Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador biodiversidade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador biodiversidade. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Macron contra a soja brasileira - Editorial

O Estado de S. Paulo

O presidente da França se vale da posição de destaque para difundir acusação infundada. Eis um indício da fama internacional que o Brasil adquiriu nos tempos atuais.

É lamentável que o presidente da França, Emmanuel Macron, difunda desinformação a respeito da produção agrícola brasileira, relacionando a soja nacional ao desmatamento da Amazônia. “Continuar a depender da soja brasileira seria apoiar o desmatamento da Amazônia”, disse o presidente francês, em sua conta oficial no Twitter.

Na continuação, Emmanuel Macron afirmou: “Nós somos coerentes com nossas ambições ecológicas, estamos lutando para produzir soja na Europa”. A coerência com a proteção do meio ambiente deveria levá-lo, em primeiro lugar, a respeitar os fatos. A soja brasileira não tem nenhuma relação com o desmatamento da Amazônia. A acusação feita pelo presidente Macron, sem nenhum apoio nos fatos, enquadra-se inteiramente no conceito de desinformação. Trata-se de uma mensagem equivocada, difundida para confundir o público e causar danos ao concorrente.

A agravar o quadro, Emmanuel Macron se vale de uma posição de destaque para difundir a acusação infundada. Nesta semana, ele comanda a cúpula “One Planet Summit”, formada por cerca de 30 chefes de Estado, empresários e representantes de Organizações Não Governamentais (ONGs). O tema da cúpula neste ano é a preservação da biodiversidade.

O mínimo que se deveria esperar de quem assume tal função é estar informado sobre o meio ambiente, e não difundir informações ecológicas inverídicas. Não faz nenhum sentido que, diante do esforço global para a preservação ambiental, produtores que preservam o meio ambiente sejam acusados de desmatar a Amazônia – e tudo isso para angariar alguns dividendos políticos no seu país de origem. Não é assim que se cuida do planeta.

As informações são públicas e podem ser facilmente acessadas. Não há desculpa para Emmanuel Macron difundir tamanha impropriedade sobre a produção agrícola brasileira. Em primeiro lugar, o Brasil tem uma legislação ambiental que é referência internacional por seu equilíbrio entre a exploração e a conservação da natureza.

Aprovado em 2012, o Código Florestal (Lei 12.651/12) impõe sérias e graves obrigações ao produtor rural em relação à preservação do meio ambiente. As penalidades são grandes e há um sistema de controle, com forte atuação do Ministério Público. Segundo levantamento da Embrapa, as áreas de vegetação nativa preservadas por agricultores, pecuaristas, silvicultores e extrativistas somam 25% do território brasileiro. “Não há país do mundo no qual o setor agrícola dedique tanto patrimônio e recursos à preservação do meio ambiente”, avalia Evaristo de Miranda, diretor da Embrapa Territorial.

Além disso, a própria produção agrícola brasileira é referência no mundo inteiro, precisamente por sua produtividade estar aliada à preservação ambiental. A notável expansão da produção agrícola nas últimas décadas – num período de pouco mais de 40 anos, a produção de grãos cresceu quase seis vezes – não se deu em razão do aumento da área cultivada.

O crescimento ocorreu pelo aumento de produtividade por hectare, com a modernização das técnicas de plantio e cultivo, junto ao uso crescente de tecnologia. O campo tem produzido mais não porque avança sobre a Amazônia, como deu a entender Emmanuel Macron, mas porque tem feito render mais cada hectare de terra. 

[Saiba mais sobre  sobre os devaneios e mentiras do presidente francês:

O ousado plano de Macron para acabar com a dependência da soja do Brasil
Emmanuel Macron prometeu muito, mas não fez nada”, tuitou Jean-François Julliard, diretor do Greenpeace França.

Macron criou a “mentira perfeita” ]

A acusação do presidente francês trouxe uma informação completamente equivocada, que pode ser facilmente refutada por dados básicos sobre o tema. Mas ele a publicou no Twitter, como se fosse uma verdade evidente, a dispensar provas. Eis um indício da fama internacional que o Brasil adquiriu nos tempos atuais.

