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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Terrorismo motiva a Xenofobia e a conta ficará mais alta para os imigrantes

Eles vão pagar a conta

ISTOÉ esteve no prédio, em Saint-Denis, onde o suspeito de comandar os ataques na França foi morto. Saiba como a rotina dos moradores de bairros da periferia de Paris já mudou e vai ficar ainda pior, devido ao aumento da xenofobia 

Os habitantes de Saint-Denis, subúrbio ao norte de Paris, acordaram em choque na fria madrugada de quarta-feira 18. Os ventos – uivantes de tão fortes – não foram capazes de abafar os sons de rajadas de tiros e explosões. Refeitos do susto inicial, em questão de segundos os moradores puderam identificar a natureza dos estrépitos. Do lado de fora, ocorria uma pesada operação antiterrorista. Enquanto algumas pessoas espiavam a ação da polícia parisiense por entre as frestas das janelas, outras, investidas de medo e temendo pelo pior, preferiam se aninhar no colo dos familiares no interior de suas residências. A tensão tardou para se dissipar. Durou sete horas. Ao fim de toda a operação, a polícia havia utilizado cinco mil balas. O cerco foi bem sucedido: o belga Abdelhamid Abaaoud, suspeito de ser mentor dos ataques terroristas em Paris, acabou morto. ISTOÉ esteve no local onde Abaaoud exalou seu último suspiro: um prédio insalubre, com ratos, ocupado de maneira ilegal por vários habitantes, muitos sem documentos oficiais, o que facilitou sua utilização como esconderijo.

Menos de uma hora depois do último disparo, uma moradora desceu para conceder entrevista. Vários canais de TV franceses, ávidos por qualquer declaração, a aguardavam. Ela usava um traje que é proibido na França desde 2010: um niqab, véu islâmico que cobre todo o rosto e só deixa os olhos à mostra. Talvez ela quisesse simplesmente evitar ser identificada. Mas a vestimenta toda preta sugeria que a mulher cultivava o hábito de sair à rua com esse tipo de roupa. Se for o caso, seu estilo não chama a atenção em Saint-Denis. O bairro do subúrbio parisiense possui uma população majoritariamente imigrante, de origem árabe.


Saint-Denis fica situado a apenas cinco quilômetros da capital francesa. É possível chegar lá de metrô. Apesar da pouca distância, logo na saída da estação vê-se rapidamente a diferença em relação a bairros centrais de Paris: prédios comuns, sem charme arquitetônico, e algumas lanchonetes, cafés e lojas populares. A exceção é a famosa basílica de estilo gótico, do século XII, onde estão enterrados os reis da França, que atrai turistas do mundo inteiro. Em Saint-Denis também há o célebre Stade de France, onde o Brasil perdeu a final da Copa em 1994. Na França, no entanto, o bairro ao norte da capital é encarado sobretudo como uma área pobre onde reinam violência e problemas sociais.

A grande maioria da população desse subúrbio de 110 mil habitantes é de imigrantes ou franceses de origem estrangeira, principalmente de países como Argélia, Marrocos e Tunísia e da África negra. A taxa de desemprego, de 20% a 22%, segundo autoridades locais, é o dobro da média nacional. Moradores ouvidos por ISTOÉ descrevem um bairro dominado pelo pavor com o que pode vir na sequência dos atentados. “A cidade já tinha má-reputação. A descoberta de terroristas aqui vai piorar ainda mais sua imagem e os moradores correm o risco de sofrer mais preconceito”, afirmou Marie-Christine Daillet, francesa de 63 anos, que passou a sair de casa sem bolsa após um assalto em que teve várias fraturas no braço, engessado por quatro meses. Hoje, tem planos de se mudar do local conhecido também pela venda de drogas a céu aberto. A atmosfera de pânico e medo é relatada por outra moradora, que não quis se identificar. “Se quisermos continuar vivos, não vimos nem ouvimos nada e também não sabemos de nada”, afirmou. Nascida na Costa do Marfim, ela reside em Saint-Denis há seis anos.



Segundo o francês de origem argelina Munir Dadi, muçulmano que mora em Saint-Denis há 18 anos, imigrantes clandestinos buscam abrigo no bairro porque há menos controle policial. “A vida na cidade se deteriorou muito nos últimos anos”, lamentou. Como muitas outras pessoas em Saint-Denis, ele também teme ser vitima de racismo após os atentados. “Espero que o presidente François Hollande ouça os gritos dos habitantes que pedem mais policiais na cidade”, afirma o vice-prefeito de Saint-Denis, Bally Bagayoko, francês de origem maliana. “Com dois mil policiais já daria para se equiparar a outras cidades”, acrescenta o político.

