Setor precisa garantir que não falte 'munição'
O maior de todos os desafios que a pandemia de Covid-19 nos impõe diz
respeito à nossa capacidade de organização solidária para minimizar a
carga de sofrimento associada ao adoecimento, ao colapso dos sistemas de
saúde e à morte de muitos. Além do evidente papel de liderança e de
coordenação dos governos, do trabalho heroico dos profissionais de saúde
e da comunidade científica na busca de um protocolo de tratamento,
precisamos de uma indústria de guerra para enfrentar o novo coronavírus.
O setor produtivo tem demonstrado enorme capacidade criativa e de
resolubilidade para diversos problemas enfrentados pelo mercado. A
oportunidade agora é de se reorganizar internamente e de se posicionar
entre os parceiros estratégicos da sociedade, produzindo os insumos
essenciais para a proteção das equipes de saúde e hospitais:
respiradores, testes laboratoriais, máscaras, lençóis, luvas, uniformes,
álcool em gel.
A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil dá competência ao governo
para estimular a reorganização do setor produtivo e econômico das áreas
atingidas por desastres. Ou seja, já dispomos dos instrumentos legais
para o governo definir prioridades e coordenar as ações. É hora de a
indústria juntar-se em um único esforço e fortalecer a saúde pública
representada no Brasil pelo Sistema Único de Saúde, o SUS.
A reconversão industrial para equipamentos e insumos hospitalares é uma
ação de emergência que já está em curso e deve ser acelerada. No Brasil
há exemplos liderados pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizado
Industrial), que precisam ser ampliados. A instituição já está
desenvolvendo um projeto de aumento em escala industrial, em Curitiba,
para, em 40 dias, ter a capacidade de ofertar 500 mil testes por mês
—podendo dobrar, a partir de maio.
Outra ação importante do Senai é a organização de instruções para a
indústria têxtil que deseja reorientar seu sistema produtivo a fim de
fabricar máscaras de proteção e aventais de uso hospitalar. Existem 25,2 mil empresas do segmento no Brasil, que empregam 1,5 milhão
de trabalhadores diretos e 8 milhões indiretamente. O potencial é
enorme, pois não se trata de produto de fabricação complexa e há alta
demanda. Além disso, há insumos suficientes no Brasil para a produção
desses itens. Há empresários reinventando a sua conexão com seus consumidores e
dispostos a preservar os laços estabelecidos com os seus funcionários
treinados e experientes, porque acreditam que isso pode acelerar a
recuperação das suas empresas depois que a pandemia passar.
São iniciativas como essas que a sociedade espera do setor privado. O
chamamento feito pela Organização Mundial da Saúde e pela Câmara
Internacional de Comércio ao setor industrial é que encare o combate à
Covid-19 como a maior convocação que já recebeu em toda a sua história. É
urgente o estabelecimento de ações coordenadas do setor privado com os
governos, não somente para traçar cenários econômicos futuros, mas
também, e principalmente, para atuarem já, na diminuição da velocidade
com que o vírus se propaga e para mitigar os seus impactos.
Os empresários que lideram as contribuições solidárias aos esforços que
hoje assistimos no Brasil e em outros países para o combate à pandemia
poderão dizer, mais adiante, que fizeram a diferença. Chegou a hora de saber a quem servimos para que, ao final, não haja
dúvidas sobre para o que servimos. Estamos vivendo um momento de guerra
contra o coronavírus. O front desse combate é o SUS, e a indústria
brasileira precisa garantir que não falte “munição” para os
profissionais de saúde nessa guerra pela vida.
José Serra, Barjas Negri, Humberto
Costa, José Gomes Temporão, Saraiva Felipe, Alexandre Padilha, Arthur
Chioro, Marcelo Castro, Agenor Álvares