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sábado, 19 de março de 2022

PCB: 100 anos de história e de muitos crimes - Félix Maier

 Neste ano de 2022, comemoram-se vários centenários. 

No dia 7 de setembro de 2022, comemora-se o bicentenário da Independência do Brasil. Há muitos anos, a data é contestada pelos partidos e movimentos de esquerda, que inventaram o “Dia dos Excluídos” para marcar posição contra o “poder burguês” e manter viva a chama da revolução socialista. Não será surpresa se nessa data a esquerda, com apoio maciço da “mídia antifa” (a que se diz antifascista, mas que é fascista por natureza), organize uma “anticomemoração”, como fizeram por ocasião dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. 

Outro evento importante a ser comemorado durante o ano de 2022 é o centenário da Semana de Arte Moderna, ocorrida no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 e 18 de fevereiro. Os objetivos e os principais atores desse movimento famoso, que pregava a ruptura de todos os movimentos anteriores, podem ser vistos em  https://www.brasilparalelo.com.br/entrevistas/semana-de-arte-moderna?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzr5C97Z5LkqFmA50q2ovh
O livro “Pauliceia Desvairada”, de Mário de Andrade, também é de 1922, assim como o livro de Monteiro Lobato, “Fábulas”. A propósito, Lobato foi um dos mais ferozes críticos da Semana de Arte Moderna, em especial, de Anita Malfatti, cujas pinturas seriam como os “desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios”. Críticos acharam o máximo, um “provocador”, quando o maestro Heitor Villa-Lobos subiu ao palco do Teatro Municipal de São Paulo para reger uma orquestra vestindo chinelos, enquanto a plateia promoveu imensa vaia. O maestro apenas estava sofrendo do mal da gota e, assim, tinha dificuldade para calçar um par de sapatos. 

O ano de 2022 marca também o centenário do lançamento do livro “Ulysses”, do irlandês James Joyce, que acarretou admiração e escândalo em todo o mundo. Utilizando neologismos quilométricos e escrevendo no livro 50 páginas sem pontuação, no processo literário conhecido como “fluxo de consciência”, Joyce exerceu grande influência sobre escritores brasileiros, como Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Um pouco dessa “epopeia popular” de Mr. Leopold Bloom, uma espécie de “volta ao dia em 80 mundos”, pode ser visto em um texto de minha autoria - cfr. http://felixmaier1950.blogspot.com/2022/03/ulysses-de-james-joyce-volta-ao-dia-em.html. O dia 16 de junho foi instituído na Irlanda como sendo o Bloomsday, para homenagear o personagem Bloom. 

O ano de 2022 marca o centenário do medicamento Novalgina. Pode não ter resolvido nenhum problema humano sério, mas diminuiu a dor de cabeça de milhões, bilhões de pessoas nesses 100 anos. 

Personalidades que fariam 100 anos em 2022: José Saramago, Tônia Carrero, Leonel Brizola, Paulo Autran, Bibi Ferreira, Doris Day, Pier Paolo Pasolini, Jack Kerovac, Alan Resnais, Dias Gomes, Darcy Ribeiro, Otto Lara Resende. O filme “Nosferatu”, de F. W. Murnau, foi lançado em 1922, assim como o filme “Doutor Mabuse, o Jogador”, de Fritz Lang. 

Outro evento importante ocorrido em 1922, com a vitória dos bolcheviques na guerra civil que se seguiu à Revolução Russa de 1917, foi a formação da União Soviética, englobando a Rússia, a Ucrânia, a Bielorússia e a Transcaucásia

Nesse mesmo ano, ocorreu no Brasil a criação do Partido Comunista Brasileiro, no dia 25 de março. Fundado por nove comunistas, tinha a denominação de Partido Comunista-Seção Brasileira da Internacional Comunista (PC-SBIC). Colocado na ilegalidade no mesmo ano de fundação, o PC-SBIC voltou à legalidade em 1927. 

Como o próprio nome diz, não se tratava de um partido político brasileiro, mas de um partido estrangeiro, apátrida, subversivo, dirigido e orientado pelo Komintern (Internacional Comunista), que foi criado em 1919 e encerrado em 1943, também conhecido como Terceira Internacional, para propagação do comunismo em todo o mundo. 

O PC-SBIC tinha obrigação de seguir as “21 condições” para novos partidos comunistas ingressarem no Komintern, estabelecidas pelo II Congresso Mundial da Internacional Comunista, reunido em Moscou no período de 19 de julho a 7 de agosto de 1920: 

1. A propaganda e a agitação cotidianas devem ter um caráter efetivamente comunista e corresponder ao programa e às resoluções da 3.ª Internacional. Os órgãos de imprensa controlados pelo Partido devem ter a redação a cargo de comunistas fiéis, provadamente devotados à causa proletária. A ditadura do proletariado não deve ser abordada como um simples chavão de uso corrente, mas preconizada de modo que todo operário, operária, soldado e camponês comum deduzam sua necessidade dos fatos da vida real, mencionados diariamente em nossa imprensa.

As editoras partidárias e a imprensa, periódica ou não, devem estar inteiramente submetidas ao Comitê Central, seja o Partido como um todo atualmente legal ou não. É inadmissível que as editoras abusem de sua autonomia e sigam uma política que não corresponda à do Partido.

Nas páginas dos jornais, nos comícios populares, nos sindicatos, nas cooperativas e onde quer que os partidários da 3.ª Internacional encontrem livre acesso, é indispensável atacar de modo sistemático e implacável não somente a burguesia, mas também seus cúmplices, os reformistas de todos os matizes. 

2. As organizações que desejam filiar-se à Internacional Comunista devem afastar de modo planejado e sistemático os reformistas e os “centristas” dos postos minimamente importantes no movimento operário (organizações partidárias, redações, sindicatos, bancadas parlamentares, cooperativas, municipalidades etc.) e substituí-los por comunistas fiéis, sem abalar-se com o fato de às vezes ser necessário, de início, trocar militantes “experientes” por operários comuns. 

