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domingo, 20 de novembro de 2016

“Ali Babá e os milhares de ladrões”

Lula, que já naquela época não sabia de nada, orçou a ladroagem congressual em 300 picaretas (e, ao ganhar poder, aliou-se a todos)


Ali Babá no Brasil não teria a menor chance. Nas Mil e Uma Noites derrotou 40 ladrões, mas como enfrentaria as fabulosas hordas de ladrões que conhecem a senha dos cofres públicos? Lula, que já naquela época não sabia de nada, orçou a ladroagem congressual em 300 picaretas (e, ao ganhar poder, aliou-se a todos). Errou feio ao subestimar o número. Mas, embora não seja chegado à leitura de filósofos e pensadores, compreendeu o pensamento de John Dalberg, o primeiro barão de Acton, “Todo poder corrompe”. Abriram-se as porteiras e cada um tratou de garantir o seu.

Um ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, foi preso, acusado de receber R$ 224 milhões em pixulecos. No custo das obras, somavam-se 7%, dos quais, diz a força-tarefa da Lava Jato, 5 eram para Cabral, 1 para o assessor Hudson Braga e 1 para dividir entre alguns conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. Fala-se também de uma mesada paga a Sua Excelência por empreiteiras. No presídio, encontrou outro ex-governador, que já foi aliado e hoje é adversário, Anthony Garotinho cuja esposa é prefeita de Campos, cuja filha é deputada federal. Ambos foram, em épocas distintas, aliados e adversários do petismo. Os dois, aliás, não estão juntos no presídio, como talvez fosse educativo: adversários quando no poder, forçados ao mesmo destino. Uma decisão judicial superior autorizou Garotinho que fosse para um hospital particular e se trate lá.
Conto carioca
Em 2010, a Prefeitura do Rio investiu R$ 44 milhões em valores da época na Cidade do Rock, destinada ao Rock in Rio, com garantia de permanência. “Com o novo local”, disse o empresário Roberto Medina, proprietário do evento, “o Rock in Rio poderá acontecer a cada dois anos”.

Agora, decidiu-se erguer uma nova Cidade do Rock no lugar do Parque Olímpico. E os R$ 44 milhões (que hoje, corrigidos, dariam R$ 70 milhões)? E o que se gastou para erguer o Parque dos Atletas, que também deveria ser utilizado depois das Olimpíadas? OK, foi gasto da Prefeitura, não do Estado. Mas o prefeito Eduardo Paes faz parte do grupo político de Sérgio Cabral e do atual governador Pezão, do PMDB – no poder desde 2007. Talvez esse caso ajude a entender a crise financeira do Rio.
Cabral? Quem?
Dilma Rousseff não perde a oportunidade de perder uma oportunidade. E acaba de perder uma grande oportunidade de calar-se. Mas fez questão de se manifestar sobre a prisão de Sérgio Cabral: disse que ele jamais foi seu aliado. Mas foi, sim: há vídeos de ambos juntos em comícios, em 2010. fazendo campanha. E, quando o PMDB do Rio hesitou em apoiá-la, em 2014, foi Sérgio Cabral o primeiro a pedir votos para a candidata. Se é para mentir, e num caso em que sua opinião nem é tão solicitada, por que falar?
O de sempre
Parecia impossível, mas está acontecendo: os gastos sigilosos com cartões corporativos, no governo Temer, são 40% maiores que os do governo Dilma. Em seus primeiros cinco meses, Temer já gastou R$ 13 milhões, enquanto em seus cinco primeiros meses Dilma gastou R$ 9,4 milhões. Os números foram apurados pelo respeitado site Contas Abertas.
Carmen Lúcia…
A ministra Carmen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, argumenta com números: “Um preso no Brasil custa R$ 2,4 mil por mês, e um estudante de ensino médio custa R$ 2,2 mil por ano. Alguma coisa está errada na nossa Pátria Amada”. Vai mais longe: “Darcy Ribeiro fez em 1982 uma conferência dizendo que, se os governadores não construíssem escolas, em 20 anos faltaria dinheiro para construir presídios. O fato se cumpriu (…) Quando não se faz escolas, falta dinheiro para presídios”. [ministra, permita uma modesta mas eficiente sugestão: prisão perpétua e pena de morte - a prisão perpétua seria cumprida em uma adaptação de 'gulag', original da Sibéria, para a Floresta Amazônica;
- a pena de morte, custa barato e os restos mortais do executado seriam obrigatoriamente cremados com um custo irrisório.
Sobraria dinheiro que seria utilizada para construir escolas.]
…é isso aí
Carmen Lúcia apontou a solução a longo prazo, mas acha possível tomar providências imediatas. “A violência no país exige mudanças estruturantes e o esforço conjunto de governos e da União, para que possamos dar corpo a uma das necessidades do cidadão, que é ter o direito de viver sem medo. Sem medo do outro, sem medo de andar na rua, sem medo de saber o que vai acontecer com seu filho”. E lembrou que, a cada nove minutos, uma pessoa é morta violentamente no Brasil. “Nosso país registrou mais mortes em cinco anos do que a guerra na Síria”.
País tropical
A ministra só não disse o que leva tantos governantes a investir mais em cadeias do que em educação. É que muitos, depois de exercer o poder, não é para a escola que vão. João Bussab, decano da imprensa policial paulista, sugere que os políticos corruptos harmonizem seus interesses com os do país. Como quiseram construir um shopping exclusivo no Congresso, que façam um presídio exclusivo para políticos. Estarão cuidando do futuro.

