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sábado, 27 de novembro de 2021

OS FASCISTAS, TODOS NÓS SABEMOS QUEM SÃO - Pedro Henrique Alves

Sabe o que é mais chato ao mundo político contemporâneo? A divisão ideológica e o avanço político sobre a vida comum; hoje não conseguimos mais nem comprar uma lata de leite condensado sem nos lembrarmos de Brasília ou das redações soviéticas que imperam em nosso mainstream. Semana passada, após escrever um texto para a Gazeta do Povo, um crítico perguntou-me qual era a minha qualificação para criticar Atila “Tamarindo”, o biólogo que clamou por um Autoritarismo necessário”. Vendo que eu não era doutor de nada a não ser em Call of Duty, cuspiu em todo o meu texto e me disse: “nem intelectual esse rapaz é, ignoremos”. Fica o aprendizado; realmente não sabia que era preciso solicitar a permissão do MEC para criticar tiranetes.

Há dois anos eu escolhi ser pai e, após isso, ser intelectual é uma das últimas prioridades em minha vida, depois, por exemplo, de comprar um sofá novo para minha esposa, criar meu filho e enteado, além, é claro, de comprar uma garrafa térmica Stanley Hydration para levar à academia.

As pessoas extrapolam em suas paixões, as turbas exageraram na ânsia de serem progressistas ou conformistas, facilmente se lambuzaram na retórica oportunista de posição ou oposição e acabam, por fim, deitadas de conchinha com suas cartilhas ideológicas. Enquanto isso, os sãos tentam entender a realidade através de seus olhos e não a partir dos diversos “ministérios da verdade” que pululam por aí. É exatamente aqui que começa a “treta”: quando a realidade não se adequa à narrativa oficial da mídia e do mainstream em geral, como num passe de mágica
ou como numa cirurgia de resignação sexual ?, você se torna um fascista oficial sem direito de defesa, um bolsonarista “passador de pano” abjeto, um “trumpista” da Ku Klux Klan e/ou um adorador de Hitler… tudo por tabela, sem demais análises ou debates.

Mas, vem cá, o progressismo consegue sempre ir além, né? Não demora muito e eles dão pinta de suas intenções, suas veias autoritárias saltam mesmo estando atrás de um sorriso sereno de “inclusão” amorosa. Logo eles dobram e guardam suas faces de “Teletubbies social” para assumir aquela feição de Stálin. Em um ano, relembremos, a turba que pede lockdown eterno conseguiu defender, justificar e aplaudir tudo aquilo que é danoso a uma sociedade sadia. Atualmente o progressismo sobrevive sob dois adjetivos determinantes: mediocridade moral e disposição tirânica. Da censura a conservadores, inquéritos de exceção contra jornalistas que não integram o mainstream tradicional, prisões de transeuntes em praças, restaurantes e praias, ao clamor por uma “ditadura necessária”, o pessoal que ama a humanidade conseguiu criar um sistema despótico de submissão àqueles que não concordavam com eles… tudo isso em meio a uma pandemia global. Olha, de certa maneira, é de admirar…

Se você guarda aquela mínima visão independente perante a realidade, não há como não perceber quem são aqueles que mais se afastam de uma visão liberal de existência social; já não está mais disfarçado quem são os que mais ameaçam a democracia ocidental. Pensem o seguinte, visualizando todo o panorama político atual: se homens como Adam Smith, Alexis de Tocqueville, Ludwig von Mises, Friedrich von Hayek, etc., se todos ainda vivessem, estariam mais assustados com Trump no poder ou com Biden? Se todos se encontrassem numa taverna qualquer nesse instante, eles estariam fortemente preocupados com a inclusão de transexuais nos esportes olímpicos, com a cor de pele de qualquer assistente do governo a fim de agradar o Black Lives Matter, ou com a censura descarada do Twitter aos que pensam diferente do establishment?

O pêndulo da liberdade e da dignidade individual que outrora Voltaire e Burke, apesar das premissas e ideias diferentes, defenderam e se ombrearam no intento de resguardar a todo custo, parece agora girar em seu eixo e parar na posição extremista de libertinagem no despotismo. Tem até “novos liberais” endossando essa velha cartilha despótica. Acreditam?  Nossa era parece aceitar com extrema parcimônia a ideia de que haja Big Tech’s que tenham, a um click de seus teclados, o poder de emudecer milhões de pessoas que não se adequam ou concordam com suas posições partidárias ou diretrizes ideológicas.

