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segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Lenda do futebol alemão, Beckenbauer morre aos 78 anos

Apelidado de 'Kaiser', atuou em cinco Copas do Mundo, e se sagrou campeão em 1974, como jogador, e conquistou a taça em 1990, como treinador

Franz Beckenbauer morreu. Lenda do futebol alemão, foi apelidado de Kaiser, imperador na língua natal do defensor, por seu estilo aguerrido, mas sempre muito elegante. Ele tinha 78 anos.

 Franz Beckenbauer, capitão da Alemanha Ocidental, com a Taça Fifa depois da vitória sobre a Holanda, na Copa de 1974

 Franz Beckenbauer, capitão da Alemanha Ocidental, com a Taça Fifa depois da vitória sobre a Holanda, na Copa de 1974 (J. B. Scalco/VEJA)


Beckenbauer  morreu no domingo, 7, conforme anunciou sua família à imprensa alemã nesta segunda-feira, 8. 
Como Zagallo, morto na sexta-feira, 5, aos 92 anos, o alemão foi campeão do mundo como jogador e como técnico. 
Em 1974, levantou a taça pela primeira vez como líbero, posição que inovou na época, o zagueiro que avançava na saída de bola. Anos depois, em 1990, já como treinador, repetiu o gesto uma segunda vez.“É com profunda tristeza que anunciamos que meu marido e nosso pai, Franz Beckenbauer, faleceu pacificamente enquanto dormia ontem, domingo, cercado por sua família”, disse a família, por meio de nota. “Pedimos que neste momento respeitem nossa privacidade.”
Franz Beckenbauer, em foto de 2010
Franz Beckenbauer, em foto de 2010. Ele era o chefe do Comitê para a Copa de 2006 (Michael Steele/Getty Images)

O bávaro, nascido em Munique em 11 de setembro de 1945, teve uma carreira sem igual. Como jogador, disputou 103 partidas internacionais pela Alemanha (50 delas como capitão) e marcou 14 gols — uma contradição em termos para um jogador da defesa.

O Kaiser, que foi considerado um grande estrategista, venceu a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, e o Campeonato Europeu de 1972, em Bruxelas, contra a Rússia como capitão. Mas também são lembrados os quatro gols que marcou na caminhada até o vice-campeonato da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra.

Na Europa, ganhou a Bola de Ouro em 1971 e 1976, e sempre é mencionado ao lado grandes nomes do futebol como Diego Maradona, Michel Platini e Pelé.

Na Bundesliga, Beckenbauer atuou por mais tempo no Bayern de Munique, pelo qual estreou aos 18 anos. O filho de um secretário dos correios marcou 44 gols em um total de 424 jogos e conquistou diversos títulos nacionais e internacionais pelo seu clube. Em 1969, 1972, 1973 e 1974, a “figura luminosa” do futebol alemão venceu o campeonato alemão e conseguiu vencer três vezes a Liga dos Campeões da UEFA (1974-76). Em 1977, ele atravessou o Atlântico para o Cosmos New York pela taxa de transferência então recorde de 2 milhões de dólares e venceu o campeonato dos EUA três vezes consecutivas com Pelé (1977-1980) no mesmo time

Depois de comemorar o campeonato novamente com o HSV em 1982, após retornar à Bundesliga, ele encerrou sua gloriosa carreira de jogador em 1983 no Cosmos New York.

Carreira como dirigente
Beckenbauer apareceu pela primeira vez como chefe da seleção alemã em 1984, quando substituiu Jupp Derwall após a eliminação na fase preliminar do Campeonato Europeu na França. 
Beckenbauer alcançou seu maior sucesso como líder da equipe na Itália em 1990, quando se tornou campeão mundial invicto com a seleção alemã. Quatro anos antes, já havia conquistado o segundo lugar na Copa do Mundo do México.


Alessandro Giannini, Esporte - VEJA


domingo, 23 de julho de 2023

O agro brasileiro e o idiota-padrão - Revista Oeste

J. R. Guzzo

Nunca o mundo precisou tanto do Brasil para comer — o agronegócio do país alimenta 1 bilhão de pessoas, ou cinco vezes a população nacional. É ruim isso? A esquerda diz que é.

