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quarta-feira, 3 de maio de 2023

Paraguaios perceberam que governos de esquerda não andam bem

Alexandre Garcia

O povo paraguaio acaba de eleger novo presidente. Santiago Peña, de 44 anos, sucede a seu correligionário do Partido Colorado, Mário "Marito" Abdo, amigo paraquedista do ex-presidente Jair Bolsonaro. Peña fez 43% dos votos, superando a coligação centro-esquerda, com 27%
Foi também uma derrota da igreja progressista, que apoiou o perdedor.
 
 É a maior vitória da centro-direita, porque elegeu 15 dos 17 governadores e a maioria da Câmara e do Senado.  
Mais do que isso, o vitorioso em confiabilidade foi o sistema eleitoral eletrônico com comprovante impresso. 
Em duas horas, resultado confiável. Um modelo para o Brasil.
 
O eleitor paraguaio parece estar bem informado. Percebeu que os governos de esquerda da América Latina não andam bem.  
O da Argentina é um fiasco.  
No câmbio livre, são necessários 300 pesos para comprar um dólar. E pensar que o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, [vulgo 'poste'.] queria moeda única com o Mercosul…[e, aproximadamente 60 pesos para comprar um Real e o genial 'poste' queria o sur;  em outras palavras = 1 sur valeria um real. É o pt, a esquerda,  tentando pensar  governar.]

Financiamento
No entanto, o governo do Brasil quer ajudar com financiamentos, pois lá é ano eleitoral. O problema é achar garantias.
O chileno Gustavo Boric, depois que um plebiscito recusou sua constituição neoesquerdista, perdeu o rumo e já não sabe o que fazer. [uma coisa é certa: o apedeuta que preside o Brasil também está sem rumo - ele e seu séquito. 
Sob o Desgoverno Lula o Brasil não aguenta nem até o  final deste ano.
Lula vai pedir para sair ou sairá sob impeachment.] 
Na Bolívia, a vitória de Luis Arce parecia dar força a Evo Morales, mas o país ficou capenga com a hostilidade ao investimento privado e o câmbio fixo. Sem reservas, está com dificuldades de importar.

Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro perde maioria no Congresso e ganha protestos nas ruas. No Peru, acabou na prisão o presidente esquerdista Pedro Castillo e a vice, Dina Boluarte, anda perdida — os protestos nas ruas já deixaram 39 mortos. No México, Manuel López Obrador tentou restringir a oposição numa lei eleitoral e, agora, enfrenta as ruas.

Quando não produz apenas fracassos, a esquerda latino-americana tem sucesso ao implantar ditaduras, como é de sua ideologia. Cuba é a mais antiga delas — além de antiga, antiquada.  
Nicarágua e Venezuela seguem-lhe os passos. É de sua natureza: censura, prisões, autoritarismo. Uma vitrina para os brasileiros mirarem, com espelhos ao fundo. Votamos assim, teremos um destino assim.

Deixamos de amar a Constituição, que nos garante como Estado Democrático de Direito. O descumprimento de leis é corrente, a existência de Três Poderes é lesada pela hegemonia do Supremo Tribunal Federal (STF) — o único poder sem a chancela do voto popular.

O Paraguai atrai investimentos brasileiros com um sistema tributário sensato e segurança jurídica. No Brasil, há fuga de capitais e de gente, por insegurança pessoal, patrimonial e jurídica
Se tivéssemos o comprovante do voto eletrônico, como no Paraguai, poderíamos garantir mais a vontade dos eleitores.
 
Por enquanto, vivemos mais um degrau para o totalitarismo: o projeto para censurar as redes sociais, sem respeitar Constituição, que em 1988 baniu "toda e qualquer censura". 
 A História nos conta que ganhamos a Guerra do Paraguai. Mas foi em 1870. Agora eles estão ganhando.

 Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense


quinta-feira, 20 de outubro de 2022

AS FAKE NEWS DAS PESQUISAS E DA JUSTIÇA INFLUENCIAM GENTE BURRA E TODOS SE ESFORÇAM PARA ELEGER LULA - Sérgio Alves de Oliveira

As "invenções" do Supremo Tribunal Federal sobre as "Fake News", usando normas internas para bancar o "legislador", função para a qual não está habilitado constitucionalmente, criando "inquéritos" (chamados  do "fim do mundo", por um ex-integrante do STF),e  ao mesmo tempo "criminalizando" essa prática, fazendo ao mesmo tempo  o papel de investigador,acusador,defensor,"assistente" (da acusação e defesa), juiz ,e órgão recursal, totalmente à revelia da lei, nos força a ressuscitar  um episódio histórico absolutamente  hilário.

Foi durante a "Guerra do Paraguai",na segunda metade do Século 19,que surgiu a expressão "los macaquitos brasileños",que teria sido usada pelos argentinos num evidente deboche contra as forças brasileiras. Ora,esse tipo de "richa" é bastante comum entre comunidades vizinhas, limítrofes,a nível de bairros,municípios,províncias,estados-federados,regiões e países. A "competição",e as "cutucadas" recíprocas ,entre argentinos e brasileiros,que são países limítrofes,se manifestam, inclusive,e talvez principalmente,no futebol.      
 
Na década de sessenta (60),por exemplo, corria solto pelos  habitantes  de Carazinho e Passo Fundo, municípios do "Planalto", limítrofes entre si , no Rio Grande do Sul, importantes polos produtores de grãos, que os governantes do primeiro desses municípios teriam mandado encher um caminhão com os cachorros criados nas suas ruas e mandado soltá-los na segunda cidade, no que teria havido rapidamente "reciprocidade",com os cachorros de Passo Fundo sendo largados e "devolvidos" nas ruas de Carazinho. Seria o "olho por olho,dente  por dente"?
 
Considerando que o macaco talvez seja o animal mais parecido e o que mais tenta imitar, repetir, as atitudes e gestos humanos,"aquela" insinuação que os argentinos fizeram com os brasileiros na Guerra do Paraguai ("los macaquitos brasileños"),certamente  se ajustaria bem mais se relativa às "Fake News" do STF. Em primeiro lugar, o Supremo Tribunal Federal, embora "guardião " da constituição", na criação do "inquérito do fim do mundo",e do "crime" das "Fake News",está desprezando e passando totalmente por cima do artigo 13 da Constituição, que estabelece ser unicamente o português a língua oficial do Brasil, e não o "inglês",e que  "Fake News" tem tradução correspondente na língua portuguesa. 
 
Essa preferência pela língua inglesa teria sido "macaquice cultural"? "Macaquice" de uma língua de primeiro mundo no lugar de uma língua de terceiro mundo, que ainda tem nichos  de complexo de "viralatas" ? Inclusive nas mais altas Cortes? Inglês seria  mais "chique" para denominar uma nova tipificação criminal? Mais "top"? Mas nisso tudo o que realmente causa espanto é que para o Supremo só existe "Fake News" quando partida de núcleos políticos de direita, conservadores, jamais quando oriundas da esquerda,dos chamados "progressistas" (?).
 