Originalmente publicado na coluna de Carlos Brickmann


 

 

sábado, 5 de novembro de 2016

Ministra! se a senhora está preocupada com super lotação de presídios temos a solução, via duas medidas: PENA DE MORTE e PRISÃO PERPÉTUA

Ministra Cármen Lúcia faz visita surpresa ao Presídio da Papuda

Esta foi a segunda visita que a ministra realiza a unidades do sistema prisional brasileiro. A primeira foi no Rio Grande do Norte 

 A presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, visitou neste sábado (5/11) o Complexo Penitenciário da Papuda. Esta foi a segunda visita que a ministra realiza a unidades do sistema prisional brasileiro – a primeira inspeção ocorreu no último 21 de outubro, em prisões do Rio Grande do Norte. 


Segundo a assessoria do CNJ, foram verificados na visita problemas como superlotação e o deficit de pessoal das unidades prisionais. A presidente foi a uma ala onde havia uma cela com 18 homens ocupando oito vagas, ainda segundo o órgão. Para dormir, os detentos afirmaram que precisam forrar o chão da cela com colchões porque não há cama para todos. Cerca de 3,2 mil condenados cumprem pena, embora só haja 1,4 mil vagas.

[ministra: com todo respeito entendemos que há coisas mais importantes para a senhora se preocupar - já que certamente entre suas preocupações estão os DIREITOS HUMANOS, que tal visitar hospitais e cobrar atendimento médico para os SERES HUMANOS que morrem a míngua nas portas dos hospitais.

Superlotação de presídio se resolve facilmente:
- criar pena de morte para crimes hediondos - a Constituição proíbe mas a senhora sabe que quando os ministros do STF, sob sua presidência, querem as coisas se ajeitam. Todos lembram que o Lewandowski fatiou um artigo da Carta Magna para favorecer a Dilma.
Certamente não é impossível adaptar a Constituição para favorecer a aplicação da PENA DE MORTE;

- aplicar prisão perpétua - tanto com punição para determinados crimes quanto estendendo para bandidos condenados a mais de 100 anos de prisão.
A exemplo da União Soviética que mantinha campos de prisioneiros na Sibéria, Gulag e outros, o Brasil pode estabelecer campos de prisioneiros na Floresta Amazônica.
Com essas duas medidas se consegue uma redução da população carcerária em pelo menos 30% - ainda fica apertado, mas calor humano faz bem.

Outra coisa que precisa acabar é visita a presos. É público e notório que tais visitas além de gastos, risco de fuga, só servem para contrabandear celulares, armas e drogas para os presos.
O bandido preso deve ser esquecido. Se sobreviver ao cumprimento da pena então que ele e a família procurem formas de se encontrarem e dar continuidade a vida.]

Infraestrutura das prisões

A proposta das inspeções repentinas é verificar in loco as condições em que os presídios funcionam, informou o CNJ. Após a visita, a ministra Cármen Lúcia evitou fazer declarações sobre o que viu. Em seguida, ela se reuniu com representantes da Associação de Familiares de Presos do DF e do Conselho Distrital de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, na sede do CNJ.

