capacidade de crescimento fosse inelástica à carga tributária a que o setor privado é submetido. Para além desta inconsistência temporal, o artigo não traz nem uma palavra a respeito da evidente dificuldade política associada ao aumento de impostos em uma situação de contração da atividade econômica e elevado endividamento das famílias, que, como já argumentei em artigo anterior, o Brasil já parece se encontrar.

Em comum, esses comentários revelam a insistência do clube de groupthinkpor cinismo, peer pressure, medo, militância, aversão ao “atraso civilizatório” alegadamente representado pela alternativa eleitoral preterida, ou qualquer outro fator — em não tratar as coisas como elas realmente são. O problema é que a insistência em ignorar as chagas deixadas pelo processo eleitoral, bem como suas consequências para a estabilidade e legitimidade do governo eleito, além da verdadeira obsessão com o Orçamento estático do ano corrente, mutila a análise ao ponto de fazer com que a maioria dos artigos publicados — incluindo aqui editoriais dos principais veículos de mídia, nos últimos dias — se aproxime da discussão de uma realidade paralela.

O que está em jogo no Brasil de hoje é evidente, e arrisco dizer que o é para uma parcela grande e crescente dos brasileiros. A proposta do novo governo Lula não é de “incluir os pobres no Orçamento” , nem “induzir o crescimento pelo aumento da presença do Estado”, mas, sim, de sugar, ainda mais, e ainda que seja de forma “legal”, os recursos do Brasil real para a engorda do Brasil “oficial”. É simples assim.

Além de esse fato estar escancarado, tanto pelo passado do partido como pelas intenções manifestas pelos petistas nessa antessala da “transição” dos últimos dois meses, está também, à luz da sequência de acontecimentos desde a anulação das condenações de Lula por alegado “erro de CEP”, a completa ausência de freios institucionais ou legais à conduta do grupo que assumiu o controle do Executivo

Esta é uma novidade importante — e muito preocupante — em relação ao período anterior em que o PT esteve no poder.

Os preços de ativos brasileiros ainda não refletem, nem de longe, a postura nem as intenções de política econômica do grupo de Lula. A quantidade de pessoas envolvidas nos planos é grande, e a foto da economia do país é de relativa organização, fatores que sugerem que o eventual redirecionamento do teor das políticas deve demorar bastante, e exigir uma piora significativa dos preços e a deterioração das condições econômicas, antes de se materializar. A relativa estabilidade que temos observado nas últimas semanas deve-se em grande parte ao ambiente externo benigno, que no entanto pode tornar-se mais adverso sem prévio aviso, especialmente em face da recessão que se aproxima no Hemisfério Norte.

Este estado de coisas, aliado à típica boa vontade que a imprensa global e local dispensam, no mundo de hoje, a qualquer governo de esquerda, mascara a desordem e as prováveis consequências vindouras das práticas prestes a serem, uma vez mais, impostas ao Brasil. O país está, no entanto, mais envelhecido, mais endividado e mais ciente da verdadeira natureza do perverso mecanismo de extração de rendas que está prestes a voltar a fustigar o país com força total, o que, se combinado à provável reversão dos ciclos econômicos local e global, pode aumentar a tensão social a um nível a que a maior parte dos analistas não está dando a devida importância. O antigo país do futuro continua, após 40 anos de quase estagnação de renda per capita, pobre, e não deve se recuperar de mais um mergulho na direção da miséria.

Aviso aos navegantes: a temporada de filmes em cartaz na banca de jornais mais próxima é de ficção. O aparente equilíbrio que estamos por ora vivendo é extremamente instável e escamoteia um futuro próximo que pode ser bem desagradável para os investidores e para a maior parte dos brasileiros.

Leia também “Voo expresso para Pindaíba

 Pedro Jobim, colunista - Revista Oeste


domingo, 14 de março de 2021

STF em chamas - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo


STF em chamas

O tiroteio do ministro Marco Aurélio em cima dos colegas Luiz Fux e Alexandre de Moraes mostra que o Supremo Tribunal precisa de uma missão pacificadora. Esse foi o barraco público. Felizmente, aqueles que ocorreram no início da semana, com outras excelências, ficaram no escurinho da Corte.
A tensão decorre, em parte, da suspensão do convívio pessoal, provocado pela pandemia.
 
O ex-presidiário continua mentiroso
Para o bem e para o mal, o novo Lula é o mesmo. Numa trapaça da história, enquanto o ex-presidente falava, Eduardo Bolsonaro, o 03, mandava que as pessoas enfiassem as máscaras “no rabo”, e seu pai, delicadamente, colocava-a no rosto.