3. Em quase todos os países da Europa e da América, a luta de classes está entrando na fase da guerra civil. Em tais circunstâncias, os comunistas não podem confiar na legalidade burguesa e devem formar em toda parte um aparelho clandestino paralelo que possa, no momento decisivo, ajudar o Partido a cumprir seu dever perante a revolução. Nos países onde os comunistas, por conta do estado de sítio ou das leis de exceção, não possam atuar em total legalidade, é absolutamente indispensável combinar o trabalho legal e o clandestino. 

4. O dever de propagar as ideias comunistas inclui a necessidade especial da propaganda persistente e sistemática nos exércitos. Nos lugares onde as leis de exceção proíbem essa agitação, ela deve ser realizada clandestinamente. Renunciar a essa tarefa equivale a trair o dever revolucionário e desmerecer a filiação à 3.ª Internacional.  

5. É indispensável a agitação sistemática e planejada no campo. A classe operária não pode garantir sua vitória sem atrair ao menos uma parcela dos assalariados agrícolas e dos camponeses mais pobres e neutralizar com sua política uma parte dos setores rurais restantes. O trabalho comunista no campo está adquirindo atualmente a mais alta importância. Para realizá-lo, é especialmente indispensável o auxílio dos trabalhadores comunistas revolucionários da cidade e do campo ligados ao campesinato. Renunciar a essa tarefa ou delegá-la a semirreformistas duvidosos equivale a renunciar à própria revolução proletária. 

6. Os Partidos que desejam filiar-se à 3.ª Internacional devem denunciar não somente o social-patriotismo aberto como também a falsidade e a hipocrisia do social-pacifismo, demonstrando sistematicamente aos trabalhadores que, sem a derrubada revolucionária do capitalismo, nenhuma corte internacional de arbitragem, nenhum tratado de redução de armamentos e nenhuma reorganização “democrática” da Liga das Nações livrará a humanidade de novas guerras imperialistas. 

7. Os Partidos que desejam filiar-se à Internacional Comunista devem reconhecer a necessidade da ruptura completa e definitiva com o reformismo e o “centrismo” e preconizá-la entre o grosso da militância. Sem isso, torna-se impossível realizar uma política comunista consequente. 

A Internacional Comunista exige de modo incondicional e categórico que se realize essa ruptura o mais rápido possível. Não se pode admitir que oportunistas notórios como, por exemplo, Turati, Kautsky, Hilferding, Hillquit, Longuet, MacDonald, Modigliani e outros tenham o direito de considerarem-se membros da 3.ª Internacional, o que a levaria a equiparar-se fortemente à falida 2.ª Internacional. 

8. Na questão colonial e das nações oprimidas, é indispensável que tenham uma linha particularmente clara e precisa os Partidos dos países cuja burguesia possui colônias e oprime outros povos. Os Partidos que desejam filiar-se à 3.ª Internacional devem denunciar implacavelmente as artimanhas de “seus” imperialistas nas colônias; apoiar os movimentos de libertação nas colônias não somente em palavras, mas também em atos; exigir a expulsão de seus compatriotas imperialistas das colônias; cultivar nos corações dos operários de seus países um sentimento fraternal sincero para com a população trabalhadora das colônias e das nações oprimidas; e realizar entre as tropas da metrópole uma agitação sistemática contra todo tipo de opressão dos povos coloniais.

9. Os Partidos que desejam filiar-se à Internacional Comunista devem realizar uma atividade sistemática e persistente nos sindicatos, nos conselhos operários e industriais, nas cooperativas e em outras organizações de massas, onde é indispensável criar células que, após longo e persistente trabalho, ganhem-nas para a causa comunista. Inteiramente subordinadas ao conjunto do Partido, essas células devem, a cada passo de seu trabalho cotidiano, denunciar as traições dos sociais-patriotas e as hesitações dos “centristas”. 

10. Os Partidos filiados à Internacional Comunista devem insistentemente lutar contra a “Internacional” Sindical Amarela de Amsterdã e preconizar entre os operários sindicalizados a necessidade de romper com ela. Esses Partidos devem apoiar, por todos os meios, a nascente unificação internacional dos sindicatos vermelhos que apoiam a Internacional Comunista.

11. Os Partidos que desejam filiar-se à 3.ª Internacional devem rever a composição de suas bancadas parlamentares, removendo os elementos desconfiáveis, submetendo-as ao Comitê Central do Partido não somente em palavras, mas também na prática, e exigindo que cada parlamentar comunista sujeite sua atuação aos interesses da propaganda e da agitação realmente revolucionárias. 

12. Os partidos filiados à Internacional Comunista devem ser organizados segundo o princípio do “centralismo” democrático. No atual período de guerra civil encarniçada, um Partido Comunista só poderá cumprir seu dever se for organizado da maneira mais centralizada possível, se nele predominar uma disciplina férrea que beire a militar e se seu órgão central gozar de forte autoridade, de amplos poderes e da confiança unânime da militância. 

13. Os Partidos Comunistas que atuam legalmente devem realizar depurações periódicas (recadastramentos) entre os efetivos de suas organizações para remover sistematicamente os inevitáveis elementos pequeno-burgueses. 

14. Os Partidos que desejam filiar-se à Internacional Comunista devem apoiar incondicionalmente cada República Soviética em seu combate às forças contrarrevolucionárias. Os Partidos Comunistas devem buscar continuamente convencer os trabalhadores a não transportar material bélico aos inimigos dessas Repúblicas, devem realizar uma propaganda legal ou clandestina entre as tropas enviadas para sufocar as repúblicas operárias etc. 

