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quarta-feira, 27 de julho de 2022

O que a Rússia ganha no acordo de cereais com a Ucrânia? - VOZES

Filipe Figueiredo

Uma foto tirada durante uma visita organizada pelos militares russos mostra trabalhadores locais secando trigo em uma fazenda agrícola no distrito de Starobilsk, região de Luhansk, Ucrânia, 12 de julho de 2022| Foto: EFE/EPA/SERGEI ILNITSKY


Na última sexta-feira, dia 22, Rússia e Ucrânia assinaram um acordo que potencialmente desbloqueará as exportações de cereais pelo Mar Negro. O acordo foi assinado em Istambul, maior cidade da Turquia, país que mais tem desempenhado um papel de mediador no conflito, e a Organização das Nações Unidas também participou das conversas que resultaram no acordo. O que o texto determina e, principalmente, quais os interesses por trás dele?

Na mais recente coluna aqui em nosso espaço, mencionamos que era hora de revisitar a coluna sobre petróleo e gás natural escrita no início da guerra. Agora é hora de fazer o mesmo sobre a produção e trânsito de cereais no Mar Negro. A assinatura do acordo foi feita pelo ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, por seu homólogo turco, Hulusi Akar, e pelo ministro de Infraestrutura da Ucrânia, Oleksandr Kubrakov. Estavam presentes o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o presidente da Turquia, Recep Erdogan.

Os ministros da Rússia e da Ucrânia não se cumprimentaram, nem sentaram próximos. Como de se esperar, convenhamos. Também deixaram claros que era um acordo pontual, que não significa uma trégua maior ou parte de uma negociação para o fim do conflito. Inclusive, juridicamente falando, tratam-se de dois acordos triangulares e idênticos. Ambos incluem a Turquia e a ONU, mas um envolve a Rússia e o outro envolve a Ucrânia. Os dois países em guerra não assinaram um mesmo documento.

Veja Também: Ucrânia e Rússia criam corredor marítimo para exportação de grãos

Acordo
Os termos do acordo valerão por 120 dias, podendo ser renovados. Ele estabelece a abertura de três portos, incluindo o de Odessa, o maior porto sob controle ucraniano. Dos portos, os navios civis de transporte de cereais viajarão por corredores de navegação determinados. Esses corredores permitirão que os navios transitem em águas seguras, sem o risco de minas, amplamente utilizadas no conflito. Os navios seguirão viagem até a Turquia, onde vão desembarcar suas cargas.

Na Turquia, os navios serão inspecionados por equipes neutras, uma exigência russa para evitar que os navios sejam usados para o transporte de materiais bélicos na viagem de volta, já que a Turquia é um país da OTAN e que também forneceu materiais bélicos para a Ucrânia, como veículos aéreos não tripulados, o popular drone. A meta do acordo é que até cinco milhões de toneladas de cereais, como trigo, sejam exportados por mês. Segundo o governo ucraniano, até dez bilhões de dólares podem ser arrecadados no curto prazo, com a exportação de grãos em estoque.

A meta citada, importante frisar, envolve todos os cereais comercializados pela Ucrânia, não apenas trigo. Antes da guerra, transitavam pelo Mar Negro mais de setenta milhões de toneladas de trigo, mais de 10% de toda a produção mundial do cereal. Ou seja, o acordo pode diminuir os impactos da guerra no mercado mundial de alimentos, mas não vai retornar ao mundo pré-guerra. Isso seria uma ilusão, considerando também que alguns portos ainda estão bloqueados ou ocupados e que parte da produção foi destruída ou prejudicada pelos combates.

O acordo possui um significado amplo e multilateral, além dos significados para cada um de seus atores.  
Para o mundo, o acordo significa a normalização do atual conflito, o fim das posturas que acreditavam em um possível fim rápido ou que as negociações de paz eram promissoras. 
O fato agora é que o mundo terá que conviver com essa guerra por mais algum tempo, sejam meses ou, quiçá, anos. 
Essa convivência implica no gerenciamento da guerra e de seus impactos, como justamente o suprimento de cereais no mundo.

Ganhos
Pensando nos atores do acordo, o que a Ucrânia ganha é óbvio. Uma urgente válvula de escape para exportar sua produção agrícola, parte importante de sua economia e de sua balança comercial, garantindo a entrada de capitais necessários tanto para a guerra quanto para a reconstrução do país. Também existe o ganho de imagem, de país importante para o comércio mundial, e de resiliência, de que a defesa ucraniana conquistou não apenas tempo, mas também o direito do país de retomar suas exportações agrícolas.

A Turquia ganha como potência regional e principal mediadora do conflito,
um país que equilibra suas relações com a Rússia, um grande parceiro econômico, fornecedor de armamentos e de tecnologia e, ao mesmo tempo, um rival, tanto histórico quanto atual. Turquia e Rússia estão em lados opostos em  conflitos no Cáucaso e na Síria. Também possui boas relações com a Ucrânia, fornecendo armamentos e apoio econômico. Além disso, a movimentação nos portos turcos é bem-vinda.

A ONU ganha com o acordo aparecendo não só como mediadora, mas como representante das necessidades dos países mais vulneráveis ao conflito, afetados com o fantasma da escassez alimentar, pela África e pela Ásia Central. Dentro da lógica citada, de gerenciamento do conflito, a ONU torna-se gerente das crises indiretamente causadas pela guerra. Finalmente, e a Rússia? O que o país ganha em fazer o que é, em concretude, uma concessão aos ucranianos?