 

 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
 
 
Os intelectuais de esquerda, mais os jornalistas, os economistas das grandes e pequenas universidades, os bispos, o papa Francisco, a ministra Marina, os advogados democráticos que acreditam na natureza divina de Lula, os apresentadores da Rede Globo e os robôs da causa do “clima” têm uma história impecável de apoio a muitas das ideias mais estúpidas que já ocorreram ao ser humano ou a todas, provavelmente. 
 
Uma das mais notáveis e mais na moda, nessa gente e nas classes culturais dos Estados Unidos e dos países ricos em geral, é a descoberta de que o agronegócio brasileiro é o culpado pela “fome no Brasil”.  
É também uma ameaça para o mundo inteiro. 
Os 225 milhões de bois e vacas que o Brasil tem hoje cometem o crime de provocar o “efeito estufa” e o “aquecimento global”.  
A soja e o milho “degradam a vegetação natural do cerrado”
Os frangos, nas granjas de alta tecnologia do Brasil, vivem em condições inaceitáveis de estresse. 
 A perfuração do solo em busca de água está entortando o eixo de inclinação da Terra — quer dizer, o sujeito fura um poço artesiano em Jundiaí e o planeta sai do lugar.  
O presidente Emmanuel Macron diz que os “incêndios na Amazônia” estão tirando o “nosso ar”
A lista não para — nessa toada, os agricultores e os pecuaristas brasileiros vão ser levados amanhã ou depois ao Tribunal Internacional de Haia para responder por crimes contra a humanidade. 

Capa da Revista Oeste, edição 99. Vista aérea de uma plantação de café no Brasil | Foto: Alf Ribeiro/Shutterstock

 
O governo Lula, é claro, se declara automaticamente solidário a todas as acusações contra o Brasil quanto mais cretina a acusação, aliás, mais solidário fica. Tudo bem: a esquerda brasileira tem um instinto infalível para ficar do lado errado de todas as questões possíveis — do seu apoio às ditaduras à guerra contra a liberdade de expressão na internet. 
É natural que fique contra a produção rural do seu próprio país, que, para piorar as coisas, é uma prova objetiva de que o capitalismo transformou o Brasil de um anão agrícola num dos dois ou três maiores produtores de alimentos do mundo, ao lado dos Estados Unidos e da China
Curiosa, mesmo, é a noção de que o agro brasileiro causa fome — cada vez mais em voga nos salões da Quinta Avenida, nas conversas de intervalo da Ópera de Paris ou nos decretos da Universidade de Oxford, que nos instruem sobre o que é, ou não é, científico
 
O petista-padrão, é claro, concorda.  
Não entende direito o que estão dizendo, mas fica a favor. 
O problema é a lenda que vai sendo criada no mundo considerado culto, civilizado, racional etc. em relação à maior conquista da economia brasileira nos últimos 500 anos. 
Essa lenda é frontalmente oposta à lógica, aos fatos e à razão. 
Mas é aceita com a mesma segurança com que se admite a existência dos números primos ou da Lei da Gravidade de Newton.

Como é possível, no funcionamento normal dos circuitos cerebrais, dizer que uma atividade que produz alimento está causando a fome?
 
(...)
 
Até 1970, discutia-se a sério a “escassez de alimentos no Brasil” — a falta de comida era apontada como uma ameaça clara e presente, que iria, entre outras desgraças, “paralisar a indústria”. 
O Brasil importava alimentos. Um pouco antes, na década de 1950, só havia máquinas agrícolas em 2% das propriedades rurais do país. 
Em 1975, após 500 anos de atividade, a área rural brasileira produziu uma safra de 40 milhões de toneladas de grãos. E hoje?  
Este ano, apenas cinco décadas depois, vai colher oito vezes mais. 
O agronegócio brasileiro, em menos de 50 anos, conseguiu criar a primeira agricultura tropical bem-sucedida da história — a única, na verdade, com esse volume de produção, de renda e de avanço tecnológico. 
 