Na história da humanidade,em dois momentos marcantes,bem antes da sua adoção pelo Brasil, as "Fake News" se sobressaíram. Na Grécia Antiga os sofistas usaram-na  sem limites. A deturpação das ideias,  através de "informações falsas" ,era a regra. Falar a verdade  era o maior dos crimes, mais grave que matar,roubar e estuprar. Sócrates foi condenado à morte  pelos sofistas, bebendo o veneno cicuta,porque negava-se a compartilhar das "Fake News". Também o NAZISMO de Hitler pautou-se em "Fake News". Repetia-se a mentira tantas vezes quanto necessário para torná-la uma verdade. Goebbels foi um gênio nessa "arte",cumprindo à risca o que Hitler havia pregado na "Mein Kampf".
Mas modernamente a surpresa reside no fato de que os que mais "dizem" combater as "Fake News",as informações falsas, são justamente os que mais as praticam.
 
Parece evidente que no Brasil  a mentira é "compartilhada" entre os Institutos de Pesquisa,que apontam a vitória de Lula no 2º Turno das eleições, em 30 de outubro próximo, e a  Corte Eleitoral,cujo papel,ao que tudo indica,se resumiria em "homologar" o resultado das persistentes pesquisas. Esse seria o mais danoso "consórcio das Fake News",tendo como vítima povo brasileiro.
 
Não há como fugir da conclusão que mesmo considerando total lisura  na totalização dos votos, com absoluta certeza as pesquisas fictícias favorecendo um determinado candidato, o  Lula, possuem alto poder de INDUÇÃO,  levando de "arrasto" rumo às urnas eletrônicas toda uma população carente de inteligência, sujeita aos "encantos" do  candidato "encantador de burros".  
É aí que estaria a "diferença" na eleição de Lula,se fosse o caso. Mas que "Deus nos Livre" !!!
 

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo

 

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

De bem com o teto - Nas entrelinhas

 Correio Braziliense

Parece incrível, a velha política de conciliação começa a dar o ar de sua graça novamente, nas articulações de bastidor, envolvendo o governo Bolsonaro, o Congresso e o Supremo 

Um dos períodos mais turbulentos da História do Brasil foi o regencial, entre a abdicação de D. Pedro I, em 1831, e o Golpe da Maioridade de D. Pedro II, então com 15 anos, em 1840. Os liberais reivindicavam a ampliação da autonomia dos governos provinciais e a reforma de alguns aspectos contidos na Constituição de 1824; os conservadores eram favoráveis à manutenção da estrutura política centralizada e à preservação dos poderes reservados ao imperador. Foi um período em que a integridade territorial do Brasil e a monarquia andaram ameaçadas por rebeliões sangrentas: Cabanada (1832-1835), em Pernambuco; Farroupilha (1835-1845), no Rio Grande do Sul (República Rio-grandense) e em Santa Catarina (República Juliana); Cabanagem (1835-1840), no Pará; Revolta dos Malês (1835); Sabinada (1837-1838), na Bahia; Balaiada (1838-1841), no Maranhão.

Nesse ambiente, ao assumir o governo, o jovem imperador D. Pedro II foi apoiado e prestigiou a presença de liberais no ministério, mas os escândalos de violência e corrupção nas eleições provocaram a dissolução do gabinete liberal e convocação dos conservadores de volta ao poder. Como as disputas entre ambos continuaram, a alternativa foi D. Pedro II buscar uma posição de equidistância e formar um gabinete com figuras ilustres das duas correntes políticas. Foi assim que nasceu o Ministério da Conciliação, em 1853, encabeçado pelo mineiro Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês de Paraná. Apesar de ter-se extinguido formalmente em 1858, esse sistema de alianças se manteve até a década de 1870, marcando o apogeu do período imperial, financiado pelos recursos advindos da exportação do café. As pressões decorrentes da Guerra do Paraguai (1864-1870) e o crescimento das lutas pela abolição da escravidão levariam à ruptura da conciliação, resultando na criação do Partido Republicano por setores liberais mais radicais, em 1870.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, artífice de uma aliança improvável entre o PSDB e o antigo PFL nas eleições de 1994, juntamente com o falecido deputado federal Luiz Eduardo Magalhães (PFL-BA), recomendava a seus ministros e aliados a leitura de Um Estadista no Império, de Joaquim Nabuco, que exalta a política de conciliação como uma estratégia fundamental para consolidação do Brasil como nação e sua governabilidade. Era uma resposta às críticas que sofria por parte de lideranças de seu próprio partido e da esquerda de modo geral, por causa das alianças que fez com os setores conservadores, principalmente os políticos que representavam as oligarquias do Norte e do Nordeste.

Pacto fiscal 
Desde o Império, não foram poucos os momentos em que a política de conciliação renasceu das cinzas. A eleição de Prudente de Moraes, por exemplo, na sucessão de Floriano Peixoto, em 1894, foi um deles, pois conseguiu pacificar o Rio Grande do Sul, negociando o fim da Revolução Federalista (1893-1895). Outro momento importante foi o governo de Juscelino Kubistchek, eleito com base numa aliança de pessedistas, trabalhistas e comunistas. No governo Jango, o regime parlamentarista foi uma tentativa de conciliação, encabeçada por Tancredo Neves e San Tiago Dantas, que acabou frustrada pela volta do presidencialismo, em 1962, aprovado em plebiscito, e o radicalismo da esquerda, que não queria a volta de Juscelino, nas eleições previstas para 1965, em razão de sua política de “conciliação com o imperialismo”.

Por mais incrível que possa parecer, a velha política de conciliação começa a dar o ar de sua graça novamente, nas articulações de bastidor, envolvendo o governo Bolsonaro, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). É um pacto conservador, que está sendo urdido a churrascos, pedaços de pizza, uísque, café e tubaína, mas ninguém pode negar que o primado da política está se restabelecendo. Se a oposição está perplexa e imobilizada com o que está acontecendo, a extrema-direita bolsonarista, mais ideológica, está esperneando e se sentindo traída. Os fatos estão mostrando uma mudança de estratégia do Palácio do Planalto, além de um reposicionamento de outros atores políticos, que sempre foram influentes no Congresso.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, por exemplo, que andavam se digladiando em público, selaram um pacto em defesa do teto de gastos, em nome da responsabilidade fiscal. O grande padrinho do encontro foi o senador Renan Calheiros (MDB-AL), por intermédio do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas e do seu atual presidente, José Múcio Monteiro, uma velha raposa política pernambucana, que patrocinaram um jantar entre ambos, que teve como madrinha a senadora Kátia Abreu (MDB-TO). Isso quer dizer que tudo está pacificado? Longe disso. O senador Márcio Bittar (MDB-AC) ainda não conseguiu arrancar da equipe econômica de Guedes uma fonte de pagamento para o Renda Cidadã, cujo relatório ficou para a próxima semana. Enquanto isso, o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o líder do Centrão, deputado Arthur Lira (PP-AL), disputam o controle da Comissão de Orçamento da União.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


terça-feira, 28 de julho de 2020

Uma ‘fake news’ amazônica - J.R. Guzzo

O agronegócio não devasta a floresta. O Brasil, sozinho, tem mais vegetação nativa que a Rússia, cujo território é duas vezes maior, e mais que Estados Unidos e Canadá

[ao final, republicação de matéria que desmascara a pirralha sueca - que já anda meio esquecida.]

