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sexta-feira, 2 de junho de 2023

"A realidade não está em Brasília, na boca de Lula, mas em Pacaraima" - Alexandre Garcia

"O povo venezuelano já foi feliz. Tinha a maior renda per capita da América Latina; eram os "sauditas" sul-americanos do petróleo"

Minha candidata ao Prêmio Nobel da Paz é a Operação Acolhida. Desde junho de 2018, já entraram no Brasil mais de 800 mil venezuelanos, que deixaram seu país natal por causa da fome e das perseguições políticas. Segundo o órgão de refugiados da ONU, já deixaram a Venezuela sete milhões de pessoas, a maioria indo para a Colômbia, porque é vizinha e tem a mesma língua. 
Os que vieram para o Brasil pela Operação Acolhida, em geral, chegaram famintos, subnutridos, doentes, e foram alimentados, tratados e encaminhados, do extremo norte do Brasil, para os estados brasileiros, para terem vida digna para si e família. O Exército Brasileiro cumpriu uma honrada missão humanitária nessa operação. Por isso, foi estranho ver gloriosos Dragões da Independência, do 1º Regimento de Cavalaria de Guardas, formados em alas, apresentando lanças para honrar o causador do êxodo de venezuelanos, Nicolás Maduro, enquanto subia a rampa do Palácio do Planalto.
 
O povo venezuelano já foi feliz. Tinha a maior renda per capita da América Latina; eram os "sauditas" sul-americanos do petróleo; o combustível, lá, era quase de graça; só dirigiam carrões americanos; abarrotados de divisas, importavam o que de melhor havia no mundo
Mas veio Hugo Chávez e seu bolivarianismo, uma versão sul-americana de marxismo. Se Marx não deu certo na União Soviética, em cerca de 70 anos de poderes divinos sobre as pessoas, por que não daria certo na América Latina, onde a memória do povo não tem Tolstói para contar a História? Quem sabe um Bolívar revisado? Com isso, destruíram a Venezuela. Chávez morreu há 10 anos, e Maduro é seu sucessor, com esse Bolívar de propaganda, que contrasta o Bolívar libertador.

Hugo Chávez inventou uma união de países sul-americanos para ver se por aqui viceja o marxismo. A Unasul foi criada em 2008 por ele, com o apoio de Lula. Não sobreviveu ao estatuto do Mercosul, que exige democracia de seus integrantes. Como Lula não exige isso de Evo, de Ortega nem de Maduro, quer recriar a Unasul, talvez com outro nome. Doutor Goebbels fazia isso, tal como antes fizeram os bolcheviques. Troca o nome e faz o mesmo. É o que pretende fazer com os presidentes visitantes, depois da recepção especial com que celebrou Maduro, na segunda-feira, no Palácio do Planalto e no Itamaraty.

O Doutor Freud estudou o mecanismo de fuga com seus pacientes em Viena. Lula foge das questões internas, que não consegue resolver, viajando. China, Japão, Europa, Estados Unidos… e, agora, Brasília, reunindo vizinhos para propor a paz no mundo e a bem-aventurança na América Latina. Não consegue se impor, como gostaria, ao Congresso Nacional, porque ainda vive na primeira década do milênio. 

Mas sonha com liderança externa e gera propaganda com essa reunião em Brasília. Áulico não falta para aplaudir o argumento dele de que há preconceito contra Maduro, numa narrativa sobre as consequências de seu governo. Só que a realidade não está em Brasília, na boca de Lula, mas em Pacaraima, com a Operação Acolhida mostrando o que acontece além da fronteira com a Venezuela.

Alexandre Garcia - Correio Braziliense


quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Biden esquece que cumprimentou político e estende a mão novamente

Edilson Salgueiro

Presidente dos Estados Unidos protagonizou a cena com o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, voltou a protagonizar uma gafe nesta terça-feira, 9. Depois de ouvir um discurso do líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, o democrata cumprimentou o orador e, segundos depois, estendeu a mão novamente para saudá-lo.