Rússia
O bloqueio das exportações ucranianas, para a Rússia, antes de ser um problema global, era uma arma, uma ferramenta na guerra, uma maneira de sufocar a economia de seu inimigo e pressionar a comunidade internacional a diminuir as sanções contra a economia da própria Rússia. A Rússia não ganha, mas mantém influência e aliados em algumas de suas relações que começavam a sofrer um processo de erosão, especialmente nas regiões afetadas pela escassez de alimentos.

Na Ásia Central, no Oriente Médio e na África, governos já começavam a expressar seu descontentamento com a Rússia em relação ao assunto, e Moscou, também grande produtora e exportadora de cereais, se desdobrava para poder atender aos seus aliados. Não é à toa que Sergei Lavrov, ministro de Relações Exteriores da Rússia, iniciou uma viagem pela África depois da assinatura do acordo. Egito, República Democrática do Congo, Uganda e Etiópia estão no itinerário.

Desses países, Egito e Etiópia são importadores de trigo, especialmente da Ucrânia e da Rússia. Além disso, na Etiópia, cuja capital é o local da sede da União Africana, Lavrov vai se encontrar com diversos outros embaixadores africanos. Como maneira de equilibrar o jogo, Washington enviou seu diplomata especial para o Chifre da África, Mike Hammer, para o Egito e a Etiópia. É nessas arenas, na África e na Ásia, que a Rússia buscará colher os eventuais ganhos do acordo realizado.

Filipe Figueiredo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 3 de julho de 2022

Defesa - Quem são os adversários da OTAN? - Luis Kawaguti

Vozes - Jogos de Guerra

 Cúpula da OTAN em Madri, nesta semana: declaração feita pelos países da aliança deixa claro que o mundo caminha para uma escalada de confrontação - Foto: EFE/EPA/LUKAS COCH

A OTAN (aliança militar ocidental) realizou nesta semana uma reunião de cúpula histórica, que formalizou a nova realidade da política mundial provocada pela guerra na Ucrânia. Nela, a Rússia não é mais vista pelo Ocidente como uma parceira em potencial, mas sim como a maior ameaça à aliança.

A China foi classificada, por sua vez, como um “desafio” à segurança, aos interesses e aos valores da ordem internacional. A Declaração da Cúpula de Madri também relevou que a OTAN permanece preocupada com a ameaça do terrorismo global e com a mudança climática. A cúpula foi uma tentativa do Ocidente de demonstrar força e coesão. Mas ainda não está claro se essa união vai se manter em meio às crises energética e de alimentos, que foram drasticamente agravadas pela guerra na Ucrânia.

Veja Também: Guerra Fria 2.0: qual será o impacto de uma nova expansão da OTAN?

Brasileiro conta os segredos da Legião Estrangeira

O ponto de vista que aparenta predominar entre os países da aliança é o de lideranças como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Eles defendem um reforço de tropas na frente oriental da OTAN, o aumento dos gastos militares na Europa e o apoio à Ucrânia até a expulsão completa das tropas de seu território. [irrealizável - prevalecendo essa posição a Ucrânia se acaba. Essa postura só interessa aos mercadores de armas.]

A ideia é fazer com que a Rússia não seja mais capaz de invadir militarmente outro país vizinho, segundo afirmou a chanceler britânica Liss Truss à BBC. Londres disse, durante a reunião, que enviará mil combatentes para defender a Estônia. [mil combatentes? cada um deles com uma arma nuclear tática, será mais que suficiente para resolver a questão = será iniciada uma guerra nuclear.]

Os Estados Unidos disseram que mandarão dois esquadrões de caças F35 (que são alguns dos mais avançados do Ocidente) para a Grã-Bretanha, dois navios contratorpedeiros para a Espanha e milhares de tropas para a Romênia.

A ideia é que essa mobilização continue até que, no ano que vem, as tropas na frente oriental da OTAN (próxima da Rússia) passem de 40 mil para 300 mil. Para se ter ideia dessa dimensão, Moscou usou cerca de 200 mil tropas para invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro.  As tropas da OTAN na Europa também vão passar a se organizar não mais em grupos de batalha, mas em brigadas e divisões de exército - unidades maiores e mais adequadas para fazer frente a guerras de alta intensidade. Em paralelo, Finlândia e Suécia, países historicamente neutros, devem entrar na aliança.

Estrategicamente, o objetivo é que a Europa passe a gastar mais com armas para que sua defesa dependa menos dos EUA - liberando Washington para se voltar mais para a região do Indo-Pacífico (por causa da expansão chinesa). A recente Declaração da Cúpula de Madri diz que “a Federação Russa é a ameaça mais significativa e direta para a segurança dos aliados e para a paz e estabilidade na área euro-atlântica”.

A Rússia, por sua vez, vem afirmando que foi a OTAN quem adotou uma postura agressiva, com seu movimento de expansão para leste desde o fim da Guerra Fria. O motivo geoestratégico da Rússia para invadir a Ucrânia foi criar uma área neutra entre a aliança militar ocidental e o território russo.