Os grandes concorrentes mundiais do Brasil na produção e no comércio de produtos agrícolas, todos big business de Primeiríssimo Mundo — a gente mais capitalista, trilionária e praticante da desigualdade social, racial ou de qualquer tipo que se possa imaginar —, estão com um problema sem solução no terreno das disputas honestas. O Brasil vai ter em 2020, mais uma vez, uma safra recorde de grãos: cerca de 255 milhões de toneladas. Mas a área plantada para colher essa produção toda praticamente não cresceu, como vem acontecendo há anos — em 1975, quase meio século atrás, era de 40 milhões de hectares, para uma produção que não chegava nem aos 40 milhões de toneladas; hoje, está por volta de 65 milhões de hectares, ou pouco acima de 50%, para uma produção que é mais de seis vezes maior. Não é preciso ser nenhum gênio em cálculo integral para perceber o seguinte: o agronegócio brasileiro não depende de mais terras para crescer. Produz cada vez mais no mesmo espaço.

Como impedir um concorrente como o Brasil de continuar batendo recordes de produção a cada ano, de arrecadar bilhões e de ganhar mercados, se a extensão física da terra aproveitável não é um limite para os agropecuaristas brasileiros? E onde pode ir parar essa história, quando se considera que há no Brasil 500 milhões de hectares, ou 60% de todo o território nacional, que não estão ocupados até hoje por nenhum tipo de estabelecimento rural? Há países que não podem mais crescer, por maiores que sejam os seus índices de produtividade, pela pura e simples falta de espaço. Tudo o que dá para ser aproveitado já foi — sem contar com fatores como escassez de água, topografia desfavorável, solo de qualidade limitada e tantas outras variáveis que bloqueiam a expansão, mas por aqui não são problema. A resposta às perguntas feitas acima é simples. Não há como parar o crescimento do campo no Brasil. Ou melhor: não dá para deter o agro brasileiro se quiserem fazer uma disputa de cavalheiros. 
Mas há um mundo de coisas a fazer para quem está interessado em cuidar de si, e não em concorrência honesta. 
Danem-se a moral, a ciência e os fatos — nesse caso, a única coisa que realmente interessa é que a agricultura e a pecuária brasileiras, mais a possante indústria que se está construindo em volta delas, parem de avançar. Ou, melhor ainda, que andem para trás.

A receita clássica para negar essas realidades é atribuir tudo à “imaginação” nacionalisteira, ao complexo de inferioridade que faz germinar teorias de conspiração ou à propaganda do agronegócio e da “bancada do boi”. Os fatos mostram que há outros pontos de vista a ser considerados. Pouco antes de 1970 — ou seja, não na Guerra do Paraguai, mas já em plena vida de milhões de brasileiros que estão aí no dia de hoje —, a imprensa brasileira falava, alarmada, no perigo próximo e real da “escassez alimentar”. Essa desgraça iria paralisar a “industrialização do país”, pela “falta de divisas” — não haveria dólares para importação de equipamento industrial, nem de um único barril de óleo diesel, pois nossos recursos em moeda forte estariam sendo desperdiçados na compra de alimentos no exterior. Havia coisa pior: até alguns anos antes, menos de 2% de todas as propriedades agrícolas brasileiras tinham algum tipo de trator, ou qualquer objeto mecanizado. 

Hoje é a indústria que precisa do campo para sobreviver. O Brasil produz por ano alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas, ou cinco vezes a própria população. Tornou-se o maior produtor de comida do mundo, ou um dos dois ou três maiores, segundo os diferentes critérios utilizados para fazer essa contabilidade. É hoje o maior exportador mundial de soja, carne, frango, açúcar, café. 
A produtividade está entre as maiores do mundo. Colhem-se três safras por ano. O agro brasileiro, em suma, não era nada. Hoje é uma potência. Na verdade, é o único setor — mas o único, mesmo — em que a economia do Brasil, a oitava maior do mundo em volume, é realmente competitiva.
Jovens mimados não estabelecem nenhuma relação entre o ato de comer e o trabalho de produzir comida.

Cada um é livre, naturalmente, para acreditar que tudo isso possa ter acontecido, em tão pouco tempo, sem causar nenhum incômodo a ninguém, em nenhum lugar do mundo. A experiência, porém, indica que é pouco provável que os competidores se comportem com essa benevolência. O agronegócio brasileiro prejudica, sim, interesses materiais definidos, e eles estão reagindo. É um bonde que carrega muita gente, além de mamutes do universo de negócios. Estão nessa viagem deputados europeus que só sobrevivem com os votos dos eleitores “verdes” — cada vez mais assustados pela propaganda e pela superstição ecológica em massa, que lhes garantem que o Brasil vai acabar com o oxigênio do planeta e envenenar o mundo com “agrotóxicos”. Há milhares de ONGs que precisam de causas para receber financiamento. Há fundos financeiros trilionários que compram apólices de seguro moral dando dinheiro para ajudar a salvação “da natureza”. Há os fazendeiros dos países ricos, em peso, que vivem dos trilhões de dólares que recebem dos governos em subsídios de todo tipo — e que não querem a importação de produtos agrícolas mais baratos do que os seus. Há as classes intelectuais. Há os jovens nascidos neste século, mimados e protegidos, que acreditam que a humanidade pode se alimentar de produtos orgânicos, e que não estabelecem nenhuma relação entre o ato de comer e o trabalho de produzir comida. Há muito mais gente metida nisso — a lista completa consumiria o espaço de uma antiga lista telefônica.

A arma mais utilizada por todos eles na busca de seus objetivos, e com agressividade cada vez maior à medida que passa o tempo, é dizer ao mundo, todos os dias e em todas as oportunidades, que “a floresta da Amazônia” está sendo destruída — ou por queimadas ou pelo desmatamento, ambos promovidos pelos interesses do agronegócio brasileiro. Ultimamente, empresas internacionais importantes julgaram conveniente fazer pressões públicas contra o Brasil; se “o país” não parar com essa “destruição”, vão cortar investimentos, fazer boicotes ou declarar guerra comercial contra a produção rural brasileira. Em apoio à sua campanha, utilizam vídeos e fotos que estão em circulação há anos, uns mais profissionais e bem-feitos, outros amadores e grosseiros, mostrando incêndios na mata e pilhas de toras de madeira. Referem-se, também, a estudos e estatísticas que apresentam como coisa séria; quase sempre esses números são citados sem nenhuma fundamentação técnica, junto com o nome de alguma universidade ou instituto de ciência.

Trata-se, muito simplesmente, de um conto do vigário em escala planetária. A realidade, tal como ela pode ser observada com os recursos da ciência e da tecnologia, é o exato oposto da pregação “pró-florestas”. O Brasil é o país que mais preserva sua vegetação nativa, fato comprovado por imagens indiscutíveis, e não por comunicados de empresas de relações públicas. O Brasil tem mais florestas que Estados Unidos, Canadá e Rússia, cujo território é o dobro do brasileiro. A área de matas preservadas no país é duas vezes a média mundial. A Amazônia real não a “legal”, que é apenas uma ficção administrativa mantém 98% da sua vegetação natural intocada há séculos. Os agropecuaristas brasileiros, sem exceções e sem nenhuma contrapartida do Estado, são obrigados por lei a manter intactos 20% de suas propriedades; isso não existe em lugar algum do mundo.


