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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

“Eu ganho, você perde”: a matemática moral de Luís Roberto Barroso - Flávio Gordon

Gazeta do Povo - VOZES
 

 Aborto

A despeito das proporções que esses crimes finalmente atingiram, ficou evidente que eles partiram de pequenos começos. 
De início, esses começos consistiram numa mera mudança de ênfase nas atitudes básicas dos médicos. Começou com a aceitação da premissa, fundamental ao movimento pró-eutanásia, de que há vidas indignas de serem vividas. 
Em seus estágios iniciais, essa atitude dizia respeito apenas aos doentes graves e crônicos. 
Gradativamente, ampliou-se a esfera dos que deveriam ser incluídos nessa categoria, passando a abarcar os socialmente improdutivos, os ideologicamente indesejáveis, os racialmente desprezíveis e, por fim, todos os não alemães.” (Dr. Leo Alexander, investigador nos Julgamentos de Nuremberg e um dos maiores especialistas nos aspectos médicos do Holocausto, The New England Journal of Medicine, 1949)

Depois que Rosa Weber proferiu o seu voto favorável à legalização do aborto, no contexto do julgamento da ADPF 442 no STF, o agora presidente da casa, Luís Roberto Barroso, suspendeu a votação com o argumento de que o tema “ainda não está maduro” para ser debatido. Demonstrando toda a sua condescendência, qualificou o aborto como uma questão delicada, “porque envolve sentimentos religiosos respeitáveis”. Mas, levando-se em conta o fato de que Barroso já se declarou várias vezes favorável à legalização do aborto, e de que, dentre todos os ministros da corte, ele é quem menos esconde o seu ativismo judicial, podemos supor tratar-se aí de um recuo estratégico.

Alheio ao aspecto cômico e quase quixotesco dessa extemporânea autoidentificação, Barroso costuma apresentar-se como um iluminista orgulhoso, como alguém que, por haver cruzado em primeiro a linha de chegada na maratona humana rumo ao progresso, é capaz de estender um olhar de enternecida compaixão aos retardatários. E nesse sentido, de fato, parece que sua concepção de sociedade é similar às de Diderot – para quem “a massa genérica de homens não foi feita para promover, e sequer compreender, essa marcha progressiva do espírito humano” – e Voltaire, segundo quem os sábios iluministas jamais tiveram “a pretensão de levar as luzes a sapateiros e serviçais”, sendo esse “um trabalho para os apóstolos”.

Sua prática, por outro lado, lembra a dos burocratas internacionais herdeiros do elitismo iluminista, conforme admitida certa vez por Jean-Claude Juncker, ex-presidente da Comissão Europeia: “Nós primeiro decidimos algo, e então lançamos a ideia, aguardando um pouco para ver o que acontece. Se não houver grandes rebeliões e gritos de protesto, porque a maioria das pessoas sequer entendeu o que foi decidido, nós vamos em frente – passo a passo, até não haver mais volta”. 
Como a legalização do aborto no Brasil é rejeitada por 70% da população, e uma vez que, tendo entendido perfeitamente o que estava sendo decidido, uma parcela dessa população organizou protestos contra o encaminhamento iniciado por Rosa Weber no caso da ADPF 442, Barroso julgou conveniente aguardar até que a sociedade fique mais “madura”. Leia-se: até que os estrategistas pró-aborto criem artimanhas mais eficazes ou que, alternativamente, a sociedade esteja menos capacitada a reagir.

Barroso costuma apresentar-se como um iluminista orgulhoso, como alguém que, por haver cruzado em primeiro a linha de chegada na maratona humana rumo ao progresso, é capaz de estender um olhar de enternecida compaixão aos retardatários

Como sei que Barroso vai tentar novamente? Porque o aborto é um dos itens fundamentais em seu projeto de “empurrar a história”, e a fundamentação teórica para o caso da ADPF 442 é essencialmente obra sua. 
Descobri-o há algumas semanas, lendo uma excelente análise da juíza dissidente Ludmila Lins Grilo.  
Postado em seu perfil no Locals, o comentário consiste numa especulação sobre os eventuais precedentes abertos pela referida ADPF, uma verdadeira Caixa de Pandora que, partindo da questão do aborto até a 12.ª semana, pode subsidiar toda sorte de aberração moral, incluindo o aborto até o nono mês, o infanticídio, a eutanásia e, eventualmente, até mesmo a eliminação física dos inválidos e dos inimigos do regime.  
Tudo isso com base numa relativização da ideia de dignidade da pessoa humana, e numa mal dissimulada recusa do princípio cristão da sacralidade da vida (sobre a qual já escrevi nesta coluna).
 