Na cúpula de Madri, não surgiram vozes dissidentes da postura da aliança de armar a Ucrânia e reforçar as capacidades militares dos europeus. Seus maiores defensores, além de EUA e Grã-Bretanha, são os países mais próximos da Rússia, que já sofreram com invasões e dominação durante o período soviético - como a Polônia, a República Tcheca, os países bálticos e a própria Ucrânia.

Quando visitei um centro de recrutamento de civis na Ucrânia, em março deste ano, me impressionei com as colocações dos voluntários. Eles disseram preferir morrer no campo de batalha a ver suas famílias assassinadas ou passando fome nas mãos dos russos. Essas atrocidades cometidas pelos russos estão na história e na cultura desses países.

Mas, em nações mais distantes da fronteira russa, começam a surgir críticas à abordagem de confrontação, que foi oficializada na cúpula de Madri. Seu argumento é que a Ucrânia deveria ceder parte de seu território à Rússia em troca de um cessar-fogo. Em tese, isso evitaria uma matança maior tanto para ucranianos como para russos. Estima-se que a Ucrânia perde cerca de 200 militares por dia na Batalha de Donbas.

Contudo, as críticas à postura da OTAN não são motivadas apenas por razões humanitárias. As sanções econômicas à Rússia vêm causando uma alta no preço dos derivados de petróleo e o bloqueio do Mar Negro - por onde era escoada a produção de grãos da Ucrânia, impasse que elevou o custo global dos alimentos.  Na prática, a maioria dos países vem experimentando insatisfação da população, provocada pelas seguidas altas de preços nos postos de gasolina e nas lojas e supermercados.

Segundo analistas, isso pode levar ao fortalecimento de políticos ou partidos populistas e de tendência isolacionista no Ocidente. Em teoria, a ascensão deles pode, no futuro, diminuir o apetite da OTAN para confrontar a Rússia. O maior exemplo é a política de “América primeiro”, do governo de Donald Trump. O ex-presidente americano chegou a cogitar retirar os EUA da OTAN em 2018.

Porém, mesmo que um governo isolacionista seja eleito em 2024 nos EUA, é pouco provável que o país se retire da OTAN. Em 2018, Trump levantou essa possibilidade em um cenário de descontentamento com seus aliados europeus que não estavam cumprindo o estabelecido na aliança de investir anualmente 2% de seu PIB (Produto Interno Bruto) em defesa.

A vontade do Ocidente em apoiar a Ucrânia contra a Rússia por ora não parece abalada, mas a situação pode mudar. Com a chegada do inverno no hemisfério norte, pode faltar gás para aquecer as casas. Além disso, as empresas do Ocidente já começam a sentir o efeito de competição de empresas asiáticas - que vêm comprando petróleo e derivados da Rússia a preços mais baixos que os do resto do mercado.

Sabe-se,
por exemplo, que a Rússia já está entre os maiores fornecedores de petróleo da China e da Índia. Esse tipo de negociação de preços é sigilosa, mas já foi confirmado que refinarias indianas estão comprando petróleo russo com ao menos US$ 30 de desconto por barril. Elas refinam o petróleo e revendem seus derivados com preços mais altos para o mercado do Ocidente, burlando o embargo a Moscou.

Países industrializados da Europa, como a Alemanha e a Itália, já estão sentindo os efeitos da concorrência e também buscam alternativas ao gás russo. Porém, mesmo contrariados, continuam apoiando a resolução dos colegas da OTAN. [até quando?]  A principal resposta do governo do americano Joe Biden deve ser uma tentativa inédita de congelar globalmente os preços do petróleo russo. Mas analistas estão céticos sobre a viabilidade do projeto, pois os EUA não controlam a maioria da produção de petróleo mundial.

China
“Nós nos defrontamos com competição sistemática daqueles, incluindo a República Popular da China, que desafiam nossos interesses, segurança e valores, à procura de minar a ordem mundial baseada em leis”, diz o texto da declaração dos chefes de Estado da OTAN.

A China é a única nação citada nominalmente quando a aliança descreve no documento estar sendo confrontada por ameaças cibernéticas, espaciais, híbridas e assimétricas. A declaração conjunta também cita o “uso malicioso de tecnologias disruptivas”. A OTAN não diz exatamente quais são as ameaças específicas relacionadas a Pequim. Mas sabe-se que a China usou espionagem cibernética para roubar tecnologia do Ocidente e agora trava uma guerra comercial com os Estados Unidos.

Como cenário de fundo, Pequim também vem desenvolvendo tecnologia militar disruptiva, como os chamados mísseis hipersônicos - que não podem ser abatidos por defesas antiaéreas - e armas capazes de destruir satélites no espaço. A OTAN não relacionou no documento a questão nuclear e a China, mas a inteligência ocidental identificou em 2021 que os chineses estão construindo ao menos 230 silos de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês) no deserto de Gobi e na província de Xinjiang.

Não é novidade que a China tem armas nucleares. Mas a inteligência americana afirmou que o objetivo do país é quadruplicar seu arsenal, atingindo a marca de mil armas nucleares. Se isso acontecer, o equilíbrio bipolar do poder nuclear global, exercido por Estados Unidos e Rússia (que têm 1.550 armas ativas cada), será abalado.  O crescimento do arsenal chinês tem potencial para criar um sistema tripolar e assim anular os efeitos da atual paridade de armamentos e o conceito de MAD (sigla em inglês para destruição mútua assegurada), instrumentos que por cerca de 70 anos vêm impedindo uma guerra nuclear.

