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domingo, 20 de agosto de 2023

O presidencialismo que resiste à coalizão - Alon Feuerwerker

Análise Política

O sistema eleitoral brasileiro produz amiúde um cenário contraditório, resultado de certo paradoxo: enquanto a eleição presidencial costuma produzir entre duas ou quatro candidaturas que atingem massa crítica, a disputa para o Congresso Nacional sempre resulta num quadro pulverizado.

A cláusula de desempenho promete resolver o problema no médio e no longo prazos, mas será preciso ver se, quando o remédio finalmente funcionar, o paciente ainda estará vivo.

Haveria como corrigir. A cura radical poderia vir de um voto em lista fechada nos estados, acabando, ao mesmo tempo, com a desproporção entre as representações estaduais na Câmara dos Deputados. Ou então implantando o voto distrital misto, com uma certa reserva (talvez 20%) para as listas fechadas.

Se se quisesse aplicar um remédio imediato que não demandasse grandes quóruns legislativos, seria simples: calcular em cada estado as bancadas de deputados federais não mais a partir dos votos dados aos parlamentares e às legendas para a Câmara, mas dos votos dados aos postulantes à Presidência.

Por analogia, as cadeiras nas assembleias seriam calculadas a partir dos votos para governador. E a composição das câmaras municipais respeitaria o desempenho dos candidatos a prefeito.

Essa simples alteração obrigaria os partidos a fundir-se ou formar federações em torno de candidatos viáveis e garantiria que a vontade popular, expressa na eleição majoritária com muito mais nitidez que na proporcional, se traduzisse em possibilidade real de governar.

Mas há um consórcio bem azeitado que resiste a qualquer mudança substantiva.   
É tipo o casamento do jacaré com a cobra d’água: junta as legendas cuja única razão de existir é a intermediação de recursos orçamentários e as correntes bem-pensantes que desfrutam prestígio na elite e na superestrutura intelectual-ideológica, mas raramente são correspondidas pelo eleitor.

E o curioso é que as segundas formalmente desprezam as primeiras pelo “fisiologismo”, termo que só é temporariamente aposentado quando o segundo grupo precisa apoiar algum governo que represente o “mal menor”. E passa a repaginar como “articulação política” o que sempre tratou derrogatoriamente.

É natural e humano que essas janelas de oportunidade aticem o apetite das legendas antes chamadas de fisiológicas, pela momentânea eliminação, ou ao menos redução, do custo reputacional implicado no que normalmente seria xingado como “toma lá, dá cá”. É onde estamos.

Ainda mais quando se nota o azeitamento da relação entre o Planalto e o Judiciário,
o que faz suas excelências do Congresso olharem com cuidado redobrado para a possibilidade de aninhar-se sob as asas do Executivo.

Mas aqui quem me lê poderia fazer uma pergunta: afinal, por que o Executivo precisa fazer tantas concessões?

No mínimo, para garantir que não se formarão massas críticas em torno de possíveis impeachments. E para evitar, ou ao menos controlar, comissões parlamentares de inquérito. Agora mesmo, uma competente articulação política (vou usar a expressão benigna) emasculou ou virou do avesso CPIs originalmente anti-Planalto.

E tem também o “apoio às reformas”. Seria o caso de estudar como e por que governos, um atrás do outro, decidem ter uma agenda legislativa que demanda expressivas maiorias, apenas para, ao fim e ao cabo, e a um custo altíssimo, colher mudanças legais de efeito apenas relativo.

Verdade que isso faz parte da estranha propensão brasileira a, simultaneamente, orar no altar da Constituição de 88 e diariamente revogá-la pela enxurrada de emendas congressuais e decisões do Supremo Tribunal Federal. O que talvez merecesse um estudo de especialistas na relação entre política e psicanálise.

É nesse ponto que se acha o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Para ter governabilidade (outra expressão bonita que se impõe ao governante que não quer virar um Luís XVI), precisa abrir espaço a políticos que nada têm a ver com o que se decidiu na eleição, ou até se opuseram ao que acabou prevalecendo na urna.

É natural que resista, ainda que vá ter de ceder. Aliás, governar o Brasil tem sido um pouco isso. Uns chamam de “presidencialismo de coalizão”.  
Que carrega, dialeticamente, em si seu contrário. 
O que governantes brasileiros mais fazem, no que gastam talvez a maior parte do seu precioso tempo, é resistir ao Frankenstein.

 Alon Feuerwerker,  jornalista e analista político

 

 

terça-feira, 27 de junho de 2023

Quando a burocracia ajuda o câncer a matar - Alexandre Garcia

Vozes - Gazeta do Povo

SUS

Quando a burocracia ajuda o câncer a matar - Foto: Michal Jarmoluk/Pixabay

Eu vejo, acompanho e testemunho com a maior frequência o desespero de pessoas que estão se tratando contra o câncer e têm de entrar na Justiça em busca dos remédios porque o Sistema Único de Saúde não cumpre o que determina a Constituição: saúde é dever do Estado. Como o remédio é mais caro, entra a burocracia para atrapalhar. 

Mas para o câncer não existe burocracia: o câncer é rápido, avança de um dia para o outro. 
E a burocracia faz com que o paciente tenha de procurar advogado.
Ele entra na Justiça com pedido de liminar, o pedido entra na fila, até sair... e em alguns casos o remédio ainda tem de ser importado. 
É verdade que são remédios bem caros, mas isso tem de acabar. 
O câncer não espera, isso traz um desespero para essas pessoas que acabam pedindo ajuda para todo mundo, e cada um cumpre o seu dever de ajudar depois de já ter pago o imposto que deveria servir para o serviço de saúde.
 
Invasores do 8 de janeiro estão sendo julgados por lote e no tribunal errado
Continuo estranhando muito esse fato de o Supremo julgar pessoas por lote.  
Dá um calafrio na espinha imaginar que há um tribunal julgando no atacado – pelo menos as denúncias apresentadas pelo Ministério Público estão sendo recebidas e aceitas por lotes. 
Na segunda-feira foi um lote de 45, já são 2.245 brasileiros convertidos em réus. Foram presos 1.390, e ainda faltam mais 100. 
 
E depois ainda haverá o julgamento, que é outra coisa estranha, porque ninguém tem foro privilegiado, deveriam ser todos julgados por um juiz federal de primeira instância aqui de Brasília, mas estão no Supremo. Tudo à revelia da Constituição. 
Como vai ser o julgamento desses 1,3 mil réus? 
Será individual mesmo?
Porque é preciso apurar o crime de cada um, o fato de que cada um é acusado, quais são as provas que se referem a cada pessoa especificamente, qual foi a ação criminosa dela. 
Certamente há pessoas que cometeram crime de destruição do patrimônio público e invasão do prédio; dizem lá no Supremo que até o fim do ano julgam os 250 casos mais graves.
 