Como cético que sou, sempre estou pronto para que o feijão azede um pouco mais. A jornalista Maria Laura Assis denunciou que no estado de Formosa, na Argentina, há verdadeiros “campos de concentração” para infectados e suspeitos-de-estarem-infectados pelo coronavírus. Uma bizarrice que beira a sátira de South Park. Porém, é real. Pesquisando mais a fundo, não foi nada difícil encontrar vídeos, imagens e até coberturas jornalísticas de mídias mais independentes daquele país que mostram uma realidade bizarra, macabra, que não só lembra o nazismo, como o copia com certa lealdade.

No melhor estilo soviético denunciado por Alexander Soljenítsin em Arquipélago Gulag, as dezenas de denunciantes desse absurdo afirmam que os policiais argentinos invadiram as suas casas dizendo que os indivíduos e suas famílias teriam que acompanhá-los para os campos de isolamento forçado pois, ou estavam infectados, ou tiveram contato com infectados. Aqueles que se negam a ir por bem são levados à força.

Calma, tem como azedar mais. O canal argentino identificado com as letras “TN” entrevistou uma mãe, Monica, que foi presa nesse campo com sua filha de 4 anos. Isso mesmo, 4 anos. Ela relata o terror do confinamento, estando os campos em espaços ermos, os supostos médicos apenas mediam suas temperaturas e nada mais, sem se deixarem identificar de modo algum. As denúncias chegam ao patamar do absurdo quando se nota a precariedade dos locais; banheiros sujos, pessoas deitadas em colchões podres, ratos, cobras, janelas gradeadas.

Se um desavisado começar a leitura do parágrafo acima, poderia facilmente deduzir que estamos falando da Alemanha nazista e não da Argentina socialista de Alberto Fernández.

Na Saxôniarelatos da imprensa local acenam para a possibilidade de criar espaços para isolar à força infectados que se recusam a seguir a quarentena; isso, a meu ver, é errado em todo o mundo, mas na Alemanha soa ainda pior. E não, não estou “passando pano” para Bolsonaro ao dizer tudo isso; eu pouco me importo com governos, na realidade. Importo-me mais com a minha biblioteca e meu gato do que com Bolsonaro; ou até mesmo com a sua opinião sobre mim, ou com o sexo frágil de Fiuk e a militância da “Carol com K”.

Você pode estar de nariz torcido nesse instante, pensando: “por que estou lendo um texto desse?” Tá bom, já vou finalizar; mas antes entremos num campo da completa sinceridade. Fechamos este pacto aqui, sem ninguém ver.

Depois de um bom banho, no final de um dia estressante de trabalho, sentado na poltrona mais gostosa de sua casa, com um jazz de fundo e uma taça de vinho na mão, ali é, enfim, permitido sermos sinceros de verdade ante à realidade. Ninguém nos vê, ninguém nos escuta. Não precisamos mais fazer média para os grupos a que pertencemos; não precisamos nos portar galantes na frente da moça ou rapaz com que flertamos, e nem fingir que nos importamos com qualquer inclusão social ou com as girafas da Amazônia.

Ali, na poltrona da franqueza, está liberado falar e pensar asneiras ridículas, xingar a mãe, a ex e o Papa, podemos até assistir ao BBB para depois dizer que quem assiste é idiota útil. Ninguém julgará. Naquela poltrona, vertidos na sinceridade de um estado de natureza, afastados dos compromissos sociais, ideológicos e das amarras psicológicas, podemos então admitir o que todos nós sabemos: não são os ditos “conservadores” as reais ameaças às liberdades no Brasil e no Mundo. Não são os tios do zap os fascistas, nem o agora aleijado Oswaldo Eustáquio. O Tião e a Neide, o Joaquim e Chica, que compartilham vídeos do Bolsonaro levantando a lata de Leite Moça, não estão mancomunados numa rede subalterna de neonazistas de Jacareí ou de Osasco, definitivamente não estão programando um atentado a bomba aos sacrossantos juízes do STF.

Isso é narrativa midiática vadia, nós sabemos, todos sabemos; esse fascismo apregoado nos conservadores brasileiros é mentiroso. Hoje a ameaça ao modelo liberal de vida, duramente construído e maturado no Ocidente, é só uma: o progressismo. É ele que clama por um “autoritarismo necessário”, um fascismo de arco-íris e pôneis transexuais, uma ditadura psicopata pintada de marshmallows rosa. Podem me xingar nos comentários; me escrachem nos grupelhos de lacração; mas nós sabemos.