Assim, a escalada chinesa poderia deflagrar, por um período de alguns anos, uma nova corrida armamentista nuclear - até o sistema se reequilibrar em um novo sistema bipolar. Além disso, antes do início da guerra na Ucrânia, China e Rússia anunciaram uma parceria estratégica irrestrita.Analistas se dividem sobre a consistência e a possível duração dessa aproximação. A única certeza é que o Ocidente fará o que estiver ao seu alcance para tentar afastar as duas potências, como ocorreu na década de 1960 durante a Guerra Fria.

Mudança climática
A mudança climática é definida pela OTAN como o “desafio do nosso tempo”. A aliança diz que o assunto terá um impacto profundo na segurança dos países aliados. O assunto também não é especificado na declaração, mas parece apontar para o esforço do Ocidente para diminuir o uso de combustíveis fósseis - não só para preservar o meio ambiente, mas para diminuir a influência da Rússia no cenário energético global.

Mas uma parte da declaração preocupou alguns analistas brasileiros: “Nós vamos integrar considerações sobre mudança climática em todas as funções principais da OTAN”, afirma a Declaração de Madri. O temor desses analistas é que a OTAN use esse argumento para intervir na região amazônica no futuro. A possibilidade não pode ser descartada, embora seja pouco provável. Os recursos e a atenção da aliança militar ocidental estão voltados para a Europa, a região do Indo-Pacífico e para o Oriente Médio.

O argumento do clima pode ser usado para tentar criar barreiras comerciais para produtos agrícolas brasileiros, mas isso também é pouco provável em um contexto de possível crise mundial de alimentos. Porém, uma alegada invasão da Amazônia pode ser usada em campanhas cibernéticas de desinformação para gerar polarização na América Latina e eventual sentimento de repulsa às ações globais da OTAN. [se tentarem invadir a Amazônia e for impossível evitar, receberão uma Amazônia a qual não poderão ter acesso por séculos.] 

Esse tipo de campanha já está em curso na Europa, mas envolvendo o tema dos refugiados. Segundo relatório recente da Microsoft, a Rússia tem lançado campanhas de desinformação para tentar explorar eventuais divisões entre os governos ocidentais ou incentivar distúrbios sociais. Hackers russos teriam criado, por exemplo, grupos e perfis falsos no aplicativo de mensagens Telegram, para difundir mensagens reais e falsas. Seu objetivo é incentivar o ódio contra refugiados ucranianos em nações europeias - ressaltando aumento de despesas dos governos locais e aumento do desemprego. Ação dessa natureza já teria sido descoberta na Polônia.

Como fica o Brasil?
A OTAN aponta como seus adversários a Rússia, a China, o terrorismo e as mudanças climáticas, entre outros desafios. Nos bastidores, a guerra econômica, a vulnerabilidade das democracias liberais a campanhas de desinformação e a polarização política ameaçam os objetivos atuais da aliança. No início da guerra da Ucrânia, analistas levantaram a possibilidade de que Moscou poderia fazer um ataque restrito a um dos países da OTAN, para pôr à prova o artigo quinto da aliança - que diz que um ataque a um membro é um ataque a todo o grupo.

Uma eventual falta de reação do Ocidente, com o objetivo de não deflagrar a Terceira Guerra Mundial, poderia fazer a OTAN ruir. Mas o governo de Vladimir Putin também não arriscou estratégia tão ousada e parece agora apostar em uma nova crise do petróleo para enfraquecer a aliança.  Nesse contexto, o Brasil vem sendo cortejado por meio do bloco econômico dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e depende da importação de fertilizantes produzidos na Rússia. A chancelaria brasileira vê o Brics como uma boa oportunidade econômica, mas se sente desconfortável com a atual tentativa chinesa de ampliar o grupo, para transformá-lo em bloco de oposição política ao Ocidente.

Por outro lado, durante o governo Trump, o Brasil foi aceito como “aliado extra-OTAN”. Isso abriu oportunidades de comprar armamentos ocidentais com restrições, mas que são importantes para o Brasil. Trump costurava com o governo de Jair Bolsonaro uma aproximação ainda maior com a OTAN, mas a ideia não avançou devido à derrota eleitoral do americano.

O governo brasileiro quer agora permanecer em uma posição de equilíbrio, tentando não pender para nenhum dos dois lados. Mas a Declaração da Cúpula de Madri mostra que isso vai ser cada vez mais difícil em um mundo que tende para uma escalada de confrontação.

  Luis Kawaguti, colunista - Gazeta do Povo - Jogos de Guerra 

 

terça-feira, 10 de maio de 2022

Zelensky pede fim de bloqueio portuário para evitar crise alimentar global

Importante fonte de trigo e milho, Ucrânia é conhecida como 'celeiro da Europa' e exporta para países do Oriente Médio e Norte da África

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fez um apelo à comunidade internacional por medidas imediatas para acabar com o bloqueio da Rússia aos portos da Ucrânia, um dos maiores produtores de trigo no mundo. O líder ucraniano alertou que os ataques russos à região portuária de Odessa, atingida por mísseis na segunda-feira, 9, afetam as exportações de grãos e podem gerar uma crise alimentar global. “Pela primeira vez em décadas não há movimento normal da frota mercante, nenhum porto está funcionando normalmente em Odessa”, disse Zelensky nesta terça-feira, afirmando que a crise na região portuária da Ucrânia é a pior desde a Segunda Guerra Mundial.