Abin avisou governo sobre invasões, diz coronel
Na CPMI do 8 de Janeiro no Congresso depôs o coronel-chefe de Operações da PM, que nem estava em Brasília, estava em férias. 
O ex-presidente Bolsonaro também não estava em Brasília. 
O presidente da República estava em Araraquara
O coronel depôs dizendo que a Abin avisou, sim, o governo, e que às 10 horas do dia 8 ainda veio um aviso sobre a iminência de invasão dos palácios – uma invasão que ocorreu cinco horas depois
Havia tempo sobrando para proteger os palácios, por que não se prepararam? 
É isso que queremos saber. O Estadão publicou uma conversa telefônica entre um dos invasores do Palácio do Planalto e sua mulher.  
Percebe-se a maneira simplória como a pessoa vê os fatos, coitado. 
Agora está preso e talvez nem saiba o porquê. Ou talvez pense que é um herói. Mas fez uma coisa impensada. 
Acho que muitas revoluções no mundo aconteceram assim, levando gente de borbotão.

Lula ignora seus ministros, mas vive recebendo o presidente da Argentina
O presidente da Argentina foi recebido por Lula na segunda-feira: a quarta vez só neste governo
O site Poder360 fez um levantamento e descobriu que Alberto Fernández foi recebido mais vezes pelo presidente do Brasil que 20 dos 37 ministros de Lula. 
Tem ministro, como a Ariele Franco, que foi recebida zero vezes.[oportuno perguntar: qual a função do ministério chefiado por essa ministra? ao que se sabe quando ela não está passeando na garupa de moto, sem capacete,  na favela da Maré, está a toa; ao que se sabe o ato mais importante da ministra  foi ir ao Estados Unidos discutir como combater o racismo no Brasil.]   

 
A maioria dos que não foram recebidos é de mulheres: Sônia Guajajara, Margareth Menezes, Marina Silva, Daniela do Waguinho, Simone Tebet e Cida Gonçalves foram recebidas apenas duas vezes. Luciana Santos, só uma vez. Ana Moser, três vezes. [a 'esbanJAnja' tem poder de veto sobre quem seu marido - e justificativa para suas viagens - recebe. 
Mulheres ministras precisam que ela aprove. Afinal, sempre há risco de concorrência.]
Isso falando em despachos privados, que são momentos de conversa, de acerto entre o ministro e presidente da República. Fernández, com quatro vezes, ganhou de mais da metade do ministério.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista -Gazeta do Povo - VOZES

 


domingo, 23 de abril de 2023

A CPI do 8 de janeiro dará trabalho - Elio Gaspari

 

O Globo

Na quarta-feira deverá ser instalada a Comissão Parlamentar de Inquérito do 8 de janeiro. Ela tem todos os elementos para mostrar o óbvio: 
 O  Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal foram invadidos por uma multidão que pedia um golpe de Estado contra o governo de Lula. [ao escrever a fase acima, Elio Gaspari, nos surpreendeu e também a milhões de brasileiros - ele, apesar de sua renomada competência, também cumpre pauta.
Não podemos deixar de registrar nossa opinião, ainda que contradizendo o grande Elio Gaspari, de que não seria uma boa ideia, aliás,uma ideia sensata considerar que os eventos do 8 de janeiro (do qual começam a surgir provas de que contou com o apoio logístico, por ação e omissão, do governo Lula) tenham tido como como objetivo um GOLPE DE ESTADO.
Favorecer a quem? é pacífico que qualquer golpe de estado objetivo remover uma autoridade do poder e colocar uma outra. Pela ordem natural das coisas - incluindo  acusações assacadas contra ele - o FAVORECIDO o a SER COLOCADO,  seria JAIR MESSIAS BOLSONARO.
Nos raros golpes sobre os  quais lemos alguma coisa, o FAVORECIDO está presente, está liderando ou na retaguarda mas próximo = correndo o golpe ELE ASSUME.
E em 8 de JANEIRO de 2023,  o cidadão JAIR MESSIAS BOLSONARO completava o oitavo dia na condição de EX-PRESIDENTE da República Federativa do Brasil e FORA DO BRASIL - já no seu DÉCIMO DIA nos Estados Unidos da América. 
Portanto, sem a menor condição de assumir o cargo em disputa, caso houvesse um golpe.
QUEM SERIA O FAVORECIDO? Falta identificar a apresentar tal cidadão.
O ÚNICO FAVORECIDO com os eventos, alcunhados de golpistas, de 8 janeiro 2023, foi  então, e atual, presidente do Brasil, o cidadão Lula da Silva, que com aqueles eventos teve fortalecida sua posição do REVANCHISMO, do PRENDE e ARREBENTA,da CENSURA - ele e seus asseclas.
É A NOSSA OPINIÃO.]
 Apesar disso, o comissariado petista se enrolou, tentando administrar uma realidade paralela implausível. 
Nela, fazia-se de conta que o apagão da segurança de Brasília ocorreu fora do seu alcance.

O governo continuou cultivando a realidade paralela na semana passada, ao dizer que o general da reserva Gonçalves Dias “saiu por conta própria” da chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Ele teve que ir embora depois da divulgação, pelo repórter Leandro Magalhães, dos vídeos gravados pelas câmeras do Planalto no 8 de janeiro. Eles mostraram a cordialidade do apagão no GSI invadido.

Esses vídeos, captados por 22 câmeras, somavam 165 horas, ocupando 250 gigabytes de memória e estavam sob a guarda do GSI. Em abril, ele negou o acesso à CPI da Câmara Distrital de Brasília, informando que a tarefa era impossível, dado o tamanho do material. [foi um dos poucos atos corretos do  G Dias - em nossa opinião a CLDF não tem autoridade, competência legal, moral, motivação e razão para investigar nada - exceto a si própria.]  = Patranha, não só porque ele poderia ser copiado em poucas horas, mas também porque uma semana depois da invasão do Planalto uma parte dos vídeos havia sido divulgada. Segundo Gonçalves Dias, todos os vídeos foram entregues às autoridades que investigam os acontecimentos. Nenhuma câmera estava quebrada ou desligada. Elas mostram, por exemplo, que o relógio oitocentista do Planalto foi derrubado às 15h33m, recolocado no lugar às 15h43m e derrubado de novo às 16h12m.

Gonçalves Dias contou à repórter Delis Ortiz que chegou ao Planalto quando a manifestação passava pelo Ministério da Justiça. Logo depois informou que ao chegar ao Palácio ele já estava invadido. O chefe do Gabinete de Segurança Institucional não estava no Palácio. Basta. (Vale lembrar que na véspera GDias havia dispensado o reforço do Batalhão da Guarda Presidencial. No dia 8, essa tropa manteve-se inerte nos momentos críticos).

