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domingo, 20 de novembro de 2022

O processo eleitoral brasileiro e a soberba dos malandros - Revista Oeste

Flávio Gordon

O calcanhar de aquiles do sistema eleitoral brasileiro, que fragiliza (e, no limite, inviabiliza) a nossa democracia, permanece exposto: a própria existência de uma Justiça Eleitoral 

 Foto: Reprodução/Shutterstock

 Foto: Reprodução/Shutterstock 

“Perdeu, mané, não amola.”

(Luís Roberto Barroso, ministro do STF,
respondendo a um cidadão brasileiro em Nova Iorque,
em 15 de novembro de 2022)

Na cidade que nunca dorme, em evento patrocinado pela empresa de João Doria (e, portanto, legalmente impróprio para magistrados), o ministro Alexandre de Moraes disse que a “desinformação”, supostamente causada pela ausência de regulamentação na internet, está corroendo a democracia brasileira. Ato contínuo, produziu ele mesmo uma grosseira peça de desinformação, ao reincidir na mentira segundo a qual o relatório do Ministério da Defesa, encaminhado ao TSE no dia 9/11, não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral.

Recorde-se que, em nota do dia 10/11, o próprio Ministério da Defesa fez questão de contraditar essa interpretação, ao afirmar textualmente que o relatório produzido não excluiu a possibilidade de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas.  
Mas, não bastasse esse desmentido à fake news produzida pelo TSE, a nota foi além, solicitando esclarecimento sobre aspectos sensíveis do processo eleitoral. 
O Ministério da Defesa menciona três pontos em especial:  
a) um possível risco à segurança na geração dos programas das urnas eletrônicas, devido à ocorrência de acesso dos computadores à rede do TSE durante a compilação do código-fonte
b) a precariedade dos testes de funcionalidade das urnas, que não foram suficientes para afastar a possibilidade da influência de um eventual código malicioso capaz de alterar o funcionamento do sistema de votação; e c) as restrições ao acesso adequado dos técnicos ao código-fonte e às bibliotecas de software desenvolvidas por terceiros, inviabilizando o completo entendimento da execução do código.

A nota conclui afirmando não ser possível “assegurar que os programas que foram executados nas urnas eletrônicas estão livres de inserções maliciosas que alterem o seu funcionamento”. E cobra do TSE, com urgência, “a realização de uma investigação técnica sobre o ocorrido na compilação do código-fonte e de uma análise minuciosa dos códigos que efetivamente foram executados nas urnas eletrônicas”, investigação a cargo de uma comissão técnica independente, formada por especialistas da sociedade civil e representantes das entidades fiscalizadoras. A resposta de Moraes veio no estilo que tem se tornado marca registrada da militância togada que se imagina dona do país: o deboche. Atribuindo o teor da nota a motivações políticas, o supremo censor da República ironizou sua pretensa inconclusividade: “Pode ser que no universo tenha ou não tenha vida extraterrestre”.

Sem ter como dar uma resposta satisfatória para além do escárnio, Moraes e seus pares resolveram escalar a censura como forma de proibir a pergunta.  
Mas o calcanhar de aquiles do sistema eleitoral brasileiro, que fragiliza (e, no limite, inviabiliza) a nossa democracia, permanece exposto: a própria existência de uma Justiça Eleitoral, com tantas atribuições, inclusive a de organizar as eleições, algo que não acontece no restante do mundo
Com 90 anos completos, o TSE essa jabuticaba concebida pelo ditador Getúlio Vargas, em maio de 1932 — é o único órgão integrante da Justiça brasileira que detém funções administrativas e normativas que extrapolam seu âmbito jurisdicional. Embora seja chamado de “Tribunal”, a Corte assume toda a administração executiva, gerencial, operacional e de normatização do processo eleitoral brasileiro. “É um exemplo único no mundo” — admitiu o ministro do STF Dias Toffoli ao Jornal do Senado, em setembro de 2010.