No texto, a juíza faz referência a um artigo de Luís Roberto Barroso intitulado “Aqui, lá, e todo lugar: a dignidade humana no direito contemporâneo e no discurso transnacional”, cujo objetivo prático declarado é “contribuir para a estruturação do raciocínio jurídico e para a fundamentação das escolhas judiciais nos casos difíceis, tais como aborto, união homoafetiva e suicídio assistido”. 
No que diz respeito ao aborto, o argumento central de Barroso é estabelecer o que chama de “conteúdo mínimo da ideia de dignidade humana”, que seria composto por três elementos: 
1. valor intrínseco; 
2. autonomia;  
3. valor comunitário
Pelo fato de que a dignidade humana da mulher abortista contém os três elementos, ao passo que a do feto contém apenas um deles – o “valor intrínseco” –, os interesses da mulher devem prevalecer sobre os do feto, que obviamente não possui autonomia, e cujo “valor comunitário” é menor que o da mãe. Como resume Grilo: “Barroso reconhece que ambos, mãe e feto, são humanos (ufa!), mas apresenta um argumento numérico para privilegiar a mãe em detrimento do feto. Ele diz que há apenas um argumento pró-vida e dois argumentos pró-mãe abortista, e, por isso, a mãe ganha! Não é um raciocínio magnífico?”  
E a juíza conclui sobre a ADPF:
 
“A ADPF 442 é o movimento da Janela de Overton para a esquerda, que não parará de se movimentar até atingir os fins não confessados. Perceba que a tese fala que, para haver dignidade constitucional, o humano nascido deve ter autonomia (autodeterminação). 
Assim, por essa tese, um inválido, entrevado em uma cama em estado vegetativo, não consegue se autodeterminar. 
Ao contrário: ele dá trabalho aos outros, não produz nada, precisa de alguém que lhe coloque comida na boca, dê-lhe banho e lhe limpe as partes. 
Por essa teoria sinistra, esse inválido perdeu o status de pessoa constitucional e a dignidade para existir. Consequentemente, perdeu o direito à vida.”
 
Tomando conhecimento dessa excêntrica matemática utilitarista, lembrei-me de que Barroso já abordara o assunto de maneira similar, de modo que a imagem de uma disputa entre a mãe e o seu filho em vias de ser abortado parece ser contumaz, talvez de forma subconsciente, na sua argumentação. 
 Em palestra proferida no Rio de Janeiro em 3 de agosto de 2018, na qual defendia justamente a proposta de legalização do aborto até a 12.ª semana de gestação, Barroso apresentou uma justificativa alarmante. Respondendo a uma pergunta da então ativista pró-vida (e hoje deputada federal) Chris Tonietto, disse o magistrado: “Admitindo que haja vida – e, portanto, trabalhando sobre a sua premissa –, se você se mover, como eu me movo, por uma ética kantiana, e se a sua vida depende do sacrifício da minha liberdade individual, e eu não quero sacrificar minha liberdade individual, você perde”.

Comentando sobre a declaração, escrevi aqui na Gazeta:

“O mais perturbador da cena é a estranha sensação de que, embora num primeiro plano esteja se dirigindo à interlocutora da plateia, Barroso pareça mirar através desta, falando diretamente ao feto, receptor elíptico e silencioso da declaração: ‘Se a sua vida depende do sacrifício da minha liberdade individual’ – afirma desavergonhadamente o civilizadíssimo jurisconsulto, como que olhando diretamente nos olhos da futura vítima –, você perde’. Perde o quê? A vida, bem entendido.”

Com efeito, essa mania de confrontar o feto com a matemática macabra de sua iminente derrota – que, no caso, significa a sua eliminação – parece-me bastante perturbadora. Mas é uma decorrência natural da visão utilitarista de Barroso (que, apesar de seu autodeclarado kantismo ético, deriva muito mais de Bentham que de Kant). 
O pulo do gato de sua ética está na ideia de hierarquização entre a dignidade pessoal da mãe e a do feto, com base na noção de “valor comunitário” da vida humana. 
Assim que topei com o argumento, fiquei com a sensação de já tê-lo visto antes. 
Com algum esforço de memória e consultas à minha biblioteca pessoal, encontrei a mesma ideia num contexto que, conquanto distinto, guarda incômodas similaridades com as racionalizações contemporâneas da bioética, usadas frequentemente (inclusive por Barroso) para relativizar a sacralidade da vida humana e, gradativamente, criar o clima de opinião favorável à aceitação do aborto, da eutanásia e até mesmo do infanticídio, práticas que implicam na eliminação de vidas consideradas de menor valor, ou – na clássica formulação de Binding e Hoche por mim discutida anteriormente – “indignas de serem vividas”.

Sim, eu já vira muitas vezes o argumento do “valor comunitário” em minhas pesquisas sobre a história do movimento eugenista. Encontrara-o, por exemplo, no livro The passing of the Great Race (“A passagem da Raça Superior”), escrito em 1916 pelo então presidente da Sociedade Zoológica de Nova York, o eugenista e darwinista Madison Grant. Na obra – cuja tradução para o alemão, aliás, constava na biblioteca de Hitler –, lê-se que:

“O respeito equivocado pelo que se acredita serem leis divinas e a crença sentimental na santidade da vida humana tendem a impedir tanto a eliminação de bebês defeituosos quanto a esterilização de adultos sem valor comunitário. As leis da natureza exigem a obliteração dos mal-adaptados, e a vida humana só tem valor quando é útil para a comunidade ou a raça”.