Desde a véspera, sabia-se que centenas de ônibus haviam chegado a Brasília. Manifestantes pedindo um golpe de Estado estavam acampados diante do QG do Exército há semanas. Nas redes sociais, monitoradas pelo governo, convocavam-se pessoas para a “festa da Selma”. Às 9h30m daquela manhã uma mensagem informava: “Não tem que invadir nada, a não ser na hora certa de comer o bolo da festa da Selma.”

O bolo da Selma foi comido entre as 15h e 15h25m, com a invasão do Congresso, do Planalto e do Supremo. Estupendo sincronismo.

Estabeleceu-se que houve um apagão da segurança em Brasília naquele dia. Ele também foi relativamente sincrônico, e a investigação da Polícia Federal e do ministro do STF Alexandre de Moraes reúnem os dados para esclarecer os dois sincronismos.

Às 17h55m, Lula decretou a intervenção federal na segurança pública de Brasília. O presidente desprezou diversas sugestões para que decretasse um regime de Garantia da Lei e da Ordem, entregando a questão a um comandante militar. Essa ideia era defendida por aliados, como o ministro da Defesa, José Múcio, e também por adversários, como o senador e general da reserva Hamilton Mourão. Lula sentiu na GLO o cheiro do golpe.

Até agora, o melhor levantamento dos fatos do 8 de janeiro veio do interventor na segurança de Brasília, Ricardo Cappelli, atual chefe interino do Gabinete de Segurança Institucional. Nele, vê-se uma parte de quem fez o que e de quem não fez o que, antes e durante as invasões. Na última quinta-feira, Cappelli identificou para o ministro Alexandre de Moraes os servidores civis e militares que estavam no Palácio do Planalto no dia 8. G. Dias devia ter feito isso há meses.

O general matou a charada noturna
O 8 de janeiro teve dois momentos críticos. Um, diurno, deu-se com as invasões. O outro, noturno, esteve envolvido em brumas. Ele aconteceu quando o país, surpreso, viu que uma tropa do Exército barrou viaturas da PM de Brasília que pretendiam desmontar o acampamento montado em frente ao QG do Exército, onde pessoas pediam um golpe. [em nossa opinião, seria uma insensatez, uma irresponsabilidade,  que forças policiais, invadissem um acampamento formado por civis desarmados e pacíficos, na madrugada - além do caráter e clima pacífico do acampamento, havia também crianças, mulheres e idosos. Também havia a opção de cercar a área, - ninguém entra, ninguém sai - e durante o dia efetuar a invasão.]

Durante mais de três meses acreditou-se que havia ocorrido uma queda de braço, com generais desafiando o governo. O comandante militar do Planalto, Gustavo Henrique Dutra de Menezes saiu do silêncio e revelou que, naquela noite, falou por telefone com Lula, explicando-lhe o risco de uma operação noturna. Acertaram que o acampamento seria desmontado na manhã seguinte, e assim foi feito.

A ideia de que o Exército havia escorraçado a PM injetou uma tensão desnecessária àquele ambiente carregado. O que poderia ter sido limonada virou limão.

Arquivo vivo
Seja qual for o governo, o chefe do serviço de segurança sabe, e guarda, segredos dos titulares.
O general GDias chefiou a segurança de Lula durante seus dois primeiros governos.
Nos últimos quatro anos, com Bolsonaro na Presidência, GDias mostrou que tinha boa memória.

Moral variável
Depois de deixar o cargo, GDias deu uma entrevista à repórter Delis Ortiz: lembrou seus 40 anos de serviços ao Exército, defendeu sua moral e criticou a reportagem de Leandro Magalhães, que expôs seus movimentos no Planalto no dia 8 de janeiro. Tudo bem.

No mesmo dia, o general da reserva deveria ter comparecido à Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados para falar sobre o dia dos atos, mas faltou, apresentando um atestado médico da Coordenação de Saúde da Presidência.

Seu quadro clínico exigiria medicação e observação, “devendo ter ausência em compromissos justificados por motivo de saúde”.

Noves fora o mau português, ficaram mal o paciente e o médico que assinou a peça.[e a falta do CID.]

941 na transição
Vitorioso nas urnas, Lula mobilizou uma equipe de 941 pessoas, divididas em 31 grupos temáticos que lidavam com 217 assuntos. Cinco pessoas cuidavam da área da Defesa, 40 da Justiça e Segurança Pública.

Ao que se sabe, nenhum servidor civil ou militar do Gabinete de Segurança Institucional de nível médio foi substituído.

O major que no dia 8 de janeiro dava literalmente refresco um invasor, passando-lhe uma garrafa de água, era o responsável pela segurança do Palácio naquele domingo.

Risco no agro
As invasões do MST, bem como a presença de seu líder João Pedro Stédile na comitiva de Lula na viagem à China, debilitaram a banda do agronegócio que se opõe aos agrotrogloditas bolsonaristas.

Folha/UOL e Jornal O Globo  Elio Gaspari, colunista
 
 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Governadora petista comprou 900 comprimidos de Viagra

Em 2021, a administração de Fátima Bezerra (PT-RN) gastou quase R$ 9 mil na aquisição dos medicamentos

O governo do Rio Grande do Norte adquiriu 900 comprimidos de Viagra em 2021, informou, nesta segunda-feira, 18, a Rádio 98 FM. A depender da dose, o medicamento é indicado para o tratamento de impotência sexual ou doenças como a hipertensão arterial pulmonar. “A compra de 900 comprimidos de sildenafila 20 miligramas no ano passado, segundo consta no Portal da Transparência, se dá com o objetivo de tratamento médico de hipertensão pulmonar, como aponta a dosagem contida nos comprimidos, e ocorreu por força de medida judicial, requisitada por um paciente, em razão da demora de fornecimento do medicamento por parte do Ministério da Saúde”, explica a Secretaria Estadual de Saúde Pública, em nota.

Segundo a reportagem, a compra foi efetuada em julho de 2021, junto à empresa Uni Hospitalar Ltda. O governo comprou dez caixas de sildenafila 20 miligramas, o princípio ativo do Viagra, por R$ 8,7 mil. O lote foi entregue à Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat)

O governo petista também homologou duas cotações para a aquisição futura de até 340 mil comprimidos. As duas atas foram publicadas em 2019 e 2020 no Diário Oficial do Estado e preveem a aquisição dos medicamentos.

Na Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Se as economias dos EUA, da Europa e do Japão estão mal, por que o Brasil deveria estar bem? - O Estado de S. Paulo

 J. R. Guzzo

Ilusão perdida

De duas uma: ou o Brasil já pode chamar o padre para receber a extrema-unção, pois o doente vai morrer daqui a cinco minutos, ou então existe alguma coisa muito errada nos boletins médicos sobre a saúde do paciente que estão sendo divulgados para o público. 
A inflação ficou acima dos 10% em 2021. 
O desemprego até que está caindo, mas ainda há mais de 13 milhões de desempregados na rua. A renda desabou. A pobreza aumentou. 
A economia não cresce nada. Não existe mais orçamento federal. 
O presidente é ruim. O ministro da Fazenda é ruim. Os outros ministros são ruins. Porque, então, o paciente não morre logo de uma vez?