Mas, além de tamanha concentração de poder já ser em si mesma um problema — concentração que leva as autoridades eleitorais a se apresentarem frequentemente como encarnação da democracia, e não apenas como seus garantidores nominais —, o fato é que, na prática, a Corte Eleitoral não consegue dar conta de tantas atribuições, delegando boa parte delas a empresas terceirizadas (sob controle do TSE apenas em tese). Sendo muitas dessas empresas estrangeiras e, pior ainda, ligadas a políticos e partidos políticos —, há muitos atores externos com acesso privilegiado ao nosso sistema eleitoral, atores com capacidade potencial de interferir na transmissão de programas, na transmissão de dados e na contagem dos votos.

Sendo extremamente vulneráveis as urnas eletrônicas de primeira geração (conhecidas pela sigla DRE, de direct recording electronic voting machine) vulnerabilidade já demonstrada por técnicos independentes, como o professor Diego Aranha, da Unicamp —, o acesso concedido a agentes externos com potenciais interesses políticos e financeiros no resultado das eleições brasileiras torna-se um problema de segurança nacional. 

Como concluíra o relatório de auditoria independente contratada pelo PSDB em 2014: “Os riscos catastróficos/gravíssimos significam que a urna brasileira estaria vulnerável a diversos tipos de ataques, desde atos de sabotagem para atrapalhar as eleições até atos que poderiam mudar os resultados da última eleição e, pior, sem deixar rastros que poderiam detectar indícios de fraudes, como relatado anteriormente”.

Das várias medidas relativas ao processo de preparação, organização e processamento das eleições no Brasil, o TSE está diretamente a cargo de apenas um terço, que inclui o cadastramento dos candidatos, a divulgação dos resultados, a auditoria das campanhas, a certificação das campanhas e a diplomação dos eleitos
Os outros dois terços de medidas operacionais que incluem coisas como a programação do software das urnas eletrônicas, a fabricação das urnas, o armazenamento e a segurança das urnas, a coleta de dados dos eleitores, o carregamento dos softwares nas urnas, o transporte das urnas, a coleta dos votos, o transporte dos votos para os cartórios eleitorais, a transmissão dos votos para os TREs e o TSE e o processamento dos resultados — são conduzidos por empresas terceirizadas e indivíduos convocados para o dia da eleição, com pouca supervisão do TSE e nenhum compromisso formal com o eleitorado brasileiro.

Os técnicos demonstraram ser relativamente simples fraudar eleições na ausência de contagem física dos votos, e nas quais o boletim de urna apenas confirma uma fraude já realizada no interior do software

Uma dessas terceirizadas, que dominou o mercado brasileiro por muito tempo, é a empresa Diebold Election Systems Inc. Antes de ser substituída pela Positivo Tecnologia — empresa fundada pelo senador Oriovisto Guimarães (Podemos), que venceu a licitação para fabricar as urnas das eleições de 2022 —, a Diebold fabricou as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições brasileiras de 2000 até 2020. 

Envolvida numa série de suspeitas de ilegalidade desde quando, em 2003, o seu diretor-executivo, Walden O’Dell, se envolveu na campanha de arrecadação de fundos para o então presidente e candidato à reeleição, George W. Bush (ver, sobre o tema, reportagem do New York Times), a empresa teve suas urnas escrutinadas por experts em segurança da informação.

No escândalo conhecido como Hursti Hack a partir do nome de um dos participantes do escrutínio, o programador finlandês Harri Harras Hursti —, uma série de falhas graves de segurança foi identificada nas urnas eletrônicas fabricadas pela Diebold
As falhas foram detectadas em um conjunto de testes de “hackeamento” promovido pela ONG Black Box Voting, em parceria com os produtores do documentário Hacking Democracy, lançado pela HBO, em 2006. Testes similares foram conduzidos por especialistas da Universidade de Princeton, que também conseguiram “hackear” as urnas e alterar a contagem de votos
Devido às fragilidades no sistema e às suspeitas de comércio de votos por parte de seus executivos, a Diebold foi banida de vários Estados norte-americanos
E, depois de ter dois presidentes afastados, parou definitivamente de fabricar urnas eletrônicas nos EUA, entregando, no ano de 2009, a sua divisão de eleições para a Dominion Voting Machinesque então participou das eleições norte-americanas mais suspeitas da história, que deram a vitória a Joe Biden, contra Donald Trump, em 2020.