O agronegócio brasileiro precisa tanto da Amazônia quanto da Groenlândia
A realidade, quando vista como ela é, e não como aparece em vídeos de ONGs financiadas por multinacionais, é que não há na Terra nenhuma área de florestas tão protegida e tão preservada como a Amazônia brasileira. As queimadas que ocorrem ali, em geral, são fenômenos naturais — surgem segundo a época do ano, como acontece regularmente, e com efeitos muito mais devastadores para a vida humana, na Califórnia, na Austrália, na Rússia e no resto do mundo. (As imagens da divisão da Nasa que registra, por satélite, as queimadas das últimas 24 horas em todo o planeta mostram incêndios de tamanho XXXXL na bacia do Rio Congo, no centro da África, no dia 17 de julho. Na Amazônia, não há nada.) Fora os incêndios naturais, há os ilegais — que, junto com o desmatamento, são fruto da miséria, da ilegalidade e do crime, do garimpo descontrolado e do corte clandestino de madeira, e não da ação proposital do Estado brasileiro ou de quem trabalha na lavoura. São pragas sociais — unicamente isso. A destruição ocorre, na verdade, pela ausência do governo; 
se não consegue deter a criminalidade no Rio de Janeiro, como poderia fazer isso na Amazônia, uma área de tamanho equivalente a mais da metade da Europa inteira?

O agronegócio brasileiro, exatamente ao contrário do que diz a propaganda de guerra em prol da salvação da humanidade, não tem nada a ver com a degradação da floresta. Como demonstrado acima, os produtores de grãos, de carne e de outras riquezas rurais têm utilizado cada vez menos terra para produzir cada vez mais, por força da tecnologia, do investimento e das modalidades mais modernas de trabalho no campo. A verdade pura e simples é que, para crescer e ganhar dinheiro, precisam tanto da Amazônia quanto da Groenlândia. É apenas lógico. Nem o agropecuarista brasileiro, nem nenhuma pessoa mentalmente equilibrada, iria plantar soja, criar frangos ou montar uma usina de açúcar no meio de um dos lugares mais inóspitos para o ser humano que existem no mundo.

Nada disso, naturalmente, tem a menor relevância para os militantes da ecologia. Na verdade, são militantes contra o agronegócio e, como até uma criança de 10 anos de idade pode perceber, contra a livre-iniciativa no campo — apresentada como “o atual sistema econômico de produção de alimentos”. Se os fatos vão contra os seus desejos, pior para os fatos. O que vale é apresentar uma visão única do mundo, que exclui todas as outras e determina que você obedeça a um novo Alcorão no qual há um mandamento acima dos demais: o principal inimigo atual da humanidade é o agronegócio. Ele faz você comer a comida errada, envenena o seu organismo, sequestra o oxigênio do mundo, destrói florestas, produz terremotos, enchentes e outros desastres, está criando uma “bomba de carbono”, enche o planeta com boi demais, frango demais, alimento demais. Não se sugere nenhuma providência prática para sustentar os atuais 7 bilhões de habitantes da Terra

Uma ofensiva recente dessa guerra santa aproveita a epidemia da covid-19 e, com a ambição de propor um novo sistema de virtudes ideológicas para o ser humano, sustenta que está tudo errado com a maneira como você vive. A normalidade, segundo um dos vídeos de denúncia que fazem parte da campanha ora em execução, “não é aceitável” — temos de mudar tudo, se quisermos continuar vivos depois que a doença passar. O pecado capital do mundo de hoje, diz a acusação, é o “elemento antidemocrático” que orienta o atual “sistema de produção de alimentos”. Ele está “fora de controle” e ameaça a Terra de extinção. Seguem-se, aí, as habituais três modalidades de mentira: as grandes, as pequenas e as estatísticas, como lembrou há pouco o ex-ministro Aldo Rebelo, figura histórica do Partido Comunista do Brasil, ao comentar as notícias falsas em torno da destruição da Amazônia. A avicultura e a pecuária, sozinhas, seriam responsáveis por “80%” do desmatamento no mundo. A locutora do vídeo parece indignada com o fato de existirem, segundo os seus números, 500 milhões de bois e 23 bilhões de galinhas no mundo — não se conforma, particularmente, com a quantidade de galinhas, “três para cada pessoa”. Acusa os bichos de ocupar mais terra que a destinada à produção de “alimentos para os seres humanos”; não há menção ao fato de que eles são criados unicamente para alimentar as pessoas.

A conclusão, naturalmente, é que tudo é culpa da busca “do lucro” — como se fosse possível produzir alimentos, ou qualquer outra coisa, buscando o prejuízo. O agronegócio, enfim, seria o responsável por “destruir a saúde” da humanidade, tanto quanto o coronavírus. Não se sugere nenhuma providência prática para sustentar os atuais 7 bilhões de habitantes da Terra. Louvam-se os “pequenos produtores”, que mal conseguem produzir para o próprio sustento. Bom, segundo a campanha, era a agricultura orgânica e natural do passado, quando não se utilizavam “agrotóxicos” e o mundo morria de fome.
Pense um pouco nisso tudo, da próxima vez que vierem lhe dizer que a Amazônia está em chamas e que o Brasil vai acabar com o mundo.

J. R. Guzzo convida você a ler os artigos que publicamos dos colunistas da Spiked, a principal revista digital conservadora do Reino Unido:
“Não, silêncio não é violência”, de Mick Hume
“A tirania da cultura do cancelamento”, de Brendan O’Neill
“Sereias levam as crianças pelo caminho trans”, de Jo Bartosch


J.R. Guzzo, jornalista - Coluna na Revista Oeste

[Aproveitamos o excelente artigo para republicar matéria que desmascara a pirralha sueca:
"Greta Thumberg, a ativista sueca sedenta por holofotes, foi desmascarada numa mentira que revela o seu caráter.
A garota postou em seu Twitter que estava "viajando em trem superlotado de volta pra casa", com a ilustração de uma foto sentada no chão do veículo, cercada por malas.

Pouco tempo depois, a empresa de trens Deutsche Bahn AG desmascarou a menina, usando também o Twitter para questioná-la acerca daquela fake news e informar que Greta Thumberg viajou na Primeira Classe de seus trens naquele dia, ao lado de toda equipe de assessores."

A mentira da Greta virou notícia nos grandes jornais da Alemanha, como o WELT. Basta conferir: https://www.welt.de/politik/deutschland/article204333576/Greta-Thunberg-Deutsche-Bahn-kontert-Sitzplatz-in-der-1-Klasse.html
No Brasil, profundo é o silêncio sobre o caso.

A opção da grande mídia é continuar vendendo essas falácias de marketing.