15. Os Partidos que ainda mantêm seus velhos programas social-democratas devem revisá-los o mais rápido possível e elaborar um novo, afinado com as resoluções da Internacional Comunista e adaptado às particularidades nacionais. Como regra, os programas dos Partidos filiados devem ser aprovados pelo Congresso Mundial seguinte ou pelo Comitê Executivo da Internacional Comunista. Caso este não aprove determinado programa, o Partido tem o direito de recorrer ao Congresso Mundial. 

16. Todas as resoluções dos congressos da Internacional Comunista, bem como as de seu Comitê Executivo, são obrigatórias para os Partidos a ela filiados. Atuando em meio à mais encarniçada guerra civil, a Internacional Comunista deve ser organizada de forma muito mais centralizada do que a 2.ª Internacional. Além disso, o trabalho da Internacional Comunista e de seu Comitê Executivo deve evidentemente levar em conta as diferentes circunstâncias em que luta e atua cada Partido e só tomar decisões de obrigação geral nas questões em que isso seja realmente possível. 

17. Conforme tudo o que foi exposto acima, os Partidos que desejam filiar-se à Internacional Comunista devem mudar seu nome para Partido Comunista de tal país (Seção da 3.ª Internacional Comunista). A questão do nome não é meramente formal, mas possui grande importância. A Internacional Comunista declarou uma guerra decidida contra o mundo burguês e os partidos social-democratas amarelos. É indispensável deixar completamente clara a todo trabalhador comum a diferença entre os Partidos Comunistas e os velhos partidos “social-democratas” ou “socialistas” oficiais que traíram a bandeira da classe operária. 

18. Os órgãos dirigentes da imprensa partidária de todos os países devem publicar todos os documentos oficiais importantes do Comitê Executivo da Internacional Comunista. 

19. Os Partidos filiados à Internacional Comunista ou que solicitaram sua filiação devem convocar o mais rápido possível, mas até quatro meses após o 2.º Congresso Mundial, um congresso extraordinário para discutir internamente estas condições. Além disso, os Comitês Centrais devem cuidar para que todas as organizações de base conheçam as resoluções do 2.º Congresso da Internacional Comunista.  

20. Os Partidos que gostariam de filiar-se agora à 3.ª Internacional, mas ainda não mudaram radicalmente sua antiga tática, devem cuidar para que, até sua filiação, não menos de 2/3 de seu Comitê Central e de seus principais órgãos centrais sejam compostos por camaradas que, antes do 2.º Congresso da Internacional Comunista, já tenham se manifestado de forma aberta e inequívoca a favor do ingresso de seu Partido. O Comitê Executivo da 3.ª Internacional tem o direito de admitir exceções, inclusive no caso dos representantes “centristas” mencionados na condição 7. 

21. Devem ser expulsos do Partido os membros que rejeitarem por princípio as condições e teses apresentadas pela Internacional Comunista. O mesmo vale para os delegados do congresso extraordinário de cada Partido” (in “21 condições de admissão (Comintern)”, com tradução de Erick Fishuk - cfr. em http://www.fishuk.cc/2014/08/condicoes.html#volta30). 

Luiz Carlos Prestes foi o mais famoso “militante” do PCB, ocupando o cargo de Secretário-Geral por 37 anos. Passou a ser membro do PC-SBIC em 1931. 

Em 1934, o PC-SBIC passou a denominar-se Partido Comunista Brasileiro (PCB). 

Prestes, convertido ao comunismo após a dissolução da Coluna Miguel Costa-Prestes (que os gatunos comunistas conseguiram rebatizar como sendo a “Coluna Prestes”), realizou cursos em Moscou e, a soldo do Komintern, do PCB e da Aliança Nacional Libertadora (ANL), deflagrou a sangrenta Intentona Comunista, em 1935. Esse primeiro grande crime de lesa-pátria do PCB, ocorrido em Natal, Recife e Rio de Janeiro, ocasionou a morte de 34 militares (alguns friamente assassinados enquanto dormiam nos quartéis) e de mais de 1.000 civis. O jornal Inconfidência, no dia 27 de novembro de 2018, publicou uma edição históricadaIntentonaComunista-cfr.em http://www.grupoinconfidencia.org.br/sistema/images/pdf/jornaisanteriores/inconfidencia258.pdf

Em 1935, antes do levante comunista, um “Tribunal Vermelho” do PCB promoveu o “justiçamento” (assassinato) de Bernardino Pinto de Almeida, o ”Dino Padeiro”, por crime de traição. Em 2 de dezembro de 1935, o PCB fez “justiçamento” de Afonso José dos Santos, cujo crime só foi elucidado em 1941. 

Um dos crimes mais horrendos perpetrados pelo PCB foi o assassinato de Elvira Cupelo Colônio, a “Elza Fernandes” ou “Garota”, amante, desde os 16 anos, de Antônio Maciel Bonfim, o “Miranda”, na época secretário-geral do PCB. Presa junto com “Miranda” após a Intentona Comunista, no início de janeiro de 1936, a “Garota” foi solta e passou a ser considerada traidora junto à cúpula do PCB. Condenada à morte por Luís Carlos Prestes, escondido em sua casa no bairro do Méier, Rio de Janeiro, seus companheiros foram contra, levando reprimenda de Prestes, que assim se expressou em uma carta: 

“Fui dolorosamente surpreendido falta de resolução e vacilação de vocês. Assim, não se pode dirigir o Partido do Proletariado, da classe e revolucionária. (...) Por que modificar a decisão a respeito da ‘garota’? Que tem a ver uma coisa com a outra? Há ou não há traição por parte dela? É ou não é ela perigosíssima para o Partido? (...) Com plena consciência de minha responsabilidade, desde os primeiros instantes tenho dado a vocês minha opinião quanto ao que fazer com ela. Em minha carta de 16, sou categórico e nada mais tenho a acrescentar. (...) Uma tal linguagem não é digna dos chefes do nosso Partido, porque é a linguagem dos medrosos, incapazes de uma decisão, temerosos ante a responsabilidade. Ou bem que vocês concordam com as medidas extremas, e neste caso já as deviam ter resolutamente posto em prática, ou então discordam mas não defendem como devem tal opinião”. 

