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quinta-feira, 17 de junho de 2021

Pandemia nos EUA: O que revelam os e-mails de Anthony Fauci

Gazeta do Povo

Pandemia: o que você precisa saber sobre os e-mails do Dr. Fauci

Milhares de e-mails envolvendo o infectologista Anthony Fauci - diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos EUA e consultor da Casa Branca para a pandemia - e Francis Collins - chefe dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA - foram publicados após serem obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação do país norte-americano. Milhares de páginas, algumas delas com grandes trechos eliminados para manter a confidencialidade, estão disponíveis no site BuzzFeed e são uma espécie de teste de Rorschach.

Tendo escrito recentemente o artigo "A Queda do Santo Anthony Fauci", li muitos desses e-mails e achei que eles são bastante condenatórios tanto para Fauci quanto para a resposta americana à pandemia. Mas, obviamente, o Washington Post vê neles um homem que está simplesmente sobrecarregado pelo que está acontecendo ao seu redor e que trabalha o tempo todo para manter o fluxo de informações.

Vazamento de laboratório
Nós temos alguma pista sobre a hipótese de que o vírus vazou de um laboratório nesta coleção de documentos? Bem, sim. Temos evidências que podem ser interpretadas de várias maneiras.  Por exemplo, um e-mail de 21 de janeiro de 2020 de Kristian G. Anderson procura "pistas para o surto" e não descarta um vazamento de laboratório. Mas, desde então, Anderson e sua equipe se tornaram muito mais céticos em relação à hipótese do vírus criado em laboratório. Peter Daszak, o líder da EcoHealthNYC e um defensor da pesquisa sobre ganho de função, agora tem defendido o artigo produzido pela equipe de Anderson.

Uma troca de e-mail entre Fauci e Collins ocorrida em 2 de fevereiro de 2020 faz referência a um artigo sensacionalista do blog ZeroHedge que exagerava temores de que inserções de HIV mostram que a Covid-19 é uma arma biológica criada artificialmente. Fauci pede para continuar a conversa por telefone. Este é o artigo que fez com que o ZeroHedge fosse banido do Twitter.

Um e-mail de 17 de fevereiro de 2020, de Collins para Fauci, tem um link para uma matéria da Fox News sobre a ideia de um vazamento de laboratório. A resposta de Fauci foi totalmente omitida no documento público. O assunto do e-mail é "conspiração ganha impulso", o que talvez indique que os dois estavam tratando essa ideia como tal. Mas outros e-mails nos quais essa teoria surge mostram o interesse dos participantes em parar com a conversa por e-mail e continuar em telefonemas.

Uma enxurrada de perguntas de jornalistas e de usuários do Twitter está chegando aos interlocutores de Fauci para determinar o significado dos e-mails deles e fornecer um contexto mais amplo para compreendê-los. Existem muitos e-mails que podem parecer incriminadores à primeira vista, mas têm explicações inocentes. Por exemplo, um e-mail de 4 de fevereiro de 2020, de Trevor Bedford, um cientista da Fred Hutch, parece dizer que certas evidências oferecidas sobre as hipóteses de surgimento natural ou de vazamento de laboratório são inconclusivas, embora ele descarte um cenário em que o vírus foi criado em laboratório. Ele então sugere ao seu interlocutor que eles mudem para "meios de comunicação mais seguros".

Questionado sobre isso no Twitter, Trevor disse temer vazamentos seletivos para a imprensa, ou possivelmente a espionagem da inteligência chinesa. Isso é razoável.  No entanto, também temos um e-mail de Daszak - cuja própria empresa subcontratou o Instituto de Virologia de Wuhan - enviado a Fauci em fevereiro em que ele agradece ao infectologista por emprestar sua credibilidade ao se pronunciar contra a teoria do vazamento de laboratório. Uma parte desse e-mail foi omitida. Daszak já falava incansavelmente contra a teoria do vazamento de laboratório antes que a OMS o designasse, com o consentimento da China, para a equipe que investigou as origens do vírus.