Artigo publicado originalmente no site do IL em 12/02/2021.

O autor é filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

 


quinta-feira, 30 de setembro de 2021

IGREJA E COMUNISMO: UM SÉCULO DE EMBATES - Brian Kranick

A Igreja Católica nunca se deixou enganar pelas trapaças do socialismo e do comunismo. Encíclicas atrás de encíclicas denunciaram, desde o princípio, a falsa ideologia de Marx e Engels.

Os últimos cem anos, de 1917 a 2017, têm sido como uma recapitulação do protoevangelho, quando Deus disse à serpente: "Porei inimizade entre ti e a mulher" (Gn 3, 15). Trata-se de uma guerra secular que representa o período mais acentuado desta inimizade. Tudo começou em 1917, com as revelações de Nossa Senhora de Fátima, de um lado, e a Revolução Russa, que levou à implantação do comunismo ateu, de outro. Quais seriam as chances de tamanha coincidência?

Ao longo dos últimos cem anos, a forma mais grotesca que o "corpo místico" do Anticristo já adotou é, sem sombra de dúvida, o materialismo ateu, incorporado mundo afora por governos socialistas e comunistas. A serpente tornou-se Leviatã. Antes da Revolução de Outubro, Maria já advertira, em julho de 1917, que a Rússia espalharia "os seus erros pelo mundo, provocando guerras e perseguições contra a Igreja". O resto, como sabemos, é história.

Este centenário da Revolução de Outubro é uma grande oportunidade para trazer à memória o "horrendo flagelo" — como lhe chamou Pio XI (cf. Encíclica "Divini Redemptoris", de 19 mar. 1937, n. 7) — que vergastou o mundo através das perversas armadilhas do socialismo e do comunismo. Isto é particularmente importante na medida em que as elites culturais do Ocidente e seus simpatizantes vêm há tempos forcejando por minimizar os males do marxismo, como parece ser a intenção do jornal The New York Times, com sua "série de apaixonadas e saudosas recordações dos bons e velhos tempos do comunismo do século passado" [1].

Talvez seja mesmo chegada a hora de passar em revista esses tempos felizes do "século vermelho" com uma relaxante leitura de O Livro Negro do Comunismo ou O Arquipélago Gulag, de Solzhenitsyn. Mas, afinal, o que poderia ser mais enriquecedor do que dedicar um tempo a ler sobre o Grande Salto Adiante e a Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung? Melhor ainda: que tal estourar um saco de pipocas e assistir a Os gritos do silêncio [2], um filme para divertir toda a família?

Alguns, porém, talvez se perguntem: "E quanto ao socialismo do século XXI?" Ora, basta dar uma rápida olhada nas notícias que chegam da Venezuela. Há não muito tempo, a Venezuela era uma país próspero, abundante em petróleo; numa palavra, um milagre socialista! Mas agora, após dezoito anos de marxismo, entre Chávez e Maduro, o país não passa de um inferno socialista. Muitos ali têm passado fome — uma especialidade comunista —, não lhes sobrando outra alternativa senão roubar ou comer animais de zoológico, prática na qual parecem ter especial predileção por carne de búfalo e porco-do-mato.

Isso, infelizmente, não é incomum às experiências socialistas; antes, pelo contrário, constitui a regra geral. A alimentação venezuelana, contudo, deve ainda assim ser mais agradável que a dieta à base de mato e casca imposta aos reclusos na prisão estatal da Coreia do Norte. Os fatos históricos revelam que os demagogos comunistas foram responsáveis pela morte de 140 milhões de pessoas [3], desde Lênin até Stalin, passando por Mao Tsé-Tung, Pol Pot, Kim Jong-un, Chávez, Che Guevara, Fidel Castro... e a lista poderia ir-se alongando. Lênin disse, no final das contas, que é preciso quebrar uns tantos ovos para fazer uma omelete: 140 milhões de ovos quebrados; eis aí uma omelete gigante!