O que ocorre em Saint-Denis não é diferente de várias outras cidades do mesmo distrito administrativo, chamado Seine-Saint-Denis, no norte de Paris, mais conhecido na França como “nove três”. A referência ao código postal passou a ser vista, na prática, como algo pejorativo. “Você colocar o endereço 93 em um currículo diminui consideravelmente as chances de encontrar um emprego”, diz o argelino Mouder Sid Ali, motorista de caminhão que mora em Saint-Denis e chegou à França há três anos.


Foi na Seine-Saint-Denis, com mais de 1,5 milhão de habitantes, que começou a onda de violência nas periferias do país, em 2005. Samy Amimour, um dos kamikazes da casa de shows Bataclan, onde morreram 89 pessoas, morava em Drancy, uma cidade do distrito da Seine-Saint-Denis. “Os imigrantes foram amontoados em periferias, sem serviços, e isso acabou criando guetos e gerando exclusão social. Houve erros na política de integração”, afirma o cientista polítco Stéphane Montclaire, da Universidade Sorbonne. Segundo ele, a intolerância em relação aos muçulmanos deve aumentar na França após os recentes atentados. “Uma cabeça de porco colocada em frente a uma mesquita é um ato isolado e que não representa a opinião da população francesa. O problema é que vemos uma adesão progressiva da sociedade a certas ideias da extrema direita, do partido Front National, em relação a essa comunidade”, ressalta. De acordo com Abdelkader Ounissi, imã da mesquita de Bagnolet, na Seine-Saint-Denis, um de seus fieis teve de abrir a bolsa de ginástica na rua a um desconhecido que exigiu ver o conteúdo da sacola. “O clima é pesado. As pessoas estão com medo em relação ao futuro”, diz

No primeiro semestre deste ano, a França, onde vive a maior comunidade muçulmana da Europa, estimada em 6 milhões de pessoas, registrou 274 atos racistas e ameaças contra muçulmanos, segundo o Observatório Nacional contra a Islamofobia (ONCI), ligado ao Conselho Francês do Culto Muçulmano. Isso representa um aumento de 281% em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com a organização, a forte progressão está ligada aos atentados de janeiro contra a revista satírica Charlie Hebdo e o supermercado judaico, que mataram 17 pessoas. Em 2014, o número já havia crescido cerca de 10% na comparação com 2013.
Fotos: LIONEL BONAVENTURE/ AFP PHOTO; Philippe Wojazer/ REUTERS
Fontes: Institut National de la Statistique et des Études Économiques (INSEE) e Eurostat 
 

sábado, 14 de novembro de 2015

Estado Islâmico assume autoria dos ataques terroristas na capital francesa que deixaram mais de 120 mortos e chocaram o mundo.

Terror em Paris

Hollande diz que massacre em Paris é ‘ato de guerra’ e terá resposta implacável

[a resposta francesa contra o Estado Islâmico é necessária - tanto como retaliação exemplar quanto para destruir a organização terrorista;  mas, não pode ser dirigida em ataques aéreos sobre regiões controladas pelo EI - a região está dominada pelos extremistas mas tem milhares de pessoas que estão presas na região e serão vítimas inocentes da vingança francesa.
E a morte de inocentes apenas maximizará o impacto da ação terrorista - exatamente o que os jihadistas desejam.]

Estado Islâmico assume autoria dos ataques terroristas na capital francesa que deixaram mais de 120 mortos e chocaram o mundo. Outras 250 pessoas ficaram feridas, 80 em estado grave. Vídeo publicado pelo grupo terrorista ameaça França: ‘Não viverão em paz’  