Enquanto tudo isso se passava nos EUA, a Diebold permaneceu tranquilamente no mercado brasileiro, alheia à vigilância do TSE. De 2002 a 2020, foi a fornecedora exclusiva das urnas brasileiras, ganhando todas as concorrências e contando com pareceres favoráveis por parte da Justiça Eleitoral.  

A tal ponto foi seu monopólio no nosso mercado eleitoral que a filial brasileira da Diebold se tornou responsável por quase 50% do faturamento global da empresa.

Em 2017, em entrevista à jornalista da Rede TV Mariana Godoy, o deputado Protógenes Queiroz denunciou ter sido vítima de fraude nas urnas eletrônicas brasileiras. 
Num tempo em que questionar as urnas de tipo DRE e exigir o voto impresso auditável eram gestos ainda relativamente corriqueiros no país e não, como hoje, motivo de escândalo e acusações de blasfêmia —, Queiroz travou com a jornalista o seguinte diálogo: Mariana Godoy (MG): “Eu queria saber o seguinte: ‘O senhor na época em que foi eleito deputado federal teve quase 100 mil votos, teve 94 mil votos e foi considerado um bom parlamentar. Por que não foi reeleito?”.

Protógenes Queiroz (PQ): “Fraudes nas urnas eletrônicas. Sério. Inclusive isso dito logo depois de o resultado ser proclamado, várias pessoas que… Dizem até que isso é conversa de parlamentar perdedor, mas muitas pessoas confirmaram que votaram em mim, e o voto não apareceu na urna. Eu não me dei por satisfeito com aquela situação; me dirigi ao dr. André, que era o procurador-geral da República, o dr. Pedro Barbosa Pereira Neto, com os meus mapas eleitorais, analisamos nós três, no gabinete da Procuradoria Regional da República, e nós três ficamos assustados com as coincidências de urnas com zero voto onde havia eleitores que tinham votado. Tinha que ter pelo menos um voto, tinha zero voto! E muitas urnas… O trabalho não foi muito bem-feito de fraude, porque a fraude foi estampada, e imediatamente o procurador-geral da República, o dr. André, chegou à conclusão de que tinha que fazer uma representação de fraude, à época, ao presidente do TSE, Dias Toffoli, ministro do STF. Essa representação ficou tramitando, eu retornei à Polícia Federal, em fevereiro de 2015, com o encerramento do meu mandato, e eu mesmo fui investigar a minha fraude. E consegui identificar um dos fraudadores; denunciei isso ao Ministério Público Regional Eleitoral…”

MG: “Ele admite a fraude?”

PQ: “Ele admite a fraude. A fraude foi feita pela empresa na época, em ambiente da Diebold, que era a empresa que fabrica as urnas eletrônicas, que é responsável pelo software das urnas eletrônicas. Ele é um dos técnicos engenheiros operacionais, é um técnico de Osasco, inclusive, e ele falou como fraudou a minha eleição e como fraudou outras inclusive”.

MG: “Outras?”

PQ: “Outras eleições. Ele colaborou para fraudar eleição de governador, da própria última eleição da presidente Dilma contra o Aécio Neves”.

MG:O senhor está dizendo que um técnico que trabalha com as urnas eletrônicas falou que houve fraude favorecendo a ex-presidente Dilma?”

PQ: “A ex-presidente Dilma Rousseff. Ele fraudou. Ele prova tecnicamente como foi feita a fraude. Ele materializa como foi feita a fraude”.