Uma das hipóteses é o mau funcionamento de algo que se poderia chamar de Sistema Nacional de Informação Econômica; é por aí que a população, ou quem se interessa por questões da vida pública, recebe notícias sobre a economia do País. Esse mecanismo, sabidamente, está com as válvulas desalinhadas. É natural. Os jornalistas, quando precisam dizer alguma coisa a respeito, procuram os economistasque sabem tão pouco sobre o que está acontecendo quanto os próprios jornalistas, mas que, como eles, têm certezas absolutas sobre economia ou qualquer outro assunto. As perguntas que fazem e as respostas que dão, como resultado de sua fé, contentam os desejos de uns e outros – e, se isso não combinar com a realidade, pior para a realidade, e pior para o público pagante. 

A indignação escandalizada diante da inflação, como se vê agora, é um caso claro de diagnóstico que não combina com a doença. 
É como se o Brasil estivesse fora do sistema solar. 
A inflação nos Estados Unidos foi de 7% em 2021, o pior resultado em 40 anos. Se a inflação americana foi de 7%, quanto os economistas acham que deveria ser a do Brasil? 
A inflação nos países ricos em geral, medida no conjunto da OCDE, ficou um pouco abaixo dos 6%. Dá para comparar, em termos de tamanho, organização e qualidade, as economias dos Estados Unidos, Europa e Japão com a economia brasileira, coitada? Se eles estão mal, após dois anos seguidos de destruição econômica por conta da covid e dos seus “fique em casa”, por que raios o Brasil deveria estar bem?   
 
Não é só a inflação. As contas públicas de 2021, que, por decisão do “sistema”, deveriam ter um déficit de “R$ 250 bilhões”, tiveram um saldo entre R$ 20 bi e R$ 40 bi.  
O Brasil teve no ano passado gastos no mesmo nível de antes da pandemia; ninguém conseguiu nada assim. O País está com problemas? Sim. Mas achar que só o governo tem alguma coisa a ver com isso é apenas uma ilusão perdida.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S.Paulo
 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Mandetta contou quase tudo - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo


Como em todo livro de memórias, ele fala bem de si e escolhe aqueles de quem fala mal

O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta publicou suas memórias do poder. O livro chama-se “Um paciente chamado Brasil”. Seria mais preciso denominá-lo “Dois pacientes chamados Bolsonaro e Mandetta”. Mandetta ficou 16 meses no Ministério da Saúde, teve um desempenho estelar durante a pandemia e acabou demitido por suas virtudes e por defeitos alheios. Como em todo livro de memórias, fala bem de si e escolhe aqueles de quem fala mal: Bolsonaro, Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni, nessa ordem.

Sua análise do comportamento do capitão diante da pandemia é exemplar. Médico, ele pensou em ser psiquiatra e cursou um ano dessa matéria, até se decidir pela ortopedia. [felizmente ficou só no pensamento e nos parece que também não exerce a medicina na área de ortopedia - esperamos que a abstenção se estenda a outros;

sua habilidade de transformar entrevistas coletivas em comícios não será posta à prova em comícios reais - sua substância política não sustentará uma hipotética candidatura até 2022]. Diante da Covid, Bolsonaro passou por três fases de manual. Primeiro a negação (“uma gripezinha”), depois a raiva do médico (Mandetta), finalmente o milagre (a cloroquina). [Conhecemos casos de pessoas que tiveram a covid-19 e se recuperaram sem complicações, graças a DEUS. O filho do nosso formatador-geral, teve a covid, curou com ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina.

Ficou ausente do quartel devido as medidas de praxe = quarentena obrigatória. Mas, em termos de saúde e bem-estar com cinco dias estava pronto fisicamente  para qualquer missão.

É um retrato perfeito, no qual o médico-ministro tenta mostrar ao presidente o tamanho do problema, não consegue ser ouvido e entra num desastroso processo de fritura. Quando avisava que poderiam morrer mais de cem mil pessoas, os áulicos contavam ao presidente que essa conta era exagerada. Seria coisa de quem queria derrubar o governo. Quem? O embaixador chinês. [aliás, quem começou o processo de fritura foi o médico, quando decidiu transformar as entrevistas coletivas vespertinas (plateia garantida, já que os repórteres estavam ávidos por notícias) em comícios - se preparando para uma desejada (por ele) candidatura ao cargo máximo da nação, presidente da República, e aproveitava para fritar o chefe = presidente Bolsonaro.

A principio parecia um jogo do ganha-ganha - Mandetta, o mal necessário sempre ganharia = ficando, ainda que errasse o culpado por mantê-lo seria o presidente Bolsonaro; 

Já que se Bolsonaro o demitisse - o pico da pandemia viria de qualquer forma (já veio e felizmente está indo embora, sem volta) - e ele contando com o apoio da turma do  fecha tudo, para tudo, iria, de mansinho, tipo casual, fritando o presidente.

Não funcionou, foi demitido, o que defendia - isolamento e distanciamento sociais - aconteceu ANTES do tempo, o STF isentou o presidente de adotar medidas de combate ao coronavírus, a predominância das ações ficou com prefeitos e governadores, a vacina ainda não surgiu, mas a imunidade de rebanho chegou e resolveu.

O paciente Bolsonaro está exposto com precisão. Já o paciente Mandetta precisa ser decifrado pelos leitores. O ministro Mandetta endossou todos os procedimentos corretos para o controle do vírus, já o ex-deputado Mandetta (DEM-MS) foi temerário, metendo-se onde se meteu. Entrou para um governo que prometia um ministério técnico, livre de quaisquer influências. Mandetta tinha duas semanas na cadeira quando foi informado de que o palácio queria a cabeça de quatro de seus colaboradores. Vá lá que houvesse motivo, mas ele informa: “Quem articulou as exonerações e impôs os novos nomes mirava o controle de mais de 80% do orçamento do Ministério da Saúde”. Basta. [insinuar corrupção, sem a obrigação de provar, na base do boato, da fake news, qualquer um faz.]

Mandetta conta que, em 2016, o deputado Onyx Lorenzoni gravou uma conversa de parlamentares na casa de Rodrigo Maia. Deve-se a ele essa revelação, indicativa dos métodos do atual ministro da Cidadania. Pela sua narrativa, “ele tirou o celular do bolso e me disse: ‘Ouve isso’ ”. “Você gravou escondido a reunião?, perguntei. Ele respondeu que havia gravado sem querer.”

Tudo bem, mas por que chamou-o para ouvir o grampo? Mandetta guardou essa história por quatro anos. Lorenzoni estava com o deputado num passeio de barco no final de 2018, quando o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, obteve de Flávio Bolsonaro a promessa de que ele seria o ministro da Saúde. (Os filhos de Bolsonaro são mostrados no livro como patronos do gabinete do ódio, mas pode-se dizer tudo deles, menos que tenham radicalizado suas ideias só depois da eleição do pai.)

