A grande barreira do Brasil contra choques externos tem sido e continua
sendo o agronegócio, principal fonte de receita e garantia do superávit
comercial. A principal ameaça ao agronegócio brasileiro, depois dos
desastres naturais, tem sido o governo federal, principal fornecedor de
argumentos ao protecionismo europeu. Nos 12 meses até novembro, o setor
exportou produtos no valor de US$ 97,7 bilhões e acumulou um saldo
positivo de US$ 84 bilhões nas trocas internacionais. Graças a isso o
Brasil conseguiu nesse período um excedente de US$ 47,5 bilhões na
balança de mercadorias, condição essencial para manter as contas
externas em condição satisfatória. O excedente garantido pela
agropecuária tem compensado o saldo negativo de outros setores e deixado
uma sobra considerável.
Qualquer obstáculo a essas exportações é um risco para a solidez cambial
do Brasil. Quem desconhece os efeitos desastrosos de uma crise cambial
pode aprender algo dando uma olhada na crise argentina. A ameaça de taxação de produtos de países poluidores reapareceu em
Madri, nos últimos dias, na conferência sobre o clima promovida pela
Organização das Nações Unidas (ONU). O assunto foi mencionado por
dirigentes da Comissão Europeia, em comentários sobre a proposta de um
“Green New Deal Europeu”. Mesmo sem decisão oficial, a mera referência ao assunto é inquietante. A
questão ambiental tem reforçado o velho discurso protecionista europeu,
apoiado pelo setor agrícola, já fartamente subsidiado, e por movimentos
sociais.
Ao entrar num embate com a ativista sueca Greta Thunberg, a propósito de
índios assassinados, o presidente Jair Bolsonaro mais uma vez se expôs
como adversário do ambientalismo, ajudando, por tabela, quem acusa de
devastação o agronegócio brasileiro. O verdadeiro agronegócio, eficiente e competitivo, opera de maneira
responsável e, além disso, há décadas tem ampliado a produção muito mais
do que a área ocupada. Mas nem todos sabem disso e muitos preferem, com
certeza, deixar esses fatos na obscuridade.
Não adianta condenar o protecionismo e ao mesmo tempo reforçar o
discurso de quem lucra com a deturpação da imagem do Brasil. Perder
mercados é geralmente uma tolice – e tolice maior é pôr em risco o
acesso a um mercado como o europeu. É esta a questão. A União Europeia é o segundo destino mais importante das exportações do
agronegócio brasileiro. O maior é a China. Mas o bloco europeu,
classificado logo em seguida, absorveu neste ano, até novembro, produtos
brasileiros no valor de US$ 15,5 bilhões, ou 17,4% do total exportado
pelo agronegócio. Foi a mesma participação registrada um ano antes,
embora o valor tenha diminuído 3,8%. A parcela chegou a 17,6% nos 12
meses até novembro, com transações no valor de US$ 17,2 bilhões.
No mês de novembro, embora a participação asiática tenha atingido o
recorde de 52,6%, por causa das exportações de carnes para a China, a
fatia da União Europeia ainda ficou em 15,7%, ou US$ 1,3 bilhão. As
vendas de carnes para o mercado asiático, de US$ 4,3 bilhões, foram
22,1% maiores que as de igual mês do ano passado.As vendas externas do agronegócio representaram em novembro 46,6% do
valor total das exportações brasileiras. A participação se manteve em
43,4% no ano e em 12 meses. Em todos os períodos considerados a fatia da
União Europeia nos negócios do agronegócio brasileiro ficou quase
estável, com pequena variação em novembro. Menosprezar esse mercado,
pondo em risco a imagem dos produtores brasileiros, seria um erro
terrivelmente custoso para o País.
Erros graves foram cometidos há meses, quando tropeços diplomáticos
puseram em risco os negócios com países muçulmanos e com a China, maior
parceira comercial do País. Essas imprudências foram corrigidas, em
grande parte pelo esforço da ministra da Agricultura. O presidente da
República participou, afinal, do conserto. Mas, seguido pelos ministros
do Exterior e do Meio Ambiente, ainda age como se pouco ou nada houvesse
aprendido com as falhas. Será necessário um desastre irreparável?