Ainda assim, mesmo com todos os incentivos do mundo para encerrar a hipótese de vazamento de laboratório, o diretor da OMS não a descartou. Sua opinião sobre este e-mail dependerá inteiramente de como você vê as opiniões de Daszak, se acredita que elas são genuinamente sustentadas ou não. Acho que o e-mail mais interessante sobre a questão é o de Hugh Auchincloss para Fauci em 1º de fevereiro de 2021, no qual parece que o NIH está tentando determinar por si mesmo se "temos laços distantes com esse trabalho no exterior". Fauci responde mais tarde dizendo como é essencial que ele e Hugh falem ao telefone naquela manhã e que Hugh terá tarefas a cumprir.  Isso foi enviado poucas horas depois de Anderson sugerir pela primeira vez a Fauci que havia características no vírus que "(potencialmente) parecem projetadas".

Máscaras, tratamentos
Aqui está uma questão em que eu realmente acho que o registro privado fará a diferença em nossa compreensão dos eventos. Em 5 de fevereiro de 2020, Fauci envia um e-mail em que desaconselha o uso de máscaras e faz a recomendação de que o tipo de máscara que se compra em farmácias "não é muito eficaz para impedir a entrada de vírus, que são pequenos o suficiente para passar pelo material". Esta conclusão só poderia ter sido reforçada quando os cientistas convergiram para a conclusão de que a Covid-19 é transmitida por aerossóis. Isso foi consistente com as declarações que Fauci fez em público na época, mesmo no programa de televisão 60 Minutos, de que as máscaras podiam ser prejudiciais.

Mais tarde, quando passou a adotar uma posição pró-máscara, Fauci afirmou que nunca aconselhou ao público que as máscaras não podiam ajudar, apenas que eles não deveriam comprá-las. Isso não era verdade. Ele disse que deu este conselho para economizar equipamentos de proteção individual para os trabalhadores da linha de frente. Embora tenhamos visto muitos casos em que autoridades de saúde pública mentiram deliberadamente para o público para manipulá-los em direção a um resultado - uma prática que considero moralmente repulsiva e politicamente inconsistente com o autogoverno - não encontramos evidências de que houve um esforço deliberado e consciente para proteger os suprimentos de EPI com essa mentira. (Contudo, vimos um dos colegas chineses de Fauci pedindo desculpas por ter sido citado na Science chamando a posição de Fauci sobre as máscaras de "um grande erro".)

Em 1º de março de 2020, Fauci recomenda o uso de máscaras N95, ao explicar que a transmissão do coronavírus é semelhante à da gripe, mas que ocorre mais em forma de aerossol do que de gotículas. A recomendação que ele faz sobre as máscaras N95s faz sentido com sua objeção anterior sobre máscaras compradas em farmácias, e está de acordo com estudos que mostram que alguns dos tipos de máscara popularmente usados ​​podem na verdade aumentar a disseminação de gotículas.

Em 31 de março de 2020, Fauci está defendendo as máscaras menos eficazes com base em "alguns dados do NIH que indicam que o mero falar sem tossir produz aerossóis que se dispersam por até mais de meio metro". Fauci conclui: "Se for esse o caso, então talvez o uso universal de máscaras seja a a ação mais prática a ser adotada." Não tenho certeza se isso é realmente verdade, já que, na melhor das hipóteses, as máscaras de tecido redirecionam ligeiramente os aerossóis que transmitem Covid-19.

No entanto, Fauci ocasionalmente dizia coisas como, por exemplo, como ele queria que as máscaras "fossem um símbolo" para o tipo de medida que você deveria tomar. Ou seja, ele parecia trair a visão que tinha sobre a utilidade médica das máscaras ao se apoiar fortemente em sua utilidade psicológica. E espero que a defesa das máscaras de tecido compradas em loja vá para esse campo. Talvez eles digam que é verdade que o vírus passa facilmente pela máscara, mas que a máscara faz algum trabalho de redirecionamento e que essa pequena utilidade se combina com seu uso como um lembrete físico constante do comportamento para mitigação da Covid, como o distanciamento social para diminuir a propagação.