Um dia depois dos atentados em Paris que deixaram ao menos 127 mortos e 300 feridos, o presidente da França, François Hollande, classificou neste sábado os ataques como um “ato de guerra” cometido pelo Estado Islâmico e decretou três dias de luto nacional. Logo em seguida, os jihadistas reivindicaram a responsabilidade pelo massacre em um comunicado no qual afirmam que seus combatentes munidos de explosivos e metralhadoras espalharam o terror em vários locais na capital francesa que foram cuidadosamente estudados. Segundo os extremistas, os atos terroristas foram em resposta a insultos ao profeta Maomé e aos bombardeios franceses contra alvos do grupo. Tendo ousado insultar nosso Profeta, se gabado de lutar contra o Islã na França e atacando muçulmanos no Califado com seus aviões que não os ajudaram de forma alguma nas ruas mal cheirosas de Paris diz o comunicado.
Polícia investiga local dos atentados em Paris um dia depois dos atentados que deixaram mais de 120 mortos - PASCAL ROSSIGNOL / REUTERS
 
 De acordo com o jornal “Libération”, um cidadão francês já conhecido pelas autoridades foi confirmado como um dos terroristas, identificado pelas impressões digitais. Além disso, a policia encontrou um documento sírio e outro egípcio foram encontrados pertos de corpos dos homem-bomba perto do Stade de France. Oito agressores morreram nos ataques, sete deles ao detonarem explosivos e outro foi abatido pelas forças de segurança. Os corpos de todos eles estão sendo estudados e o DNA coletados.

Os ataques coordenados em estádio, sala de concertos e cafés e restaurantes no Norte e Leste Paris foram o tema de uma reunião entre Hollande com um conselho de Defesa, da qual participaram os principais ministros do governo, enquanto o país segue em estado de emergência com as fronteiras fechadas. Depois do encontro, o presidente pediu união nacional e declarou que todas as medidas necessárias serão tomadas para combater as ameaças terroristas. — O que ocorreu ontem foi um ato de guerra cometido pelo Daesh (acrônimo árabe do EI), organizado a partir do exterior e com ajuda interna — declarou Hollande. — Mesmo ferida, a França vai se reerguer.

O presidente francês também discutiu os atentados com líderes europeus como a chanceler alemã, Angela Merkel, o premier italiano, Matteo Renzi, e o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, segundo fontes do Palácio de Eliseu.  Mais cedo, pelo Twitter, o EI divulgou um vídeo ameaçando atacar a França se o país continuar com os bombardeios contra alvos extremistas. No entanto, não ficou claro quando o filme foi gravado. — Enquanto vocês continuarem bombardeando, não viverão em paz — diz o vídeo.

Menos de um ano depois dos atentados contra a revista satírica Charlie Hebdo, Paris se viu diante de um intenso ataque terrorista na sexta-feira, deixando 127 mortos, além de cerca de 250 feridos, 80 em estado grave. Mais de 70 reféns foram mortos durante um show de rock no teatro Bataclan. Cerca de 40 pessoas morreram vítimas de homens armados que abriram fogo em outros cinco pontos da capital francesa. Os testemunhos de sobreviventes apontam que os atiradores gritaram “Alá Akbar“ (Deus é grande) e citaram a intervenção francesa na Síria para justificar as ações.

Ocorreram também três explosões do lado de fora do Stade de France, onde a seleção de futebol do país jogava um amistoso contra a Alemanha, com o presidente na plateia. Cinco pessoas morreram no entorno do estádio, disse a polícia. Dois brasileiros ficaram feridos nos ataques, informou a Embaixada.  Segundo informações da cônsul-geral do Brasil em Paris, Maria Edileuza Fontenele Reis, um casal de brasileiros ficou ferido enquanto jantava em um restaurante. O homem estava em estado grave e foi submetido a uma cirurgia. Segundo a cônsul, ele perdeu muito sangue e teve de fazer uma transfusão. A mulher sofreu ferimentos leves. Perto de um deles, a polícia encontrou um passaporte sírio.


INVESTIGAÇÃO
A Justiça francesa abriu uma investigação sobre ataques, os mais mortíferos na Europa desde os atentados islâmicos em Madri, em março de 2004. A prioridade da equipe é identificar os corpos, incluindo os dos terroristas, que em sua maioria foram pulverizados quando explodiram a si mesmos. Uma vez identificados os terroristas, será determinado se eles tiveram a ajuda de cúmplices.

Nenhuma prisão foi realizada e os investigadores sugeriram que não estavam procurando qualquer pessoa nesta fase. No entanto, autoridades acreditam que há uma ligação entre um homem detido na Alemanha na semana passada com armas automáticas e explosivos e os ataques.  Em estado de emergência, o Eliseu anunciou a mobilização de 1.500 militares adicionais e o reforço dos controles nas fronteiras.

Fonte: O Globo