A denúncia de Queiroz, ignorada e posteriormente apagada do noticiário, condizia com o que foi identificado nos testes da Universidade de Princeton com as urnas da Diebold
Na ocasião, inserindo um programa malicioso de alteração de resultados, os técnicos demonstraram ser relativamente simples fraudar eleições na ausência de contagem física dos votos, e nas quais o boletim de urna apenas confirma uma fraude já realizada no interior do software. 
Tudo o que precisavam era ter acesso à urna já carregada por menos de um minuto, inserir o cartão de memória carregado com o programa alterado, ligar a urna até ela dar o boot inicial e, em seguida, desligá-la. Finda a votação, o programa se autodeletava, sem deixar traço. Uma outra forma de fraude — realizada a qualquer momento prévio ao carregamento das urnas com o software inicial — consistia em inserir um programa-vírus na mídia de carregamento (o “pen drive”), que então contaminaria todas as urnas que carregasse. A fraude batia com denúncias frequentes de urnas sendo ligadas antes das eleições ou substituídas sem motivo aparente.
 
O fato é que, desde que surgiram os sistemas eletrônicos de votação, o “negócio do voto” — para usar o título da já citada reportagem do NYT —, se tornou muito mais sofisticado e especializado
Se, por um lado, sempre houve fraude, adulteração e comércio ilegal de votos, o ambiente eletrônico tornou tudo mais obscuro e de difícil identificação, tanto assim que quase todos os países do mundo abandonaram os sistemas de votação integralmente eletrônicos, sem VVPAT (voter verifiable paper audit trail, ou “documento de auditoria em papel verificável pelo eleitor”). 
Como tudo o mais, o negócio do voto globalizou-se, e cada eleição nacional envolve players do mundo inteiro, com os mais variados interesses, quer pecuniários e mercenários, quer político-ideológicos.
 
Com o seu sistema centralizado, e a baixa capacidade de fiscalização e controle das terceirizadas envolvidas no processo, o Brasil é particularmente vulnerável a esses interesses e a possíveis interferências externas, para não dizer de eventuais manipulações internas. 
E, para piorar a situação, tudo o que as autoridades eleitorais e sua imprensa amestrada têm oferecido em relação a essa vulnerabilidade são arrogância, autoproteção e autoritarismo
Mais que para garantir a transparência e a confiabilidade do processo, tudo o que fazem é tentar censurar e intimidar o eleitor desconfiado, que, por consequência óbvia, termina mais e mais desconfiado. 
Provam-no as multidões de brasileiros que saem às ruas do país e do mundo indignadas não apenas com o resultado eleitoral, mas com o caráter vicioso e desequilibrado de todo o processo. 
Pode-se estigmatizá-los como “golpistas”, censurá-los, ameaçá-los de prisão e até mesmo xingá-los de “mané”. 
O que dificilmente se conseguirá com isso é recuperar a credibilidade do sistema e, sobretudo, do tribunal que o conduz de maneira tão soberba. Como se diz por aí, o problema do malandro é justamente o de achar que todo mundo é mané…

Leia também “Um país conflagrado”

Flávio Gordon, colunista - Revista Oeste 

 

terça-feira, 15 de novembro de 2022

PL vai pedir a anulação da eleição - Revista Oeste

Auditoria informa ser impossível 'validar resultados' de urnas 

O Partido Liberal (PL), do presidente Jair Bolsonaro, vai pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a anulação da eleição. Publicada pelo site O Antagonista, a informação foi confirmada por Oeste com fontes palacianas. A ação, a ser finalizada, considera duas auditorias sobre as urnas. Um dos relatórios de fiscalização conclui não ser “possível validar os resultados gerados em todas as urnas eletrônicas de modelos 2009, 2010, 2011, 2013 e 2015”.

“O objetivo do trabalho técnico apresentado neste relatório foi encontrar a causa que teria gerado os resultados dos estudos estatísticos, que mostraram uma interferência indevida nos porcentuais de votação dos candidatos, pelas urnas eletrônicas de modelos antigos, não funcionaram corretamente”, informa trecho do documento. “Para encontrar evidências de que este grupo de urnas não teria funcionado corretamente, foi realizada uma análise inteligente dos dados contidos nos arquivos Log de Urna de todos os modelos de urna eletrônica, utilizados nas eleições de 2022.”