A Igreja, por sua vez, nunca se deixou enganar pelas trapaças do socialismo e do comunismo. Encíclicas atrás de encíclicas denunciaram, desde o princípio, a falsa ideologia de Marx e Engels. De fato, o Catecismo o afirma claramente: "A Igreja rejeitou as ideologias totalitárias e atéias, associadas, nos tempos modernos, ao 'comunismo' ou ao 'socialismo'" (n. 2425). O Catecismo, porém, é curto e sucinto, ao passo que as encíclicas papais são ricas em detalhes e categóricas em suas condenações.

Em 1846, o Papa Pio IX promulgou a encíclica "Qui Pluribus", sobre fé e religião, na qual já combatia vigorosamente as ideias de Marx, que em 1848 publicaria O Manifesto Comunista. Pio IX ali se referia à "nefanda doutrina do comunismo, contrária ao direito natural, que, uma vez admitida, lança por terra os direitos de todos, a propriedade e até mesmo a sociedade humana". Ele advertia contra "as mais perversas criações de homens que, trajados por fora com peles de ovelha, por dentro não passam de lobos rapaces".

Em 1878, o Papa Leão XIII escrevia sobre os males do socialismo na encíclica "Quod Apostolici Muneris". O Pontífice começa a carta referindo-se à "praga mortífera que se tem difundido no seio mesmo da sociedade humana, conduzindo-a ao abismo da destruição". Leão XIII aponta em seguida que "as facções dos que, sob diversas e quase bárbaras designações, chamam-se socialistas, comunistas ou niilistas, espalhados ao redor do mundo e unidos pelos laços estreitíssimos de uma perversa confederação, já não se põem ao abrigo da sombra de reuniões secretas, senão que, marchando aberta e confiadamente à luz do dia, ousam levar a cabo o que há muito tempo vêm maquinando: a derrocada de toda a sociedade civil".

A encíclica também chamava a atenção para o projeto socialista de destruição do matrimônio e da família. Para os socialistas, com efeito, não pode haver maior fidelidade, nem mesmo a Deus e à família, do que a obediência ao Estado todo-poderoso. Leão XIII afirmava ainda que "os fundamentos da sociedade repousam, antes de tudo, sobre a união indissolúvel entre os esposos, conforme as exigências da lei natural". E no entanto "as doutrinas socialistas aspiram por dissolver quase por completo os elos desta união".

Treze anos depois, em 1891, Leão XIII voltou a escrever outra encíclica, "Rerum Novarum", a respeito do trabalho, do capital e da classe operária. Trata-se do texto fundacional da doutrina social católica nos tempos modernos. Dizia o Pontífice: "Os socialistas, para curar este mal, instigam nos pobres o ódio invejoso contra os que possuem e pretendem que toda a propriedade de bens particulares deve ser suprimida". Isto, declarou a Igreja, "é sumamente injusto" e "o remédio proposto está em oposição flagrante com a justiça, porque a propriedade particular e pessoal é, para o homem, de direito natural".

O socialismo ergue-se sobre as bases da cobiça, ou seja, uma transgressão do nono e décimo Mandamentos. Eis o que diz a "Rerum Novarum": "A autoridade das leis divinas vem pôr [...] o seu selo, proibindo, sob pena gravíssima, até mesmo o desejo do que pertence aos outros". O socialismo se baseia, além disso, na falsa ideia da luta de classes. Também para dissipar este erro Leão XIII levantou a voz: "O erro capital na questão presente é crer que as duas classes são inimigas natas uma da outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os pobres para se combaterem mutuamente num duelo obstinado. Isto é uma aberração tal que é necessário colocar a verdade numa doutrina contrariamente oposta".

Como já o fizera em encíclicas anteriores, Leão XIII insiste em defender contra as investidas socialistas as instituições familiar e matrimonial: "À família [...] será forçosamente necessário atribuir certos direitos e certos deveres absolutamente independentes do Estado". "Querer, pois, que o poder civil invada arbitrariamente o santuário da família é um erro grave e funesto."

Em 1931, o Papa Pio XI divulgou a carta "Quadragesimo Anno", por ocasião do 40.ª aniversário da encíclica "Rerum Novarum", à qual chamou a "Carta Magna" da doutrina social católica. Pio XI afirma sem rodeios: "Declaramos: o socialismo quer se considere como doutrina, quer como fato histórico, ou como 'ação' [...] não pode conciliar-se com a doutrina católica". O Pontífice foi ainda mais longe, ao dizer: "Se este erro, como todos os mais, encerra algo de verdade [...], funda-se contudo numa concepção própria da sociedade humana diametralmente oposta à verdadeira doutrina católica. 'Socialismo religioso' e 'socialismo católico' são termos contraditórios: ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista".