No Centro de Detenção Provisória (CDP), o cenário é o mais dramático em relação à dimensão da massa carcerária. Aproximadamente 4 mil presos dividem 1,6 mil vagas, prossegue a nota do CNJ. Em um dos prédios visitados pela ministra, um preso sinalizava com um gesto a superlotação do lugar, longe do olhar dos agentes. De acordo com um servidor ouvido sob a condição de anonimato, há pavilhões com celas em que a superlotação chega ao triplo da capacidade do local. Apenas duas alas novas, inauguradas neste ano, comportariam a lotação projetada das instalações. 



O outro lado

A Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social do DF (SSP-DF) divulgou uma nota sobre a visita. Diz o texto:

"A Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF) considera positiva a visita técnica da presidente do Superior Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Carmem Lúcia, ao Complexo Penitenciário da Papuda, uma vez que esse tipo de iniciativa possibilita a interlocução entre as esferas do Estado na busca pela promoção de políticas públicas humanitárias voltadas aos custodiados.

Assim como em diversos estados brasileiros, o sistema prisional do Distrito Federal possui problemas de superlotação e deficit de servidores. Entretanto, a SSP-DF trabalha para reduzir esses impactos. Este ano, já foram criadas 400 vagas para o Centro de Detenção Provisória. Para 2017, serão entregues quatro novas edificações prisionais: os CDPs 1, 2, 3 e 4, com capacidade para abrigar 3,2 mil internos, ao todo.

Em relação à falta de servidores, a SSP-DF destaca que está em andamento um concurso público para o provimento de 200 vagas da carreira de agentes de atividades penitenciárias.

Sobre condições de higiene, a SSP-DF informa que há contrato com empresa terceirizada para manter o ambiente administrativo limpo e organizado. Na parte onde ficam os presos, aqueles que são classificados, fazem o serviço de apoio com condições adequadas de segurança e têm direito a remissão de pena.

Quanto ao atendimento médico aos custodiados, cada unidade prisional conta com dois profissionais, em média, de cada especialidade de saúde – entre médicos clínicos, dentistas, psicólogos e assistentes sociais, além de um infectologista e um psiquiatras - profissionais da Secretaria de Saúde."


Fonte: Correio Braziliense

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

“Amigo é coisa pra se ganhar”, Carlos Brickmann

Na belíssima área rural, o sinal do celular era fraco. E surgiu, magicamente, uma torre de celular, que outros amigos cuidaram de instalar

E onde se guarda um amigo? “No lado esquerdo do peito”, ensinam Milton Nascimento e Fernando Brant na esplêndida Canção da América. No mesmo lado do peito em que se guardam as recheadas, generosas, dadivosas (ou, conforme o caso, receptivas e gulosas) carteiras.

O pensamento voou, e ele disse que gostaria de ter um sítio para passar alguns fins de semana. Amigos compraram o sítio e o puseram à sua disposição. Outros amigos o reformaram para receber o ilustre hóspede. Na belíssima área rural, o sinal do celular era fraco. E surgiu, magicamente, uma torre de celular, que outros amigos cuidaram de instalar. 

Mas por mais belo que seja, um sítio pode tornar-se monótono. E os amigos apareceram com um triplex à beira-mar, com piscina exclusiva, cozinha top e elevador. O que importa é ouvir a voz do coração, e estender a bênção da amizade aos próximos. Amigos providenciaram o apartamento em que mora o filho, tranquilo, livre de aluguel. Os sócios do garotão, com 50% da empresa, nunca fizeram questão de receber sua parte nos lucros. Num ano, o filho recebeu 100% dos lucros; em outro, 96%; em outro, 62%.

