O Estado de S. Paulo
E fragorosamente. Isso não significa que a extrema direita tenha vencido
O
alarido das eleições, antes e depois dos resultados, terminou por produzir um
barulho inusitado, o de que as esquerdas estariam avançando, recuperando
antigas posições. Se antes as evidências já indicavam o contrário, apesar do
esforço de institutos de pesquisas de apresentar “retratos” distantes da
realidade, depois ficou ainda mais difícil, dada a sua perda de posições, com o
PT desaparecendo das capitais do País. A esquerda perdeu. E fragorosamente.
Isso
não significa que a extrema direita tenha ganho. O segundo turno apenas
confirmou o que o primeiro já havia sinalizado. Candidatos bolsonaristas, como
Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, e Capitão Wagner, em Fortaleza, não
tiveram sucesso. [felizmente que a extrema direita não venceu as eleições municipais naquelas cidades e outras do mesmo calibre, , mas temos absoluta certeza de que saiu ganhando = que motivos sobram para os vencedores naquelas cidades e em outras se considerarem vencedores? Ganharam sim, fontes de problemas. Qualquer direita que se preze tem que se preocupar com as eleições presidenciais;
O exemplo perfeito é que o presidente da República Federativa do Brasil - JAIR BOLSONARO - concedeu apenas um pouco de atenção àquele pleito para eleger vereadores e prefeitos.
Esperamos que o bom senso prevaleça e que em 2022 incluam nas eleições gerais, as eleições municipais. As finanças do Brasil agradecem.
Depois que o Supremo nos privilegiou com a ausência do Alcolumbre e do Maia, não nos surpreende que outras decisões a favor do Brasil, e dos brasileiros, sejam adotadas.] O primeiro perdeu por 30 pontos porcentuais, não deixando
nenhuma margem a dúvidas; o segundo, embora tenha sido mais competitivo, perdeu
para o candidato da família Gomes. A estrondosa vitória de 2018 minguou em
pouco tempo, deixando um acre sabor de insucesso.
Insucesso
revelador da incapacidade de governar, de oferecer soluções para os urgentes
problemas nacionais, para além da grave crise da pandemia, em que o único
espetáculo apresentado é uma pantomima sem fim. Chegamos às raias do absurdo. O
presidente e o ministro da Saúde advogam tratamentos preventivos, que inexistem
para a comunidade científica do Brasil e de todo o planeta. Procuram somente
mascarar decisões equivocadas, como a de dar vazão à distribuição de
hidroxicloroquina indevidamente financiada e produzida. Discute-se também a
obrigatoriedade ou não da vacina, quando não há vacina a ser distribuída.
Discute-se sobre o modo de aplicação de algo no momento inexistente. [lembramos que essa discussão absurda, fundamentada na irrealidade conta com o aval de ministros do Supremo - ainda que apenas de um. Esse apoio a discussão tão grotesca, até bizarra, obscurece em muito o mérito da decisão do STF, impedindo que um deputado e um senador golpeassem a Constituição Federal.]É surreal!
O
eleitorado demonstrou-se cansado dos ataques incessantes e das mentiras repetitivas,
sem que as questões principais do País sejam enfrentadas. Figuras de inimigos
imaginários expõem o seu descolamento da realidade quando as questões reais
batem à porta, como a doença, a morte, a fome, a queda de renda, o desemprego e
a ausência de expectativas. A dita “nova política” envelheceu em apenas dois
anos. Haja senilidade precoce! [consertar os erros da "Nova República" exige muito tempo e um apoio que os inimigos do Brasil - em grande parte escorados e até beneficiários dos males da famigerada 'nova República' - buscam sabotar de todas as formas.]
Daí
não se segue, porém, que a esquerda tenha avançado nem que suas bandeiras, se é
que existem, tenham sido adotadas. O PT, o mais importante partido de oposição,
continua velho, não tem sabido se renovar. Manchado pela corrupção em seu
exercício do poder e pela incompetência do último governo Dilma, continuou
apegado à figura de Lula. Ou o partido se repensa ou permanece atrelado aos
julgamentos inúmeros do ex-presidente e ao impeachment da ex-presidente. O
partido devia deixar a posição de advogado de defesa de seus líderes e partir
para uma agenda propositiva nacional. Não se olha para o futuro observando
somente o retrovisor de um passado que, hoje, só a ele interessa, e nem sequer
à totalidade de seus membros.
Os
candidatos Boulos, em São Paulo, e Manuela, em Porto Alegre, só foram viáveis
como alternativas de poder para os institutos de pesquisa. Realmente, jamais
ostentaram tal posição. O primeiro perdeu por 20 pontos porcentuais e a
segunda, por 10, tendo sido mesmo “avaliada” como estando na primeira posição
no primeiro turno. Erros grosseiros. Curioso, aliás, que os institutos não mais
consigam exercer influência na opinião pública, que já não segue tais
pesquisas, por terem perdido credibilidade.
Note-se
que um e outra são crias de Lula e com ele se identificam. Pertencem a partidos
que eram satélites do PT e não conseguem, senão a muito custo, desvencilhar-se
dessa identificação. Boulos quase chegou a ser ungido sucessor do ex-presidente
quando de sua prisão, naquele espetáculo deprimente de resistência a uma ordem
judicial. [a candidata que pretendia desmantelar Porto Alegre, quando vice do poste Haddad, chegou ao absurdo, ao crime de vilipendiar valores sagrados da Igreja Católica Apostólica Romana. É tão ignóbil, que evitamos até digitar seu nome.] São caras novas do ponto de vista etário, porém velhas em sua
trajetória e em suas propostas. Para quem tiver alguma dúvida basta ler os
programas partidários do PSOL e do PCdoB. Falar de “moderação” dos candidatos
beira a insensatez.
No
que diz respeito a este último partido, o governador Flávio Dino, que
des[a]pontava como liderança nacional, não conseguiu eleger seu sucessor. Ciro Gomes,
por sua vez, teve uma vitória expressiva em Fortaleza, conseguindo bater o
candidato bolsonarista, mas não demonstrou presença nacional. O quadro geral é
o PT perdido em questiúnculas internas, brigando com sua imagem, e os outros
partidos com imensas dificuldades de apresentar uma verdadeira alternativa
política.
Os
extremos como que caíram de suas extremidades, não puderam se equilibrar.
Tontos, giraram em torno de si mesmos, sem a menor abertura para o outro, o
País e seus problemas. A direita avançou com força em suas vertentes liberais,
conservadoras e fisiológico-patrimoniais, com tinturas, às vezes,
social-democratas. Por outro lado, os candidatos social-democratas igualmente
se aproximaram dessas posições, voltadas para a ponderação, o bom senso e as
urgências dos municípios. Quando questões nacionais afloraram, foram na mesma
direção, como se os cidadãos estivessem a exigir uma nova postura para 2022.
Denis Lerrer Rosenfield, professor de filosofia - O Estado de S. Paulo