A imagem de uma disputa entre a mãe e o seu filho em vias de ser abortado parece ser contumaz, talvez de forma subconsciente, na argumentação de Barroso

Quando Grant escreveu The passing of the Great Race, a eugenia era provavelmente a ideia mais influente entre as elites intelectuais e científicas euroamericanas. E, embora nem todo eugenista fosse também abertamente racista como ele, todos partilhavam da mesma premissa: a ciência darwinista provocara uma verdadeira revolução nos campos da ética e da política, fornecendo uma nova perspectiva de reforma social que, até então, havia sido interditada pela moralidade tradicional (judaico-cristã), com sua valoração absoluta e igualitária da vida humana. Dos marxistas aos nazistas, passando pelos socialistas fabianos, todos queriam aplicar o darwinismo para o aprimoramento da espécie e o progresso da sociedade.

Sem compartilhar do entusiasmo dos da geração intelectual subsequente à sua, e antes pelo contrário, foi ninguém menos que Adam Sedgwick, mentor de Darwin em Cambridge, que anteviu as implicações filosóficas do darwinismo. Em carta enderaçada ao pupilo, escrevera ele em 24 de novembro de 1859, ano da publicação de A Origem das Espécies:

“Na natureza, há uma parte moral e metafísica, tanto quanto uma parte física. Um homem que nega isso chafurda no lamaçal da loucura. É a coroa e a glória da ciência orgânica o fato de ela, por meio da causa final, vincular o material à moral. Você ignorou essa ligação. E, se compreendi bem o seu sentido, esforçou-se para rompê-lo em um ou dois casos significativos. Mas, fosse possível rompê-lo (o que, graças a Deus, não é), creio que a humanidade sofreria um dano capaz de brutalizá-la, afundando a espécie humana num grau de degradação ao qual, em toda a sua história registrada, ela ainda não baixou.”

Sedgwick não teve de esperar muito para ver confirmados os seus temores. Na virada do século 19 para o 20, muitos darwinistas aplicaram o princípio da seleção natural às questões éticas, inclusive as relativas ao valor da vida humana. Robby Kossmann, por exemplo, um zoólogo alemão que se tornaria professor de Medicina, foi bastante sincero e representativo ao escrever num ensaio de 1880, intitulado A importância da vida de um indivíduo segundo a visão de mundo darwinista:

“A visão de mundo darwinista considera superestimada a presente concepção sentimental sobre o valor da vida de um indivíduo humano, que impede o progresso da humanidade. Assim como qualquer comunidade animal de indivíduos, também o Estado humano deve alcançar um grau cada vez maior de perfeição, se assim for possível, mediante a destruição dos indivíduos menos aptos, de modo a abrir espaço para que os mais aptos possam expandir a sua prole... O Estado deve ter como único interesse a preservação da vida mais excelente em detrimento da menos excelente.”

Repete-se, mais uma vez, o tema do maior ou menor valor comunitário de determinadas vidas humanas. Muito embora a linguagem tenha mudado, e as categorias de pessoas incluídas no grupo de “vidas indignas de serem vividas” já não sejam as mesmas (a princípio, pelo menos, o critério “racial” já não faz mais parte dessa discussão), a bioética contemporânea mantém a premissa fundamental segundo a qual a sacralidade da vida humana é um princípio ético ultrapassado, sendo válida – tanto do ponto de vista dos direitos individuais quanto da perspectiva do bem comum – a hierarquização entre as vidas humanas, sobretudo no campo da saúde pública. A ética absoluta da sacralidade da vida é substituída pela ética relativista da qualidade de vida. O agradável e o conveniente passam a ser confundidos com o certo.

Em 2014, por exemplo, o proeminente bioeticista canadense Udo Schuklenk – adepto da ética da qualidade de vida – defendeu que crianças doentes, cujas vidas fossem consideradas indignas de serem vividas, deveriam sofrer eutanásia: “Uma ética da qualidade de vida requer que nosso foco recaia sobre a presente e a futura qualidade de vida do recém-nascido como critério relevante para a tomada de decisões. Devemos fazer perguntas como: o bebê tem capacidade de desenvolvimento que lhe permitirá ter uma vida, antes que apenas sobreviver? Se a resposta for negativa, teremos razão em concluir que a sua vida não é digna de ser vivida”.

Assim como, um século antes, fizeram Binding e Hoche em Permissão para destruir a vida indigna de ser vivida, Schuklenk apela ao custo socioeconômico como justificativa para o infanticídio médico:

“Em circunstâncias como essas, emerge sempre a questão sobre se seria uma decisão sábia alocar recursos escassos de saúde necessários ao tratamento. Prolongar a atenção médica para a crianças seria fútil, consistindo num desperdício de recursos escassos. Os recursos de saúde devem ser alocados onde possam efetivamente beneficiar os pacientes e melhorar sua qualidade de vida.”