Não é a primeira vez que Biden é protagonista de uma cena que envolve aperto de mãos. Em abril, depois de discursar na Universidade Estadual Agrícola e Técnica da Carolina do Norte, o democrata desceu do púlpito, virou-se para o lado direito e estendeu a mão, como para cumprimentar uma pessoa. Mas não havia ninguém ali.

No mês passado, depois de um discurso em Tel Aviv, Israel, o presidente norte-americano repetiu a dose.

Alvo de humoristas sauditas
Um clipe do programa humorístico Studio 22, exibido na Arábia Saudita, viralizou nas redes sociais. O vídeo retrata Biden como incapaz. O esquete também brinca com a vice-presidente norte-americana, Kamala Harris.

O ator que interpreta o democrata não está ciente de seu entorno e parece prestes a adormecer. A personagem de Kamala orienta o presidente sobre o que dizer e fazer. No fim do vídeo, Biden finalmente adormece.

“Muito obrigado! Hoje, vamos falar sobre a crise na Espanha”, disse Biden. “Sim, falaremos sobre a crise na África. Sim, Rússia! Quero falar sobre o presidente da Rússia, Putin. Sim, Putin. Ouça-me, tenho uma importante mensagem para você. A mensagem é: … E o presidente da China… O quê? Não terminei de falar sobre a Rússia? Obrigado por me corrigir, primeira-dama. Muito obrigado! Deus os abençoe…”

“Obrigado”, agradeceu Kamala. “Aleluia! Aplausos para o presidente. Agora!”

 Revista Oeste


quarta-feira, 13 de junho de 2018

Copa do Mundo de 2026 será sediada por Estados Unidos, Canadá e México

Decisão foi tomada nesta quarta-feira, no 68º Congresso da Fifa

Num processo que envolveu até chefes de estado, a Fifa definiu a América do Norte como sede da Copa do Mundo de 2026. Esta é a primeira vez que o evento será disputado em um continente, e não apenas num país. O Mundial ainda volta para o mercado norte-americano, mais de três décadas depois da primeira Copa, em 1994.

A América do Norte ficou com 134 votos, contra apenas 65 para o Marrocos. Assim, será também a primeira vez que um Mundial será disputado em três países ao mesmo tempo. Antes, o evento só havia sido dividido em dois países, no Japão e na Coreia do Sul, em 2002, quando o Brasil faturou o pentacampeonato.  A votação ocorreu na manhã desta quarta-feira, em Moscou, durante o Congresso anual da Fifa. Os norte-americanos usaram uma cartada que agradou a muitos na Fifa: a promessa de uma receita recorde de US$ 15 bilhões (cerca de R$ 55 bilhões), quase três vezes o que se obteve no Brasil em 2014.

A votação ainda cumpriu um plano do presidente da Fifa, Gianni Infantino, que precisava levar o Mundial para os EUA, país que o apoiou para assumir o comando da entidade em 2016. Numa tacada só, ele retribuiu sua eleição, compensou os americanos pela derrota na disputa pela Copa de 2022 e ainda criou um compromisso do governo dos EUA de não atacar sua entidade. Pelos planos da América do Norte, um total de 17 cidades se candidataram para receber os jogos, sendo que 80% da Copa ocorrerá nos EUA, enquanto México e Canadá ficarão cada um deles com 10% das partidas. A Copa deverá ser a primeira com 48 seleções, o que exigirá 80 partidas, dezenas de campos de treinamento e uma infraestrutura perfeita. Na avaliação técnica da Fifa, a candidatura norte-americana era bem superior à marroquina.

Depois da polêmica e suspeita de compra de votos para a Copa de 2022, a Fifa reformou seu processo de eleição. Até agora, quem votava eram apenas os 24 membros do Comitê Executivo da entidade - o órgão caiu em descrédito e foi substituído pelo Conselho da Fifa. Desta vez, as 209 federações votaram e o resultado foi publicado.  Marrocos, em sua última apresentação diante dos eleitores, tentou insistir no aspecto emocional, alertando que a decisão não pode ser apenas financeira. Um dos ministros marroquinos também acompanhou a delegação, dando garantias financeiras. Mas ele também apontou que as armas estão proibidas no país, num ataque aos americanos. Outra arma usada: a acusação diante dos eleitores de que um garoto americano não saberia quem seria Maradona.