Mas o que pensar do socialismo mitigado? Também este fustigou-o o Papa de forma bastante sucinta: "Citamos novamente a juízo o comunismo e o socialismo, e vimos o quanto as suas formas, ainda as mais mitigadas, se desviam dos ditames do Evangelho". Reiterá-lo-ia anos depois o Papa João XXIII, em sua encíclica "Mater et Magistra", de 1961: "Entre comunismo e cristianismo, o Pontífice [Pio XI] declara novamente que a oposição é radical, e acrescenta que não se pode admitir de maneira alguma que os católicos adiram ao socialismo moderado".

E, para ser justo, Pio XI repreendeu também o "individualismo" e o capitalismo extremos por não respeitarem a dignidade humana do trabalhador, cuja atividade não pode ser vendida como um "um simples gênero comercial". O Pontífice apontava ainda que o remédio mais necessário consiste, não na reação violenta dos socialistas em ordem ao desmantelamento do livre mercado, mas, antes de tudo, na "reforma dos costumes". De fato, a postura da Igreja frente a esses problemas sempre foi ponderada, resguardando os direitos tanto do empregado quanto do empregador, mediante uma volta à caridade cristã e ao zelo pelo bem do próximo.

Sua crítica mais dura, no entanto, reservou-a Pio XI à "peste comunista", cujas ações e intenções são desmascaradas nos seguintes termos: "guerra de classes sem tréguas nem quartel e completa destruição da propriedade particular"; "a tudo se atreve, nada respeita; uma vez no poder, é incrível e espantoso quão bárbaro e desumano se mostra"; "aí estão a atestá-lo as mortandades e ruínas"; "ódio declarado contra a Santa Igreja e contra o mesmo Deus"; "a impiedade e iniquidade do comunismo"; "doutrinas que porão a sociedade a ferro e fogo"; "abre caminho à subversão e ruína completa da sociedade."

Mas o Papa não parou por aí. Em 1937, veio a lume outra de suas encíclicas, a "Divini Redemptoris", a respeito do comunismo ateu. O Pontífice não poupou palavras. Exortou a que "os fiéis não se deixem enganar! O comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir em campo nenhum a colaboração com ele, da parte de quem quer que deseje salvar a civilização cristã". É um "sistema cheio de erros e sofismas". A encíclica tinha em mente o "perigo ameaçador" do "comunismo, denominado bolchevista e ateu, que se propõe como fim peculiar revolucionar radicalmente a ordem social e subverter os próprios fundamentos da civilização cristã."

O comunismo é particularmente nocivo, já que "priva a pessoa humana da sua dignidade". "Os direitos naturais [...] são negados ao [...] indivíduo para serem atribuídos à coletividade". E é precisamente por isso que "qualquer direito de propriedade privada [...] tem de ser radicalmente destruído". É a coletividade que legisla em matérias de matrimônio e família. "O matrimônio e a família são apenas uma instituição civil e artificial", dependente "da vontade dos indivíduos ou da coletividade". É o ressurgimento das "cartas de divórcio". A difusão do comunismo foi possível graças à propaganda diabólica dos "filhos das trevas" e à "conspiração do silêncio" orquestrada pela imprensa não-católica, silêncio devido em parte às "diversas forças ocultas que já há muito porfiam por destruir a ordem social cristã". Isso soa familiar.

Em 1991, o Papa João Paulo II publicou a "Centesimus Annus", em comemoração ao centenário da "Rerum Novarum". Esta nova encíclica reafirmava o ensinamento segundo o qual a raiz do totalitarismo moderno encontra-se na negação da dignidade transcendental da pessoa humana. O socialismo "considera cada homem simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social, de tal modo que o bem do indivíduo aparece totalmente subordinado ao funcionamento do mecanismo econômico-social". "Luta de classes em sentido marxista e militarismo têm, portanto, a mesma raiz: o ateísmo e o desprezo da pessoa humana, que fazem prevalecer o princípio da força sobre o da razão e do direito". Como sabiamente notou Fulton Sheen, "o comunismo pretende estabelecer o impossível: uma irmandade entre os homens prescindindo da paternidade divina".