Com sua determinação de criticar qualquer iniciativa de proteção ambiental, o presidente Bolsonaro transmite mundo afora a absurda ideia de que os produtores rurais só querem desmatar e queimar. É grave o erro de Jair Bolsonaro, assim como é grave o erro de Emmanuel Macron. Com relevante histórico de preservação ambiental, a produção de soja brasileira deveria receber aplausos, em vez de ser objeto de grosseiras mentiras.

Editorial - O Estado de S. Paulo - 14 janeiro 2021


quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Usam o verde como camuflagem - "Biden ameaça com sanções e nos oferece esmola para nos comprar"

Alexandre Garcia

''O verde é uma boa camuflagem para os interesses reais no subsolo e na biodiversidade. Se a demanda do mundo fosse árvores, a Europa trataria de se reflorestar, depois de devastar sua mata original''

Joe Biden ainda vê Brasil como quintal dos Estados Unidos. No debate eleitoral da semana passada, o candidato ameaçou os brasileiros: “Aqui estão US$ 20 bilhões. Parem de destruir a floresta e, se não pararem, então enfrentarão consequências econômicas significativas”. Ele debatia com Donald Trump, mas se dirigiu aos brasileiros e afirmou que a Floresta Amazônica absorve mais carbono que o que é emitido nos Estados Unidos. Quis mostrar que a floresta interessa ao mundo, por absorção de carbono, o que pressupõe internacionalização. [Tentem internacionalizar - talvez até consigam, difícil, porém possível - talvez se surpreendam, se decepcionem, se desesperem, com o que conseguiram 'internacionalizar'] Desinformado e atrapalhado, Biden repetiu chavões. Estudiosos mostram que a Floresta Amazônica praticamente empata na geração de oxigênio e absorção de carbono.

O verde é uma boa camuflagem para os interesses reais no subsolo e na biodiversidade. Se a demanda do mundo fosse árvores, a Europa trataria de se reflorestar, depois de devastar sua mata original. Biden ameaça com sanções e, em atitude de humilhação, nos oferece esmola para nos comprar. Já antecipa o que fará se for presidente.

A Amazônia não caiu em nossas mãos por acaso. Foi objeto de conquista dos portugueses, que foram além de Tordesilhas, expulsando franceses do Maranhão e holandeses do Xingu; depois, subindo o rio, empurrando os espanhóis, com soldados e flecheiros até Quito e erguendo fortes em pontos estratégicos, até que o Tratado de Madri consolidou os limites. Pedro Teixeira, Plácido de Castro, Rio Branco garantiram as fronteiras com a espada e a caneta. Em 1849, uma missão “científica” da marinha americana concluiu que a livre navegação pela Amazônia seria um “grande benefício para o povo americano”. Coube ao Barão de Mauá organizar apressadamente a Cia. de Navegação do Amazonas para o Brasil ocupar o rio, antes de ser ocupado. Em abril de 2013, o rei Harald V da Noruega, visitou o território Ianomâmi, em Roraima, a convite da Fundação Noruega para a Floresta Tropical, como se estivesse em área internacional. Golbery do Couto e Silva, na “Geopolítica do Brasil”, lembra que a fronteira só existe com a ocupação pelos brasileiros. JK, ao construir Brasília, alargou o Brasil e os brasileiros ocuparam a amplidão antes deserta, criando uma superpotência de alimentos.

O defensor da nossa Amazônia, do nosso petróleo, o juiz e escritor de esquerda, cassado pelo AI-1, Osny Duarte Pereira, ficaria horrorizado ao constatar que a mídia brasileira aprovou as ameaças do intrometido Biden. No Brasil, as ameaças de Biden ganharam apoios que, em outros tempos, seriam tachados de entreguistas pela esquerda liderada por Leonel Brizola. E a direita recebe de presente a bandeira do nacionalismo.

Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense


segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Não há como tirar as crianças da sala - Fernando Gabeira

Blog do Gabeira

Na semana passada, escrevi um artigo sobre o Supremo. As coisas de sempre, bloqueio de investigacões financeiras,  o flerte com o autoritarismo.Mas com tanto problema interno no Brasil, deixei de lado algo que talvez possa contribuir: a passagem de Greta Thunberg pela ONU e as reacões que ela suscitou no Brasil.
Muitos estranharam o fervor da adolescente. Mas ela vem de uma cultura em que, apesar do grande avanço material, a religião ainda tem um peso.A religião é um dos temas resilientes. Ela nunca desaparece, comunistas e liberais são constantemente apontados como adeptos de uma religião secular. [sempre que postamos algo sobre a 'santa' Greta Thunberg, sugerimos aos nossos dois leitores que conheçam mais sobre o prodígio. Cliquem aqui e saibam um pouco mais.]

Isso é secundário diante do agravamento da crise ambiental. Ela não só está produzindo personalidades como Greta, mas influencia também as crianças do mundo inteiro.As praias de Alagoas, depois do vazamento de óleo, foram limpas por crianças de escolas primárias e seu discurso era bastante consciente da gravidade do problema.

Adultos costumam se irritar com a precocidade política. Esquecem, no entanto, que estão diante de um tema singular, diferente dos outros. Crianças o tomam como seu porque entendem que o próprio destino em jogo. Têm portanto legitimidade.
Há uma diferença entre nós, que muitos vezes fomos chamados ecochatos, e esta novíssima geracão. A tendência nos primórdios do movimento, era considerar a luta ambiental como uma atitude ética em relação aos que viriam depois de nós. O discurso de Greta não enfatiza novas geracões, mas a dela própria. É simultaneamente uma cobrança e uma acusacão. Os adolescentes se colocam no centro do drama.

As pessoas que combatem Greta ou se assustam com seu tom talvez não tenham ainda uma ideia nitida de como as coisas vão se complicar.Um exemplo disso é o surgimento de novas organizações, um pouco diferentes do Greenpeace e das outras que conhecemos.São grupos que consideram que o ponto de não retorno na degradação planetária pode ter sido atingido e atuam com a ideia de que há uma emergência. [certamente surgirão muitas outras; 
começam a descobrir que defender o meio ambiente - especialmente quando a defesa é exagerada, exarcebada, emocional - pode render muito dinheiro.]
Tomei conhecimento do programa de uma delas, a Extintion Rebellion que parece estar crescendo na Inglaterra.Eles propõem a desobediência civil pacífica, mas às vezes a polícia intervém e prende alguns deles.

Segundo li em seus folhetos, de um modo geral a relação com a policia costuma ser tranquila, apesar das detenções. A mesma civilidade não acontece com os estrangeiros que se aventuram a apoiar o Extintion Rebellion. A polícia inglesa é mais dura com eles, outros fatores entram em cena.  Interessante o caso brasileiro. No mesmo momento em que a questão ambiental torna-se mais dramatica o pais radicaliza sua negação de fenômenos como o aquecimento global. Esta semana, Bolsonaro disse que os estrangeiros não se interessam pelos índios nem pela porra das árvores mas pelo minério da Amazônia. É uma tese de fácil aceitação entre as pessoas mais simples. No discurso de Bolsonaro na ONU ele disse apenas uma vez a palavra biodiversidade, ao referir-se à Amazônia. 

A porra da árvores, se a tomamos como um símbolo da  biodiversidade, é considerada um recurso invejável, um passaporte para o futuro. Por essa razão, a distância entre a preocupação mundial e as teses brasileiras vai se tornando cada vez mais um abismo. Supor que tudo o que se passa hoje nesse campo  seja apenas uma expressão do marxismo internacional ou mesmo de potenciais exploradores de minério  é um gigantesco erro de avaliacão. Não é preciso ter uma visão catastrofista, nem achar que o ponto de não retorno já aconteceu e que o planeta caminha para ser hostil à  vida humana.

Basta apenas dar uma chance à realidade, admitir a existência do problema. Isso não significa concordância com qualquer maneira de atacá-lo. Há uma ampla gama de posicões disponiveis. Tratar a biodiversidade como a porra da árvore só traz desalento e leva muitos a pensar que uma parte da humanidade merece os eventos extremos e caminha de forma arrogante para a extinção. Os dinossauros, pelo menos, foram pegos de surpresa. Nem tiveram que ser avisados pelas crianças.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista


Artigo publicado no jornal O Globo em 07/10/2018