Já nos bastidores, os marroquinos também tentaram insistir no fato de que a candidatura unida não seria tão unida, diante da tensão hoje existente entre o presidente americano, Donald Trump, e seus vizinhos.  Como resposta, a candidatura americana usou um jogador canadense, que chegou como refugiado, para romper com a imagem de racismo ou xenofobia do governo de Trump. As referências aos imigrantes, união e solidariedade se repetiam. Brianna Pinto, jogadora americana, fez referência à sua boa relação com atletas iranianas. Mas não convenceu.

Os americanos também insistiram que, pela infraestrutura que o continente dispõe, a Copa poderia ocorrer lá a qualquer momento. "Já está tudo pronto. Não precisamos construir nada", apontou um vídeo da candidatura. Além disso, a receita da Copa no Marrocos seria menos da metade daquela que os americanos garantiriam.  A realidade é que a última noite foi permeada por barganhas e tensão. Na véspera do voto, Holanda e Luxemburgo mudaram de lado e anunciaram seu apoio ao marroquinos. Nos bastidores, o ex-presidente da Uefa, Michel Platini, estava na campanha. O governo da França, depois de receber promessas de que ganharia contratos em obras no Marrocos para os novos estádios, passou a ser o principal cabo eleitoral.

Mas as capitais e governos também entraram na disputa. Os cartolas americanos solicitaram que Donald Trump usasse o encontro histórico com a Coreia do Norte para pedir apoio do país asiático à sua candidatura.  Horas antes da votação, o presidente Vladimir Putin informou ao presidente da Fifa, Gianni Infantino, de que apoiaria os americanos, levando consigo seus aliados.  Trump também acionou o Conselho Nacional de Segurança para fazer pressão entre os aliados, enquanto seu genro, Jared Kushner, convenceu os sauditas a não apoiar o país muçulmano e se aliar aos americanos. Funcionou. 

Correio Braziliense

 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O terrorismo é repugnante e deve ser combatido - mas, no país em que é proibido o porte de um canivete, um único homem mata 1/3 do número de vítimas de Istambul

Estado Islâmico reivindica massacre em boate de Istambul

Ataque deixou 39 pessoas mortas e 65 feridas; autor continua foragido 

O Estado Islâmico (EI) reivindicou nesta segunda-feira o ataque contra uma boate de Istambul na madrugada de domingo, na passagem do Ano Novo, no qual 39 pessoas morreram e 65 ficaram feridas. 

Flores são colocadas em frente a uma barreira policial na entrada da boate Reina, alvo de ataque, em Istambul - UMIT BEKTAS / REUTERS

Em um comunicado divulgado nas redes sociais, o grupo extremista afirmou que um dos "soldados do califado" cometeu o massacre na boate Reina, uma exclusiva casa noturna situada às margens do Bósforo.

O autor do massacre, que segue foragido, utilizou granadas e uma arma de fogo para atirar contra os clientes da boate, disse o texto. Dos 39 mortos, mais de 20 eram estrangeiros.  O comunicado acusa a Turquia, um país de maioria muçulmana, de ter se aliado aos cristãos, em alusão à incursão do Exército turco há quatro meses no Norte da Síria para combater o EI e as milícias curdas.

A emissora NTV noticiou que o atirador havia disparado entre 120 e 180 vezes durante sete minutos semeando pânico, fazendo com que algumas pessoas se jogassem nas geladas águas do Estreito de Bósforo para escapar do massacre.  O primeiro-ministro turco, Binali Yildrim, qualificou como "infundadas" as informações da imprensa de que o autor do massacre estaria fantasiado de Papai Noel. Ele explicou que o atirador havia deixado a arma no local e que havia se aproveitado do caos na boate para fugir.


Entre as vítimas fatais estrangeiras haveria, segundo as autoridades de cada país, pelo menos um cidadão belga-turco, uma israelense, três jordanianos, três libaneses, vários sauditas, um líbio, dois indianos, dois marroquinos, uma franco-tunisiana e um tunisiano. Entre os feridos estariam pelo menos quatro franceses e outros quatro marroquinos.