Pois o que importa, entre amigos, não é dinheiro, é ouvir a voz que vem do coração. Amizade gera amizade: só um dos bons amigos multiplicou seu faturamento por nove, em oito anos. Boa parte por baixo de sete chaves.  Alguém pode reclamar quando dizem que seu apelido era “Amigo”?
Todo mundo…
É preciso cortar despesas, diz o presidente Michel Temer aos parlamentares aliados, defendendo em lauto banquete, pago com dinheiro público, uma tese correta: limitar os gastos federais pelos próximos 20 anos. É preciso cortar despesas, diz o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para que os juros possam baixar e a economia volte a crescer.
…menos eu
Mas, antes mesmo que a limitação das despesas federais seja votada, já existe quem defenda economia só para os outros. Na comissão da Câmara sobre reforma política, a primeira proposta trata de um bom aumento de despesas. O tucano mineiro Marcus Pestana quer criar o Fundo de Defesa da Democracia, com verba de R$ 3 bilhões anuais, para bancar as despesas dos partidos com manutenção e campanhas. A verba multiplica por pouco mais de quatro os gastos com o Fundo Partidário e atende a uma ideia originalmente petista, de pagamento de campanhas com dinheiro público.
Me dá um dinheiro aí
O caro eleitor não tem vontade de pagar a conta da campanha de ninguém? Bem-vindo ao clube! A desculpa da nova ordenha é que, sem as doações de pessoas jurídicas, não há dinheiro para as campanhas (o PT acrescenta que doadores privados tendem a beneficiar partidos que lhes retribuirão o favor). Só que não é assim: na rigorosa Alemanha, onde o financiamento de campanhas é exclusivamente público, o primeiro-ministro Helmut Kohl perdeu o posto quando descobriram que reforçava seu caixa eleitoral com doações privadas. Imagine no Brasil.
Um dia frio
Sim, ainda há gente bem-humorada na Capital Federal. Diziam que, se frio na barriga fosse transmissível, Brasília nesses dias seria uma nova Sibéria. Foi aceita a delação premiada de Marcelo Odebrecht e dezenas de seus executivos. Tudo certo, organizado, arquivado nos computadores, com nome de quem entregou e de quem recebeu, quantia, local, horário. Começa a temporada de verificações – e vazamentos, talvez seletivos.
Quem é?
As informações são de O Globo: os executivos da Odebrecht delataram 130 deputados, senadores e ministros; 20 governadores ou ex-governadores. São citados o presidente Michel Temer, os ministros Eliseu Padilha (seu auxiliar mais próximo, da Casa Civil), Geddel Vieira Lima (Governo) e José Serra (Relações Exteriores); e os ex-poderosos Guido Mantega, Eduardo Cunha e Antônio Palocci.
É vendaval
O caso Pasadena (uma refinaria de petróleo apelidada de Ruivinha, de tão enferrujada) demonstrou que a direção a Petrobras, nos governos Lula-Dilma, não sabia comprar instalações no Exterior — ou, o que é muito pior, sabia, sim. Mas essa falha era compensada: segundo ação popular aceita pela juíza Maria Amélia de Carvalho, da 23ª Vara de Justiça Federal do Rio, a empresa também não sabia vender instalações no Exterior. 

 Diz a ação popular que a venda dos ativos da Petrobras na Argentina à Pampa, no finzinho do Governo Dilma, deu prejuízo de U$ 1 bilhão. No Japão, a Petrobras comprou refinaria em Okinawa, há oito anos, por US$ 350 milhões. Neste ano, Dilma cuidando só do impeachment, a refinaria ficou quase parada desde março. A Petrobras vendeu-a por US$ 129 milhões.

Fonte: Coluna do Carlos Brickmann


 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Delírio Tropical



Dilma lembrou-me, esta semana, de uma piada que li na velha revista Esquire. Alguém dizia para Nikita Kruschev na ONU: seu alfaiate deveria ser mandado para a Sibéria. No caso de Dilma não é quem faz a roupa, mas a agenda, que deveria passar um tempo na Sibéria. No auge da crise econômica, condenada por um rombo no orçamento que pode ser de R$ 50 bilhões, desemprego em alta, lojas fechando, carros oficiais sem gasolina, ela decide ir à Suécia reafirmar uma compra milionária de caças.

Compreendo que a Aeronáutica precise dos caças e que a opção pela tecnologia sueca tenha sido acertada. Sou, entretanto, de um tempo em que os presidentes analisavam o momento e, em função dele, definiam suas agendas. Qual o sentido, no auge dessa crise, de acenar, de novo, com a compra dos caças de US$ 4,5 bilhões? Não queriam provocar, creio. Talvez tenham pensado que esse gesto de Dilma, posando ao lado dos caças milionários, iria elevar o ânimo da galera no Brasil.