Para mim, uma dos diálogos mais interessantes vem do Dr. Josh Backon, da Universidade Hebraica, que ficou furioso porque Fauci estava minimizando o uso de medicamentos baratos e bem testados, como cloroquina e ivermectina, para tratar Covid-19. Backon enviou um e-mail inicial propondo a lógica por trás desses tratamentos e, mais tarde, enviou o e-mail novamente com um link para um estudo que fundamentava suas afirmações, com a breve provocação: "Continue me ignorando". Fauci recusou a provocação, dizendo: "Você não está sendo ignorado", e prometeu que alguém daria uma olhada em sua pesquisa.

Imprensa
Em seguida, houve um longo e-mail elogioso de Mark Zuckerberg agradecendo Fauci por sua liderança durante a pandemia e oferecendo ajuda para divulgar boas mensagens. Um desses e-mails faz algum tipo de apelo final a Fauci, que foi cortado do documento, e se oferece para discutir por telefone.

Veja Também: O novo coronavírus escapou do laboratório? As evidências que reforçam esta hipótese
 Cientistas de Wuhan buscaram tratamento em hospital um mês antes do 1º registro da Covid

Existem tantos pequenos detalhes para serem descobertos, que é hilário. Um dos meus favoritos até agora é do jornalista veterano Donald McNeil, do New York Times, que escreve a Fauci para elogiar a decência e o heroísmo do cidadão comum chinês diante da Covid, em comparação aos porcos americanos egoístas. Isso é apenas a romantização de um país estrangeiro para denegrir seus próprios concidadãos, e é uma visão de mundo juvenil. Um ponto a favor de Fauci é que ele estava pelo menos um pouco perturbado pela "febre de Fauci".

De qualquer forma, como a maioria das grandes divulgações de dados que sofrem remoções cuidadosas, o tesouro dos e-mails de Fauci não tem provas cabais de irregularidades. Você poderia argumentar, como eu e outros fizemos, que Fauci tinha certos preconceitos e pré-disposições que foram profundamente inúteis em sua liderança na resposta à pandemia - e você encontrará evidências disso aqui. Ele tinha uma tendência muito forte contra os medicamentos existentes e a favor dos novos e experimentais. Ele tem sido inconsistente com relação às máscaras e claramente estava disposto a dizer coisas em público que ele achava que "ajudavam" na resposta, mesmo que não fossem estritamente verdadeiras.

Gazeta do Povo - Michael Brendan Dougherty - National Review

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Hacker ameaça com novas revelações - Veja

Um agosto para não pôr defeito



Por que os advogados de Walter Delgatti Neto, vulgo “O Vermelho”, que confessou à Polícia Federal ter invadido os celulares de mil autoridades, entre elas os chefes dos três poderes da República, soltaram uma nota, ontem, onde informam a quem interessar possa que todas as informações obtidas pelo hacker estão guardadas por “fiéis depositários” tanto no Brasil como no exterior?

Se a advertência não for um blefe, a resposta é simples, segundo pessoas que acompanham de perto as investigações: trata-se de uma ameaça. Delgatti Neto quer dizer com isso que se não for bem tratado poderá revelar informações às quais a Polícia Federal não teve acesso quando apreendeu documentos, celulares e computadores que ele usava até ser preso na semana passada. O mesmo tipo de advertência foi feita pelo jornalista Glenn Greenwald, um dos editores do site The Intercept Brasil, quando começou a publicar há pouco mais de um mês as mensagens trocadas entre si pelos procuradores da Lava Jato de Curitiba, e as de Deltan Dallagnol com o então juiz Sérgio Moro. É um cuidado natural que se toma em casos como esse.