Em decorrência de uma série de atentados nos últimos meses, cerca de 17 mil policiais estavam de prontidão em Istambul durante o ano novo para prevenir atentados. 

Chacina durante festa de fim de ano deixa 13 mortos em Campinas

Homem invade casa, mata ex-mulher, filho e parentes e se mata em SP

Crime ocorreu na Rua Pompílio Morandi, na Vila Prost de Souza, próximo ao Shopping Unimart - Reprodução EPTV

[o famigerado 'estatuto do desarmamento' possibilita que apenas os assassinos portem armas - excluindo policiais, militares e agentes de segurança;
fosse o porte de armas livre, certamente o louco Sidnei não tentaria o massacre em massa, por saber que não seria o único armado e encontraria reação.]
 
O técnico de laboratório Sidnei Ramis de Araújo, de 46 anos, aproveitou a queima de fogos durante a virada do ano, pulou o muro de uma casa em Campinas (interior de SP) e matou 12 pessoas, entre elas sua ex-mulher Isamara Filier, de 41 anos, e o filho. Ele invadiu a casa disparando uma pistola 9 mm pouco antes da meia-noite, depois atirou contra a própria cabeça. O motivo do crime seria a separação do casal e uma disputa pela guarda do filho, João Victor Filier de Araújo, de 8 anos. 
 Poucos antes de ser morta, Isamara desejou um ano de felicidade. "Para 2017...saúde paz prosperidade e muitas alegrias", postou ela em uma rede social ontem à noite, horas antes do crime.  Com os disparos feitos por Sidnei, uma das vítimas, que festejavam a passagem do ano em família, chegou a pensar que estava ouvindo o barulho de fogos. Ela percebeu o que estava acontecendo ao ver uma das vítimas caindo ao chão. Só sobreviveu porque correu e se escondeu em um banheiro da casa, segundo a polícia.
 Isamara Filier e o filho, João Victor Filier de Araújo - Reprodução do Facebook
 
Sidnei planejou o crime e chegou a gravar um áudio, cujo conteúdo ainda não foi divulgado, pouco antes da chacina. A gravação foi encontrada em seu carro, estacionado perto da casa invadida, no Jardim Aurélia, bairro de classe média de Campinas. Além da pistola usada na chacina, o técnico estava com dois carregadores, munições, um canivete e dez artefatos, aparentemente explosivos, segundo a polícia. O material passará por análise.

Das vítimas, 11 morreram na casa. Uma outra pessoa morreu a caminho do hospital e três estão internadas, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. De acordo com o boletim de ocorrência, quatro pessoas que estavam na festa não foram atingidas pelos disparos.  As investigações iniciais apontam que pelo menos 30 tiros foram disparados, que vizinhos também chegaram a confundir com fogos de artifício em comemoração ao Ano Novo. A polícia foi chamada após uma das vítimas, baleada na perna, conseguir pedir ajuda a vizinhos.

De acordo com informação dada pela família de Sidnei à Polícia Militar, o atirador sofria problemas psicológicos desde a separação da mulher. Segundo dados de processos judiciais, eles travavam uma disputa sobre as visitas do técnico ao filho pelo menos desde 2013. Sidnei trabalhava desde 1991 no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, em Campinas. Ele tinha em seu histórico profissional vários trabalhos publicados, além de participação em congressos e cursos feitos nos Estados Unidos, Holanda e Inglaterra.

Veja a lista de vítimas fatais da tragédia:


Isamara Filier, 41 anos, ex-mulher
João Victor Filier de Araújo, 8 anos,
Liliane Ferreira Donato, 44 anos;
Antonia Dalva Ferreira de Freitas, 62 anos;

Ana Luiza Ferreira, 52 anos;
Rafael Filier, 33 anos;
Abadia das Graças Ferreira, 56 anos;
Paulo de Almeida, 61 anos;

Larissa Ferreira de Almeida, 24 anos;
Carolina de Oliveira Batista, 26 anos;
Alessandra Ferreira de Freitas, 40 anos;
Luzia Maia Ferreira, 85 anos.