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sábado, 13 de julho de 2019

Os militares na política

“Em política o absurdo não é obstáculo”

Napoleão Bonaparte

A campanha de 2022 está nas ruas. Bolsonaro lutará para não entregar o poder ao adversário

O meu primeiro contato com a história militar do Brasil foi aos 15 anos, quando meu pai, Ulysses, me comprou A Retirada da Laguna – Episódio da Guerra do Paraguai, de Alfredo D’Escragnolle Taunay, visconde de Taunay, oficial superior do Exército Brasileiro, senador do Império, membro da Academia Brasileira de Letras (1843-1889).O exemplar pertence à 12.ª edição, sem data, publicada pela Cia. Melhoramentos. É mais completo do que a edição da Companhia das Letras comercializada em 1997 – faltam-lhe a fotografia do coronel Carlos de Morais Camisão e dos subcomandantes, o mapa do trajeto da expedição, desenhos de marchas e combates, documentos do Exército sobre a campanha, a reprodução do retrato a óleo do visconde de Taunay, do pintor Luiz Augusto Moreaux.

A epopeia da Laguna ocupa lugar destacado entre os grandes feitos militares brasileiros. O livro, como escreveu Taunay no prólogo da primeira edição, narra “a série de provações que a expedição brasileira, em operação ao sul da província do Mato Grosso, suportou a partir da fazenda Laguna, a três léguas e meia do rio Apa, fronteira do Paraguai até o rio Aquidauana, em território brasileiro, percorrendo ao todo 39 léguas em 35 dias de dolorosa memória”. Légua é antiga medida de distância, correspondente, no Brasil, a 6.600 metros.

Na 2.ª Guerra Mundial (1939-1945), revidando as agressões alemãs, o Brasil enviou uma divisão da Infantaria à Itália, sob o comando do general Mascarenhas de Moraes, para lutar ao lado das forças norte-americanas. Extensa literatura relata como durante um ano, sob condições adversas, oficiais e soldados do Exército e integrantes da Força Aérea Brasileira superaram os limites extremos da coragem e do sacrifício, na defesa da liberdade e contra a opressão nazi-fascista. Encerrada a guerra, o regime democrático foi restabelecido com a deposição de Getúlio Vargas e a promulgação da Constituição de 18/9/1946. Vigorou por 18 anos. Foi abatido com a derrubada de João Goulart, em 31/3/1964, seguida pela edição do Ato Institucional de 10/4/1964, baixado pelo Comando Supremo da Revolução, representado pelos comandantes-chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Tinha início, como previra João Goulart ao ministro do Trabalho, João Pinheiro Neto, sombrio período autoritário de 20 anos, entremeados por breves momentos de abertura. O regime caracterizava-se pela ausência de segurança provocada pela edição de atos institucionais, atos complementares e decretos-leis, alguns ainda em vigor, acolhidos pela Constituição de 1988. A recessão econômica, o desemprego, o crime organizado, as invasões de propriedades produtivas, o aparelhamento do Estado, a desenfreada corrupção, a compra de votos, o “toma lá dá cá” no Legislativo, a inoperância do Judiciário despertaram na sociedade civil sentimento de indignação, transformado em crescente movimento pela volta dos militares.

A vitória de Jair Bolsonaro, obscuro deputado federal eleito e reeleito por legendas inexpressivas, deveu-se a variada gama de fatores. O primeiro, e mais relevante, o fato de pertencer à reserva do Exército, com a patente de capitão. Durante a breve campanha, na maior parte do tempo recolhido a leito hospitalar, fazia-se conhecer como capitão Bolsonaro. Ao apresentar como pontos programáticos fundamentais o rearmamento da população e o restabelecimento de ambiente de segurança, conseguiu vigorosa adesão do empresariado ligado ao agronegócio, da classe média urbana, de donas de casa, de jovens desiludidos com a velha política. Com o PT desmoralizado e acéfalo por falta de liderança, e o PSDB encolhido e calado pelo receio de fazer oposição, não lhe foi difícil derrotar os adversários e conduzir ao Planalto, na mochila, senadores e deputados.

Promessa feita em campanha só tem valor para quem a ouve, dizia o astuto político mineiro Benedito Valadares. Esquecido do compromisso assumido, Jair Bolsonaro admite publicamente a candidatura à reeleição. Acredito que, se grave erro não vier a cometer, terá chances de ser reeleito. Bons livros sobre política não faltam. Entre os que analisaram o período compreendido entre 1964 e 1985, alguns são essenciais. Temos os publicados por Hélio Silva, Elio Gaspari, Thomas Skidmore e a obra da Editora Getúlio Vargas 21 Anos de Regime Militar – Balanços e Perspectivas. Ao brasilianista Alfred Stepan (27/2/1936-26/9/2017) pertencem duas das melhores obras: Os Militares na Política (Ed. Artenova, RJ, 1975) e Os Militares: da Abertura à Nova República (Ed. Paz e Terra, RJ, 1986).

Neste último encontramos entrevista dada ao autor pelo presidente Ernesto Geisel. Declarou que não havia recebido mandato para iniciar o processo de distensão, mas admitiu ser necessária; que liderava as Forças Armadas como instituições hierárquicas; que não desejava concluir o mandato com o Ato Institucional n.º 5 em vigor. Quando o entrevistador lhe indagou quais os objetivos no longo prazo, respondeu: “Qual o primeiro princípio de Maquiavel? Que os governos devem lutar para manter o poder”. Acrescentou que não desejava conservar-se no poder indefinidamente, registrando, porém, que “nenhum governo diz aos aliados que quer entregar o governo à oposição”.

A campanha de 2022 está nas ruas. Até lá muita água correrá sobre e sob a ponte. Consumidos seis meses, é impossível prever como se sairá o presidente Jair Bolsonaro. Enfrenta desafios urgentes e graves de caráter político, de ordem fiscal e de natureza social, como o desemprego e a pobreza. Ignoro se leu Maquiavel e as obras de Alfred Stepan. Creio, porém, que lutará para não entregar o poder ao adversário.
 
 
O Estado de S. Paulo - Almir Pazzianotto Pinto


 

sábado, 22 de junho de 2019

Fruto proibido

Se os generais podem, por que tenentes, sargentos e soldados não poderiam?

“Não fazemos política.” Ash Carter, secretário da Defesa sob Barack Obama, sintetizou desse modo sua crítica a um pequeno, mas significativo, incidente recente. O sujeito oculto da frase são as Forças Armadas dos EUA. A lição precisa ser ouvida pela cúpula militar brasileira, que parecia tê-la aprendido 35 anos atrás.

O incidente foi objeto de indagação numa entrevista de Carter à The Atlantic (14/6). Durante a visita de Donald Trump ao Japão, no final de maio, uma ordem transmitida por algum funcionário da Casa Branca a alguém na Marinha determinou que se ocultasse o nome do destroyer USS McCain, fundeado numa base naval americana. Motivo: o navio foi batizado em homenagem ao falecido senador republicano John McCain (e também a seu pai e a seu avô, todos oficiais da Marinha), antigo inimigo político do presidente. A ordem foi cumprida, manchando uma valiosa tradição democrática.

A “violação da natureza apolítica das Forças Armadas”, na qualificação de Carter, parece pouca coisa. Não é: a estabilidade do sistema democrático da maior potência militar do planeta depende da subordinação absoluta dos militares ao poder civil. Nos EUA, generais fazem política (e um deles, Eisenhower, presidiu o país entre 1953 e 1961), mas só depois de passarem à reserva. No episódio do USS McCain, a subversão da tradição emergiu como perigoso precedente. E se, amanhã, o presidente for recebido numa base militar por soldados com os bonés MAGA (“Make America Great Again”) das campanhas de Trump?