Lula reapareceu com um discurso simples e de essência racional . Na quarta-feira, o número de mortos bateu a casa dos dois mil, num total de 270.917 (a provável população do Brasil no final do século XVII). A “gripezinha” estava no “finalzinho”, e a “conversinha” da nova onda mostrou-se mais letal que a do ano passado. Lula chamou Bolsonaro de “fanfarrão” e seu governo de “incompetente”: “Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República ou do ministro da Saúde. Tome vacina. Tome vacina, porque a vacina é uma das coisas que pode livrar você da Covid.”

Mais: “O Brasil não é dele e dos milicianos.”
Sem a teimosia delirante do capitão, Lula também tem um pé em sua realidade paralela. Ele fala de uma “Petrobras bem dirigida, como foi no nosso governo”.  
A boa gestão no petróleo explicaria “o golpe contra a Dilma, porque é preciso não ter petróleo aqui no Brasil na mão dos brasileiros. É preciso que esteja na mão dos americanos, porque eles têm que ter o estoque para guerra.” Até aí, trata-se de uma opinião, mas Lula foi adiante:

“A Alemanha perdeu a guerra porque não chegou em Baku, na Rússia,
para ter acesso à gasolina.”
A Alemanha não chegou a Baku porque foi detida em Stalingrado no início de 1943. 
A essa altura, os nazistas já haviam sido detidos às portas de Moscou, e os Estados Unidos já haviam entrado na guerra (dezembro de 1941) e quebrado a perna do poder naval japonês na batalha do Midway (junho de 1942). A partir do final de 1942, os alemães passaram a combater numa guerra que não poderiam ganhar, mesmo que tivessem chegado ao petróleo de Baku. Isso para não se falar na bomba atômica, cujo combustível era urânio.

Falando da eleição de 1989, Lula diz: “Não ganhei porque a Globo me roubou”. A edição do seu debate com Fernando Collor foi editada com viés contra Lula, mas foi ao ar depois da transmissão da versão integral, ao vivo. Collor teve 35 milhões de votos, contra 31 milhões de Lula, que só venceu em três estados (RJ, RS e PE).

A agência Lupa checou a fala de Lula e apontou devaneios que custariam caro a Jair Bolsonaro se tivessem partido dele:
“Fachin (reconheceu) que nunca teve crime cometido por mim.”
FALSO. [MENTIRA MESMO] A decisão do ministro do STF Edson Fachin não cita, em nenhum momento, que o ex-presidente Lula nunca cometeu crimes. Ele apenas considerou que as ações do tríplex de Guarujá (SP), do sítio em Atibaia (SP) e do Instituto Lula não têm relação direta com a Petrobras e não deveriam ter tramitado na Justiça Federal de Curitiba.”

Afora casos como esses, Lula continua ligeiro. Ele já disse que Napoleão foi à China e que Oswaldo Cruz criou a vacina contra a febre amarela. Agora, referiu-se a um artigo de 2004 do juiz Sergio Moro, no qual ele teria escrito que “só a imprensa pode ajudar a condenar as pessoas.” No seu famoso artigo de 2004, Moro não disse isso. Foi preciso, referindo-se à Operação Mãos Limpas italiana: “Os responsáveis pela operação Mani Pulite ainda fizeram largo uso da imprensa. Com efeito: para o desgosto dos líderes do PSI, que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da ‘mani pulite’ vazava como uma peneira.”

Lula não precisava ter exagerado.[o petista sempre mentiu e sempre mentirá - ele é a personificação da mentira.]

Bolsonaro na disputa
Com Lula e Bolsonaro disputando uma eleição, os jornalistas e as agências de checagem trabalharão como nunca.

Lula viajou pela sua realidade paralela na quarta-feira, ...

..........
Disse que o Supremo Tribunal Federal limitou a ação do governo. O que o STF fez foi garantir as iniciativas dos estados e municípios.[ao garantir as iniciativas dos estados e municípios permitindo que prefeitos e governadores tivessem o controle supremo, total e absoluto sobre medidas de distanciamento e isolamento sociais, aquelas autoridades com a falta de competência que as caracteriza (há exceções...no Brasil inteiro deve haver, se muito, uma dez) meteram os pés pelas mãos, promulgaram medidas contraditórias = foram muitas, sendo uma das mais comuns, incluindo na região metropolitana da capital paulista,  em um lado da rua tudo aberto e no outro lado tudo fechado, teve um shopping que as lojas de um lado do corredor abriram e as do outro não !!!
Deu tudo errado e agora atribuem responsabilidade ao presidente pelo fracasso do fecha tudo meia boca - a responsabilidade é deles,o presidente não interferiu, a suprema decisão atou suas mãos.
Esse imbróglio só será resolvido pelo TPI, quando chegar a hora de apurar quem fez o que, quem deixou de fazer e quem impediu que fosse feito???]

