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terça-feira, 2 de agosto de 2022

'Hoje meus filhos estão dormindo na cama, que eles não tinham', diz mãe vítima de cárcere privado por 17 anos

 O Globo

Depois de receber alta do hospital, mulher resgatada em Guaratiba grava vídeo contando que ela e os filhos estão assistidos por familiares e pedindo doações

A mulher que por 17 anos foi vítima de cárcere privado ao lado dos filhos gravou um vídeo falando brevemente sobre o acolhimento que tem recebido de parentes e amigos, do pedido de socorro que fez para a vizinha e também do drama que viveu sendo torturada por Luiz Antônio Santos Silva, de 49 anos, por todo esse tempo. Depois de serem resgatados pela polícia, mãe e filhos foram levados para o Hospital Rocha Faria com sinais de desnutrição. Luiz Antônio foi preso em flagrante, passou por audiência de custódia e a Justiça decretou a prisão preventiva dele, que deve responder por cárcere privado, maus tratos e tortura.

— Ele batia, xingava, deixava a gente sem comer, sem água…Graças a Deus eu consegui pedir ajuda para uma vizinha minha, passei o contato da minha irmã, aí fizeram uma denúncia anônima. Os policiais prenderam ele e me levaram para o hospital. Fui muito bem tratada pelos enfermeiros. Eu e meus filhos — descreveu a vítima que hoje está vivendo temporariamente na casa da irmã.

Após receberem alta do hospital, a mãe e os dois filhos, uma moça de 22 anos e um rapaz de 19 que viviam acorrentados desde crianças, conseguiram enfim sentir de novo a liberdade e a segurança que por tanto tempo foram impedidos de viver.

— Hoje meus filhos estão dormindo na cama, que eles não tinham. Estão conseguindo dormir. Está tudo bem. Graças a Deus. Eles ainda estão um pouco agitados porque para eles é tudo novo, mas se Deus quiser vai dar tudo certo e vai melhorar — contou a vítima no vídeo.

Em depoimento para a polícia, a mãe dos jovens contou que tentou se separar do marido, Luiz Antônio Santos Silva, por "diversas vezes", mas foi ameaçada. Durante o relacionamento que durou 23 anos, ela relatou que sempre foi agredida "fisicamente e psicologicamente" e que Luiz Antônio é "extremamente agressivo e violento". Ainda no depoimento que prestou aos investigadores da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Campo Grande, a vítima relembrou o que o agressor lhe dizia: "Você tem que ficar comigo até o fim. Se você for embora, só sai daqui morta".

Do isolamento ao pedido de socorro
Luiz Antônio Santos Silva e a mulher, que foi mantida por ele em cárcere privado, eram primos de primeiro grau, segundo o que conta a irmã da vítima. Por causa disso, a família delas era contra o relacionamento dos dois. A tia dos jovens disse que, mesmo assim, quando os sobrinhos eram pequenos, toda a família visitava as crianças. Conforme eles foram crescendo, Luiz passou a impedir esse contato. — Quando ele parou de deixar a gente ver as crianças, ameaçamos chamar a polícia, ele ficou apavorado e foi embora com todos eles. Nunca mais a gente viu. Não sabíamos onde eles moravam. Passaram anos e a gente até pensou que minha irmã tinha morrido — relatou a tia dos meninos, que tem 42 anos e trabalha como empregada doméstica.

A irmã da vítima contou ainda que há um ano descobriu um telefone que seria do cunhado. Tentou contato, mas não teve sucesso.— Eu continuei procurando a minha irmã nas redes sociais, nas delegacias para achar ela. Um certo dia, na época do Natal, eu lembrei desse número, olhei e estava com a foto dele. Liguei de novo e dessa vez ele atendeu. Só deixou eu falar com a minha irmã por dois minutos. Depois disso, consegui contato algumas vezes. Ele sempre falava que estava tudo bem e ela também, mas devia estar sendo ameaçada — contou.