A auditoria é assinado pelo engenheiro Carlos Rocha, do Instituto Voto Legal (IVL), contratada pelo PL. A equipe do IVL argumenta que adotou procedimentos do Tribunal de Contas da União, como auditoria de conformidade, auditoria operacional, inspeção, acompanhamento e monitoramento.

Em parceria com a Gaio.io, uma empresa de Tecnologia da Informação, construiu-se uma base de dados com todos os arquivos de Boletim de Urna e Log de Urna dos mais de 472 mil equipamentos usados na votação.

O IVL vem utilizando a plataforma Gaio, para validar estudos estatísticos que nos são apresentados, com descobertas de indícios de funcionamento incorreto do sistema eletrônico de votação e das urnas eletrônicas, que justifiquem uma investigação aprofundada”, afirma trecho do documento do PL. “Há estudos que mostram indícios fortes de interferência nos percentuais de votação dos dois candidatos, favorecendo um candidato em detrimento do outro, especialmente nos estados do Nordeste. A pedido do IVL, os estudos foram validados pela Gaio.io e a imagem a seguir apresenta os resultados da validação, para municípios com menos de cem mil eleitores em todas as UFs.”

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Foto: Reprodução

Leia também: “É proibido modernizar a urna eletrônica?”, reportagem publicada na Edição 69 da Revista Oeste


terça-feira, 11 de outubro de 2022

Bolsonaro quer eleitores nas seções até o resultado da eleição

Bolsonaro ainda levantou dúvidas sobre os votos obtidos por Lula no primeiro turno das eleições

O presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), conclamou seus eleitores para que no dia 30, segundo turno da eleição, fiquem nas seções eleitorais até que a Justiça divulgue o resultado final das eleições deste ano. Bolsonaro disputa com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, a preferência do eleitorado para se manter mais quatro anos à frente do Palácio do Planalto. “No próximo dia 30, de verde e amarelo, vamos votar e mais que isso. Vamos permanecer na região da sessão eleitoral até a apuração do resultado. Tenho certeza que o resultado será aquele que todos nós esperamos, até porque o outro lado não consegue reunir ninguém”, disse o presidente. [um esclarecimento sério e responsável: por óbvio o eleitor após votar, escutando o tinido da inviolável e inauditável urna eletrônica, é obrigado a se retirar da seção e não participar de aglomerações nas proximidades - além de ser uma imposição legal é também questão de bom senso = inviável que as pessoas permaneçam no interior das seções após votarem e/ou nas proximidades.
Após as 17h, encerramento das eleições - só poderão votar os eleitores que estiverem no interior da área de votação e portando senha distribuída pelo secretário da Seção Eleitoral -  os eleitores que já votaram e estiverem no local de votação poderão, de forma ordeira, se dirigir à Seção Eleitoral e aguardarem que os mesários afixem no exterior da Seção Eleitoral uma via do BU, que poderá ser fotografada por quem assim desejar. 
É DESNECESSÁRIO QUE ELEITORES MANTENHAM PLANTÃO EM FRENTE DAS SEÇÕES ELEITORAIS. 
Encerrada a votação o que os mesários mais querem é  preencher a Ata  dos trabalhos, entregar  a mídia com os votos ao administrador, urnas, caderno de votação e tudo o mais e irem para suas casas. 
O normal é que por volta das 19 horas o local já esteja fechado.]

Em um discurso dentro do pavilhão da Fenadoce, em Pelotas (RS), Bolsonaro levantou dúvidas sobre os votos obtidos por Lula no primeiro turno das eleições. O candidato petista teve vantagem na votação do último dia 2. O atual presidente começou a apuração em vantagem, mas Lula conseguiu a virada e terminou na frente: 48,2% a 43,3%. “Todos nós estranhamos como pode aquele cara ter tantos votos se o povo não está ao lado dele”, disse Bolsonaro. O presidente ainda afirmou que quem apoia Lula “continua cada vez mais pobre”.