A “Garota” foi então estrangulada com uma corda em volta do pescoço e, como o corpo não coubesse em um saco, foi partido ao meio e enterrado nos fundos de uma casa, em Guadalupe, no Rio de Janeiro. Estava perpetrado um dos crimes mais hediondos cometidos pelo PCB. 

A história do Partidão e “Os crimes do PCB”, incluindo outros “justiçamentos”, podem ser conferidos no “ORVIL” 

Após esse levante militar, o PCB foi colocado na ilegalidade. Preso em 15 de março de 1936, Prestes foi anistiado pelo Presidente Getúlio Vargas, em 1945, ano em que o PCB retorna à legalidade e Prestes se elegeu senador pelo PCB, com 140 mil votos, até então a maior votação para o Senado. 

A bancada comunista, em 1945, foi de 17 deputados federais, entre eles Jorge Amado, Carlos Marighella e Gregório Bezerra. O PCB foi colocado novamente na ilegalidade em 1947 pelo Superior Tribunal Eleitoral, por ser um partido supranacional que defendia a ditadura do proletariado. Em 1948, os parlamentares do PCB foram cassados. 

Em 1962, ocorre a primeira grande dissidência dentro do PCB, com a criação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Essa dissidência ocorreu após as denúncias dos crimes de Stálin apresentadas por Nikita Krutschev durante o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), em 1956. O PCdoB teria destaque, anos mais tarde, na Guerrilha do Araguaia (1967-1974). 

O PCB conheceu seu mais longo período de clandestinidade durante o governo dos generais-presidentes, de 1964 a 1985. Diferente do PCdoB, o PCB não se envolveu diretamente na luta armada durante o “regime militar”, empunhando armas pela “redemocratização” do Brasil, mas na luta gramscista de “ocupação de espaços” em todos os setores nacionais, onde “Herbert Marcuse dava o pretexto ideológico e Antonio Gramsci a modalidade de organização partidária”, no dizer de Olavo de Carvalho. 

Ainda na década de 1970, essa tomada de “ocupação de espaços” ocorreu especialmente nas redações de jornais e revistas, com destaque para a atuação de Frei Betto e frades dominicanos, que tinham contato com o Agrupamento Comunista de São Paulo (AC/SP), embrião da Ação Libertadora Nacional (ALN), fundado em 1968 por Carlos Marighella, por discordar do PCB quanto à luta armada após este participar da OLAS, em Cuba, em 1967. Marighella havia abandonado um curso de Engenharia para se filiar ao PCB em 1934. O AC/SP tinha assistência jurídica, composta de 3 advogados: Nina Carvalho, Modesto Souza Barros Carvalhosa e Raimundo Paschoal Barbosa. Quando procurado pela polícia, em São Paulo, Frei Beto, que havia ingressado no convento dos dominicanos, em São Paulo, em 1966, foi acobertado pelo Provincial da Ordem, Frei Domingos Maia Leite, e transferido para o seminário dominicano Christo Rei, em São Leopoldo, RS. Frei Beto foi preso no RS, onde atuava junto com a ALN para fuga de terroristas ao Uruguai. 

Frei Betto, quando atuava como repórter na Folha da Tarde, recrutou os jornalistas Jorge Miranda Jordão (Diretor), Luiz Roberto Clauset, Rose Nogueira e Carlos Guilherme de Mendonça Penafiel. A “ocupação de espaços” incluía também a TV Cultura (Vladimir Herzog), as universidades (método Paulo Freire), as editoras de livros (Civilização Brasileira, de Ênio Silveira), o meio intelectual (Caio Prado), os centros de cultura popular e até as igrejas, especialmente a Igreja Católica dos “progressistas” Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Hélder Câmara e Frei Leonardo Boff. 

Na Editora Abril, a base de apoio era de aproximadamente 20 pessoas, comandadas pelo jornalista Roger Karman, e composta por Karman, Raymond Cohen, Yara Forte, Paulo Viana, George Duque Estrada, Milton Severiano, Sérgio Capozzi e outros, que elaboraram um arquivo secreto sobre as organizações armadas (servia também como fonte de informações para organizações subversivas). O antigo membro do PCB, escritor e filósofo Olavo de Carvalho, em depoimento à “História Oral do Exército - 31 Março 1964”, descreve como ocorreu essa nova intentona comunista, cujas consequências permanecem até os dias atuais, com destaque para a predominância do ensino da ideologia comunista nas escolas e nas universidades (cfr. trechos da entrevista de Olavo em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/12/olavo-de-carvalho-na-historia-oral-do.html). 

Assim, pode-se afirmar que tanto a ALN de Carlos Marighella, quanto a VPR de Carlos Lamarca, são filhos diletos do PCB. Durante o “regime militar”, mais de uma centena de “genéricos do PCB” foram criados no Brasil, para propagar o terrorismo e a subversão, com vistas a implantar uma ditadura comunista no País. Para isso, os terroristas fizeram cursos em Moscou, Pequim e em Cuba. Uma lista desses movimentos terroristas que infernizaram o Brasil nas décadas de 1960 e 1970 pode ser conferida no link https://felixmaier1950.blogspot.com/2021/12/organizacoes-subversivas-brasileiras.html

Com a Lei da Anistia, de 1979, muitos brasileiros voltaram do exílio e começaram a reorganizar partidos políticos, como Leonel Brizola. 

Em maio de 1980, Prestes foi substituído na presidência do Partidão pelo cabo Giocondo Dias, por muitos anos seu motorista e guarda-costas. 

Em 1985, com o fim do governo militar, tanto o PCB, quanto o PCdoB voltaram a funcionar como partidos políticos. 