As declarações do presidente ocorrem um dia após mísseis russos atingirem um shopping center e um depósito nos arredores do porto do Mar Negro, uma das principais portas de entrada da Ucrânia para o mundo. De acordo com as Forças Armadas ucranianas, uma pessoa morreu e cinco ficaram feridas durante o ataque.

O incidente interrompeu uma reunião entre Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, e o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, forçando-os a entrar em um abrigo antiaéreo. Michel disse ao The Guardian que viu armazéns cheios de grãos, trigo e milho impossibilitados de exportar. “Este alimento tão necessário está retido por causa da guerra russa e do bloqueio dos portos do Mar Negro, causando consequências dramáticas para os países vulneráveis”, disse ele. A autoridade da União Europeia acrescentou que é necessária uma “resposta global” aos ataques. [comentando: a leitura da presente matéria deixa a impressão que o ex-comediante que o povo ucraniano escolheu para presidir seu país, considera uma guerra uma comédia, uma brincadeira de faz de conta.
É necessário que aquele senhor entenda que GUERRA é GUERRA. 
Óbvio que por razões humanitárias algumas práticas são terminantemente proibidasensejando sérias punições aos que a praticam; destacamos, sem intenção de limitar:  - ataques a mulheres, crianças, idosos, asilos e orfanatos, escolas, hospitais, atos cruéis sejam contra a população civil ou militares prisioneiros, uso de determinadas armas.
Fora tais restrições o direito de ataque às instalações militares, aeroportos e portos, pontes, bloqueio naval, aéreo, terrestre, ataques a indústrias, restrições à livre circulação de mercadoria, tudo é válido. 
Esta longa introdução é para mostrar que o senhor Zelenski continua promovendo uma guerra na qual seu objetivo é que outros combatam pela Ucrânia.  
Uma das suas mais recentes artimanhas é apelar à comunidade internacional por medidas imediatas para acabar com o bloqueio da Rússia aos portos da Ucrânia.  Que o senhor Zelenski entende por uma guerra??? O bravo povo da Ucrânia morrendo e o seu presidente fazendo discursos virtuais em parlamentos? ]

Ucrânia é conhecida como o “celeiro da Europa” e é uma importante fonte de trigo e milho especialmente para países do Oriente Médio e Norte da África, que dependem de importações. A provável quebra da colheita neste ano pode ter grandes repercussões, diminuindo a oferta e elevando os preços de produtos agrícolas importantes. Segundo o Banco Mundial, a guerra causará o maior choque das commodities em 50 anos. “Sem nossas exportações agrícolas, dezenas de países em diferentes partes do mundo já estão à beira da escassez de alimentos. E com o tempo, a situação pode se tornar absolutamente terrível”, alertou Zelensky.

O chefe de Estado ucraniano apontou que o risco de uma crise alimentar global é uma consequência direta da agressão russa e, portanto, a situação só poderia ser superada com uma ação conjunta de todos os países europeus. Diversas partes da cidade portuária de Odessa, ponto crucial da economia ucraniana, vem sofrendo a ofensiva da Rússia. No final de abril, mais de quarenta pessoas morreram em um incêndio de uma sede sindical da cidade. Informações do Ministério do Interior da região indicaram que o incidente foi provocado por um confronto entre separatistas pró-Rússia entrincheirados dentro do prédio e grupos pró-Kiev.

O aeroporto de Odessa também foi alvo de mísseis no dia 30 de abril. O ataque gerou estragos na pista de pouso e decolagem.  A cidade de Odessa, localizada no sul do país, é a quarta maior da Ucrânia e era uma das poucas afetadas pela guerra. Contudo, nas últimas semanas, a área no sul do país virou alvo dos russos por ser considerada estratégica para o avanço das tropas para a Transnístria, região separatista pró-Rússia na Moldávia.

Em março, o presidente da Ucrânia apontou planos de Putin para atacar a cidade, que abriga cerca de um milhão de pessoas. “Estão se preparando para bombardear Odessa. Será um crime militar. Será um crime histórico”, especulou Zelensky na ocasião. A tomada de Odessa por Vladimir Putin seria um passo decisivo ao controle total do sul ucraniano por Moscou, inviabilizando o acesso do governo de Kiev ao Mar Negro.

 Mundo - Revista VEJA


sábado, 12 de fevereiro de 2022

A iminente invasão imperialista da Rússia à Ucrânia e o silêncio “progressista” da ONU - Sérgio Alves de Oliveira

Tudo leva a crer que a Rússia consumará  suas ameaças de tentar anexar  a Ucrânia à sua soberania, após já ter “engolido” grande parte do seu território e povo, a Crimeia,localizada   na costa norte do Mar Negro,com 27.000 Km/2,ao sul da região ucraniana de Kiherson,por meios violentos,em 2014,anexação essa apoiada pelos separatistas da região pró-Rússia.

Na verdade a “sede” imperialista russa por novos territórios não tem limites. O mesmo acontece com a China, os quais vivem sob a mesma bandeira, a comunista,que também quer “engolir” alguns dos seus “vizinhos”, que prosperaram bem mais que a China longe do comunismo. Com certeza  há um novo “vírus” no ar daquela região que poderia denominar-se  “imperialismo anexionista”.