Bolsonaro cumpriu agendas de campanha no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina nesta terça-feira, véspera de feriado. No Estado catarinense, o candidato esteve com prefeitos apoiadores de sua candidatura.

Relatório de partido de Bolsonaro
Nesta terça-feira, o ministro Benedito Gonçalves, corregedor-geral da Justiça Eleitoral, determinou que o Partido Liberal (PL) apresente em até três dias a origem dos recursos usados pela sigla que custearam o relatório que apontou falhas no sistema eleitoral. O PL é o partido a que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro está filiado.

O documento “Resultados da Auditoria de Conformidade do PL” foi divulgado em 28 de agosto deste ano. O texto informa que existe um “quadro de atraso” no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em relação a “medidas de segurança da informação”, o que poderia gerar “vulnerabilidades relevantes”.

 Iara Lemos  - Revista Oeste

 


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Urnas eletrônicas colocadas à prova: você pode confiar? - Teste das urnas - VOZES

Madeleine Lacsko - Gazeta do Povo

Os defensores e detratores apaixonados da urna sumiram na hora de discutir vida real. Vamos discutir aqui.

O TSE acabou de divulgar os resultados do Teste Público de Segurança das urnas de 2021. Eu só fico pensando onde se meteu aquele bando de político que passou o ano inteiro fazendo postagem chiliquenta sobre segurança de urna. O presidente já deu seu jeito, disse que confia nas Forças Armadas e elas participam do processo. Mas e o resto do pessoal? Nem justificou nada nem se interessou pelo teste.

Imagem da urna eletrônica
       Imagem da urna eletrônica| Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE

De qualquer maneira, ele foi feito e teve recorde de inscrições. Várias equipes de especialistas tentam burlar a urna eletrônica e realizam ataques. É bom saber que o TSE não abre o sistema das eleições mesmo para o pessoal atacar, faz uma espécie de sistema espelho, que não tem os dados reais dos eleitores brasileiros. O funcionamento é o mesmo, mas as consequências de uma invasão são diferentes.

Vivemos uma realidade tão distópica que você ouviu falar de urna eletrônica o dia todo quando não havia um fato. Era só jornalismo declaratório, briga entre políticos, salseiro de rede social e gente com tempo livre demais e acesso ao Facebook. Agora que tinha fato mesmo, esse povo todo sumiu do mapa e a imprensa também. Quase não se falou do tema. Sem treta, sem atenção.

Vai ter outro teste em maio. Provavelmente você verá o mesmo empenho na divulgação. Se não tiver uma treta gigante, de preferência com gritaria e frases fortes, vai ser difícil a informação circular. 
Se começar de novo a gritaria, provavelmente agências de checagem transcreverão relatórios da assessoria de imprensa do TSE. 
Qualquer questionamento receberá o carimbo de FALSO, mesmo que haja falhas. A realidade pouco importa.

Durante os dias do teste, 26 equipes planejaram e executavam 29 tentativas de ataques. Dessas, 5 trouxeram resultados relevantes. O TSE garante que invadir mesmo a urna, mudar resultado de voto ou mexer com o software principal ninguém conseguiu. Mas foram detectadas outras falhas que precisam ser corrigidas e serão analisadas por uma equipe técnica. São 5 e eu explico.

1. TECLADO FALSO
Um teclado produzido por impressora 3D foi acoplado à urna e foi capaz de coletar todos os votos. É algo que pode violar o sigilo do voto mas não consegue alterar votos. Para funcionar, a pessoa teria de entrar na cabine com o teclado falso, deixar ele lá por toda a votação e retirar no final.