O Senador Roberto Freire foi o último comunista brasileiro a receber dinheiro da antiga URSS, o tal “ouro de Moscou”, por ocasião de sua campanha eleitoral à Presidência do Brasil, em 1989. Quem fez esta declaração foi o ex-diplomata da União Soviética no Brasil, Vladimir Novikov, coronel da KGB, que serviu em Brasília sob a fachada de Adido Cultural junto à Embaixada Soviética, nos anos de 1980. 

O Ministro da Justiça do Presidente Fernando Henrique Cardoso, Aloysio Nunes Ferreira Filho, foi “militante” do PCB e da Aliança Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, ocasião em que participou do assalto ao trem-pagador Santos-Jundiaí, em 1968. 

Nesses 100 anos de história e inúmeros crimes praticados, o PCB teve três candidatos a Presidente da República: Minervino de Oliveira (1930), Yedo Fiúza (1945) e Roberto Freire (1989). 

Em 1992, o PCB transformou-se em Partido Popular Socialista (PPS) após a dissolução da União Soviética, porém foi recriado em 1995 (bandeira com foice e martelo) por comunistas históricos, que não aceitaram a nova ordem mundial após o fim da URSS. 

Ultimamente, voltou à baila a ideia de criminalizar também os símbolos comunistas, como já é feito, acertadamente, com os símbolos nazistas, como estabelece a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Obviamente, essa Lei está incompleta, pois não pode um país democrata permitir que o símbolo da foice e do martelo seja tolerado. Assim, em 6 de junho de 2016, elaborei um abaixo-assinado, para que esse símbolo que promoveu a morte de mais de 100.000.000 de pessoas ao redor do mundo durante o século XX seja também criminalizado, e o PCB e o PCdoB proscritos definitivamente em nosso País - cfr. em https://felixmaier1950.blogspot.com/2021/07/pela-criminalizacao-dos-simbolos.html

No livro do pensador francês Jean-François Revel, “A Grande Parada”, há um capítulo com o sugestivo nome de “Cláusula do totalitarismo preferido”. Nesse capítulo, uma passagem chama a atenção para descrever a diabolização dos totalitarismos ditos de direita e a santificação dos totalitarismos comunistas:  

“Alguns diques se romperam, a linha fortificada da ideologia nem sempre conseguiu se manter intacta, mas o essencial, ou seja, o princípio da desigualdade de tratamento entre o totalitarismo dito de esquerda e o dito de direita permaneceu. A década de 1980-1990 foi marcada pelo reconhecido desmoronamento do socialismo democrático. A década de 1990-2000 foi marcada pelos esforços desenvolvidos, com grande sucesso, para obliterar os ensinamentos advindos dessas experiências históricas” (REVEL, 2001: 147). 

Com referência ao projeto de criminalizar também os símbolos comunistas, Roberto Freire reclamou, no Twitter, que não poderia aceitar tal absurdo, porque ele seria classificado como “criminoso”. O velho comunista, hoje presidente do Cidadania, perdeu o Partidão, mas não o cinismo comunista, que é próprio de todo defensor da Peste Vermelha. 

Roberto Freire retuitou várias mensagens da Fundação Astrogildo Pereira, referente ao “Seminário Internacional do PCB”, ocorrido no período de 8 a 10 de março de 2022, do qual foi um dos palestrantes do evento - cfr. em https://www.fundacaoastrojildo.org.br/seminario-internancional-destaca-os-100-anos-do-partido-comunista-brasileiro/. Como se pode comprovar, Roberto Freire pode não se apresentar mais como um comunista, mas sente uma grande nostalgia do PCB, a exemplo de um cara que teve no passado uma querida namorada ou esposa, e que a “desfruta” de vez em quando para matar a saudade. 

No Twitter da Fundação Astrojildo Pereira, consta: 

“Astrojildo Pereira @FAPAstrojildo 8 de mar

Confira a transmissão do primeiro dia do Seminário Internacional PCB 100 anos.

https://twitter.com/FAPAstrojildo/status/1501241346169917440?s=20&t=LUV3Z9n0a934qQlHPF1Zrw” 

Como se pode observar, a “cláusula do totalitarismo preferido”, enunciado por Revel, referente aos partidos e ideólogos comunistas, continua sendo defendido no Brasil por uma multidão, com unhas e dentes na jugular, a mesma que defende os “bandidos de estimação” existentes no Brasil, a começar pelo maior ladravaz da história nacional, Lula da Silva.

Felix Maier - matéria transcrita do site Percival Puggina - por Blog Prontidão Total 

 

sábado, 13 de julho de 2019

Os militares na política

“Em política o absurdo não é obstáculo”

Napoleão Bonaparte

A campanha de 2022 está nas ruas. Bolsonaro lutará para não entregar o poder ao adversário

O meu primeiro contato com a história militar do Brasil foi aos 15 anos, quando meu pai, Ulysses, me comprou A Retirada da Laguna – Episódio da Guerra do Paraguai, de Alfredo D’Escragnolle Taunay, visconde de Taunay, oficial superior do Exército Brasileiro, senador do Império, membro da Academia Brasileira de Letras (1843-1889).O exemplar pertence à 12.ª edição, sem data, publicada pela Cia. Melhoramentos. É mais completo do que a edição da Companhia das Letras comercializada em 1997 – faltam-lhe a fotografia do coronel Carlos de Morais Camisão e dos subcomandantes, o mapa do trajeto da expedição, desenhos de marchas e combates, documentos do Exército sobre a campanha, a reprodução do retrato a óleo do visconde de Taunay, do pintor Luiz Augusto Moreaux.

A epopeia da Laguna ocupa lugar destacado entre os grandes feitos militares brasileiros. O livro, como escreveu Taunay no prólogo da primeira edição, narra “a série de provações que a expedição brasileira, em operação ao sul da província do Mato Grosso, suportou a partir da fazenda Laguna, a três léguas e meia do rio Apa, fronteira do Paraguai até o rio Aquidauana, em território brasileiro, percorrendo ao todo 39 léguas em 35 dias de dolorosa memória”. Légua é antiga medida de distância, correspondente, no Brasil, a 6.600 metros.