O livro de Mandetta é o primeiro retrato da disfuncionalidade do capitão na Presidência e vai além. Mostra Paulo Guedes tonitruante contra o adiamento da remarcação do preço dos remédios (“não admito tabelamento”), sem saber que os fármacos são tabelados. O bate-boca dos dois ministros é um dos bons momentos do livro. Feitas as contas, Mandetta entrou mal no ministério e saiu bem. Seu sucessor, Nelson Teich, cometeu o mesmo erro, mas conseguiu sair melhor porque foi-se embora em apenas 28 dias. [Teich entrou com dignidade e saiu de forma mais digna = honra e lealdade juntas. Já o ex-ministro, ex-quase psiquiatra, será que ganha caso se candidate a síndico de alguma comunidade?

De tudo, resta claro que o ex-futuro psiquiatra em a deslealdade como principio. Seu comportamento, usando o cargo para falar de quem o colocou no cargo, prova que não tem o conceito de que honra e lealdade andam juntas, a existência de uma depende da outra existir].

Uma inexiste sem a outra.]

Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari, jornalista 



domingo, 5 de abril de 2020

Pedra e pedradas - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Bolsonaro quer isolamento só acima dos 50 e Mandetta lista 19 condicionantes para saída

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) não se suportam mais, mas não têm alternativa: Bolsonaro não pode demitir Mandetta e Mandetta não pode se demitir. Estão atrelados um ao outro pelo coronavírus. Unidos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. E se detestando.

Entre os dois, há um muro: o isolamento social, única vacina possível para reduzir a audácia e a letalidade do vírus. Mandetta não pode cruzar esse muro, porque sua ação é “técnica e científica” e porque médicos “não abandonam o paciente”. Seu paciente é o Brasil. E Bolsonaro não pode dar uma canetada e criar o tal “isolamento vertical”, que, de isolamento, não tem nada. Não tem apoio para isso.

Cada lado prepara seu arsenal sob sigilo. Bolsonaro, que já falou duas vezes em editar um decreto e nunca editou, trabalha com um corte etário para relaxar o isolamento. O grupo de (maior) risco é acima dos 60 anos, mas ele estuda dar dez anos de lambuja. Abaixo dos 50, volta ao trabalho! Cola? Até agora não, tanto que a ideia está entre as quatro paredes do gabinete presidencial.

Já Mandetta propõe nos bastidores um desmame gradual do isolamento, listando 19 condicionantes técnicas a serem consideradas uma a uma, dependendo do cenário. A cada recuo da doença, um grau de relaxamento. Entretanto, o começo da implementação pode demorar 30 dias e o próprio ministro perguntou para sua equipe: “Ele vai ter paciência?” Quem será “ele”? Enquanto os dois se digladiam, as instituições assumem um lado e isolam Bolsonaro. Ministros do Supremo fazem fila e parlamentares se revezam para advertir o Planalto e apoiar o isolamento social. Até o vice Hamilton Mourão e o ministro Sérgio Moro (este sempre tão reverente à hierarquia) defendem publicamente a medida que o presidente rechaça.


Isolado institucionalmente e sofrendo restrições no próprio governo, Bolsonaro afasta aliados simbólicos, como os governadores Ronaldo Caiado (Goiás) e Carlos Moisés (Santa Catarina) e o ator Carlos Vereza, que foi cotado para a Secretaria de Cultura. Cada um deles corresponde a quantos decepcionados com os “achismos” do presidente? A maior perda, aliás, vem das pesquisas. Metade das pessoas acha que Bolsonaro atrapalha mais do que ajuda no combate à pandemia e o que dói mesmo e abala o amor próprio do presidente é o aplauso vibrante da população ao seu “inimigo” Mandetta. Em vez de comemorar o grande trunfo do seu governo, Bolsonaro sofre. Só a psicologia, a psicanálise ou a psiquiatria para explicar. [para Bolsonaro candidato à reeleição em 2022, e qualquer pessoa sensata com a mesma pretensão, qual  valor tem   pesquisa  realizada no inicio de 2020, por telefone e sob condições catastróficas? ]  

Se Bolsonaro não pode demitir Mandetta “no meio da guerra”, Mandetta não pode se demitir. Desmontaria o Ministério da Saúde e jogaria o País num caos ainda maior. Uma irresponsabilidade histórica. Assim, o ministro avisou ao presidente que está pronto para ser o “bode expiatório” se tudo der errado e que fica até ser demitido.  Na mesma conversa, Mandetta fez enfática defesa do isolamento e alertou para as consequências do relaxamento: “Estamos preparados para caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas, ao vivo, pela internet?” No dia seguinte, recorreu a Drummond: “No meio do caminho uma pedra, uma pedra no meio do caminho”.

Todos sabem quem é a “pedra” e o ministro passou a ser apedrejado na internet. Os mesmos que divulgam um falso desabastecimento no Ceasa-MG (burramente, porque é contra o próprio governo) inundam as redes desqualificando Mandetta, governadores e parlamentares pró-isolamento. Como isso ajuda Bolsonaro, não se sabe. Mas é ótimo para o coronavírus, a contaminação e as mortes. Mais do que irresponsável, macabro. 

Eliane Cantanhêde,  jornalista - O Estado de S. Paulo


terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Gabinete hospitalar de Bolsonaro faz mal à saúde


[EXCELENTE matéria;  oportuna, fundamentada e o caso Tancredo Neves -  relembrado no filme 'o paciente' -  está bem presente. Tancredo tinha 85 anos e o senhor tem 63, mas, quando a 'máquina' começa a dar problemas, a idade não é o mais importante, na maior parte das vezes uma parada técnica é mais eficaz.

Bolsonaro está pisando feio na bola e fazendo exatamente o que seus inimigos e também inimigos do Brasil - a turma do 'quanto pior, melhor' - desejam; 'buscando complicar de vez seu estado de saúde'.

Problemas de saúde, especialmente envolvendo cirurgias, no aparelho digestivo costumam causar complicações, são de dificil e demorada recuperação (muitos tem morrido em função de tais problemas exatamente por ter o entendimento de que só problemas de coração, câncer e cérebro, matam).

Presidente -  e/ou sua esposa Michelle -   siga a sensata sugestão do blogueiro Josias,  passe o comando para o vice-presidente da República (aqueles arroubos de candidato que acometeram o general Mourão agora se tornaram aulas de sensatez), o general Hamilton é leal ao senhor e ao Brasil, aceite ficar internado - de preferência em regime de semi UTI - e recupere sua saúde.

O Brasil precisa do senhor plenamente recuperado, até o final deste mês, para a batalha de por nossa Pátria Amada nos trilhos - talvez uma batalha não seja suficiente, o que tornará sua presença necessária para vencer a guerra e esta inclui a reeleição.