2. CRIPTOGRAFIA DO BOLETIM DE URNA

O Boletim de Urna, que é um documento público, é transmitido por mensagem criptografada, como as que a gente manda por WhatsApp. Quem manda vê tudo na ordem correta e quem recebe também mas, no meio do caminho, a informação navega embaralhada para que não se veja o conteúdo mesmo se alguém conseguir interceptar. 
No teste, foi possível descriptografar o Boletim de Urna no meio do caminho, ou seja, interceptar a informação. O TSE pensa até em tirar a criptografia porque o documento é público e já tem assinatura digital.

3. TIRAR O SIGILO DE VOTOS PARA CEGOS
Uma equipe conseguiu colocar um equipamento de bluetooth acoplado à saída de áudio da urna, utilizada na votação acessível pelas pessoas cegas. O equipamento transmitia o áudio dos votos a uma fonte externa. Na prática, seria possível conferir os votos de pessoas cegas à distância. Ocorre que a parte da urna onde é colocado o equipamento bluetooth não fica escondida pela cabine, é visível para todos. De qualquer forma, isso será discutido pela equipe técnica.

4. FALHA NO JE CONNECT
É uma das soluções utilizadas para transmissão de dados das urnas para os TREs. O JE Connect deveria vir com bloqueio de algumas teclas de atalho, só que elas estavam desbloqueadas. Uma equipe conseguiu usar essas teclas de atalho para, via JE Connect, tentar entrar no sistema da Justiça Eleitoral. Isso não aconteceu porque seria necessário quebrar os códigos de usuário e senha do TSE. O Tribunal Superior Eleitoral considerou a falha grave e já pediu a correção. Não é para os atalhos funcionarem e deixarem à sorte se alguém consegue ou não hackear senhas.

5. FALHA 2 NO JE CONNECT
Uma equipe conseguiu abrir os 3 compartimentos criptografados que formam o sistema de transmissão de dados das urnas ao TSE, o JE Connect. Usaram uma fórmula diferente da outra equipe para entrar no sistema: em vez de teclas de atalho, usaram VPN. Acontece que este time não ficou bloqueado no login e senha da Justiça Eleitoral, conseguiram quebrar também esse código. O TSE diz que a falha é grave e será corrigida até as eleições para evitar ataques cibernéticos.

Mudar o resultado da urna não é possível, ela imprime direto o Boletim de Urna. No entanto, é possível invadir a rede que envia os dados das urnas até a Justiça Eleitoral e entrar também no sistema do TSE. Suponhamos que o pior aconteça. Ainda teremos os Boletins de Urna impressos em cada seção eleitoral para comparar. É preocupante sim a vulnerabilidade, mas pelo menos tem alguém de olho. Não é o caso de diversos outros órgãos públicos e da imprensa.

A Apex-Brasil, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, teve seu sistema sequestrado por ataque ransomware esta semana. Vivêssemos em um país com imprensa vigilante e informada, seria um escândalo acompanhado de perto. É o tipo de crime que está no topo das prioridades de discussões das grandes potências porque desequilibra as forças geopolíticas. Estamos falando de algo dessa magnitude.

E o que isso tem a ver com eleições e nossas urnas? Não damos importância a segurança digital, algo essencial hoje para manter a soberania de um país e o poder político e econômico. Recentemente fiz um artigo para o Think Tank Instituto Montese sobre isso. Também fiz artigo aqui na Gazeta do Povo sobre o impacto econômico do ransomware sobre empresas brasileiras listadas na bolsa. A falha identificada possibilitaria uma ação dessas? Provavelmente sim.

Ter falhas não é problema. O crime digital é aprimorado todos os dias, descobre brechas que antes eram intransponíveis. Por isso o TSE faz os testes, para verificar vulnerabilidades e corrigir antes das eleições. Não existe sistema 100% perfeito, temos de saber. O que interessa é avaliar se uma eventual vulnerabilidade tem ou não potencial de mudar os resultados de uma eleição. Pena que os maiores debatedores do tema fujam dele quando se discute realidade.