Moro avisou ao presidente Jair Bolsonaro que ele foi hackeado. Vazou da Polícia Federal a notícia de que também foram hackeados os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, e ministros do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, fora ministros do governo e até jornalistas. Quem pagará para ver se os advogados de Delgatti Neto mentiram em sua nota?  Brasília passou o último fim de semana fervendo. E ferverá ainda mais a partir desta semana quando políticos e ministros de tribunais superiores retornarem das férias do meio de ano do Congresso e do Judiciário. Agosto começará na próxima quinta-feira. E diz a lenda que não existe mês mais aziago para a política brasileira. Duvida? Alguns fatos sustentam a lenda.

Em 13 de agosto, em um acidente aéreo, morreu Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e então candidato a presidente da República. Em 22 de agosto, o ex-presidente Juscelino Kubistchek morreu em um acidente de carro. Em 24 de agosto, o presidente Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no coração. Em 25 de agosto, Jânio Quadros renunciou à presidência da República.
Foi também em agosto que uma trombose cerebral retirou da presidência da República o general Arthur da Costa e Silva, substituído por uma junta militar. E em agosto foi derrubada a então presidente Dilma Rousseff por meio de um processo de impeachment. Assumiu o vice Michel Temer, que seria alvo de três denúncias de corrupção e preso ao final do seu mandato.

Por enquanto, ninguém se arrisca a especular sobre os possíveis desdobramentos do mais grave episódio de espionagem da história eletrônica do país, mas que haverá, haverá. Em agosto, a Câmara votará em segundo turno a reforma da Previdência; o nome do garoto Eduardo, aspirante a embaixador do Brasil em Washington, será votado na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
E o site The Intercept promete revelar algumas das mais comprometedoras informações armazenas nos seus arquivos. Emoção não faltará.

 

sábado, 1 de julho de 2017

Raquel Dodge, indicada para PGR desconfia ter sido grampeada - e já suspeitou de Janot

Dodge suspeitou de espionagem de Janot em seu gabinete

Adversária do procurador-geral, a futura comandante da Lava-Jato pediu a ele investigação sobre supostas escutas telefônicas 

 CONTRAPONTO -  Raquel Dodge, a segunda colocada na lista tríplice: adversária dos métodos e do estilo de Janot (Fátima Meira/Futura Press/Folhapress)

Se passar pela sabatina e tiver seu nome aprovado pelo plenário do Senado, a subprocuradora-geral da República Raquel Dodge será a primeira mulher a assumir o posto mais alto da hierarquia do Ministério Público no país. Na guerra entre Michel Temer e o atual procurador-geral, Rodrigo Janot, ela era o nome perfeito para o presidente.

Desde que Janot chegou ao comando da PGR, há pouco menos de quatro anos, Raquel se insurge contra o estilo de sua administração, que considera extremamente autoritário e pouco agregador. O desapreço é recíproco. Um episódio ocorrido há dois anos e meio, e mantido em segredo até agora, ilustra o nível da relação entre os dois.

Em 3 de novembro de 2014, Raquel Dodge nem deveria comparecer à Procuradoria — aquele seria seu primeiro dia de férias —, mas, de surpresa, decidiu passar em seu gabinete para resolver algumas pendências. Chegando lá, percebeu que as luminárias instaladas sobre as mesas de trabalho tinham sido removidas e recolocadas no lugar. 

Havia sujeiras com marcas de impressões digitais no teto. Raquel estranhou e, no mesmo dia, pediu uma conversa com Janot. Ao procurador-geral, ela relatou o que havia ocorrido e, não satisfeita, preparou um ofício para formalizar a queixa e pedir providências. No dia seguinte, ao chegar para trabalhar, a chefe do gabinete da procuradora encontrou dois homens, com uma escada, mexendo no teto da copa do gabinete. Os homens saíram do local antes que pudessem ser identificados.

A desconfiança de que eles haviam entrado sem aviso com o propósito de retirar supostos dispositivos de escuta ambiental fez aumentar ainda mais o nível da suspeita. Avisada desse segundo episódio, Raquel voltou a cobrar Janot. Com a demora do procurador-geral em adotar providências, a própria Raquel levantou, em conversas com colegas e auxiliares mais próximos, a suspeita de que a suposta arapongagem pudesse estar partindo da área de inteligência da própria PGR, a serviço de Janot.

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