Montada no maior escândalo mundial, gastando US$ 10 mil com a diária, Dilma foi mais longe no seu delírio: deu a entender que tudo foi obra de um homem só, Eduardo Cunha. “Lamento que isso aconteça com um brasileiro.” “No meu governo não há corrupção.” São algumas de suas frases lapidares. Os fatos diários mostram ex-ministros encrencados com propina (como é o caso de Edson Lobão, Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann), ministros atuais investigados pelo Supremo (Edinho Silva e Aloizio Mercadante), uma Petrobras arruinada, milhões de pessoas nas ruas protestando contra a corrupção. Isso não é com ela, nem com seu governo. É raro um momento histórico em que a verdade dos fatos seja espancada com tanto vigor e cinismo.

Às vezes, a verdade sofre grandes abalos, como mostra Isaiah Berlin em seu ensaio sobre o romantismo alemão do século XVIII. Naquele momento, tratava-se da afirmação de uma verdade subjetiva, uma espécie de inversão, de dentro para fora. Berlin aponta esse momento como um dos decisivos no pensamento ocidental. Os próprios modelos humanos se deslocavam. Saía de cena, o sábio que alcança a felicidade ou a virtude pela compreensão. 

E entrava o herói trágico que busca realizar a si próprio, a qualquer custo, sem se importar com as consequências. Para Berlin, isso era uma virada quase tão grande como a produzida pelas ideias de Maquiavel, para quem os valores políticos não são apenas divergentes, mas podem ser contraditórios, com os valores cristãos.

O que acontece hoje, no entanto, não me parece uma versão decadente dessas teorias que abalaram o pensamento ocidental. Os franceses descrevem a cara de pau dos políticos com a expressão langue de bois. E a definem como discursos cortados da realidade com o objetivo de manipular o interlocutor. O que acontece, na verdade, me parece um pouco mais com a descrição da linguagem infantil de Jean Piaget. Ele notou que, até uma certa idade, a linguagem das crianças era egocêntrica: falavam sem se preocupar em serem entendidas, falavam para si próprias.

A visão de que a luta política é uma sucessão de narrativas — eu crio a minha, você cria a sua e vamos em frente — acaba dando margem a uma conversa infantil e egocêntrica. Não importa se o outro acredita, essa é a minha verdade. Vou continuar repetindo-a, independentemente dos fatos. Eles são secundários, pois tenho uma narrativa.
Num país onde política e delinquência andam juntas, a atmosfera não está apenas coalhada de versões, mas de álibis. Para entendê-los, valho-me da experiência de repórter policial e não da política. Nesse campo, as negativas costumam ser radicais, como o criminoso que diz que estava fora de si, o corpo desobedeceu a mente.

Paulo Maluf diz que não tem conta na Suíça, a assinatura não é sua. Eduardo Cunha diz que apenas seu advogado pode dizer se tem ou não contas na Suíça. Dilma diz que no seu governo não há corrupção, Lula que não tinha intimidade com o pecuarista José Carlos Bumlai, a quem deu acesso livre ao seu gabinete.

Na verdade, não estão falando para a sociedade, mas para a polícia. Sua linguagem pode me parecer egocêntrica, pelos padrões de uma conversa adulta. Mas é a única que conseguem falar nesse momento. Os suspeitos seguem em cena e a vida do país se degradando, na economia com o desemprego, no meio ambiente com El Niño. 

Mais de uma centena de cidades do Rio Grande do Sul em emergência. Seca no Sudeste e no Nordeste. Em Minas, aumentou em 77% o número de incêndios em área de preservação ambiental. Três grandes metrópoles — São Paulo, Rio e Belo Horizonte vão ter menos água ainda. Falar de El Niño nesse universo político é arriscar o álibi uníssono; mas esse filho não é meu. Se as versões são livres, que tal esta, que o poeta Affonso Romano dizia, quando jovem pregador em Minas: “Arrependei-vos, ó raça de víboras, o juízo final está próximo”.