Na 2.ª Guerra Mundial (1939-1945), revidando as agressões alemãs, o Brasil enviou uma divisão da Infantaria à Itália, sob o comando do general Mascarenhas de Moraes, para lutar ao lado das forças norte-americanas. Extensa literatura relata como durante um ano, sob condições adversas, oficiais e soldados do Exército e integrantes da Força Aérea Brasileira superaram os limites extremos da coragem e do sacrifício, na defesa da liberdade e contra a opressão nazi-fascista. Encerrada a guerra, o regime democrático foi restabelecido com a deposição de Getúlio Vargas e a promulgação da Constituição de 18/9/1946. Vigorou por 18 anos. Foi abatido com a derrubada de João Goulart, em 31/3/1964, seguida pela edição do Ato Institucional de 10/4/1964, baixado pelo Comando Supremo da Revolução, representado pelos comandantes-chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Tinha início, como previra João Goulart ao ministro do Trabalho, João Pinheiro Neto, sombrio período autoritário de 20 anos, entremeados por breves momentos de abertura. O regime caracterizava-se pela ausência de segurança provocada pela edição de atos institucionais, atos complementares e decretos-leis, alguns ainda em vigor, acolhidos pela Constituição de 1988. A recessão econômica, o desemprego, o crime organizado, as invasões de propriedades produtivas, o aparelhamento do Estado, a desenfreada corrupção, a compra de votos, o “toma lá dá cá” no Legislativo, a inoperância do Judiciário despertaram na sociedade civil sentimento de indignação, transformado em crescente movimento pela volta dos militares.

A vitória de Jair Bolsonaro, obscuro deputado federal eleito e reeleito por legendas inexpressivas, deveu-se a variada gama de fatores. O primeiro, e mais relevante, o fato de pertencer à reserva do Exército, com a patente de capitão. Durante a breve campanha, na maior parte do tempo recolhido a leito hospitalar, fazia-se conhecer como capitão Bolsonaro. Ao apresentar como pontos programáticos fundamentais o rearmamento da população e o restabelecimento de ambiente de segurança, conseguiu vigorosa adesão do empresariado ligado ao agronegócio, da classe média urbana, de donas de casa, de jovens desiludidos com a velha política. Com o PT desmoralizado e acéfalo por falta de liderança, e o PSDB encolhido e calado pelo receio de fazer oposição, não lhe foi difícil derrotar os adversários e conduzir ao Planalto, na mochila, senadores e deputados.

Promessa feita em campanha só tem valor para quem a ouve, dizia o astuto político mineiro Benedito Valadares. Esquecido do compromisso assumido, Jair Bolsonaro admite publicamente a candidatura à reeleição. Acredito que, se grave erro não vier a cometer, terá chances de ser reeleito. Bons livros sobre política não faltam. Entre os que analisaram o período compreendido entre 1964 e 1985, alguns são essenciais. Temos os publicados por Hélio Silva, Elio Gaspari, Thomas Skidmore e a obra da Editora Getúlio Vargas 21 Anos de Regime Militar – Balanços e Perspectivas. Ao brasilianista Alfred Stepan (27/2/1936-26/9/2017) pertencem duas das melhores obras: Os Militares na Política (Ed. Artenova, RJ, 1975) e Os Militares: da Abertura à Nova República (Ed. Paz e Terra, RJ, 1986).

Neste último encontramos entrevista dada ao autor pelo presidente Ernesto Geisel. Declarou que não havia recebido mandato para iniciar o processo de distensão, mas admitiu ser necessária; que liderava as Forças Armadas como instituições hierárquicas; que não desejava concluir o mandato com o Ato Institucional n.º 5 em vigor. Quando o entrevistador lhe indagou quais os objetivos no longo prazo, respondeu: “Qual o primeiro princípio de Maquiavel? Que os governos devem lutar para manter o poder”. Acrescentou que não desejava conservar-se no poder indefinidamente, registrando, porém, que “nenhum governo diz aos aliados que quer entregar o governo à oposição”.

A campanha de 2022 está nas ruas. Até lá muita água correrá sobre e sob a ponte. Consumidos seis meses, é impossível prever como se sairá o presidente Jair Bolsonaro. Enfrenta desafios urgentes e graves de caráter político, de ordem fiscal e de natureza social, como o desemprego e a pobreza. Ignoro se leu Maquiavel e as obras de Alfred Stepan. Creio, porém, que lutará para não entregar o poder ao adversário.
 
 
O Estado de S. Paulo - Almir Pazzianotto Pinto


 

domingo, 29 de outubro de 2017

O filho de Cesar Maia

Temer desce, Rodrigo Maia sobe. Cresceu, encorpou e está cheio de minhocas na cabeça

Michel Temer foi o grande vencedor na votação das duas denúncias de Rodrigo Janot, certo? Nem tanto, porque Temer vem encolhendo a cada pesquisa, a cada delação e a cada ginástica para salvar o pescoço na Câmara. E, quanto mais ele encolhe, mais Rodrigo Maia infla. [que importância tem o 'inchaço' de Rodrigo Maia? todo tumor quando incha demais, estoura.]  Derrotada a segunda denúncia na Câmara, quem ocupou os espaços na mídia não foi Temer, foi Maia. Isso diz muito. Diz, por exemplo, que Temer venceu, mas está em contagem regressiva para virar passado, enquanto Maia afirma-se no presente e se lança para o futuro.

Há uma fatalidade histórica nessa balança entre Temer e Maia: presidentes fracos, Congresso forte. Foi assim com Sarney e Ulysses o tempo todo, com Fernando Henrique e Antônio Carlos Magalhães em alguns momentos e com Dilma e Eduardo Cunha, principalmente no fim da era PT.  Como o próprio Maia repete, por mais fraco que seja, um presidente sempre é forte, porque tem os “instrumentos” – a caneta, por exemplo. Mas, se a principal meta de Temer é a reforma da Previdência, ele só tem alguma chance se Maia usar seus próprios “instrumentos”.