Os que não têm armas cuidam da política; os que têm armas ficam proibidos de fazer política. Bolsonaro liga menos ainda para a regra de ouro que Trump. Até agora, nossa cúpula militar parecia engajada em conservá-la —mas isso já não é tão certo. Mourão, Augusto Heleno e Santos Cruz, a troika militar original, foi constituída por generais da reserva. A separação era mais formal que efetiva, pois o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas opera como ponte entre a troika e o atual comandante, Edson Pujol. Os três traçaram um prudente círculo de ferro discursivo, distinguindo-se da radicalização ideológica bolsonarista. O metal, porém, começa a sofrer visível corrosão.

As manifestações intempestivas de Heleno, na esteira da revelação dos métodos heterodoxos da Lava Jato, não podem ser tratadas como as declarações de um qualquer Onyx Lorenzoni (“Moro ajudou a salvar o Brasil do PT”). O general que identifica Moro à pátria e clama pela condenação de Lula à prisão perpétua ainda mantém, no armário, a sua farda estrelada. Há mais. No lugar do general da reserva Santos Cruz, uma voz da moderação, o núcleo militar governista ganha a presença do general Luiz Eduardo Ramos. O novo ministro da Secretaria de Governo também exibe perfil moderado, mas é da ativae seu cargo tem peso estratégico muito maior que os de Bento Albuquerque (ministro de Minas e Energia) e Rêgo Barros (porta-voz da Presidência), os outros generais da ativa no primeiro escalão. O risco é a contaminação dos quartéis: se os generais podem, por que tenentes, sargentos e soldados não poderiam? Perto disso, o episódio do USS McCain não passa de folguedo infantil.

A história conta. Os EUA nasceram sob o signo do poder civil, que não foi abalado nem mesmo pela Guerra de Secessão. No Brasil, o Império civilista deu lugar a uma República parida pelas baionetas, no rastro da Guerra do Paraguai. A pulsão da intervenção castrense ritmou a política nacional, do 15 de novembro de 1889 ao 31 de março de 1964, passando pelo suicídio de Vargas, no 24 de agosto de 1954. Um fruto positivo da ditadura militar, que desgastou a imagem das Forças Armadas, foi a apreensão do valor do princípio explicitado pelo americano Carter: “Não fazemos política”. Contudo, sob Bolsonaro, nossa cúpula militar flerta com a tentação de experimentar, uma vez mais, o fruto proibido.

domingo, 16 de junho de 2019

Bolsonaro defende armar a população para evitar golpe de Estado

Presidente participou de evento do Exército em Santa Maria (RS) na noite deste sábado (15)
Em evento do Exército em Santa Maria (RS) neste sábado (15), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse que armar a população pode evitar golpes de Estado. "Nossa vida tem valor, mas tem algo com muito mais valoroso do que a nossa vida, que é a nossa liberdade. Além das Forças Armadas, defendo o armamento individual para o nosso povo, para que tentações não passem na cabeça de governantes para assumir o poder de forma absoluta. Temos exemplo na América Latina. Não queremos repeti-los. Confiando no povo, confiando nas Forças Armadas, esse mal cada vez mais se afasta de nós", falou em pronunciamento. Ele não atendeu a imprensa.
O presidente participou neste sábado (15) da Festa Nacional da Artilharia (Fenart), no 3º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado, que celebra o aniversário do marechal Emílio Luiz Mallet, seu patrono. Bolsonaro assistiu a uma encenação da Batalha de Tuiuti, de 1866, durante a guerra do Paraguai, vencida pela Tríplice Aliança (Brasil, Uruguai e Argentina). A apresentação contou com tiros, cavalos, luzes, narração e soldados com os uniformes da época. Com ares de superprodução, a encenação foi acompanhada pela orquestra da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) que interpretou a trilha ao vivo, incluindo a música de abertura do seriado "Game of Thrones".
Na chegada, os convidados foram recepcionados por soldados com os uniformes usados na Guerra do Paraguai em acampamento cenográfico com direito a churrasco e chimarrão. Antes, Bolsonaro deu tapas em um "pixuleko" e depois o jogou para cima. O boneco com a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido como presidiário foi entregue por um apoiador que estava com o grupo que o recepcionou na chegada na base aérea da cidade. O presidente foi acompanhado por carreata até o evento do Exército.
O presidente volta a Santa Maria 26 anos depois de ser considerado "persona non grata" da cidade.  Em junho de 1993, por unanimidade, os vereadores aprovaram moção de repúdio contra Bolsonaro, na época deputado federal, por ter defendido o fechamento do Congresso e a volta da ditadura em uma entrevista ao jornal A Razão. A moção nunca foi revogada. O caso foi relembrado na última semana pelo jornal Zero Hora. Desde a tarde, simpatizantes do presidente o aguardavam para uma carreata. Em frente ao 3º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado, Regimento Mallet, pessoas vestiam roupas nas cores verde e amarela e seguravam bandeiras do Brasil. Apoiadores levaram cadeiras e chimarrão para esperar o presidente na praça que fica em frente ao regimento.
Além de Bolsonaro, estavam presentes os ministros e o general Edson Leal Pujol, comandante do Exército Brasileiro, e o general Geraldo Antônio Miotto, do Comando Militar do Sul. "Precisamos, mais que um parlamento, o povo ao nosso lado para que possamos impor uma política que reflita em paz e alegria para todos nós", disse no evento.
SANTOS CRUZ
Mais cedo no sábado, em Brasília, Bolsonaro comentou a demissão do general Santos Cruz da Secretaria de Governo. "Todo mundo pode ser [demitido]. Muita gente se surpreendeu com a saída do general Santos Cruz. Isso pode acontecer. Muitas vezes, a separação de um casal você se surpreende: 'Mas viviam tão bem!'. Mas a gente nunca sabe qual a razão daquilo. E é bom não saber. Que cada um seja feliz da sua maneira". O presidente não deu detalhes sobre o que motivou a saída de Santos Cruz, demitido na quinta (13).
Em seu lugar assumirá o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira. À frente do Comando Militar do Sudeste desde maio de 2018, Ramos comandou a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) de 2011 a 2012. Como novo chefe da Secretaria de Governo, integrará a ala militar do Planalto, [por enquanto o general Luiz Eduardo é o único general, quatro estrelas,da ativa, na ala militar do Planalto.] composta também por Heleno, o vice-presidente, Hamilton Mourão, e os generais Otávio Rêgo Barros, porta-voz, e Floriano Peixoto, chefe da Secretaria-Geral da Presidência. 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 3 de junho de 2019

A decadência do ensino começa pela falta de leitura

Nas aulas seguintes, depois de copiado o poema Navio Negreiro, o que facilitou memorizá-lo, os versos passaram a ser recitados por todos

Deonísio da Silva
Não era só questão de conhecer o significado das palavras. Os alunos precisavam também entender o que e de quem se falava, quando, onde e por que daquele modo.  Havia um exemplar do livro na biblioteca e não podia ser retirado. Aconteceu assim conosco, como acontecera no século anterior a João da Cruz e Souza, o maior poeta de Santa Catarina e um dos maiores do Brasil.