Fonte: Fernando Gabeira 


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Arquipélago Gulag

Uma História do Gulag

Diálogo em um Gulag quando da chegada de um novo preso:

-  Quantos anos você pegou?
                                     - Dez anos...
                                     - Por que?
                                     - Por nada...
             - Não é possível! Por nada as pessoas pegam 12 anos!

O GULAG (“Glavenoe Uporavlenie Lagerei”, Administração Central dos Campos) consistia em uma vasta rede de campos de trabalhos forçados que se espalhavam por todo o comprimento e toda a largura da ex-União Soviética, das ilhas do Mar Branco às costas do Mar Negro, do Círculo Ártico às planícies da Ásia Central, de Murmansk a Vorkuta e ao Cazaquistão, do centro de Moscou à periferia de Leningrado.

GULAG, com o tempo, passou a indicar também o próprio sistema soviético de trabalho escravo, em todas as suas formas e variedades: campos de trabalhos forçados, campos punitivos, campos criminais e políticos, campos femininos, campos infantis, campos de trânsito. Ou seja, todo o sistema repressivo soviético, o conjunto de procedimentos que os presos outrora denominaram como “o moedor de carne”: as prisões, os interrogatórios, o traslado em vagões de gado sem aquecimento, o trabalho forçado, a destruição de famílias, os anos de degredo e as mortes prematuras e desnecessárias.

O GULAG já existia na Rússia czarista, nas turmas de trabalho forçado que operaram na Sibéria desde o século XVII até o início do século XX. Entretanto, quase imediatamente após a Revolução de Outubro, ele assumiu sua forma moderna e mais familiar tornando-se parte integral do sistema soviético. O terror em massa contra oponentes reais ou pretensos fez parte da Revolução desde o começo. No verão de 1918, Lênin já exigira que “elementos indignos de confiança” fossem encarcerados em campos de concentração fora das cidades principais. Em 1921 já existiam 84 campos de concentração em 43 províncias, a maioria destinada a “reabilitar” esses primeiros inimigos do povo.

A partir de 1929, os campos adquiriram nova importância. Naquele ano, Stalin resolveu utilizar o trabalho forçado tanto para acelerar a industrialização da URSS quanto para explorar os recursos naturais do extremo norte, quase inabitável, do país. Também naquele ano, a polícia secreta soviética (a CHECKA), passou a assumir o controle do sistema penal, lentamente arrebatando ao Judiciário todos os campos e prisões. Com o impulso das prisões em massa de 1937 e 1938, os campos entraram num período de rápida expansão. No final da década de 1930, podiam ser encontrados em cada um dos doze fusos horários da URSS.

Ao contrário do que se imagina, o GULAG não parou de crescer no final dos anos 30. Ao invés disso, continuou a expandir-se durante toda a II Guerra Mundial e a década de 1940, atingindo seu apogeu no início dos anos 50. Nessa época os GULAG desempenhavam um papel crucial na economia soviética. Produziam um terço do ouro do país, boa parte do seu carvão e madeira e muito de quase tudo o mais. No decorrer da existência da URSS, surgiram pelo menos 476 complexos distintos de campos, consistindo em milhares de campos individuais, cada um deles tendo de algumas centenas a milhares de pessoas. Os presos trabalhavam em todas as atividades imagináveis – derrubada e cortes de árvores, transporte dessa madeira, mineração, construção civil, manufatura, agropecuária, projetos de aviões e peças de artilharia – e, na realidade, viviam em um Estado dentro do Estado, quase numa civilização em separado. 

O GULAG tinha suas próprias leis, seus próprios costumes, sua própria moralidade, e até sua própria gíria. Gerou sua própria literatura, seus próprios vilões, seus heróis, e deixou sua marca em todos os que passaram por ele, fossem como presos, fossem como guardas. Anos depois de libertados, os habitantes do GULAG muitas vezes eram capazes de reconhecer ex-condenados na rua, simplesmente “pelo olhar”. 

O número total de prisioneiros nos campos costumava girar em torno de 2 milhões, mas o número total de cidadãos soviéticos que tiveram alguma vivência dos campos, na condição de presos políticos, é muito maior. De 1919, quando o GULAG iniciou sua maior expansão, a 1953, quando morreu Stalin, as melhores estimativas indicam que cerca de 18 milhões de pessoas passaram por esse infame sistema.  Como sistema de trabalho em massa que envolveu milhões de pessoas, os campos desapareceram com a morte de Stalin. Dias após a sua morte seus sucessores começaram a desmantelá-los. 