Portanto, a Ucrânia passou a integrar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas-URSS, não a Rússia, desde 1922, pouco após a Revolução Russa (bolchevique), de outubro de 1917,perdurando até a “Perestroika” (reconstrução), de Mikhail Gorbachov,  que dissolveu a URSS, em 1991, quando, a  partir da sua ratificação, em 1992, a Ucrânia readquiriu a sua independência plena,por extinção da URSS.

Importante é sublinhar, portanto, que a Ucrânia jamais integrou a Rússia,porém a URSS,que se constituia numa espécie de “confederação” de países,integrada tanto pela Rússia,quanto pela Ucrânia ,e diversos outros países.

Mas a atual Rússia,do “tirano” Vladimir Putin, “resolveu”,unilateralmente, à revelia do direito internacional, ”reativar” a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,” incorporando” a Ucrânia à sua “própria” soberania, soberania essa que jamais teve, porque a Ucrânia integrava a URSS,que foi extinta pela “Perestroika”, não a Rússia.

Portanto a Rússia não está tentando (re)incorporar, ou (re)anexar a Ucrânia, e sim (in)corporar ou (a)nexar, a Ucrânia, porque esse país integrava antes a URSS, não a Rússia. Considere-se um “detalhe”:o território da Rússia tem 17,09 milhões de Km/2, ao passo que a Ucrânia tem apenas 603 mil Km/2. Portanto a Rússia é mais de 28 vezes maior que a Ucrânia,tendo já o  maior território do mundo.É muita “fome”,não?

Tanto a URSS, quanto a Ucrânia, são membros fundadores  das Nações Unidas, sendo que o assento da URSS na ONU foi ocupado pela Rússia, sob a denominação de “Federação Russa”. Mas a tentativa  anexista da Rússia sobre a Ucrânia demonstra com clareza  solar que tanto a Rússia ,por “ação”, quanto a própria ONU,por “omissão”,estão desrespeitando totalmente a Carta da Nações Unidas,assinada em São Francisco da Califórnia, que entrou em vigor em 24 de outubro de 1946,sendo a Rússia e a Ucrânia “membros” fundadores.

Já pelo artigo 1º da Carta das Nações Unidas, que fixa as  “propostas das Nações Unidas”, pelo inciso (1),essas  propostas são “Manter a paz e a segurança internacionais...e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz,e chegar por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional,a um ajuste ou soluções de controvérsias ou situações que possam perturbar a paz”,bem como (2) “Desenvolver relações amistosas  entre as nações baseadas no respeito ao princípios da igualdade de direitos e de AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS...”.

O que esperar da paz no  mundo, desde o momento em que a sua mais importante organização, a ONU,mantém um silêncio sepulcral sobre a iminente invasão da Rússia à Ucrânia,”pisando” sobre a própria “Carta”que a constituiu,a Carta das Nações Unidas,de 1946? Seria porque os interesse “progressistas” que fincaram raízes profundas na ONU estariam “torcendo” pela Rússia?

[comentários que se impõem:  ODIAMOS, ABOMINAMOS, REPUGNAMOS  o comunismo - seja no padrão russo, chinês, coreano ou do diabo. (jamais esqueceremos os 100.000.000 de mortos, grande parte formada por cristãos.)

Mas,  se impõe destacar que o esquerdismo que Biden e suas baidadas alimentam, divulgam e propagam, torna a simpatia pela Rússia - com postura mais conservadora - uma tendência que apoiamos = usar a Rússia para conter o esquerdismo progressista e nojento que campeia pelo mundo (esquerdismo que busca promover a destruição dos VALORES tais como RELIGIÃO, FAMÍLIA, LIBERDADE,  MORAL, BONS COSTUMES e que age atacando em várias frentes, de forma sistemática, contínua e variada e sem dar tréguas. Já se percebe no Brasil a forte tendência a asfixiar os conservadores e os valores que defendem.

Ao nosso ver, o comunismo apesar de permanecer abominável, deu uma 'endireitada', uma guinada para o conservadorismo; já a esquerda se satanizou - um exemplo é que determinados grupos esquerdistas, falsos 'culturais' promovem regularmente atos de desrespeito ao cristianismo = a invasão da Igreja em Curitiba foi um deles e usavam uma bandeira comunista, representando o comunismo contrário do que Putin representa.

Entendemos que Bolsonaro está certíssimo em ir a Rússia na situação atual - as viagens do presidente do Brasil, uma nação soberana, não dizem respeito a nenhum outro país;  

A Rússia é a legítima sucessora e herdeira do legado da felizmente extinta  URSS, o que inclui a Ucrânia.

Para conter o esquerdismo uma aliança com o comunismo se torna tolerável,especialmente tendo como líder 'comunista' Vladimir Putin. ]

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Quanto do arsenal nuclear restou à Ucrânia para “recepcionar” os russos? - Sérgio Alves de Oliveira

Tudo leva a crer que a Rússia tentará (re)incorporar a Ucrânia à sua soberania, provavelmente nos primeiros meses de 2022, segundo declarações do próprio Presidente ucraniano,Volodymyr Zelonsky, e o “alerta vermelho” nos EUA,OTAN e União Européia.
 