É à ideologia bioeticista que Barroso e outros magistrados de palanque têm recorrido para justificar as suas decisões em favor do aborto, da eutanásia, do suicídio assistido e demais itens da agenda desse macabro humanismo

Mas a coisa vem de longa data. Já em 1971, o editorial de um jornal californiano de medicina antecipava o que viria, ao afirmar, a exemplo dos darwinistas sociais de um século antes, que “a ética ocidental tradicional sempre pôs grande ênfase no valor intrínseco e igualitário de cada vida humana”. Essa “ética da sacralidade da vida”, continuava o editorial, tem sido “a base da maioria das nossas leis e das nossas políticas públicas, bem como a pedra angular da nossa medicina”. Resta que “essa tradução ética tem sido erodida em seu cerne, e pode eventualmente ser abandonada… Escolhas difíceis terão de ser feitas, escolhas que fatalmente violarão e destruirão a ética ocidental tradicional. Será necessário e aceitável atribuir um valor relativo antes que absoluto a coisas como a vida humana”.

Nota-se que, tanto quanto para os eugenistas e os darwinistas sociais, a ética dos bioeticistas contemporâneos também é utilitarista. Como escreve Anne Maclean em The Elimination of Morality: Reflections on utilitarianism and bioethics, “todos os principais bioeticistas esposam alguma versão de utilitarismo”. E tanto quanto os eugenistas, os bioeticistas contemporâneos também têm contribuído para a formação de um sistema de valores que pretere os doentes mais graves e os incapacitados, cujas vidas são tidas por “indignas”; que enxerga como um desperdício de dinheiro a manutenção de tratamento médico para essas pessoas; que, em última instância, aceita a sua morte – e, cada vez mais, até mesmo o seu assassinato – como resposta legítima às dificuldades causadas por sua doença ou deficiência.

A bioética segue hoje o mesmo caminho trilhado pela eugenia há mais de um século. Partindo de um secto acadêmico, espalha-se rapidamente pela intelligentsia de todo o mundo, desembocando num tipo de sociedade na qual o ato de matar se confunde com beneficência; o suicídio torna-se “racional”; a morte natural, quase uma imoralidade; e cuidar compassiva e adequadamente de idosos, prematuros, deficientes e doentes terminais é considerado um “fardo” calculado em custo financeiro e emocional. Tendo abandonado a ética da sacralidade da vida humana, que proclama o valor moral intrínseco de cada indivíduo, os bioeticistas estão construindo um ambiente no qual os direitos das pessoas serão baseados numa explícita hierarquização da vida humana.

De fato, ao rejeitarem a excepcionalidade da espécie humana na ordem das coisas, esses ideólogos afirmam que a qualidade de ser humano é algo relativo, e que, em termos morais, o que importa é o pertencimento a uma “comunidade moral”, um título conquistado mediante o cumprimento de certos requisitos – usualmente ligados a “um conteúdo mínimo” que inclui, prioritariamente, a autonomia e a autoconsciência –, os quais os bioeticistas consideram necessários para a aquisição das prerrogativas atribuídas à pessoa, incluindo aí o direito à vida. Como veremos com mais detalhes na semana que vem, é à ideologia bioeticista que Barroso e outros magistrados de palanque têm recorrido para justificar as suas decisões em favor do aborto, da eutanásia, do suicídio assistido e demais itens da agenda desse macabro humanismo.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

segunda-feira, 17 de abril de 2023

A cama, o sofá e a classe média - Percival Puggina

         Para usufruto da dupla Lula e Janja, o governo da União adquiriu um sofá ao preço módico de R$ 65 mil e uma caminha de R$ 42 mil para acalentar os sonhos do casal que tanto anseia por uma nação mais próspera. Faz sentido. Se o presidente quer que todos vivam bem, o exemplo tem que vir de cima. Ele está fazendo a parte dele. 
 
 A oposição reclama. Desenterra discursos antigos, de outros tempos – falas, imaginem só! – de maio do ano passado em que o candidato criticava, com caprichada oratória lulista, o padrão de consumo da classe média brasileira:

“Aqui na América Latina a chamada classe média ostenta muito um padrão de vida acima do necessário. É uma pena que a gente não nasce e a gente não tem uma aula: o que é necessário para sobreviver. Tem um elemento, tem um limite que pode me contentar como ser humano. Eu quero uma casa, eu quero casar, eu quero ter um carro, eu quero ter uma televisão, não precisa ter uma em cada sala. Uma televisão já está boa (...)".

Como se vê, naquele longínquo ano de 2022, falando na primeira pessoa do singular, Lula afirmou, imbuído de estrito ânimo franciscano, “haver um limite” quanto aos bens que o podiam satisfazer.  
Pois é nesse pequeno combo de utilidades essenciais que se incluem a tal caminha e o sofazinho confortável. 
E – por que não? – até mesmo um modesto sitiozinho em Atibaia.