No entanto, não desapareceram por completo. Em vez disso, eles evoluíram. Durante toda a década de 1970 e começo da década de 1980, alguns foram reformulados e usados como cárcere para uma nova geração de ativistas democráticos, de nacionalistas anti-soviéticos e de criminosos. Mesmo nos anos 80, o presidente norte-americano Ronald Reagan, e seu equivalente soviético, Mikhail Gorbachev, ainda discutiam a existência dos campos da URSS. Gorbachev – ele próprio neto de prisioneiros do GULAG só começaria a dissolver definitivamente os campos em 1987. 

Embora tenham durado tanto quanto a URSS e milhões de pessoas tenham passado por eles, a verdadeira história dos campos de concentração da União Soviética não era de modo algum bem conhecida até recentemente. Mesmo os fatos concisos até aqui relacionados, embora familiares à maioria dos estudiosos ocidentais da história soviética, não penetraram na consciência popular ocidental. “O conhecimento humano”, escreveu Pierre Rigoulot, historiador francês do comunismo, “não se acumula como tijolos de uma parede, que se eleva gradualmente, acompanhando o trabalho do pedreiro. Seu desenvolvimento, mas também sua estagnação ou recuo, depende da estrutura social, cultural e política” (Rigoulot, “Les Paupieres Lourdes”). 

Poder-se-ia dizer que, até agora, não existia a estrutura social, cultural e política para o conhecimento do GULAG. Suas localizações eram um segredo, mas o medo que despertava era bem conhecido por russos, lituanos, poloneses, armênios e tantos outros que viveram sob a influência da ex-União Soviética.  

Os campos de concentração do GULAG surgiram antes mesmo de seus infames contrapartes nazistas, como Auschwitz, Sobibor, Buchenwald e Treblinka, mas só agora, após o colapso do comunismo, a história desse sistema de repressão e punição que aterrorizou milhões, veio à luz com toda a sua força. Embora a existência desses campos já fosse conhecida no Ocidente, graças a clássicos como “Um Dia na Vida de Ivan Denisovitch” e “Arquipélago Gulag”, do dissidente Alexander Soljenitsin, aqueles que desejarem conhecer um retrato completo e acurado de um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade, deverão ler as 749 páginas do livro de Anne Applebaum “Gulag – Uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos”, editora Ediouro, 2004, de onde foram extraídos os dados acima.

Segundo diversos autores, o regime soviético sob a direção de todos os grandes timoneiros não tem precedentes em toda a História, pois não se assemelha a nada que jamais tenha existido. Nunca um Estado teve como objetivo matar, deportar ou reduzir à servidão os seus cidadãos e nunca um partido substituiu tão completamente um Estado. Nunca uma ditadura teve um poder tão grande em nome de uma mentira tão completa e, contudo, tão poderosa e tão perfeita sobre as mentes, que fazia com que os que a temiam, ao mesmo tempo saudassem seus fundamentos. [a idéia central, básica e total dos comunistas brasileiros, tanto os de 35, quanto os de 64 e os de agora sempre foi, é e sempre será a de suplantar o regime soviético - especialmente em autoritarismo, crueldade e desumanidade.

O poder que o PT busca supera em crueldade, autoritarismo e capacidade de corrupção todo o obtido pela NOMENKLATURA soviética.
Mas, sempre serão derrotados.]

O socialismo real cometeu uma agressão sem precedentes à civilização. Todavia, o Nuremberg dos bolcheviques não ocorreu e provavelmente jamais ocorrerá, pois as instituições jurídicas criadas pelo socialismo real que, em parte, ainda permanecem vigentes, foram de tal forma corrompidas a ponto de não permitirem iniciativas nesse sentido. E, como não existe um vencedor oficial do socialismo real, não houve e nem deverá haver um julgamento formal de seus crimes contra a Humanidade. Cabe, também, duvidar que o julgamento da História, consolo das vítimas, faça, algum dia, justiça aos milhões de sacrificados no Arquipélago Gulag.



Por: Carlos I. S. Azambuja é Historiador - Publicado originalmente no Blog Alerta Total - Jorge Serrão