Fonte: O Globo



domingo, 3 de janeiro de 2016

ONU expressa dúvida sobre processos de pena de morte na Arábia Saudita

O alto comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, destacou que o clérigo Nimr al-Nimr não estava acusado de nenhum crime grave

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, pôs em dúvida neste domingo o respeito às garantias processuais na Arábia Saudita e lamentou, em comunicado, a execução de 47 pessoas nesse país, especialmente a do clérigo xiita opositor Nimr al-Nimr. Zeid destacou que o clérigo xiita não estava acusado de nenhum crime grave, requisito prévio estabelecido pela legislação internacional de Direitos Humanos.  "Sob a legislação internacional de Direitos Humanos, a pena de morte pode ser imposta, nos países onde existe este castigo, apenas se for cumprida uma série de requerimentos de procedimento e se tiver havido um julgamento justo", declarou o alto comissário da ONU. 


O clérigo xiita Nimr al-Nimr, executado na Arábia Saudita(Saudi Press Agency/Reuters)

Além disso, Zeid lembrou que a pena capital só pode ser imposta em casos em que o condenado tenha cometido crimes muito graves, como o assassinato, e pôs em dúvida o respeito das garantias processuais dos condenados. "As penas não podem ser baseadas em confissões obtidas mediante torturas e maus tratos. A aplicação da pena de morte nestas circunstâncias é inconcebível, dado que a pena de morte não pode ser revertida e que qualquer sistema judiciário pode cometer erros", acrescentou.

Os 47 executados ontem - 45 sauditas, um egípcio e um chadiano - foram acusados de terrorismo e entre eles havia sunitas radicais e alguns destacados membros da rede terrorista Al Qaeda, mas também quatro ativistas xiitas. A pena capital contra Nimr foi confirmada em outubro do ano passado pela Corte Suprema da Arábia Saudita, que lhe culpou de desobedecer às autoridades e instigar a violência sectária, após ter sido detido em 2012 por apoiar os protestos contra o governo em Al Qatif, no leste do país e de maioria xiita.

Zeid ressaltou que ele mesmo já havia protestado perante o governo saudita quando essa condenação foi anunciada. Além disso, Zeid se mostrou extremamente preocupado pelo alto número de execuções na Arábia Saudita no último ano, com pelo menos 157 documentadas em 2015, comparado com as 90 de 2014, o número mais elevado desde 1995. As execuções de ontem aconteceram de forma simultânea em doze regiões do país por meio de decapitações por sabre e fuzilamentos. Zeid solicitou ao governo saudita uma moratória de todas as execuções e instou a que trabalhe com a ONU e outros organismos internacionais em modos alternativos de luta contra o terrorismo.


Fonte: Agência Reuters - EFE

 

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Tragédia no Hajj

O governo saudita tem investido bilhões de dólares para ampliar e melhorar os lugares usados na peregrinação anual a Meca

O Hajj, ou a peregrinação anual de muçulmanos para Meca, nunca foi fácil. Antigamente, chegava-se a essa cidade mais sagrada do Islã de navio, a camelo e a pé. Para muçulmanos vindos de Egito, Marrocos, Índia e a Indonésia, era uma viagem longa, dura e, muitas vezes, perigosa. Esses viajantes tinham que aguentar tempestades de areia, temporais em alto-mar e os ataques de piratas ao longo do caminho. Agora em nossos tempos modernos, com jatos que cortaram o tempo de viagem para meras horas, os perigos são outros.

No dia 11 de setembro, um dos quase 50 guindastes enormes sendo usados para a ampliação da Grande Mesquita de Meca caiu durante uma tempestade violenta e matou mais de cem peregrinos. O governo saudita reagiu rapidamente, indenizando as famílias de todos os atingidos e ordenando um inquérito para descobrir se houve negligência por parte dos engenheiros da construtora Binladin, que é encarregada da ampliação da mesquita. Também proibiu a saída do país do alto escalão da Binladin até o fim da investigação.

