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sábado, 13 de julho de 2019

Derrota no terceiro turno

A pesada âncora do lulismo prende a esquerda às areias do passado

O terceiro turno das eleições presidenciais foi disputado na Câmara, na votação da reforma previdenciária. O placar avassalador, 379 a 131, não assinalou um triunfo de Bolsonaro, mas da articulação parlamentar liderada por Rodrigo Maia (DEM-RJ), pelo relator, Samuel Moreira(PSDB-SP), e pelo presidente da comissão especial, Marcelo Ramos (PL-AM). A esquerdaPT, PDT, PSB e PSOLsofreu, mais que um insucesso parlamentar, uma derrota política de proporções históricas. Essencialmente, ela colocou-se fora do jogo político, encarcerando-se voluntariamente na cela de Lula.

As ruas vazias, o plácido entorno do Congresso, a transição da opinião popular rumo ao apoio à reforma —a catástrofe da esquerda pode ser sintetizada num caleidoscópio de imagens icônicas. É a conclusão de uma trajetória pautada pela incompreensão da democracia. O passo inicial foi a denúncia do “golpe do impeachment”; o seguinte, a campanha do “Lula livre!”; o derradeiro, a recusa do debate sobre a Previdência, que é parte de uma rejeição mais geral a revisitar as políticas populistas conduzidas por Lula e Dilma desde 2007.

O fracasso tem donos. Haddad nunca chegou nem perto do lugar de reformador do PT, atribuído a ele por tantos intelectuais esperançosos, preferindo o posto de gestor público da massa falida do lulismo. Boulos e Freixo reconduziram o PSOL à irrelevante condição de linha auxiliar do PT. Ciro Gomes e os dirigentes do PDT e do PSB perderam a oportunidade de fundar um polo oposicionista pragmático, capaz de aperfeiçoar o projeto da nova Previdência. A cela de Lula está repleta de prisioneiros virtuais de um Brasil corporativo que faliu anos atrás.

O beneficiário do autoexílio da esquerda é a direita bolsonarista. No vácuo político deixado pela deriva governista do PSDB, Bolsonaro tem a chance de se apropriar dos louros de uma vitória que não lhe pertence, ganhando novo fôlego. Lá atrás, Lula ensaiou uma reforma previdenciária, e Dilma admitiu a necessidade de estabelecer idades mínimas para a aposentadoria. Mas a esquerda do “não”, submissa ao corporativismo, imersa no oportunismo eleitoral, entregou a bandeira do futuro à direita reacionária. Todos pagaremos por isso.

“Ser de esquerda não pode significar que vamos ser contra um projeto que de fato pode tornar o Brasil mais inclusivo e desenvolvido”. A jovem deputada Tabata Amaral (PDT-SP) fala por outros sete deputados de seu partido e 11 do PSB que desafiaram suas direções partidárias para apoiar a reforma previdenciária. Ela exprime, ainda, a opinião de uma pequena coleção de intelectuais e economistas de esquerda que escapam à bolha do sectarismo. Justamente por isso, está sob ameaça de expulsão.

A reforma é a obra inaugural do “parlamentarismo branco”. Rodrigo Maia já antecipa novos objetivos, na forma das reformas tributária e administrativa. No plano retórico, o PT e Ciro Gomes chegaram a ensaiar propostas razoáveis no rumo de uma tributação mais progressiva e da radical redução nos cargos comissionados. Ao que tudo indica, porém, a esquerda seguirá ausente do debate nacional, contentando-se com a denúncia genérica das desigualdades sociais. A pesada âncora do lulismo prende a esquerda às areias do passado.

O sectarismo custa caro. O Executivo está ocupado por reacionários tão arrogantes quanto incultos, que rezam no santuário herético do “Deus de Trump”. Eles querem distribuir armas, promovem a delinquência policial, estimulam o ativismo político de procuradores jacobinos, sonham subordinar a lei e a escola ao fundamentalismo religioso. A agenda extremista só encontra barreiras no “parlamentarismo branco” e num Judiciário acossado pelo fogo das redes olavo-bolsonaristas. O Brasil precisaria de uma esquerda moderna, cosmopolita. O que temos, porém, são os estilhaços de um lulismo espectral, que agoniza em câmera lenta.