É Maia quem define a pauta, “esquece” ou não pedidos de impeachment, articula com os líderes, conhece cada deputado, sabe ler (e, quando necessário, manipular) o regimento. Temer tem o pão e quer fazer um sanduíche, mas é Maia quem está com a faca e o queijo na mão.  Até o impeachment de Dilma, só quem acompanha a política de perto sabia quem era Rodrigo Maia, “o filho do Cesar Maia”, que tem eleições apertadas no Rio e teve míseros 3% para a prefeitura em 2012. Mas o menino cresceu, encorpou, está cheio de minhocas na cabeça. Depois de abanar a mosca azul na primeira denúncia, não voltou a ser cotado para o lugar de Temer numa “emergência”, mas, dia sim, dia não, tem de negar que seja candidato ao governo do Rio ou à Presidência em 2018.

Terra arrasada, o Estado de Cabral e Pezão é propício a novos nomes, e a presidência da Câmara é alavanca poderosa e chance única de exposição. A primeira entrevista após a votação da denúncia de Temer foi de Maia, que não saiu mais de TVs, rádios, jornais e blogs. Ele, porém, está convencido que a calamidade no Rio exige a experiência dos ex-prefeitos Cesar Maia e Eduardo Paes.  Quanto à Presidência: se até o Luciano Huck é lembrado, por que não quem já é o segundo na linha sucessória?  [o Waldir Maranhão ocupou o mesmo cargo de Maia e agora é apenas NADA do NADA; Para conhecer  melhor o prestigio  = potencial de derrotas do campeão das pesquisas, clique aqui.]  

O campeão das pesquisas é réu em sete processos, já condenado em um, seguido de um deputado cuja principal credencial é ter sido militar há décadas. E, quando há tantos nomes, é porque nenhum é levado a sério. Sempre cabe mais um.

Rodrigo Maia, porém, demonstra alguma maturidade ao repetir sempre que conhece sua real dimensão e que, ao contrário de um Ulysses, não tem estatura, por ora, para tal audácia. Sua obsessão é encorpar o DEM, tenha que nome vier a ter, e ele se enfurece quando o PMDB de Temer e Romero Jucá intercepta potenciais adesões ao seu partido. Mexeu com o DEM, mexeu com Maia. Mas o DEM errou ao não aproveitar o excesso de exposição e o vento a favor para soltar o balão Maia para 2018. Não para ganhar, mas para fortalecer a sigla e os trunfos de negociação.  Independente do que o futuro lhe reserva, Rodrigo Maia, aos 47 anos, assumiu protagonismo na crise e Temer não tem alternativa: com ele, a reforma da Previdência já é muito difícil; sem ele, fica praticamente impossível. Como, aliás, fica muito difícil até governar.

PUGILATO

Assim como Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski no mensalão, Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso dividem o ringue na Lava Jato. Quem ganha? Ninguém. Todos perdem, mas quem perde mais é o Supremo Tribunal Federal do nosso pobre Brasil.

 Fonte: Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O General que salvou a Nova República.......



General Leônidas garantiu a posse de Sarney em 1985 [com isso permitiu que surgisse a excrescência que desgoverna o Brasil desde então (descontando o pequeno período do presidente Itamar Franco)]

A morte do general Leônidas Pires Gonçalves, quinta-feira, encerra um ciclo iniciado anos antes da Guerra do Paraguai, ainda no Império, quando altos oficiais das forças armadas começaram a atuar politicamente e a pronunciar-se sobre a realidade institucional do país. Uns de forma truculenta e ambiciosa, outros trabalhando para o aprimoramento democrático e a pacificação nacional. Foi o caso do general Leônidas, responsável pela superação do primeiro obstáculo anteposto ao desenvolvimento da Nova República. 

Na madrugada de 15 de março de 1985, a nação mostrava-se estarrecida pela internação de Tancredo Neves no Hospital de Base de Brasília. Já nomeado novo ministro do Exército, com a Constituição na mão, ele convenceu as lideranças políticas de que, na impossibilidade de o presidente eleito tomar posse, o juramento deveria ser prestado pelo vice-presidente eleito, José Sarney.[o grande erro do general Leônidas foi esquecer que um vice só –e vice após o titular  estar devidamente empossado.
Tancredo não havia sido empossado,  então como Sarney poderia ser o vice? Vice de que? E a assunção do Sarney transformou o Brasil no desastre que ainda hoje impera e crescendo – não o Brasil e sim o desastre.]

Havia controvérsias na interpretação do texto constitucional. O vice substituiria e sucederia o presidente, no caso de impedimento temporário ou permanente, mas, assim como Tancredo, Sarney ainda não tinha tomado posse. [é tão óbvio que chega a surpreender como tantos conseguem ser tão errados na interpretação de uma norma tão clara.
Se Tancredo não havia sido empossado, obviamente, NÃO ERA presdiente; não sendo presidente, quem havia sido eleito para ser o seu vice também não poderia ser vice.]  Muitos sustentavam a aplicação do artigo determinando que se não tivesse havido posse do presidente e do vice eleitos, assumiria o presidente da Câmara dos Deputados, então Ulysses Guimarães, para convocar novas eleições em trinta dias.

VÍDEO: Entrevista do General Leônidas Pires Gonçalves 

 [errou pouco mas um dos seus raros erros foi exatamente no momento que não podia errar: - quando se meteu a ‘constitucionalista’ e interpretou de forma errada a Carta Magna, permitindo a criação da famigerada Nova República.]

Seria o caos, em especial porque no governo Figueiredo, horas antes de terminar, alguns generais pretendiam aproveitar a situação para melar o jogo, não entregando o poder a Sarney. Além do próprio último general-presidente, inclinavam-se pela sua permanência o ministro do Exército, Walter Pires, e o chefe do Serviço Nacional de Informações, Octávio Medeiros. [a pretexto de evitar o caos – apenas imaginado – aceitaram ignorar a Constituição e dar posse ao homem que destruiu o Brasil = Sarney.] 