O Brasil, ao lado da China e da Índia, é um dos maiores sucessos da “Revolução Verde” que mudou a existência humana em nossos dias e tornou possível um mundo com 8 bilhões de habitantes.  
O agro brasileiro está permitindo que a população mundial, hoje, coma mais carne que em qualquer outra época — e que gente que nunca comeu um bife na vida tenha conseguido comer. 
Vai produzir, em 2023, mais de 10 milhões de toneladas de carne, e abater mais de 40 milhões de bois — o que tornou o Brasil o maior exportador de carne do mundo, e o segundo maior produtor, logo abaixo dos Estados Unidos.  
É, como dito acima, o maior exportador mundial de frango; foram cerca de 5 milhões de toneladas no ano passado, para 150 países. 
A mesma indústria produziu quase 50 bilhões de ovos no ano passado — isso mesmo, 4 bilhões de dúzias
O Brasil está em primeiro lugar, igualmente, nas exportações mundiais de soja, de milho, de açúcar, de suco de laranja e de café. Tudo isso, naturalmente, teve um efeito decisivo na redução da miséria no país — caiu a 1,9% da população em 2020, segundo números do Banco Mundial, ou cerca de 4 milhões de pessoas.  
É o índice mais baixo desde que começaram a fazer essas contas. 
Como poderia haver “33 milhões de pessoas passando fome” no Brasil, como diz Lula, ou “130 milhões”, como diz sua ministra da natureza, se só há 4 milhões de miseráveis? Não interessa. 
Os devotos da religião oficial querem passear com boné do MST — ou dizer em Londres que o agronegócio provoca “a fome” no Brasil, além de ser “bolsonarista” e coisa ainda pior.

.....

Ninguém, na discurseira do governo Lula, parece ter notado um fato essencial: o agronegócio brasileiro, hoje, vale mais que toda a produção de petróleo da Arábia Saudita. 
 O Brasil, no ano passado, exportou US$ 160 bilhões; as exportações de petróleo da Arábia ficaram em US$ 150 bilhões. 
O agro ajuda a pagar todas as importações do Brasil — e, além disso, contribuiu decisivamente, no ano passado, para o saldo de US$ 60 bilhões obtido pela balança comercial. É dinheiro que se soma às reservas em moeda forte, nos impede de ser um país-mendigo de chapéu na mão diante dos credores e paga as viagens de Lula e Janja em seu programa de volta ao mundo.  
Dá para imaginar algum país sério que ache bom acabar com a sua produção de petróleo? Não dá. A esperança é que, na hora de agir como adulto, o Brasil deixe de lado a pregação suicida dos seus extremistas. 
É bom observar, a respeito, que Lula sempre fala muito mais do que faz — no caso do agro, fica mostrando as abóboras do MST, mas na vida real seu governo acaba de aprovar o financiamento da safra, e o volume de dinheiro liberado é maior que o de 2022. 
É o que está valendo no momento. Vamos ver, agora, se os cérebros do PT começam a exigir o extermínio das lavouras de soja e do rebanho de gado do Brasil — ou se, como de costume, continuam fazendo o que sempre fazem.

Leia também “A diplomacia das ideias mortas”
 
 
Revista Oeste - ÍNTEGRA DA MATÉRIA
 
J. R. Guzzo, colunista

segunda-feira, 1 de maio de 2023

O tratado internacional mais perigoso já proposto - Molly Kingsley

Revista Oeste

Com a proposta, um sistema global de “certificados de saúde” digitais para a verificação da situação vacinal ou dos resultados de exames se tornaria rotineiro


Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

A história humana é uma história de lições esquecidas. Apesar do colapso catastrófico da democracia europeia nos anos 1930, parece que a lenda do século 20 — em que cidadãos, amedrontados por ameaças existenciais, aceitaram rejeitar a verdade e a liberdade em favor da obediência e da propaganda política, enquanto permitiam que líderes despóticos assumissem poderes ainda mais absolutistas — está perigosamente perto de ser esquecida.

Em nenhum lugar isso fica mais evidente do que em relação à aparente displicência com que foram recebidos dois acordos internacionais que estão a caminho da Organização Mundial da Saúde: um novo tratado pandêmico e as emendas ao Regulamento Sanitário Internacional de 2005. Ambos devem ser apresentados ao órgão diretor da OMS, a Assembleia Mundial de Saúde, em maio do ano que vem. Como pesquisadores e juristas preocupados já detalharam, esses acordos ameaçam reformular fundamentalmente a relação entre a OMS, os governos nacionais e os indivíduos.