Na verdade a “sede” imperialista da Rússia por novos territórios não tem limites. Deve ser um “vírus” comunista qualquer. O mesmo acontece com a China,que também quer “engolir” diversos outros “vizinhos”, muito prósperos, mas que enriqueceram graças à distância que mantiveram da bandeira comunista.   
                                   
Desde 2014 o leste da Ucrânia  é palco de uma guerra entre Kiev e separatistas pró-Rússia, e que já deixou cerca de 13 mil mortos,após anexação da  (Península) Crimeia, localizada ao norte do Mar Negro, pela Rússia,que a “roubou” da Ucrânia.
 
Os “cossacos” são considerados os  fundadores da Ucrânia e o espírito guerreiro desse povo, notáveis cavaleiros, muito ajudou o Exército russo,do qual chegaram a ser uma corporação apartada,  com cerca de 150 mil integrantes. Mas apesar do espírito autodeterminista do seu povo,formado em grande parte pelos “cossacos”, bem representados no respectivo  “brasão cossaco”, a Ucrânia acabou sendo absorvida pela Rússia, em 1922, pouco após a Revolução Bolchevique, de outubro de 1917.
 
Mas mediante a “Perestroika”(reconstrução), de Mikhail Gorbatchov, a Ucrânia acabou reconquistando a sua independência, após a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,em 1991, o que foi ratificado  em 1992.
 
Porém a independência da Ucrânia acabou trazendo um enorme problema para a Rússia, já que a maior parte da infraestrutura  do arsenal nuclear da extinta URSS ficava exatamente nas terras da Ucrânia,tanto que chegou um dado momento em que após desligar-se da União Soviética, a Ucrânia chegou a ser  considerada a terceira força nuclear do Planeta.
 
Apesar da Ucrânia ter uma população de somente 44 milhões de habitantes, e um território de apenas 603.620 Km/2, contra os 143 milhões de habitantes da Rússia, e um território (o maior do mundo) de 17,09 milhões de Km/2, o seu poderio nuclear  ainda  deve ser considerado  um dos maiores do mundo,merecendo o maior respeito das grandes potências mundiais. 
 
Cuidado, portanto,”Dona” Rússia, que os estragos de um eventual conflito armado “nuclear” com a Ucrânia poderiam ser catastróficos  para ambos os  lados, com sérias consequências para o restante do mundo que nada tem a ver com essas desavenças políticas e militares regionais.
 
 
Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo
 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Arquipélago Gulag

Uma História do Gulag

Diálogo em um Gulag quando da chegada de um novo preso:

-  Quantos anos você pegou?
                                     - Dez anos...
                                     - Por que?
                                     - Por nada...
             - Não é possível! Por nada as pessoas pegam 12 anos!

O GULAG (“Glavenoe Uporavlenie Lagerei”, Administração Central dos Campos) consistia em uma vasta rede de campos de trabalhos forçados que se espalhavam por todo o comprimento e toda a largura da ex-União Soviética, das ilhas do Mar Branco às costas do Mar Negro, do Círculo Ártico às planícies da Ásia Central, de Murmansk a Vorkuta e ao Cazaquistão, do centro de Moscou à periferia de Leningrado.

GULAG, com o tempo, passou a indicar também o próprio sistema soviético de trabalho escravo, em todas as suas formas e variedades: campos de trabalhos forçados, campos punitivos, campos criminais e políticos, campos femininos, campos infantis, campos de trânsito. Ou seja, todo o sistema repressivo soviético, o conjunto de procedimentos que os presos outrora denominaram como “o moedor de carne”: as prisões, os interrogatórios, o traslado em vagões de gado sem aquecimento, o trabalho forçado, a destruição de famílias, os anos de degredo e as mortes prematuras e desnecessárias.

O GULAG já existia na Rússia czarista, nas turmas de trabalho forçado que operaram na Sibéria desde o século XVII até o início do século XX. Entretanto, quase imediatamente após a Revolução de Outubro, ele assumiu sua forma moderna e mais familiar tornando-se parte integral do sistema soviético. O terror em massa contra oponentes reais ou pretensos fez parte da Revolução desde o começo. No verão de 1918, Lênin já exigira que “elementos indignos de confiança” fossem encarcerados em campos de concentração fora das cidades principais. Em 1921 já existiam 84 campos de concentração em 43 províncias, a maioria destinada a “reabilitar” esses primeiros inimigos do povo.

A partir de 1929, os campos adquiriram nova importância. Naquele ano, Stalin resolveu utilizar o trabalho forçado tanto para acelerar a industrialização da URSS quanto para explorar os recursos naturais do extremo norte, quase inabitável, do país. Também naquele ano, a polícia secreta soviética (a CHECKA), passou a assumir o controle do sistema penal, lentamente arrebatando ao Judiciário todos os campos e prisões. Com o impulso das prisões em massa de 1937 e 1938, os campos entraram num período de rápida expansão. No final da década de 1930, podiam ser encontrados em cada um dos doze fusos horários da URSS.

Ao contrário do que se imagina, o GULAG não parou de crescer no final dos anos 30. Ao invés disso, continuou a expandir-se durante toda a II Guerra Mundial e a década de 1940, atingindo seu apogeu no início dos anos 50. Nessa época os GULAG desempenhavam um papel crucial na economia soviética. Produziam um terço do ouro do país, boa parte do seu carvão e madeira e muito de quase tudo o mais. No decorrer da existência da URSS, surgiram pelo menos 476 complexos distintos de campos, consistindo em milhares de campos individuais, cada um deles tendo de algumas centenas a milhares de pessoas. Os presos trabalhavam em todas as atividades imagináveis – derrubada e cortes de árvores, transporte dessa madeira, mineração, construção civil, manufatura, agropecuária, projetos de aviões e peças de artilharia – e, na realidade, viviam em um Estado dentro do Estado, quase numa civilização em separado. 