No mês de janeiro, enquanto não davam jeito mais digno naquela choupana do Alvorada que iria ocupar, o casal ficou hospedado num hotelzinho de Brasília, o Meliá Brasil, cujas diárias beiram os R$ 7 mil, com café da manhã incluído, claro.

Em outras palavras, algo já está bem comprovado sobre o presidente: ele pode trabalhar mal, mas descansa muito bem.

 
 [Comentando, por partes: 
A - se o governo Lula sobreviver mais alguns meses a CLASSE MÉDIA - que ele abomina - seria extinta. No COMUNISMO, dos planos do apedeuta a CLASSE MÉDIA SERIA EXTINTA e haveria os miseráveis - formado pelos já existentes e pelos derrubados da extinta classe média e a NOMENKLATURA formada pelo apedeuta e a corja que rasteja aos seus pés. 
Tenham presente que nos governos de esquerda a regra é DISTRIBUIR A MISÉRIA.
B - grande sonho do apedeuta, ainda presidente do Brasil = pedidos de impeachment começam a formar fila = é continuar mentindo para os brasileiros - objetivo que se torna a cada dia mais dificil, visto que muitos do que fizeram o L, estão pulando fora - criando fake news (o ministério da verdade, só funciona contra fatos apresentados por bolsonaristas) e agora apresenta como 'novidade' o PIX pré datado e o PIX financiado.
Ambos os serviços estão disponibilizados pelos bancos para os clientes com crédito disponível. Se o cliente quer agendar um PIX para o mês que vem é só escolher a data e cuidar para que no dia aprazado tenha saldo na conta - mesmo esquema de agendar pagamento de boletos;
O PIX financiado também é simples: o cliente quer parcelar um PIX em três meses, escolhe a opção e o PIX é enviado  e as parcelas cobradas no vencimento - SÓ PRECISA DE UM  DETALHE = o cliente tem que ter crédito. 
O desgoverno a falta do que apresentar, tenta mostrar como criação dele o que já existe. CONCLUINDO: o pessoal da picanha, doravante  além de esperar a picanha - que não vai chegar - vai esperar uma forma de arranjar crédito.]

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Como um presidente da República pode ajudar os pobres comprando um sofá de 65 mil reais? - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo - Vozes

O presidente Lula diz, pelo menos uma vez a cada três dias, que não pensa em outra coisa nesta vida que não seja ajudar os pobres do Brasil. Já disse, com cara de indignação, que “este país” precisa de um “orçamento para os pobres”; os cardumes de puxa-sacos que ficam o tempo em todo à sua volta bateram palmas, comovidos. Também afirmou, aparentemente falando a sério, que o seu governo poderia eliminar a pobreza e criar uma “classe média” doando às pessoas dinheiro do Erário bastaria, para isso, aumentar a dívida pública.

O Brasil já não deve um caminhão de dinheiro por gastar mais do que arrecada? Então: é só ficar devendo mais e a miséria some, não é mesmo? 
Já falou, ainda, que as reservas internacionais do Brasil em dólares, que servem para o país pagar até o último centavo de tudo o que tem de comprar no exterior, poderiam ser distribuídas para “o povo” – como se fossem um dinheiro que sobrou e está parado numa gaveta. 
E no mundo das realidades práticas o que Lula está fazendo?

    Se não há verba para cuidar da “fome”, como ele diz, por que há verba para a decoração da sua casa? Um político que age assim, em português claro, é um farsante.

A última notícia é que comprou, para uso pessoal em sua residência no Palácio da Alvorada e com dinheiro arrancado do pagador de impostos, um sofá 65 mil reais.  
Sua mulher, ao que parece, não estava gostando da decoração da sala; foi por isso, aliás, que o casal teve de morar numa suíte de luxo num hotel de Brasília durante as primeiras semanas do governo Lula-3. 
Há também uma cama nova, essa de 42 mil reais. 
Os preços dizem tudo. Trata-se de uma cena de deslumbramento cafajeste, brega e explícito diante da chance de gastar dinheiro público em benefício das próprias fantasias.  
Tudo bem: digamos que a vida de um pai do povo tenha de passar por estas durezas. 
Mas sinceramente: como é possível, por qualquer raciocínio que a mente humana seja capaz de produzir, um presidente da República ajudar os pobres comprando um sofá de 65 mil reais?
 