George Orwell conhecia bem o engodo socialista, adaptando-lhe o mantra em sua obra A Revolução dos Bichos: "Todos os animais são iguais", e no entanto, como dirá o porco a certa altura da história, "alguns animais são mais iguais do que outros". A sua verdadeira face, uma hora ou outra, acaba sendo descoberta. É o "duplipensar" do Partido. E como são estranhamente atuais o "pensar criminoso" e a "patrulha ideológica" de 1984 no ambiente politicamente correto que se respira nas universidades norte-americanas e em tantos governos europeus! O Muro de Berlim veio abaixo e a União Soviética dissolveu-se, mas o marxismo cultural está forte como nunca.

As vanguardas progressistas da esquerda são os herdeiros ideológicos do socialismo e do comunismo do século XX. Eles fazem avançar a revolução ao adotarem os "erros da Rússia" e atacarem a propriedade privada, o livre mercado, a liberdade individual e a livre expressão, o casamento e a família tradicionais, a liberdade de consciência e a liberdade de culto. Talvez não haja agora mesmo um "império do mal", um único Estado totalitário; o que há, isso sim, é um totalitarismo das inteligências, a pressão imperiosa exercida pelos media, pela educação, pelos governos e sistemas judiciais. O Big Brother continua à espreita.

 Mas ainda há esperança. A Igreja triunfou, sim, do comunismo ateu, e Cristo garantiu-nos que as portas do inferno não hão de prevalecer contra ela. Nos sombrios idos de 1917, em meio à Primeira Guerra Mundial e à difusão dos males do comunismo ateu, a Virgem Maria prometeu: "No fim, o meu Imaculado Coração triunfará". Sim, o Leviatã continua furioso e com o chicote em mãos; sua cabeça, porém, já foi esmagada.

Referências

 *Reproduzido de www.padrepauloricardo.org

1.       Robert Tracinski, "Why Is The New York Times Trying To Rehabilitate Communism?", em: The Federalist, 3 ago. 2017.

2.       Em inglês, The Killing Fields, filme de 1984 sobre a ditadura comunista de Pol Pot no Camboja.

3.       Cf. os dados levantados por Paul Kengor em The Politically Incorrect Guide to Communism.

 

terça-feira, 26 de julho de 2016

A mentira é oxigênio do comunismo



Na última quarta-feira (20/7), reuniu-se no Rio de Janeiro um grupo de juristas escolhidos a dedo para compor certo "Tribunal Internacional pela Democracia no Brasil". O nome da inaudita corte confessa um perfeito enquadramento: trata-se de promover a defesa da democracia "no Brasil". Venezuela, Cuba e outros são situações especiais. Se observarmos bem a imagem veremos uma bandeirinha da Venezuela sobre a mesa dos trabalhos... A decisão final afirma que o processo jurídico e político em curso no Brasil "viola a Constituição brasileira, a Convenção Americana de Direitos Humanos e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, constituindo um verdadeiro golpe de Estado”.

O evento, que transcorreu no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro, foi uma promoção conjunta da Via Campesina Internacional, Frente Brasil Popular e Frente Brasil Juristas pela Democracia, com apoio de diversas organizações sociais, entre elas a CUT. O bicho, como se vê, tem couro de jacaré, rabo de jacaré, anda como jacaré e não vai para o céu porque tem boca grande e só fala mentiras. Mas as mentiras, bem sabemos, adquirem consistência pela repetição. Mais ainda se proferidas por supostas autoridades. 

Ninguém prestaria atenção numa mentira da Via Campesina, nem de certos juristas brasileiros que são conhecidos porta-estandartes nos desfiles da Unidos pela Estrela. No entanto, um grupo de pessoas com nomes estranhos e estrangeiros, como as senhoras Azadeh N. Shahshahani, Almudema Barnabeu e Lawrence Cohen, chama atenção. Esse processo está muito bem descrito e fartamente exemplificado no livro Disinformation, do general dissidente Ion Mihai Pacepa. Os russos da KGB, hoje FSB, eram mestres nesses estratagemas.

O site Brasil 247, entre outros, abriu manchete: "Tribunal Internacional conclui que impeachment de Dilma é golpe de Estado". Tribunal Internacional com qual legitimidade, caras-pálidas? Quem proporcionou a essa trupe homogênea autoridade superior à Constituição do Brasil, às duas casas do Congresso Nacional e ao longo e ponderado rito em curso, que já leva meses, conforme definido e acompanhado pelo Supremo Tribunal Federal?