Imagine toda a gritaria em torno das urnas e pense em outra coisa: quantas vezes você viu esses testes em outros órgãos? 
Seus dados na Receita, INSS, SUS, Poder Judiciário, governos estaduais e prefeituras estão seguros? Esse pessoal está preocupado com isso? [só que invasões aos sistemas citados não podem alterar o resultado de uma eleição para Presidente da República, senadores e deputados. Já no sistema do TSE pode. E acoplar uma impressora a cada urna não é barato e é uma garantia a mais.]
Vez ou outra ouvimos falar em concessão de sistemas como o Prodasen para a iniciativa privada e muita gente aplaude. 
 
Pensamos que privatizar é sinônimo de eficiência, certo? Depende.
Este ano, 8 das maiores empresas brasileiras tiveram seus sistemas invadidos por ataques ransomware. Houve quem teve de ficar até sem operar na bolsa e quem pagou mais de US$ 10 milhões pelo resgate dos dados. Dizem que os dados são o petróleo do século XXI, por isso segurança digital é levada muitíssimo a sério no mundo civilizado
Por aqui, só se fala do tema quando tem treta e investir em segurança de dados é algo visto como gasto. Os criminosos digitais já descobriram o valor dos dados. Quando nós iremos acordar?

sábado, 6 de outubro de 2018

Presidente do PSL convoca ‘fiscais do Jair’ para monitorar eleição

Gustavo Bebianno incentivou a 'totalização paralela dos votos' para, se necessário, contestar o resultado das eleições no TSE

O presidente nacional do PSL, Gustavo Bebianno, convocou, em vídeo publicado na página oficial do partido no Twitter, os “fiscais do Jair” para o domingo 7, dia do primeiro turno das eleições. O dirigente pediu que os eleitores do presidenciável Jair Bolsonaro atuem na garantia da “totalização paralela dos votos” para que, se necessário, o partido possa tomar as ações cabíveis no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) “Todos nós sabemos que as urnas eletrônicas, que o nosso sistema eleitoral, não nos confere o nível de segurança e de certeza que nós gostaríamos de ter, o que pode comprometer a democracia brasileira”, disse o presidente nacional da legenda. “Seja um fiscal do Jair”, acrescentou.

Para Bebianno, é “muito importante” que os eventuais fiscais, que podem ser voluntários ou representantes oficiais do PSL, colaborem com a totalização paralela dos votos para que, “no futuro, caso necessário”, o partido tome “as medidas judiciais cabíveis perante o TSE”.
O presidente nacional do partido aproveitou o vídeo para explicar como os “fiscais do Jair” podem colaborar com a força-tarefa. “Para isso, é importante que cada um de vocês, meia hora antes do encerramento do horário de votação, compareça na sua zona eleitoral, na sua seção, e que lá, tenha acesso ao boletim de urna”, explicou.

A recomendação de Bebianno é mais uma das declarações da campanha do PSL que coloca em xeque a lisura do processo eleitoral. Sempre que pode, Bolsonaro – que já chegou a dizer que não reconheceria nenhum resultado eleitoral que não fosse a sua vitória; e depois, recuou – faz questão de criticar o argumento da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que alegou que a impressão do voto, uma das propostas que o capitão reformado do Exército defende de forma ferrenha, compromete o sigilo do voto.

Bolsonaro, que lidera as pesquisas, deu declarações de que só seria derrotado em caso de fraude. Em entrevista ao Jornal da Record, nesta quinta-feira 4, o deputado federal reiterou que respeitará o resultado das eleições. Disse, ainda, que não fugirá do “candidato do PT”, em alusão ao ex-prefeito Fernando Haddad, e que acredita em sua vitória, porque não será um embate do “nós contra eles, mas do Brasil contra o PT”.
Mais cedo, em um vídeo publicado em sua página oficial no Facebook, Bolsonaro pediu “empenho” aos seus eleitores para “liquidar a fatura no 1º turno”. Segundo pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira 4, o capitão reformado do Exército tem 39% das intenções de voto.

Revista Veja