Os devotos de Lula, diante da impotência para resolver uma charada sem solução como essa história do novo sofá e da nova cama, vão dizer, automaticamente: “Essa pergunta é bolsonarista”
Com isso ficam menos agitados, talvez, mas não se esclarece absolutamente nada sobre a única questão concreta que tem de ser respondida por Lula: num país de miseráveis (são “120 milhões de pessoas passando fome”, segundo a ministra do Ambiente), e no qual o governo garante que não tem dinheiro para as “políticas sociais”, não faz nenhum nexo o presidente gastar 65 mil reais num sofá e 42 mil numa cama para o seu desfrute pessoal.  
Lula exige, o tempo todo, que o teto legal nas despesas públicas seja desrespeitado, para que ele possa gastar com “os pobres”. E o sofá? Aí o dinheiro aparece? Se não há verba para cuidar da “fome”, como ele diz, por que há verba para a decoração da sua casa? Um político que age assim, em português claro, é um farsante.
 
Quantos brasileiros têm em suas residências duas peças de mobília que valem mais de 100 mil reais? Uns 0000000000,1% da população, talvez? É esse o mundo onde vive o pai do povo. Qual o ponto de contato que os brasileiros de carne e osso têm hoje com o Lula que existe na vida real? A resposta é: “Nenhum”. 
Desde que foi tirado da prisão por decreto imperial do STF, safando-se da pena que cumpria por ter sido condenado na Justiça pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula convenceu a si mesmo que era Deus. 
Hoje, transformado em presidente do Brasil, acha que é Deus elevado ao cubo.
 
Quando se fica desse jeito, a arrogância, a mania de grandeza e o desprezo pela opinião alheia vão se tornando cada vez mais inconscientes – Lula, dia após dia, dá sinais de que deixou de perceber a existência de qualquer relação entre o que faz e o que seria a sua obrigação mínima de fazer como homem público. 
A respeito disso, a conclusão mais sensata a que um observador neutro poderia chegar é a seguinte: “Pirou geral”.

J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 10 de abril de 2023

A ofelização do Brasil - Marcelo Rates Quaranta

        Em 1968 o grande ator Lucio Mauro criou dois personagens para o programa "Balança Mas Não Cai" que ficaram famosos no Brasil inteiro: Fernandinho e Ofélia.  
Fernandinho era um homem rico e sofisticado que vivia constrangido pela extrema burrice da esposa "Ofélia", que era interpretada inicialmente pela atriz Sônia Mamede. 

Nesse quadro o "Fernandinho" sempre defendia a esposa diante dos seus visitantes cada vez que ela falava uma asneira imensurável, porém todas as vezes assumia que apesar de burra ela servia para satisfazer seus desejos sexuais, quando dizia que ela podia ser "atrapalhada" ou ter "um jeito burrinho", mas debaixo dos lençóis... Bom, de verdade ele dizia que naquele reino, fora da cama ela era uma jumenta e na cama uma rainha, daí as coisas se compensarem.

O quadro era muito engraçado e quem era inteligente sabia que não se tratava de ofender pessoas simples ou com pouco conhecimento, e sim caricaturar as burras e fúteis. As pessoas simples guardam um tesouro muito grande que é a sabedoria. A ofélia não caricaturava a mulher e sim as pessoas burras de uma forma geral, pois há por aí inúmeros "ofélios" também.

Tempos depois o programa "Sai de Baixo" copiou o formato da Ofélia e criou a Magda (interpretada pela Marisa Orth), cujo jargão que a marcava era"Cala a boca Magda!". Magda era tão burra e tão fútil quanto a ofélia e ainda só servia para os mesmos propósitos.

Até aí tudo bem, porque era um humor focado nas tais caricaturas e não faziam alusão a nada conhecido no mundo real. O grande problema veio com a chamada "pátria educadora" e com a internet, que passou a criar Ofélias e Magdas às toneladas e a dar visibilidade a essas aberrações. 

A política não passou incólume. Tivemos uma Ofélia encarnada numa presidente da república que nos fazia rir a cada declaração. 
Dilma era a própria Ofélia, e o brasileiro, sempre com vergonha, se limitava a rir das suas declarações que eram capazes de fazer os escritores do quadro da Ofélia uns meros estagiários de redação
Outro exemplo: Quem ouve parlamentares como a Talíria Petrone, Sâmia Bonfim. Janone ou Erika Kokay  sente um ímpeto de gritar "CALA A BOCA MAGDA!" - Mas foram eleitos e tristemente transformam o plenário num "citycom" que empalidece seus pares mais cultos.

As redes sociais espalharam pelo Brasil as inúmeras Magdas e Magdos, dando visibilidade a Felipe Neto e outros seres ignóbeis que se projetaram falando as piores asneiras, e com declarações tão profundamente estúpidas, que são capazes de corar qualquer criança do Jardim I.

No meio musical projetaram funkeiros analfabetos que além de não cantarem nada, cantam com um português sofrível e denotam apenas que o brasileiro medíocre - identificado com essa falta de cultura emanada pelos seres mais estúpidos da periferia - idolatra esse tipo de gente em vez de valorizar a verdadeira cultura. Cada um deita na cama em que cabe... Para muitos só o chiqueiro.