Quanta razão tinha o grande escritor russo Alexander Soljenitzin, Nobel de literatura e autor do Arquipélago Gulag: "O pior do comunismo não é a opressão, mas a mentira"!

http://puggina.org


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Arquipélago Gulag

Uma História do Gulag

Diálogo em um Gulag quando da chegada de um novo preso:

-  Quantos anos você pegou?
                                     - Dez anos...
                                     - Por que?
                                     - Por nada...
             - Não é possível! Por nada as pessoas pegam 12 anos!

O GULAG (“Glavenoe Uporavlenie Lagerei”, Administração Central dos Campos) consistia em uma vasta rede de campos de trabalhos forçados que se espalhavam por todo o comprimento e toda a largura da ex-União Soviética, das ilhas do Mar Branco às costas do Mar Negro, do Círculo Ártico às planícies da Ásia Central, de Murmansk a Vorkuta e ao Cazaquistão, do centro de Moscou à periferia de Leningrado.

GULAG, com o tempo, passou a indicar também o próprio sistema soviético de trabalho escravo, em todas as suas formas e variedades: campos de trabalhos forçados, campos punitivos, campos criminais e políticos, campos femininos, campos infantis, campos de trânsito. Ou seja, todo o sistema repressivo soviético, o conjunto de procedimentos que os presos outrora denominaram como “o moedor de carne”: as prisões, os interrogatórios, o traslado em vagões de gado sem aquecimento, o trabalho forçado, a destruição de famílias, os anos de degredo e as mortes prematuras e desnecessárias.

O GULAG já existia na Rússia czarista, nas turmas de trabalho forçado que operaram na Sibéria desde o século XVII até o início do século XX. Entretanto, quase imediatamente após a Revolução de Outubro, ele assumiu sua forma moderna e mais familiar tornando-se parte integral do sistema soviético. O terror em massa contra oponentes reais ou pretensos fez parte da Revolução desde o começo. No verão de 1918, Lênin já exigira que “elementos indignos de confiança” fossem encarcerados em campos de concentração fora das cidades principais. Em 1921 já existiam 84 campos de concentração em 43 províncias, a maioria destinada a “reabilitar” esses primeiros inimigos do povo.

A partir de 1929, os campos adquiriram nova importância. Naquele ano, Stalin resolveu utilizar o trabalho forçado tanto para acelerar a industrialização da URSS quanto para explorar os recursos naturais do extremo norte, quase inabitável, do país. Também naquele ano, a polícia secreta soviética (a CHECKA), passou a assumir o controle do sistema penal, lentamente arrebatando ao Judiciário todos os campos e prisões. Com o impulso das prisões em massa de 1937 e 1938, os campos entraram num período de rápida expansão. No final da década de 1930, podiam ser encontrados em cada um dos doze fusos horários da URSS.

Ao contrário do que se imagina, o GULAG não parou de crescer no final dos anos 30. Ao invés disso, continuou a expandir-se durante toda a II Guerra Mundial e a década de 1940, atingindo seu apogeu no início dos anos 50. Nessa época os GULAG desempenhavam um papel crucial na economia soviética. Produziam um terço do ouro do país, boa parte do seu carvão e madeira e muito de quase tudo o mais. No decorrer da existência da URSS, surgiram pelo menos 476 complexos distintos de campos, consistindo em milhares de campos individuais, cada um deles tendo de algumas centenas a milhares de pessoas. Os presos trabalhavam em todas as atividades imagináveis – derrubada e cortes de árvores, transporte dessa madeira, mineração, construção civil, manufatura, agropecuária, projetos de aviões e peças de artilharia – e, na realidade, viviam em um Estado dentro do Estado, quase numa civilização em separado. 

O GULAG tinha suas próprias leis, seus próprios costumes, sua própria moralidade, e até sua própria gíria. Gerou sua própria literatura, seus próprios vilões, seus heróis, e deixou sua marca em todos os que passaram por ele, fossem como presos, fossem como guardas. Anos depois de libertados, os habitantes do GULAG muitas vezes eram capazes de reconhecer ex-condenados na rua, simplesmente “pelo olhar”. 

O número total de prisioneiros nos campos costumava girar em torno de 2 milhões, mas o número total de cidadãos soviéticos que tiveram alguma vivência dos campos, na condição de presos políticos, é muito maior. De 1919, quando o GULAG iniciou sua maior expansão, a 1953, quando morreu Stalin, as melhores estimativas indicam que cerca de 18 milhões de pessoas passaram por esse infame sistema.  Como sistema de trabalho em massa que envolveu milhões de pessoas, os campos desapareceram com a morte de Stalin. Dias após a sua morte seus sucessores começaram a desmantelá-los. 