Ele quisera levar para casa o livro de um autor francês, escrito em francês, e lhe foi dito que ele deveria ler no recinto onde estava o volume, isto é, na biblioteca da escola, pois o livro era de todos e para todos.  De passagem ficássemos sabendo que um menino, filho de escravos alforriados, lia em francês, não apenas em português. Mas nós, que estávamos sendo preparados para o sacerdócio, deveríamos ler também em latim, em grego, em italiano .
“Homens que Fídias talhara/ Vão cantando em noite clara/ Versos que Homero gemeu”.

Foi este o trecho que o padre professor pegou ao acaso para explicar o método, que, aliás, era muito simples. Deveríamos copiar o poema de Castro Alves e decorá-lo para recitar nas próximas aulas.
“Porém, não sejam papagaios. Não basta saber de cor o poema, temos que entendê-lo e para isso primeiramente façamos um vocabulário”.
“Mas entender as palavras é só o começo. Quem foi Fídias? Por que o famoso escultor da Grécia Antiga, que viveu no Século V a.C. e fez as estátuas da deusa Atena e do deus Zeus, apareceu no Brasil, justamente durante a Guerra do Paraguai, invocado por um poeta para falar dos negros escravizados no Brasil?”;

“Outra coisa. Podem ver que o verbo talhar, que, como o outro professor poderá explicar, veio do Latim taliare, cortar, é posto no mais-que-perfeito para rimar com clara, de noite clara, constituindo-se, pois, em rima rica, uma vez que combina duas classes gramaticais diferentes, um verbo (talhara) com um adjetivo (clara)”.  Nas aulas seguintes, depois de copiado o poema Navio Negreiro, o que facilitou memorizá-lo, os versos passaram a ser recitados por todos, primeiramente de olhos postos nas próprias cópias que cada um fizera, depois recitados em uníssono e por fim declamados aluno por aluno.

Mas havia entre nós os de memória prodigiosa e destacou-se como o melhor de todos um neto de imigrante italiano que casara com uma neta de imigrante alemã. Ele não apenas recitava, como dava àqueles versos uma aura que nos deixava boquiabertos de admiração, no que era ajudado pelo timbre claro da voz, as sílabas bem escandidas e a teatralidade dos gestos.  Findo o estudo atordoante daquela obra magistral, éramos orientados a ler do mesmo autor A Cruz da Estrada, que começava com uma frase de Lutero em latim, proferida diante dos túmulos que contemplava: Invideo quia quiescunt (eu tenho inveja porque eles descansam).
A poesia ensinava a quem passava pelo sertão e visse uma cruz abandonada que soubesse estar ali enterrado um escravo: “É de um escravo humilde sepultura/ Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz/ Deixa-o dormir no leito de verdura/ Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs”.

A Guerra do Paraguai terminou em 1870. O Brasil tinha naquele tempo estudantes de Direito que ao redor dos vinte anos faziam poemas como aqueles que líamos. Hoje, a maioria deles, depois de formados, tropeçam numa simples petição, a ponto de ter sido necessário introduzir a disciplina de Português no curso de Direito para que os juízes possam entender o que os advogados peticionam. Pobres clientes! Nem seus advogados sabem dizer o que eles querem.

No Brasil de um século depois daquele famoso conflito vamos encontrar meninos, quase crianças, lendo e entendendo o que aquela rapaziada, saudada por Ruy Barbosa em sua célebre Oração aos Moços, escrevia e pensava.  Mas, hoje, passados 150 anos anos de Navio Negreiro, escrito por um estudante de Direito de apenas 22 anos, lido e estudado minuciosamente, além de recitado por milhares de brasileiros, senão milhões, que estão vivos e atuantes, lemos muito pouco em nossas escolas, sejam de ensino médio, sejam de curso superior, e esta é a principal razão de o Brasil desabar nas classificações internacionais que medem a qualidade de nosso ensino.
 


*Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
http://portal.estacio.br/instituto-da-palavra








 

domingo, 7 de abril de 2019

General VILLAS BÔAS Emociona Platéia em Evento do SIMDE

Agraciado com o Prêmio Mursa, ex-comandante do exército fez discurso em que falou do atual momento político do País

 Comandante do Exército durante o conturbado período em que o Brasil viveu entre 2015-2019, o General-de-Exército Eduardo Villas Bôas foi o grande homenageado da noite desta terça-feira, dia 03 de abril, na festa promovida pelo Sindicato Nacional dos Materiais de Defesa e Segurança (SIMDE), no Hotel Grande Mercure (RJ). O evento ocorreu no segundo dia LAAD, maior feira do setor realizada na América Latina, encerrada nesta sexta-feira, dia 5.

Diante de uma plateia de cerca de 150 convidados, entre os quais várias autoridades militares, policiais civis e da PM, além de personalidades do mundo empresarial, Villas Bôas recebeu das mãos do presidente do SIMDE, Carlos Erane de Aguiar, o Prêmio General Mursa, na categoria “Conjunto da Obra”. Carlos Erane disse, em seu discurso, que Villas Bôas foi um “herói em tempos de paz”, “silencioso”, que conseguiu manter a ordem e a democracia num dos momentos mais conturbados da democracia brasileira.
“Estamos acostumados com homenagens feitas a heróis em tempos de guerra, não em tempos de paz. Mas há pessoas especiais, que são exemplo para muitas outras. Um desses heróis em tempos de paz é o general Villas Bôas”, disse Carlos Erane, em seu discurso.  

Acometido por uma doença degenerativa, a plateia ficou surpresa quando, ao subir ao palco levado pela esposa Cida, o general Villas Boas decidiu ele mesmo discursar. “Me custa aceitar essa condição de herói. Dizem que herói é o cabra que não teve o tempo de correr”, começou ele, arrancando risadas dos convidados. “Hoje vivemos um momento especial do nosso país, em que talvez o aspecto mais relevante seja a recuperação da nossa alto-estima, e a confiança do povo brasileiro em seu futuro”, continuou.
“Envaidece a mim e à Cida essa enorme deferência, principalmente considerando as relevantes presenças aqui nesta noite. Vejo colegas de armas, policiais de várias áreas, civis e militares, que são os verdadeiros heróis, gente que sai de casa de manhã sem a certeza de que irá voltar. A quem a sociedade deve a vida e a liberdade e também o respeito que essas instituições merecem”.

Com a voz firme, Villas Boas lembrou que a defesa deixou de ser uma atribuição exclusiva dos militares. “A estrutura da Defesa será tão e mais robusta quanto mais forte for a participação de todos os setores da sociedade, como a área econômica com as suas empresas; o setor de ciência e tecnologia, a parte acadêmica e social. E esta feira (a LAAD) permite verificar uma enorme sinergia entre todos esses setores”, continuou.

Segundo Villas Bôas, o prêmio General Joaquim de Souza Mursa, criado pelo SIMDE há apenas dois anos, foi uma das maiores honrarias que ele já recebeu. O general Souza Mursa foi um militar, formado também em engenharia que, entre os anos de 1865 e 1890 dirigiu a Real Fábrica a Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema, em Iperó, São Paulo.   Lá eram fabricados o aço e o ferro que fizeram os fuzis e os canhões usados na Guerra do Paraguai. Por isso, a Fundição Ipanema, como era mais conhecida, é considerada pelo Instituto Histórico Militar o berço da indústria de defesa brasileira, além de ter sido também o primeiro pilar da siderurgia em nosso país.