Recentemente vi que uma "influenciadora digital", num total desconhecimento sobre genética, fez plástica para que os filhos nascessem bonitos. 
Não riam. Isso é muito triste, pois o fato de essa mula ter milhares de seguidores nos sinaliza o péssimo futuro que espera o Brasil. Olhem a quem nossos jovens seguem!

Então, a burrice e a ignorância que antes não passavam de humor, passaram a ser glamourizadas como uma espécie de padrão no país dos filósofos do vazio (Karnal e cia) e da "pátria educadora freireana", aquele que foi o precursor de um método que converte potenciais mentes pensantes em ofélias e magdas reais, e isso ainda ajudado por professores formados pelo mesmo método e pelo bombardeio constante da cultura do ignóbil pelas redes sociais.

Hoje o Brasil aplaude de pé a ignorância. Amanhã não precisará mais de soja, milho e etc. Bastará plantar capim e as novas gerações estarão alimentadas.  Bom, pelo menos haverá segurança alimentar, já que cultura...


Marcelo Rates Quaranta - Conservadoras & Liberais


quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Imbrocháveis são os piores na cama - O Globo

Ruth de Aquino

Só não sinto pena de Michelle porque ela é cúmplice de um marido e um presidente vulgar e grosseiro Cadu Gomes / Agência o Globo

Ter a consciência de que pode brochar na hora H torna o homem mais atento às infinitas possibilidades de prazer na cama. Delegar superpoderes a seu órgão entre as pernas torna o homem limitado, pouco criativo e inapto para uma relação amorosa a longo prazo. Todo homem real e sensível brocha algumas vezes na vida – e isso não afasta mulheres. Pode aproximar. 

                                          @wagner8483

 

Nada é mais brochante para uma mulher do que machos que restringem o ato sexual a uma penetração forte e incessante, às vezes dolorosa. Muitos desses homens que superestimam o próprio pau acabam sofrendo de ejaculação precoce, e isso sim é um problema. Moles prematuramente, sem respeitar o tempo da companheira, eles não sabem mais o que fazer, a não ser virar para o lado e dormir. Satisfeitos consigo mesmos, brochas na cabeça e na emoção. Nunca ouviram uma frase atribuída ao poeta Vinicius de Moraes: “Enquanto eu tiver língua e dedo, mulher nenhuma me mete medo”.

“Só não brocha nunca quem não transa nunca”, diz o psicanalista Luiz Alberto Py. “Time que não joga não perde. Brochar é parte do jogo, da brincadeira sexual. Vangloriar-se do que nunca aconteceu é patético. Resumir o sexo a uma demonstração de desempenho e virilidade não é se relacionar. Na verdade, revela o medo da tarefa. Homens que transformam o sexo em relação de domínio e superioridade têm medo da mulher”.

Machos que se divulgam infalíveis na ereção não são apenas tolos e mentirosos. São injustos com eles mesmos. Primeiro porque a infalibilidade, em qualquer aspecto da vida, na cama ou fora, não é humana. E segundo, porque a pressão de não falhar funciona ao contrário. Aumenta a ansiedade, a insegurança, o estresse. Destinado a relaxar, o sexo se torna desafio nada saudável. A cobrança leva a brochar. E impede o homem de enxergar a mulher e seus desejos.

Fala-se muito sobre o orgasmo da mulher, que tem nuances, exigências, pode ser múltiplo mas também pode ser fingido. Mulheres têm mais facilidade de conversar sobre suas relações. Os homens, quando garotos disputam quem faz pipi mais longe e quem é mais bem dotado, quando jovens disputam quem transa mais em número e qualidade, quando homens silenciam entre si. Ou mentem, como o atual presidente. Em público. Só não sinto pena de Michelle porque ela é cúmplice.

A ‘disfunção erétil recorrente’ pode ser tratada, psicologicamente ou com medicamentos. Esse nome pomposo é diagnóstico médico para homens que não ficam nunca de pau duro. Um dos remédios é o Viagra, que Jair Bolsonaro mandou comprar para as Forças Armadas com dinheiro público: foram mais de 35 mil comprimidos.

Mas existe algo pior e muito mais difícil de tratar: a disfunção emocional do atual presidente, que beira a psicopatia, como já abordei no texto “Bolsonaro não é louco”. Reproduzo aspas do psicanalista Joel Birman: “A psicopatia não é uma loucura no sentido clássico, mas uma insanidade moral, um desvio de caráter de quem não tem como se retificar porque não sente culpa ou remorso”. Os psicopatas são autocentrados. A palavra psicopatia vem do grego psyché, alma, e pathos, enfermidade. 

[a ilustre jornalista demonstra conhecer profundamente o tema e em várias áreas.]

Falta amor, não ereção.