LEITÃO DE ABREU
O chefe da Casa Civil, Leitão de Abreu, sustentava a posse de Sarney. Naquela madrugada, recebeu os líderes do novo governo e sua opinião serviu para desfazer a dúvida gerada pela hesitação dos dois personagens principais: Sarney achava que Ulysses deveria assumir e este, para evitar a crise, defendia o contrário. Desambiciosos, ambos, mas trafegando num fio de navalha.

Foi quando o general Leônidas Pires Gonçalves, ainda sem ter assumido o ministério do Exército, mas já ministro de fato e, vale repetir, com a Constituição na mão, [Constituição na mão em um gesto apenas simbólico, já que a interpretação não coincidia com nenhuma interpretação isenta do texto escrito na mesma.] decidiu pelos políticos e pelos juristas: não havia dúvida, deveria ser José Sarney a prestar juramento no Congresso e a ocupar o governo. Num telefonema ao vice, participou-lhe a decisão e, alta madrugada, despediu-se com um  Boa noite, presidente!”

MOMENTOS CRUCIAIS
São desses momentos cruciais na história dos povos e das nações. A Nova República poderia [deveria] ter sido demolida antes mesmo de nascer, mas graças à intervenção de um general, sobreviveu e afirmou-se. Como represália, Figueiredo deixou o palácio do Planalto pouco antes da chegada de Sarney, a quem recusou-se a passar a faixa presidencial. Só que o vice já detinha o poder, vestiu sozinho a faixa e empossou o ministério escolhido por Tancredo.

Apenas um detalhe a mais. No auge da confusão da madrugada, quando o general Walter Pires aventou a hipótese de movimentar a tropa para manter Figueiredo, ouviu de Leitão de Abreu que não podia, pois não era mais ministro. Sua demissão havia sido assinada pelo presidente e vinha publicada no Diário Oficial. O ministro do Exercito já era Leônidas Pires Gonçalves e sua participação na vida política brasileira foi a última intervenção castrense nas questões político-institucionais do país.



VÍDEO: General Leônidas: Lamarca
São vídeos como o acima que compensam o grande erro cometido pelo general Leônidas ao empossar Sarney

Lamarca foi um terrorista imundo que hoje é chamado de herói. As verdades sobre ele foram ditas pelo digníssimo General.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Os militares venceram com louvor. Mas erraram feio, foram ingênuos, quando concederam ANISTIA AMPLA, GERAL e RECÍPROCA e ainda permitiram que os vencidos, os traidores, os desertores escrevessem a história

Uma visão unilateral da Lei da Anistia

Não será positivo se a Comissão da Verdade divulgar um relatório que não considere o sentido da negociação entre generais e a oposição no fim dos anos 70

A Comissão da Verdade, constituída em 2012 para reconstituir o que se desenrolou na “guerra suja” durante a ditadura militar, se prepara para apresentar o relatório final [cuja denominação mais adequada seria: a mentira final.] sobre fatos que eram mantidos em sigilo, e com a definição de responsabilidades por uma série de crimes, como torturas, homicídio, ocultação de cadáver etc.

Mas, infelizmente, não se espera um relatório equilibrado, embora possa atender a um dos seus objetivos, o de dar respostas a famílias e a toda a sociedade sobre o paradeiro de vítimas do regime. Um dos casos mais conhecidos é o do deputado Rubens Paiva, tema de reportagens de O GLOBO. 

O viés que deverá ter o relatório deriva da própria contaminação ideológica do processo de criação da Comissão. Deve-se recordar a forma como a proposta foi incluída na terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos, no final do segundo governo Lula.

Ficava visível a intenção de se aproveitar a oportunidade para mais um ataque contra a Lei da Anistia concedida de forma recíproca em 1979 —, a fim de permitir o indiciamento judicial de militares e outros agentes públicos, não previsto na lei, por óbvio. A manobra criou tensão no governo, entre o Ministério da Defesa e o Planalto, mas a ação do ministro Nelson Jobim e do próprio Lula evitou uma crise de razoáveis dimensões.

Mas os grupos mobilizados para rever o alcance da Lei da Anistia, confirmada pelo próprio Supremo, continuam a agir. É fato que se perdeu o sentido de apaziguamento que teve a bem-sucedida negociação entre generais e a oposição, àquela época, sancionada livremente pelo Congresso. Tanto que o STF já precisou garantir a amplitude da anistia, concedida ainda no governo de João Baptista Figueiredo, o último da ditadura militar.

Se a ideia da reciprocidade, adotada nas negociações por Tancredo, Ulysses, Thales Ramalho, Petrônio Portella, Figueiredo, entre outros, subsistisse até a instituição desta Comissão da Verdade, crimes cometidos pela chamada esquerda armada também teriam sido investigados. Como o do assassinato do tenente Mendes a coronhadas de fuzil, por um grupo da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) comandado pelo capitão Carlos Lamarca, desertor do Exército. Ele foi promovido depois de morto a coronel, com proventos de general de brigada. Já a família do tenente nada recebeu. O mesmo aconteceu no caso da morte do soldado Mario Kozel Filho, num atentado contra o Comando Militar de São Paulo, de autoria da mesma VPR. Ou de outro militar, Orlando Lovecchio, ferido por bomba no consulado paulista dos Estados Unidos.

A História costuma ser escrita pelos “vencedores”. No caso da “guerra suja” brasileira, não será positivo que o relato a ser apresentado pressuponha que houve “vencidos”, quando aquela transição surgiu de um pacto entre contrários. Se isso acontecer, e a depender da reação do Planalto, ficará configurada a tentativa de se reescrever o passado.


Fonte: O Globo - Editorial