Mas foi na semana passada que ocorreu uma tragédia maior. Os peregrinos estavam aglomerados em Mina, a cinco quilômetros de Meca, para apedrejar o diabo, um ato simbólico e chave do Hajj. Em Mina há muitos acampamentos com tendas para abrigar os dois milhões de fiéis que fizeram o Hajj este ano. Na manhã do dia 24 de setembro, um grupo de peregrinos seguia para o Jamarat, o lugar onde o apedrejamento é feito, e outro estava vindo na mesma rua na direção oposta. O problema é que esta rua é bem estreita e de mão única. Quando os dois grupos se encontraram, o tumulto começou. No calor beirando os 45 graus, e com o desejo fervoroso de muitos peregrinos de avançar rapidamente, o pior aconteceu. O pânico se alastrou na multidão e centenas de pessoas começaram a pisotear umas às outras. Nessa debandada fatal morreram 782 peregrinos, e mais de 900 ficaram feridos. A maioria morreu asfixiada.

O Irã, antigo rival da Arábia Saudita, perdeu 464 dos seus peregrinos na tragédia e foi o primeiro país a criticar o desempenho do reino em organizar e controlar o Hajj. Parte desta crítica se refere ao fato de que a Arábia Saudita deveria desistir de controlar o Hajj, e passar esta atribuição a um grupo de países muçulmanos, incluindo o Irã. Mas esta é uma demanda antiga, e uma acusação que os iranianos gostam de fazer cada vez que uma tragédia acontece no Hajj. E é claro que os sauditas nunca irão abrir mão da organização de um evento religioso tão importante como o Hajj, que lhe dá um grande prestigio religioso. O rei Salman ibn Abdul Aziz ordenou uma investigação, e disse que os responsáveis vão ser punidos.

A verdade é que o governo saudita tem investido bilhões de dólares para ampliar e melhorar os lugares usados no Hajj, como em Mina e no Jamarat. Construiu uma ponte muito larga para conduzir peregrinos em Mina depois que houve a tragédia em 1990, quando 1.426 peregrinos morreram pisoteados num túnel. A Grande Mesquita em Meca e a Mesquita do Profeta Maomé em Medina foram largamente expandidas algumas vezes para acomodar mais fiéis de uma vez. Um veículo leve sobre trilhos foi construído, ligando Meca a Arafat, Mina e Muzdalifah, com um percurso de 18 quilômetros, para levar peregrinos a estes lugares, em lugar de ônibus. E um trem de alta velocidade estará pronto no ano que vem ligando Meca a Medina, passando por Jidá, a uma distancia de mais de 400 quilômetros.

Muitos críticos perguntaram porque o reino não fez estudos de controle de multidões, mas a verdade é que já fizeram isso anos atrás. E continuam fazendo por meio do Centro de Pesquisas do Hajj, inaugurado em 1975. Além do Ministério do Hajj, que se mobiliza o ano inteiro planejando e se preparando para esse evento gigantesco. Este ano, somente dois milhões de peregrinos fizeram o Hajj por causa da falta do espaço físico na Grande Mesquita e na Mesquita do Profeta, em obras de ampliação. Em 2012, foram três milhões de peregrinos. O governo saudita dá cotas de vistos para o Hajj a todo país com muçulmanos, para tentar regular o número de pessoas. Mas os países com grande numero de muçulmanos, como o Egito, o Paquistão, a Índia e a Indonésia sempre se queixam de que os sauditas não dão um número suficiente de vistos a eles.

De acordo com as estatísticas, o número de peregrinos em 1920 foi somente 58.584, pulando para 100.000 em 1950, chegando a 1,86 milhão em 1995. De 2005 para cá, o numero anual de peregrinos não tem ficado abaixo de dois milhões.

É extremamente triste e frustrante ver tantos mortos e feridos como aconteceu na última tragédia em Mina. Espero que o governo saudita investigue tudo prontamente e estude novos meios de controlar essas multidões de peregrinos de várias idades e nacionalidades para poder melhor protegê-los e não deixar tragédias assim acontecer de novo. E o Irã deveria ter vergonha de tentar tirar proveito político e ideológico dessa tragédia para ganhar pontos na sua luta sectária contra a Arábia Saudita. Em vez de atacar os sauditas, os iranianos e todos os outros muçulmanos deveriam se esforçar para achar novos meios de trazer mais segurança para um acontecimento tão religioso e sagrado para todos os muçulmanos.

Por: Rasheed Abou-Alsamh é jornalista