Ruth de Aquino, colunista - O Globo 

 
 

 

terça-feira, 2 de agosto de 2022

'Hoje meus filhos estão dormindo na cama, que eles não tinham', diz mãe vítima de cárcere privado por 17 anos

 O Globo

Depois de receber alta do hospital, mulher resgatada em Guaratiba grava vídeo contando que ela e os filhos estão assistidos por familiares e pedindo doações

A mulher que por 17 anos foi vítima de cárcere privado ao lado dos filhos gravou um vídeo falando brevemente sobre o acolhimento que tem recebido de parentes e amigos, do pedido de socorro que fez para a vizinha e também do drama que viveu sendo torturada por Luiz Antônio Santos Silva, de 49 anos, por todo esse tempo. Depois de serem resgatados pela polícia, mãe e filhos foram levados para o Hospital Rocha Faria com sinais de desnutrição. Luiz Antônio foi preso em flagrante, passou por audiência de custódia e a Justiça decretou a prisão preventiva dele, que deve responder por cárcere privado, maus tratos e tortura.

— Ele batia, xingava, deixava a gente sem comer, sem água…Graças a Deus eu consegui pedir ajuda para uma vizinha minha, passei o contato da minha irmã, aí fizeram uma denúncia anônima. Os policiais prenderam ele e me levaram para o hospital. Fui muito bem tratada pelos enfermeiros. Eu e meus filhos — descreveu a vítima que hoje está vivendo temporariamente na casa da irmã.

Após receberem alta do hospital, a mãe e os dois filhos, uma moça de 22 anos e um rapaz de 19 que viviam acorrentados desde crianças, conseguiram enfim sentir de novo a liberdade e a segurança que por tanto tempo foram impedidos de viver.

— Hoje meus filhos estão dormindo na cama, que eles não tinham. Estão conseguindo dormir. Está tudo bem. Graças a Deus. Eles ainda estão um pouco agitados porque para eles é tudo novo, mas se Deus quiser vai dar tudo certo e vai melhorar — contou a vítima no vídeo.

Em depoimento para a polícia, a mãe dos jovens contou que tentou se separar do marido, Luiz Antônio Santos Silva, por "diversas vezes", mas foi ameaçada. Durante o relacionamento que durou 23 anos, ela relatou que sempre foi agredida "fisicamente e psicologicamente" e que Luiz Antônio é "extremamente agressivo e violento". Ainda no depoimento que prestou aos investigadores da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Campo Grande, a vítima relembrou o que o agressor lhe dizia: "Você tem que ficar comigo até o fim. Se você for embora, só sai daqui morta".

Do isolamento ao pedido de socorro
Luiz Antônio Santos Silva e a mulher, que foi mantida por ele em cárcere privado, eram primos de primeiro grau, segundo o que conta a irmã da vítima. Por causa disso, a família delas era contra o relacionamento dos dois. A tia dos jovens disse que, mesmo assim, quando os sobrinhos eram pequenos, toda a família visitava as crianças. Conforme eles foram crescendo, Luiz passou a impedir esse contato. — Quando ele parou de deixar a gente ver as crianças, ameaçamos chamar a polícia, ele ficou apavorado e foi embora com todos eles. Nunca mais a gente viu. Não sabíamos onde eles moravam. Passaram anos e a gente até pensou que minha irmã tinha morrido — relatou a tia dos meninos, que tem 42 anos e trabalha como empregada doméstica.

A irmã da vítima contou ainda que há um ano descobriu um telefone que seria do cunhado. Tentou contato, mas não teve sucesso.— Eu continuei procurando a minha irmã nas redes sociais, nas delegacias para achar ela. Um certo dia, na época do Natal, eu lembrei desse número, olhei e estava com a foto dele. Liguei de novo e dessa vez ele atendeu. Só deixou eu falar com a minha irmã por dois minutos. Depois disso, consegui contato algumas vezes. Ele sempre falava que estava tudo bem e ela também, mas devia estar sendo ameaçada — contou.

A tia dos jovens não sabe dizer como, mas afirmou que em uma dessas ligações, a irmã mesmo presa conseguiu anotar o número do telefone dela. Há pouco mais de 10 dias, uma vizinha da família que estava vivendo em cárcere privado em Guaratiba entrou em contato com a doméstica e fez chegar até ela o pedido de socorro.— A vizinha me ligou e disse que ela estava pedindo socorro, perguntando se eu podia pegar ela, resgatar ela. Sozinha eu não conseguiria fazer isso. Pedi uma amiga para denunciar e aí prenderam ele. Hoje eles estão bem: dormiram profundamente, se alimentaram bem. Minha irmã está tranquila. Mas, estamos contando com a ajuda dos amigos e vizinhos daqui da comunidade — descreveu a irmã da mãe dos meninos.

Por serem de uma família humilde, apesar de estarem acolhidos e em segurança, a família resgatada de cárcere privado está precisando de ajuda com alimentos, mantimentos, roupas, calçados, roupa de cama, produtos de limpeza e itens de higiene.

Sobre as investigações
Policiais da Delegacia da Mulher (Deam) de Campo Grande devem voltar, esta semana, à casa da família em Guaratiba para novas buscas. O objetivo é uma perícia complementar. No último sábado, os investigadores foram ao endereço e recolheram material que será periciado.

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