No entanto, não desapareceram por completo. Em vez disso, eles evoluíram. Durante toda a década de 1970 e começo da década de 1980, alguns foram reformulados e usados como cárcere para uma nova geração de ativistas democráticos, de nacionalistas anti-soviéticos e de criminosos. Mesmo nos anos 80, o presidente norte-americano Ronald Reagan, e seu equivalente soviético, Mikhail Gorbachev, ainda discutiam a existência dos campos da URSS. Gorbachev – ele próprio neto de prisioneiros do GULAG só começaria a dissolver definitivamente os campos em 1987. 

Embora tenham durado tanto quanto a URSS e milhões de pessoas tenham passado por eles, a verdadeira história dos campos de concentração da União Soviética não era de modo algum bem conhecida até recentemente. Mesmo os fatos concisos até aqui relacionados, embora familiares à maioria dos estudiosos ocidentais da história soviética, não penetraram na consciência popular ocidental. “O conhecimento humano”, escreveu Pierre Rigoulot, historiador francês do comunismo, “não se acumula como tijolos de uma parede, que se eleva gradualmente, acompanhando o trabalho do pedreiro. Seu desenvolvimento, mas também sua estagnação ou recuo, depende da estrutura social, cultural e política” (Rigoulot, “Les Paupieres Lourdes”). 

Poder-se-ia dizer que, até agora, não existia a estrutura social, cultural e política para o conhecimento do GULAG. Suas localizações eram um segredo, mas o medo que despertava era bem conhecido por russos, lituanos, poloneses, armênios e tantos outros que viveram sob a influência da ex-União Soviética.  

Os campos de concentração do GULAG surgiram antes mesmo de seus infames contrapartes nazistas, como Auschwitz, Sobibor, Buchenwald e Treblinka, mas só agora, após o colapso do comunismo, a história desse sistema de repressão e punição que aterrorizou milhões, veio à luz com toda a sua força. Embora a existência desses campos já fosse conhecida no Ocidente, graças a clássicos como “Um Dia na Vida de Ivan Denisovitch” e “Arquipélago Gulag”, do dissidente Alexander Soljenitsin, aqueles que desejarem conhecer um retrato completo e acurado de um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade, deverão ler as 749 páginas do livro de Anne Applebaum “Gulag – Uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos”, editora Ediouro, 2004, de onde foram extraídos os dados acima.

Segundo diversos autores, o regime soviético sob a direção de todos os grandes timoneiros não tem precedentes em toda a História, pois não se assemelha a nada que jamais tenha existido. Nunca um Estado teve como objetivo matar, deportar ou reduzir à servidão os seus cidadãos e nunca um partido substituiu tão completamente um Estado. Nunca uma ditadura teve um poder tão grande em nome de uma mentira tão completa e, contudo, tão poderosa e tão perfeita sobre as mentes, que fazia com que os que a temiam, ao mesmo tempo saudassem seus fundamentos. [a idéia central, básica e total dos comunistas brasileiros, tanto os de 35, quanto os de 64 e os de agora sempre foi, é e sempre será a de suplantar o regime soviético - especialmente em autoritarismo, crueldade e desumanidade.

O poder que o PT busca supera em crueldade, autoritarismo e capacidade de corrupção todo o obtido pela NOMENKLATURA soviética.
Mas, sempre serão derrotados.]

O socialismo real cometeu uma agressão sem precedentes à civilização. Todavia, o Nuremberg dos bolcheviques não ocorreu e provavelmente jamais ocorrerá, pois as instituições jurídicas criadas pelo socialismo real que, em parte, ainda permanecem vigentes, foram de tal forma corrompidas a ponto de não permitirem iniciativas nesse sentido. E, como não existe um vencedor oficial do socialismo real, não houve e nem deverá haver um julgamento formal de seus crimes contra a Humanidade. Cabe, também, duvidar que o julgamento da História, consolo das vítimas, faça, algum dia, justiça aos milhões de sacrificados no Arquipélago Gulag.



Por: Carlos I. S. Azambuja é Historiador - Publicado originalmente no Blog Alerta Total - Jorge Serrão