A tia dos jovens não sabe dizer como, mas afirmou que em uma dessas ligações, a irmã mesmo presa conseguiu anotar o número do telefone dela. Há pouco mais de 10 dias, uma vizinha da família que estava vivendo em cárcere privado em Guaratiba entrou em contato com a doméstica e fez chegar até ela o pedido de socorro.— A vizinha me ligou e disse que ela estava pedindo socorro, perguntando se eu podia pegar ela, resgatar ela. Sozinha eu não conseguiria fazer isso. Pedi uma amiga para denunciar e aí prenderam ele. Hoje eles estão bem: dormiram profundamente, se alimentaram bem. Minha irmã está tranquila. Mas, estamos contando com a ajuda dos amigos e vizinhos daqui da comunidade — descreveu a irmã da mãe dos meninos.

Por serem de uma família humilde, apesar de estarem acolhidos e em segurança, a família resgatada de cárcere privado está precisando de ajuda com alimentos, mantimentos, roupas, calçados, roupa de cama, produtos de limpeza e itens de higiene.

Sobre as investigações
Policiais da Delegacia da Mulher (Deam) de Campo Grande devem voltar, esta semana, à casa da família em Guaratiba para novas buscas. O objetivo é uma perícia complementar. No último sábado, os investigadores foram ao endereço e recolheram material que será periciado.

 Em O Globo, -  Rio  - saiba mais

 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Com atraso, ajuda chega a sírios que passam fome em Madaya; mas, comida já não basta, alerta Médicos Sem Fronteiras

Comida já não basta para cidades sitiadas na Síria, alerta MSF

Com atraso, ajuda chega a sírios que passam fome em Madaya

Mais de 60 caminhões com alimentos, água e itens de primeira necessidade conseguiram chegar a cidades sírias sitiadas tanto por tropas leais a Damasco quanto por rebeldes da oposição ao ditador Bashar al-Assad. A situação nesses lugares é considerada crítica por organizações humanitárias, com pessoas morrendo de fome, desnutridas.Mais de 400 mil vivem nessas zonas cercadas, e a situação delas é desesperadora — afirmou Marianne Gasser, dirigente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na Síria. — A operação vai durar alguns dias. É positivo, mas pode ficar limitado a uma única distribuição. É preciso ter acesso constante a essas cidades.
  Ao todo, 44 caminhões chegaram ontem a Madaya, no Sudoeste sírio, próximo à fronteira com o Líbano o cerco das forças do regime deixa isolados os 42 mil habitantes da cidade já há seis meses. Ao mesmo tempo, outros 21 caminhões se dirigiram a Foua e Kefraya, no Noroeste do país. Os veículos levaram ajuda fornecida pelo Programa Mundial de Alimentos, pelo CICV e pelo Crescente Vermelho.

De acordo com a última atualização da Médicos Sem Fronteiras (MSF), somente no domingo houve cinco óbitos por desnutrição, entre eles uma criança de 9 anos — pelo menos 25 pessoas morreram de fome desde 1º de dezembro. Cerca de 200 moradores são considerados em situação crítica. — Somente entregar comida neste momento já não é mais suficiente. É necessário cuidados médicos especializados afirmou ao GLOBO o especialista em assuntos humanitários da MSF, Michiel Hofman. — Há cerca de dez pessoas em condições extremamente graves que necessitam ter retirada médica para fora de Madaya, porque o hospital local não está em condições de atender estes casos. É preciso retirar de lá principalmente bebês, crianças e idosos.

Segundo a MSF, até mesmo os médicos que trabalham em Madaya são atingidos pelo cerco: há relatos de equipes que já não comem há uma semana. De acordo com a Cruz Vermelha, os caminhões levaram a cidade comida e água suficientes para suprir 40 mil pessoas por um mês, além de medicamentos, cobertores e kits de higiene.  Olhem para a tática de matar pela fome grotesca que o regime sírio está usando agora contra seu próprio povo. Olhem para as imagens assombrosas de civis, incluindo crianças, e até bebês, em Madaya. Estas imagens nos lembram a Segunda Guerra Mundial — criticou enfaticamente a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Samantha Power.

Fonte: O Globo