 


sexta-feira, 1 de março de 2019

Ambiguidades dos militares

As eleições diretas para presidente da República permaneceram interditadas no Brasil durante quase três décadas porque os militares acreditavam que os brasileiros não sabiam votar. [um dos que tinham este pensamento era Pelé - e as eleições do presidiário Lula e da escarrada ex-presidente Dilma, provam, sem sombra de dúvida, que o Rei do futebol estava certo.]  Permanecem com a mesma visão sobre seus compatriotas, ainda que tenham voltado ao poder, 30 anos depois, desta vez, em grande parte, com o aval da maioria.

A mais abrangente pesquisa já realizada com militares, prestes a ser publicada em livro, "Para Pensar o Exército Brasileiro no Século XXI" (Eduardo Raposo, Maria Alice Rezende de Carvalho e Sarita Schaffel, PUC-Rio), detectou que esta é a percepção predominante entre militares de todas as patentes. O baixo nível educacional da população e a corrupção dos políticos somaram quase 90% das respostas quando o questionário elaborado pelos autores lhes apresentou uma cartela de alternativas para os fatores mais prejudiciais à democracia no Brasil. As outras opções sugeriam que o jogo democrático poderia ser comprometido pela concentração de poder no Executivo, pouco permeável à pressão ou controle dos eleitores, ou a incompetência dos governantes. Levantavam hipóteses como a falta de organização política do povo e de tradição partidária, reveladores da fragilidade da cultura política. Propunham ainda o corporativismo e o clientelismo, sinais da captura do Estado por interesses encastelados. E, finalmente, a pobreza e a desigualdade social, sinais da baixa eficácia das instituições democráticas.

Todas essas alternativas, no entanto, tiveram adesão residual. Os militares, de aspirantes a generais, resolveram concentrar as explicações na inabilitação dos representados e nos vícios de seus representantes. Quanto mais alta a patente, maior a adesão ao binômio "falta de educação" e "corrupção" para explicar os males da democracia nacional. Entre generais de Exército, topo da carreira, 100% subscreveram a tese de que eleitor e eleito são inaptos. A pesquisa precede a chegada ao poder do presidente Jair Bolsonaro e de seus oito ministros militares, mas é o que de mais próximo existe sobre os valores da corporação que voltou a mandar no país. Ampliou, em número de entrevistados e em temas abordados, a pesquisa, também publicada pela PUC-Rio, "A Construção da Identidade do Oficial do Exército Brasileiro" (Valor, 04/01/2019).

Fruto de uma parceria entre os ministérios da Defesa e da Educação e a PUC do Rio, a iniciativa se destinava, originalmente, a aproximar as Forças Armadas da vida democrática numa época de desinteresse generalizado pela temática militar. O pressuposto de que a apatia da opinião pública em relação às questões militares era um obstáculo à modernização da corporação havia sido incorporado à Estratégia Nacional de Defesa, aprovado em 2008. Uma década depois, os militares se recomporiam com o ex-capitão rebelde, Jair Bolsonaro. De carona em sua popularidade, as questões militares se imporiam à agenda da nação para derrotar aqueles que, do centro à esquerda, haviam buscado reformular sua incorporação à agenda democrática pisando em dois vespeiros, a retirada de prerrogativas (MP 2215 sob FHC) e a Comissão da [IN]Verdade (sob Dilma Rousseff).

Às vésperas da sucessão presidencial de 2014 foi distribuído um questionário com 70 perguntas para mais de 20 mil oficiais, a grande maioria (93%) de carreira. No ano em que a pesquisa foi a campo, apenas o vice-presidente, Hamilton Mourão, e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, entre os militares do primeiro escalão, estavam na ativa. Os pesquisadores receberam 2.726 questionários de volta. Os resultados levaram dois anos para ser tabulados e analisados e agora chegam ao público numa edição limitada a pesquisadores. Se tudo depende do grau de instrução do eleitor e da punição dos corruptos, como sugerem as respostas colhidas, um povo que se organiza por uma mediação de interesses que favoreça a redistribuição de poder e renda flerta com a baderna. Esta percepção corrobora a disposição do presidente da República de tipificar ações de movimentos sociais, a exemplo das invasões de terras, como ato terrorista.

Essa perspectiva, no entanto, só parece ter sido revelada com a iminência do poder. Na época da pesquisa, a desigualdade social foi pouco valorada como fator de deslegitimação da democracia. Sete em cada dez oficiais que responderam à pesquisa não veem como o apartheid social em que vive o país poderia levar à emergência de movimentos extremistas. Os generais de exército aparecem aqui, mais uma vez, como um bloco uníssono, sem uma única discordância: todos descreem do poder de erosão da disparidade de renda.

Os militares mantêm, em grande parte, seus valores mais intocados do que outras corporações porque têm mais controle sobre a porta de entrada dos oficiais - a Academia Militar de Agulhas Negras (Aman) é o único caminho até o generalato - e também porque a estrutura da carreira favorece a convivência entre seus pares e suas famílias mais do que qualquer outro corpo de servidores do Estado.

O perfil colhido pelos pesquisadores da PUC-Rio, no entanto, mostra que, por outro lado, uma boa parte dos oficiais têm pais inseridos no mercado de trabalho formal e irmãos e cônjuges no meio universitário. É uma inserção capaz de reproduzir, na corporação, uma palheta mais aproximada das cores da população brasileira. O Exército que vencera Guerra do Paraguai com a incorporação de muitos negros e mulatos forros passou por um processo de 'branqueamento' ao longo da República que se mantém até hoje. Enquanto o último IBGE/PNAD (2014) identifica uma minoria de brancos no país (45,5%), no Exército ainda são larga maioria (66,4%).

No perfil religioso, ao contrário, a mudança foi mais acelerada do que aquela que se deu no conjunto da população. Metade dos respondentes é de católicos, média inferior à da população (64%). Em segundo lugar, ao contrário do que acontece entre os civis, vêm os kardecistas e não os evangélicos. Os generais são mais católicos do que seus subordinados. Por mais que a carreira absorva contingentes de fora das famílias da caserna, são os filhos de militares que mais frequentemente atingem o topo da corporação. Chega a 80%, entre generais, a cota que seguiu a carreira dos pais. A proporção cai pela metade entre os aspirantes.

O perfil colhido sugere antes uma aproximação entre os valores militares e a classe média brasileira do que a popularização da corporação. A proximidade explica, em grande parte, o êxito da carona dos militares na candidatura Jair Bolsonaro e fundamenta, ainda que parcialmente, a tese de um dos autores do livro, o professor Eduardo de Vasconcellos Raposo, sobre o fenômeno - a da confluência entre os valores da maioria eleitoral e aqueles predominantes no meio militar. Bolsonaro não foi eleito por ser ex-capitão, mas por ter sido identificado como algoz da corrupção, da violência e do PT. A pesquisa mostra que a identidade dos militares com os valores de um segmento expressivo da população corrobora a legitimação do seu poder crescente sobre o governo.