Esperamos que no que depender do senhor a Gleisi Hoffmann só tenha tristeza, nada dela ficar alegre.]

No dia 28 de janeiro, uma segunda-feira, Jair Bolsonaro arrostou uma terceira cirurgia, no hospital Albert Einstein, dessa vez para retirar a bolsa de colostomia. Foram sete horas na mesa de operação. O operado mal fora recolhido à UTI e seu porta-voz, Otávio do Rêgo Barros, já anunciava: "O presidente vai passar 48 horas em descanso total. Então, na quarta-feira, em torno de 9h, 10h, ele retoma legalmente a função de presidente da nossa República".



Dito e feito. Menos de 48 horas depois da cirurgia, Bolsonaro deu alta ao general Hamilton Mourão, seu substituto constitucional. E "reassumiu" o posto. As palavras do porta-voz sinalizavam que a presidência hospitalar seria uma experiência sui generis: "O presidente está preservado de falar porque, ao falar, há possibilidade de que gases…, de que ar entre na sua cavidade abdominal e isso vai provocar dores e vai dificultar a cicatrização, particularmente no que toca à cicatriz externa". No sábado, Bolsonaro sofreu uma parada intestinal. No domingo, teve 
febre. 

Exames de imagem revelaram "um acúmulo de líquido ao lado do intestino, na região da antiga bolsa de colostomia". Em consequência, "foi submetido a punção para retirar esse líquido e permanece com dreno no local". Foi para a unidade de "cuidados semi-intensivos". E recebe dosagens regulares de antibióticos, para evitar uma infecção. São injetados junto com o soro. A recuperação do presidente da República deveria ser levada mais a sério. Ninguém disse ainda, talvez por respeito ao drama do paciente, mas a Presidência cenográfica encenada no Albert Einstein faz mal à saúde de Bolsonaro. 

A primeira-dama Michelle deveria ordenar a imediata desmontagem do gabinete improvisado no hospital. Primeiro Michelle despacharia para Brasília a parafernália eletrônica. Bolsonaro utilizou uma mísera vez o telão de vídeo. Conversou com o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional. O resultado prático da conversa foi uma bronca dos médicos, incomodados com o descumprimento da orientação para que o paciente se mantivesse de boca fechada.



Depois de lacrar o gabinete, Michelle decretaria a dedicação full time do marido às atividades pós-operatórias. Pelo tempo que for necessário. A interinidade de Hamilton Mourão não fará nenhum mal irreversível à República. E o repouso fará bem ao capitão. Na sequência, a primeira-dama devolveria ao Planalto o porta-voz Rêgo Barros. No momento, não interessa a ninguém o lero-lero bem-intencionado sobre a agenda virtual, com despachos ministeriais e reuniões de trabalho que não acontecem. O que todos desejam e merecem ouvir é a voz dos boletins do hospital. Neles, os médicos falam sobre as condições clínicas do paciente, sem viés embromatológico.


Blog do Josias de Souza
 


domingo, 27 de janeiro de 2019

O paciente

Bolsonaro quer abreviar o período de repouso, após cirurgia de retirada de colostomia, o que não é recomendado pelos médicos; pretende montar um “gabinete presidencial” no próprio hospital


Inspirado no livro de investigação médica O paciente (Editora Cultura), do historiador Luís Mir, o filme de Sérgio Rezende sobre a morte de Tancredo Neves, o presidente da República que não chegou a tomar posse na redemocratização do país, é uma boa pedida para o fim de semana. Mostra o que não deve ser feito com um paciente quando ele é o mandatário da nação. Isto é, dar mais relevo às contingências políticas e ao seu papel na História do que ao tratamento médico adequado para a enfermidade que o acomete.

É óbvio que a referência ao filme decorre do fato de que o presidente Jair Bolsonaro será internado hoje, no Hospital Alberto Einstein, em São Paulo, para ser operado amanhã bem cedo. O objetivo é a retirada da bolsa de colostomia implantada devido à complexa cirurgia pela qual passou em setembro, depois de ser esfaqueado durante ato de campanha eleitoral em Juiz de Fora. O episódio dramático comoveu o país e teve um papel decisivo na eleição. A cirurgia está programada desde dezembro, quando deveria ter sido realizada. Durante dois dias, o vice-presidente, Hamilton Mourão, assumirá o comando do Palácio do Planalto. Sua interinidade durante a recente viagem de Bolsonaro a Davos, na Suíça, mostrou que está muito à vontade no cargo.

Bolsonaro goza de excelente situação clínica. Tem demonstrado até grande vigor físico, apesar das limitações impostas pelo colostomia, haja vista a sua carregada agenda presidencial. Segundo o porta-voz da Presidência, general Otávio Rego Barros, após a cirurgia, “os médicos indicam e iluminam a necessidade de restrito descanso de 48 horas”. Mourão já anunciou que deverá comandar uma reunião do conselho de governo na próxima terça-feira, no Palácio do Planalto. Bolsonaro viaja acompanhado da primeira-dama, Michelle, do ministro Augusto Heleno (GSI) e do próprio Rêgo Barros. Vai direto do aeroporto para o hospital.

Bolsonaro e seus assessores mais próximos tentaram abreviar o período de repouso absoluto, o que não é recomendado pelos médicos, e ainda pretendem montar um “gabinete presidencial” no próprio hospital. Ao contrário de Tancredo, que escondeu a doença enquanto pôde, Bolsonaro sempre tratou com transparência a sua real situação de saúde. Além disso, o contexto é completamente diferente: Tancredo se elegeu num colégio eleitoral, desafiando o regime militar; Bolsonaro foi vítima de uma tentativa de homicídio em plena campanha eleitoral, por muito pouco não morreu, e foi eleito pelo voto direto.

Caso Tancredo
O filme, como o livro de Mir, é pedagógico. O drama de Tancredo começou três dias antes da posse, quando sua saúde se tornou muito frágil e a capacidade de sobreviver até a cerimônia de posse ficou ameaçada. Othon Bastos faz uma interpretação esplendorosa, com a grande atriz Esther Góes no papel da primeira-dama Risoleta. Os atores Otávio Müller, Leonardo Medeiros, Eucir de Souza e Paulo Betti interpretam a confusa equipe médica, que se deixa pressionar pelos políticos, pela fogueira de vaidades e pelo estrelismo individual.

A grande contradição exposta no filme é o tratamento dado ao Tancredo paciente versus o dedicado ao Tancredo presidente, dois pesos e duas medidas que fazem a diferença. O Paciente denuncia erros de diagnóstico, picuinhas e muito ego à margem da ética profissional. Instala-se uma tremenda crise no centro cirúrgico, com desfecho trágico. Nada a ver com a condução dada ao caso de Bolsonaro até agora, com destaque para a equipe médica da Santa Casa de Juiz de Fora, que o salvou da morte. Os médicos dizem que o período de recuperação deve durar dez dias. A Presidência montou uma estrutura em São Paulo para que Bolsonaro receba seus ministros e possa “estabelecer governo efetivo e eficaz”, a partir do terceiro dia de pós-operatório. É aí que está o problema: o mais sensato seria Mourão permanecer como presidente interino até a alta hospitalar. Durante a viagem a Davos, o vice-presidente provou que pode exercer a interinidade sem provocar abalos sísmicos no governo.