Cármen e Nunes Marques
O pedido de vista do ministro Nunes Marques alegrou o Planalto, pois a suspeição de Sergio Moro seria mais uma cereja no bolo de Lula. À primeira vista, as coisas são assim, mas se a ministra Cármen Lúcia mudar seu voto, acompanhando Gilmar Mendes, a manobra falha e carboniza Nunes Marques. A menos que ele se antecipe, condenando Moro.[qualquer brasileiro se consultado opinará que o Brasil é terra da INsegurança jurídica, sob a liderança da Suprema Corte.
Certamente, tal insegurança será reduzida, com uma medida simples: acabar com a faculdade dos ministros do STF mudarem seu voto, ainda que tenha sido proferido bem antes da mudança - os ministros do STF não são eleitos, mas o povo, o eleitor, que paga as contas,  não pode mudar o voto; qual o motivo de um ministro do STF ter plenos poderes para mudar mudar, quando lhe aprouver? será uma maneira de criar suspense?]

Folha de S. Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari, jornalista - MATÉRIA COMPLETA
 

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Realidade paralela

Cerca de 12 milhões de pessoas difundem notícias falsas no Brasil – as chamadas fake news –, principalmente as de conteúdo político

O progresso tecnológico e a reorganização das sociedades em torno de uma grande rede global têm embaralhado os outrora bem delineados papéis de emissor e receptor como polos opostos no processo de comunicação. Em um ambiente de ininterrupta e multifacetada interação é difícil, hoje, estabelecer quem é quem nesse processo.  A porosidade dos conceitos de quem gera e de quem consome informação, no entanto, não é necessariamente ruim. Quanto mais vozes possam ser ouvidas, especialmente quando têm algo a dizer, e quanto mais amplo e democrático é o debate sobre as questões de interesse geral, melhor. O problema começa quando a salutar liberdade que permite que qualquer um possa se fazer ouvir por meio das plataformas digitais não vem acompanhada pela correspondente responsabilidade na veiculação das informações. Pior, muitos se valem da frouxidão de controles no ambiente virtual não só para repassar informações falsas, mas também para produzi-las.

De acordo com um levantamento do Grupo de Pesquisas em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai) da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 12 milhões de pessoas difundem notícias falsas no Brasil – as chamadas fake news –, principalmente as de conteúdo político.  O número representa cerca de 6% da população brasileira, mas ao considerar que cada usuário das redes sociais tem, em média, 200 conexões, os autores do levantamento acreditam que quase todos os brasileiros tomam contato diariamente com notícias falsas por meio da internet. A conclusão dos analistas da USP é resultado de um trabalho de monitoramento de 500 páginas de conteúdo político falso ou distorcido realizado durante o mês de junho deste ano.

Especialistas de diversas áreas do conhecimento,
das Ciências da Computação às Ciências Sociais, convergem no diagnóstico segundo o qual o meio digital – sobretudo as redes sociais – terá especial importância nos rumos das eleições de 2018. Alguns chegam a afirmar que as fake news tendem a ter mais repercussão do que as notícias produzidas e veiculadas por fontes sabidamente confiáveis. “No atual momento, a polarização ideológica coincidiu com o consumo de notícias sobre política pelas redes sociais. Quanto mais manchetes se prestam a essa informação de combate, maior é a performance delas, poluindo o debate político”, avalia o cientista político Pablo Ortellado, um dos coordenadores do Gpopai.

O estudo Robôs, redes sociais e política no Brasil,
realizado pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destaca outro ponto igualmente preocupante para a saúde do debate político no País. Tem sido cada vez mais frequente o recurso a contas automatizadas nas redes sociais os chamados robôs para massificar postagens que manipulam e direcionam o debate político no ambiente virtual, dando ares de verdade a notícias falsas ou descontextualizadas e amplificando artificialmente a representatividade social que os emissores ou beneficiários dessas fake news essencialmente não têm.

Por um meio sub-reptício, cria-se no seio da sociedade uma falsa sensação de apoio a um determinado candidato ou a uma determinada proposta.  O estudo mostrou que durante a eleição presidencial de 2014, vencida por uma estreitíssima margem de votos pela presidente cassada Dilma Rousseff, os tais robôs foram responsáveis – sozinhos – por cerca de 10% do engajamento no debate de conteúdo político nas redes.

Não é razoável afirmar que as redes sociais, isoladamente, tenham o poder de definir o resultado final de uma eleição, seja no Brasil ou em qualquer outro país, tão somente por servirem como plataforma livre para a propagação das fake news. Contudo, é inegável o papel que a tecnologia vem desempenhando na transformação das formas como se produz e se consome informação.  Em águas turvas, o jornalismo sério ganha mais importância como mediador do debate público, trazendo à luz tanto a informação confiável de interesse geral como desmascarando uma realidade paralela que apenas a alguns interessa difundir com fins obscuros.

Fonte: O Estado de S. Paulo