Folha de S. Paulo - Demetrio Magnoli, sociólogo
 
 

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Chegou a hora de adotar o politicamente adequado

Acreditem na civilização, as pessoas podem aprender 

Também eu reagi com indignação à estupidez de brasileiros que gravaram um vídeo divertindo-se com o fato de uma russa não falar português. Ou não teria caído na pegadinha dos malandros que acharam superiormente engraçado ver a garota aderir a um corinho que repetia o tom da pele de sua genitália.

No país em que publicitários vendem o “cimento do saco roxo” e em que letras de funk fazem a apologia da violação coletiva das “novinhas”, o despropósito talvez pareça integrar um paradigma cultural. Pergunta à margem: por que os progressistas em geral, e as feministas em particular, nunca se incomodaram com a “cultura do estupro” que impera no funk?

Tão logo vi aquele troço, afirmei no rádio que contava as horas para duas ocorrências: os esquerdistas sairiam por aí a acusar o machismo dos brasileiros. Culpados, pois, não seriam aqueles machos em particular, mas os machos no geral. A ilação transforma agressores em vítimas. Afinal, se alguém é estúpido por atavismo cultural, não tem como lutar contra o inevitável. A esquerda vive caindo nessas ciladas lógicas.  E apostei que direitistas e antiesquerdistas genéricos fariam a defesa da rapaziada, alegando exagero, excesso de patrulha politicamente correta e criminalização da piada. Vamos a uma digressão elucidativa.

A luta da direita liberal no Brasil será longa. Somos poucos. Ainda não lotamos uma van, sucedânea das Kombis. Infelizmente, o que se tem caracterizado por aqui como “direita liberal” reúne malcriados em sentido amplo: faltam-lhes leitura, reflexão e bons modos. São, na verdade, reacionários. Estão empenhados em fazer o país andar para trás no que respeita aos direitos individuais, ainda que revistam seu antiliberalismo com memes de combate às esquerdas.

Parte considerável da crise política que vivemos se deve ao triunfo, no pós-PT, do iliberalismo, de que a Lava Jato —cheguei a ela!!!— é hoje a expressão mais virulenta. Deixou de ser a ação do Estado legal contra a corrupção para se tornar um projeto de poder ancorado na ilegalidade e na supressão de garantias individuais. Numa contradição só aparente, os Torquemadas da operação no STF são dois ministros oriundos da extrema esquerda: Edson Fachin e Roberto Barroso.

Os hoje heróis da direita reacionária, pois, são pérolas da... esquerda reacionária: Fachin —que negava até outro dia o direito à propriedade privada no campo e que milita em favor de uma tal “plurifamília”, com piscadelas para a poligamia— e Barroso, aquele que legalizou o aborto por decisão cartorial.
Uma causa emblemática os une: o ódio ao habeas corpus, pilar primeiro dos regimes democráticos. Irmanam-se no iliberalismo. Recomendo, diga-se, o livro “Liberais e Antiliberais”, de Bolívar Lamounier. Na semana passada, estive no “Painel WW” (https://bit.ly/2tQVBVg), comandado por William Waack. Lamounier, Francisco Weffort e eu debatemos o que vem a ser o pensamento dessa tal “direita” e o que ela quer.

Junto os fios e volto aos vídeos. É um deboche incluir aquelas manifestações no capítulo da liberdade de expressão ou no dos excessos do “politicamente correto”. É preciso, diga-se, aposentar essa expressão para que seu oposto, o “politicamente incorreto” —mera contrafação de um pensamento realmente livre—, não tente se impor como norma.

Releguemos as duas categorias à metafísica possível de humoristas de stand-up, que ganham seus belos trocados excitando o riso furioso e ignorante dos já convertidos.
Proponho a categoria do “politicamente adequado”. Inovo, assim, apelando ao antigo que liberta: São Paulo, o apóstolo. Posso tudo, mas nem tudo me convém. A liberdade de expressão é irmã gêmea da tolerância e do reconhecimento da existência do “outro”, nunca da intolerância, do ódio e da agressão aos vulneráveis.  Encerro com uma ilustração eloquente. Quem emprega “judiar” como sinônimo de “maltratar” não está necessariamente praticando antissemitismo. Se, no entanto, conhecer a origem da palavra e insistir no seu emprego, aí se trata de antissemitismo. Simples assim.

Tiro duas semanas de férias. Volto no dia 20 de julho.

Coluna do Reinaldo Azevedo - Folha de S. Paulo