Renan e Simone
Líder do MDB, Simone Tebet (MS) conta apenas com os votos dos senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Dario Berger (SC) na sua bancada, de um total de 13 senadores, para disputar a Presidência do Senado. Os demais estão com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que ainda dissimula o jogo, mas é candidatíssimo ao cargo, pela quinta vez. Simone anunciou, porém, que pretende disputar o comando da Casa mesmo que seu nome não seja apoiado pela maioria dos emedebistas. Dos 54 senadores recém-eleitos — de um total de 81 —, apenas 14 são novatos; os demais são políticos escolados. Além de Renan e Simone, Álvaro Dias (Pode-PR), Ângelo Coronel (PSD-BA), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Esperidião Amin (PP-SC), Major Olímpio (PSL-SP) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) sonham com o comando da Casa. Hoje, Renan teria mais de 45 votos entre os pares. Para enfrentá-lo e reverter a situação, a oposição teria que chegar a um candidato único. A aposta do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, é Davi Alcolumbre, não é Simone. Meteu a mão nessa cumbuca como um macaco novo.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Em carta aberta ao Supremo, procuradores criticam Gilmar Mendes - mas, já sabem que vão ter que aturar Gilmar

Em carta aberta aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), atacou o ministro Gilmar Mendes. A maior entidade de procuradores do País, responsável pela lista tríplice à cadeira de Procurador-Geral da República, defendeu a força-tarefa da Operação Lava Jato do Rio e criticou a “desenvoltura” com que Gilmar Mendes “se envolve no debate público, fora dos autos”.

O embate entre Gilmar Mendes e o Ministério Público ganhou dimensões elevadas quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a suspeição do ministro no caso do bilionário Eike Batista. No dia 28 de abril deste ano, Gilmar concedeu habeas corpus pedido pela defesa de Eike para suspender os efeitos da prisão preventiva e soltá-lo. O empresário estava preso em Bangu, no Rio, desde janeiro, pela Operação Eficiência, um desdobramento da Calicute, operação que levou à prisão o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo.

Após a decisão do ministro, Janot pediu ao Supremo que Gilmar fosse declarado impedido de atuar no habeas. De acordo com o procurador-geral da República, logo depois da decisão de Gilmar Mendes, surgiram questionamentos sobre a “isenção do ministro” para atuar no caso, já que a sua mulher, Guiomar Mendes, integraria o Escritório de Advocacia Sérgio Bermudes, “que prestaria serviços ao paciente Eike Fuhrken Batista, beneficiado pela decisão do magistrado”.

Em 21 de agosto, Janot pediu novamente a suspeição de Gilmar. Desta vez, no caso do “rei do ônibus”. O ministro concedeu dois habeas corpus em 24 horas ao empresário Jacob Barata Filho. Gilmar colocou em liberdade outros oito investigados da Operação Ponto Final – desdobramento da Lava Jato, no Rio, que prendeu a cúpula do Transporte do Estado.

Janot viu “múltiplas causas” para a suspeição de Gilmar no caso do “rei do ônibus”. O ministro foi padrinho de casamento de Beatriz Barata, filha de Jacob, em 2013. Bia Barata se casou com Francisco Feitosa Filho, sobrinho de Guiomar Mendes. O Ministério Público Federal apontou ainda que Jacob Barata Filho integra os quadros da sociedade Autoviação Metropolitana Ltda, ao lado, entre outros sócios, da FF Agropecuária e Empreendimentos S/A, administrada por Francisco Feitosa de Albuquerque Lima, irmão de Guiomar e cunhado do ministro Gilmar Mendes.

CARTA ABERTA DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DA REPÚBLICA AOS MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
“Excelentíssimos Senhores Ministros,
Em nossa língua pátria, “supremo” é o que está acima de todos os demais. É o grau máximo. Em nossa Constituição, evidentemente não por acaso, a Corte que Vossas Excelências compõem é a cúpula do Poder Judiciário. É a responsável, portanto, por dizer por último e em definitivo o direito. Seus componentes – Vossas Excelências – estão acima de corregedorias, e respondem apenas a suas consciências. E assim tem de ser, em verdade, posto nosso sistema jurídico.
...
ÍNTEGRA DA CARTA em ISTO É 


LEIAM TAMBÉM: Dez especialistas em direito dizem se Gilmar Mendes deveria ou não ter se declarado impedido

Nada menos de 10 especialistas afirmam que ministro do STF cumpriu a lei. Leiam o que eles disseram ao site "Consultor Jurídico"


terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Paciente descobre que, para governo, ‘morreu’

Ministério da Saúde manda recolher remédio de paulistana com doença grave por óbito que não ocorreu

[no Brasil das  cotas  inconstitucionais, por inúteis, preconceituosas e estúpidas, está sendo gestada a cota dos que devem ter a morte decretada antes que o óbito ocorra.] 
Após derrubar na Justiça a decisão que determinou o fornecimento de um medicamento de alto custo usado por Denise Roque de Toledo Correia, paulistana de 29 anos que tem uma doença rara nas células-tronco, o Ministério da Saúde mandou recolher frascos da substância na casa da jovem. O motivo: “óbito”. 


À espera. Denise Roque de Toledo Correia, que precisou dizer que estava viva, aguarda os medicamentos do governo federal - Acervo pessoal


Denise conta que, com as mãos trêmulas e incrédula diante do funcionário responsável pela coleta do remédio, subiu as escadas do sobrado onde mora, buscou a documentação pessoal para provar quem era ela e teve de escrever o óbvio na guia do governo: “estou viva”. Depois, fotografou a papelada, pois foi impedida de ficar com qualquer cópia. 

A visita do emissário que, em nome do Ministério da Saúde, foi à casa da jovem, na Zona Norte de São Paulo, buscar frascos do medicamento por causa da suposta morte ocorreu no dia 13 de fevereiro, pouco antes das 16h. Segundo Denise, depois de acalmar a mãe, que ficou mais nervosa do que ela com o episódio, ligou para o número do Ministério da Saúde disponibilizado no próprio documento que assinou para entender o que havia ocorrido: — Eu queria saber de onde eles tiraram essa informação da minha morte. A atendente disse que não sabia, que não tinha como saber. Até que me perguntou por quanto tempo eu já estava sem o medicamento. Quando falei que há uns cinco meses, ela disse: ‘E você não morreu?’ — É triste dizer, mas parece que estão esperando isso acontecer. Primeiro que eu não estava mais recebendo o remédio há meses, como teria algum frasco em casa? E depois tive que escrever que estou viva. Um absurdo total.