O GULAG tinha suas próprias leis, seus próprios costumes, sua própria moralidade, e até sua própria gíria. Gerou sua própria literatura, seus próprios vilões, seus heróis, e deixou sua marca em todos os que passaram por ele, fossem como presos, fossem como guardas. Anos depois de libertados, os habitantes do GULAG muitas vezes eram capazes de reconhecer ex-condenados na rua, simplesmente “pelo olhar”. 

O número total de prisioneiros nos campos costumava girar em torno de 2 milhões, mas o número total de cidadãos soviéticos que tiveram alguma vivência dos campos, na condição de presos políticos, é muito maior. De 1919, quando o GULAG iniciou sua maior expansão, a 1953, quando morreu Stalin, as melhores estimativas indicam que cerca de 18 milhões de pessoas passaram por esse infame sistema.  Como sistema de trabalho em massa que envolveu milhões de pessoas, os campos desapareceram com a morte de Stalin. Dias após a sua morte seus sucessores começaram a desmantelá-los. 

No entanto, não desapareceram por completo. Em vez disso, eles evoluíram. Durante toda a década de 1970 e começo da década de 1980, alguns foram reformulados e usados como cárcere para uma nova geração de ativistas democráticos, de nacionalistas anti-soviéticos e de criminosos. Mesmo nos anos 80, o presidente norte-americano Ronald Reagan, e seu equivalente soviético, Mikhail Gorbachev, ainda discutiam a existência dos campos da URSS. Gorbachev – ele próprio neto de prisioneiros do GULAG só começaria a dissolver definitivamente os campos em 1987. 

Embora tenham durado tanto quanto a URSS e milhões de pessoas tenham passado por eles, a verdadeira história dos campos de concentração da União Soviética não era de modo algum bem conhecida até recentemente. Mesmo os fatos concisos até aqui relacionados, embora familiares à maioria dos estudiosos ocidentais da história soviética, não penetraram na consciência popular ocidental. “O conhecimento humano”, escreveu Pierre Rigoulot, historiador francês do comunismo, “não se acumula como tijolos de uma parede, que se eleva gradualmente, acompanhando o trabalho do pedreiro. Seu desenvolvimento, mas também sua estagnação ou recuo, depende da estrutura social, cultural e política” (Rigoulot, “Les Paupieres Lourdes”). 

Poder-se-ia dizer que, até agora, não existia a estrutura social, cultural e política para o conhecimento do GULAG. Suas localizações eram um segredo, mas o medo que despertava era bem conhecido por russos, lituanos, poloneses, armênios e tantos outros que viveram sob a influência da ex-União Soviética.  

Os campos de concentração do GULAG surgiram antes mesmo de seus infames contrapartes nazistas, como Auschwitz, Sobibor, Buchenwald e Treblinka, mas só agora, após o colapso do comunismo, a história desse sistema de repressão e punição que aterrorizou milhões, veio à luz com toda a sua força. Embora a existência desses campos já fosse conhecida no Ocidente, graças a clássicos como “Um Dia na Vida de Ivan Denisovitch” e “Arquipélago Gulag”, do dissidente Alexander Soljenitsin, aqueles que desejarem conhecer um retrato completo e acurado de um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade, deverão ler as 749 páginas do livro de Anne Applebaum “Gulag – Uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos”, editora Ediouro, 2004, de onde foram extraídos os dados acima.

Segundo diversos autores, o regime soviético sob a direção de todos os grandes timoneiros não tem precedentes em toda a História, pois não se assemelha a nada que jamais tenha existido. Nunca um Estado teve como objetivo matar, deportar ou reduzir à servidão os seus cidadãos e nunca um partido substituiu tão completamente um Estado. Nunca uma ditadura teve um poder tão grande em nome de uma mentira tão completa e, contudo, tão poderosa e tão perfeita sobre as mentes, que fazia com que os que a temiam, ao mesmo tempo saudassem seus fundamentos. [a idéia central, básica e total dos comunistas brasileiros, tanto os de 35, quanto os de 64 e os de agora sempre foi, é e sempre será a de suplantar o regime soviético - especialmente em autoritarismo, crueldade e desumanidade.

O poder que o PT busca supera em crueldade, autoritarismo e capacidade de corrupção todo o obtido pela NOMENKLATURA soviética.
Mas, sempre serão derrotados.]

O socialismo real cometeu uma agressão sem precedentes à civilização. Todavia, o Nuremberg dos bolcheviques não ocorreu e provavelmente jamais ocorrerá, pois as instituições jurídicas criadas pelo socialismo real que, em parte, ainda permanecem vigentes, foram de tal forma corrompidas a ponto de não permitirem iniciativas nesse sentido. E, como não existe um vencedor oficial do socialismo real, não houve e nem deverá haver um julgamento formal de seus crimes contra a Humanidade. Cabe, também, duvidar que o julgamento da História, consolo das vítimas, faça, algum dia, justiça aos milhões de sacrificados no Arquipélago Gulag.



Por: Carlos I. S. Azambuja é Historiador - Publicado originalmente no Blog Alerta Total - Jorge Serrão