A saga para permanecer viva começou há cerca de três anos, quando Denise descobriu ser portadora de HPN, uma doença rara e grave, que afeta o funcionamento das células-tronco e faz com que o corpo mate os glóbulos vermelhos do sangue, provocando tromboses e outras complicações. Em 2014, ela conseguiu, por decisão judicial, receber gratuitamente o medicamento Eculizumabe.

Transplante foi descartado
Para Denise, a droga é a garantia de uma vida melhor, sem o pavor de, a qualquer momento, ter de ser internada por causa de tromboses e hemorragias. Isso se houver tempo de chegar ao hospital. Os médicos não recomendam o transplante de medula, única saída curativa, porque a jovem tem complicações de AVC e outros problemas decorrentes da doença.

Para o governo, o remédio representa o maior gasto entre os dez medicamentos mais requeridos na Justiça pela população, com gastos de cerca de R$ 613 milhões em 2016 para atender a 442 pacientes, segundo dados do Ministério da Saúde. A pasta aponta ainda que a fórmula não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi com tais argumentos que a juíza federal Edna Medeiros derrubou, em julho de 2016, a decisão que beneficiava Denise. Ela escreveu na sentença que “o Estado, no cumprimento do dever constitucional de proporcionar saúde à população, o faz através de política pública planejada e universalizada, daí porque não pode ser exigida dele a prestação individualizada de ações voltadas para a prática da saúde. Isso fere o princípio da isonomia”.
Em outro trecho, a magistrada defendeu que, “não sendo assim, estará formado o privilégio dos pacientes de alto custo, com resultados duvidosos, em detrimento de outros, cujo atendimento demandaria gastos menores e de comprovada eficácia”.

Com os frascos que tinha recebido na última remessa antes da nova decisão judicial, Denise ainda conseguiu tomar o medicamento por cerca de três meses. Mas depois que parou, em outubro do ano passado, a saúde piorou e ela passou por internações.  A suspensão do medicamento sempre foi um fantasma a assombrar Denise, uma vez que é natural o governo recorrer das decisões judiciais que resultam em gastos extras. O que ela nunca imaginou é que chegaria ao ponto de, depois de perder o direito de receber o remédio, teria que provar para as autoridades que está viva e, evidentemente, precisando do tratamento. [o mais grave  é que após Denise admitir que conseguiu sobreviver - só Deus sabe a custa de quanto sofrimento - por cinco meses, a douta magistrada se sinta à vontade para manter a suspensão, o Ministério da Saúde manter o decreto que considerou a paciente FALECIDA e o mais grave que os rábulas do MS armem seus argumentos de que remédios de alto custo não são essenciais para manter o paciente vivo.
No Brasil da cotas para tudo, está sendo gestada a cota dos que devem ser declarados mortos antes que o óbito ocorra.]

Questionado especificamente sobre o episódio de Denise Roque de Toledo Correia, o Ministério da Saúde limitou-se a dizer, em nota, que o cadastro dela “consta como ativo no SUS” — o que significa apenas que Denise faz algum uso da rede pública de saúde. Não explicou por que Denise foi dada como morta e tampouco comentou sobre o atendimento dispensado a ela por telefone.

Fonte: O Globo



domingo, 12 de fevereiro de 2017

No DF o uso do narguilé é livre - Lei Federal proíbe a venda de cigarros a menores de 18 mas os menores usam livremente o narguilé, muitas vezes com o apoio dos pais e a omissão da Polícia



Jovem internado por usar narguilé faz vídeo e reacende debate sobre o uso
Caso aconteceu no interior do Paraná e chamou atenção de usuários essa semana
O vídeo de um adolescente hospitalizado em função do uso do narguilé, uma espécie de cachimbo à base d'água muito utilizado entre jovens e adultos hoje em dia, repercutiu nesta semana na internet e reacende o debate sobre as consequências do seu uso. Nas imagens, o jovem detalha o que sente e faz um alerta a outros jovens.  O vídeo teve mais de 8 milhões de visualizações, e milhares de compartilhamentos e comentários.

O rapaz que aparece no vídeo, deitado na maca de um hospital em Campo Mourão, interior do Paraná, é Henrique Nascimento, 19 anos. Nas imagens, ele aparece frágil e com um dreno ligado a uma região próxima ao pulmão. O objetivo é retirar o excesso de líquido que se armazenou no local.

Ao Correio, ele conta que foi internado no final do mês passado, após sintomas como febre, tontura e falta de ar. "Comecei a me sentir mal e rapidamente piorei. Não conseguia fazer quase nenhum esforço. Foi quando fui ao hospital", detalha. 

O jovem relata que era usuário de narguilé há pouco mais de 1 ano quando se sentiu mal. Nesse período, o adolescente diz que usou o produto todos os dias. Em algumas vezes, a frequência era de três a quatro vezes por dia. "Não usava porque tinha prazer. Usava porque era legal. Para brincar com a fumaça", explica. Ao chegar ao hospital, o jovem foi internado e diagnosticado com excesso de líquido no pulmão. Ele conta que os médicos fizeram uma drenagem. "Fiquei internado uma semana. O pulmão doeu muito. Ainda dói. O dreno também incomodou bastante", detalha.

"Aquele que tá fumando narguilé é bom parar... É o conselho de uma pessoa de 19 anos, que fumava quase todo dia, mas parou" 


Pessoal parem de fumar narguilé
O cirurgião torácico Humberto Oliveira, que trabalha com casos semelhantes ao do adolescente, explica que ele provavelmente contraiu um quadro de pneumonia, que evoluiu para um derrame pleural, que é quando o paciente apresenta excesso do líquido responsável por suavizar o atrito entre as costelas e membranas, conhecido como líquido pleural. 

O especialista explica que, durante o uso do narguilé, o usuário pode inalar substâncias nocivas ao organismo, como fungos, resultando em um quadro infeccioso, que pode evoluir para pneumonia e derrame da pleura, como aconteceu com o paranaense. "A quantidade ideal de líquido pleural no organismo é de 10 ml. Em um paciente de derrame pleural, essa quantidade pode chegar a dois litros", detalha.

De acordo com o especialista, o narguilé é totalmente contra indicado. "Uma sessão de narguilé equivale a fumar 100 cigarros. É extremamente prejudicial a saúde", conta. "Algumas pessoas podem, inclusive, ficar com sequelas, como pontadas na região pulmonar e dores eventuais", acrescenta.

Henrique, que já está em casa com a família há duas semanas, aos poucos volta à rotina. Após o susto, o jovem relata que ainda sente alguns poucos incômodos, como fadiga e dores no pulmão. Sobre usar narguilé, o jovem é contundente: "Não recomendo";


Fonte: Correio Braziliense