Eles transformariam em legislação internacional uma abordagem vertical supranacional à saúde pública em que a OMS, atuando em alguns casos por meio do discernimento de um único indivíduo, seu diretor-geral, teria poderes de impor diretrizes amplas e legalmente obrigatórias a Estados membros e seus cidadãos, que vão desde a imposição de contribuições financeiras de governos até o requerimento de produção e distribuição internacional de vacinas e outros produtos de saúdepassando pela exigência de cessão de direitos de propriedade intelectual, pela suplantação de processos de aprovação de segurança nacionais para vacinas, terapias genéticas, equipamentos e diagnósticos médicos e pela determinação de quarentenas nacionais, regionais e globais que impeçam os cidadãos de viajarem e imponham exames e tratamentos médicos. OMS teria poderes de impor diretrizes amplas e legalmente obrigatórias a Estados membros e seus cidadãos | Foto: Shutterstock

Um sistema global de “certificados de saúde” digitais para a verificação da situação vacinal ou dos resultados de exames se tornaria rotineiro, e uma rede de biomonitoramento cujo propósito seria identificar vírus e variantes de interesse e monitorar a adesão nacional a diretrizes políticas da OMS nesses casos — seria incorporada e expandida.

Para que qualquer um desses amplos poderes seja invocado, não seria necessário haver uma emergência sanitária “real”, em que as pessoas estejam sofrendo danos consideráveis, na verdade, bastaria que o diretor-geral, agindo por seus próprios critérios, identificasse o simples “potencial” dessa emergência.

É difícil superestimar o impacto dessas propostas na soberania dos Estados membros, nos direitos humanos, nos princípios básicos da ética na medicina e no bem-estar das crianças
Em suas versões atuais, essas propostas negariam a autonomia do governo e a soberania do Reino Unido em priorizar políticas sociais e sanitárias e, por meio dos impactos indiretos das quarentenas e dos lockdowns forçados, e porque cada Estado membro seria obrigado a comprometer um mínimo impressionante de 5% de seu Orçamento nacional para a saúde e uma porcentagem ainda não especificada de seu PIB para a prevenção e a resposta à pandemia da OMS, além dos aspectos críticos de política econômica.

O uso de máscaras, o lockdown, a aceitação de novas vacinas. Todas essas medidas foram incorporadas às propostas como diretivas potencialmente obrigatórias, a serem impostas a Estados membros e, em consequência, aos cidadãos individuais

Os novos poderes propostos representariam um conflito não apenas
à Declaração Universal de Direitos Humanos, mas também à Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU. 
Eles representariam um divisor de águas na nossa compreensão de um pilar dos direitos humanos: uma emenda ao Regulamento Sanitário Internacional apaga o trecho que atualmente diz que “a implementação deste Regulamento será feita com pleno respeito à dignidade, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais das pessoas” para substituí-lo por “implementação deste Regulamento será feita com base nos princípios de igualdade, inclusão, coerência…”.

As disposições exigem
(ênfase minha) em particular que a OMS desenvolva orientações reguladoras ágeis para a “rápida (ou seja, relaxada) aprovação de uma vasta gama de produtos de saúde, incluindo vacinas, terapias genéticas, equipamentos médicos e diagnósticos ameaçam, aos olhos dos juristas, “padrões muito reivindicados de legislação médica, cujo objetivo é garantir a segurança e a eficácia de artigos médicos” e deveria ser motivo de preocupação especial para os pais.

De fato, nada nesses documentos obrigaria a OMS a diferenciar suas orientações obrigatórias pelo seu impacto em crianças, permitindo assim que medidas indiscriminadas, incluindo testagem em massa, isolamento, restrições a viagens e vacinação possibilitando que produtos experimentais e em fase de investigação tenham sua aprovação acelerada —, sejam impostas a populações pediátricas saudáveis, com base em uma emergência real ou “potencial” declarada unilateralmente pela diretoria. Os novos poderes propostos representariam um conflito também à Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU | Foto: Shutterstock

Como se isso não fosse suficientemente problemático, o que agrava as coisas é que, como escreve Thomas Fazi, “a OMS está em grande parte sob o controle do capital privado e de outros interesses escusos”. Como, e outros explicam, a estrutura de financiamento em evolução da organização e em particular a influência de corporações com foco em soluções em resposta a pandemias (vacinas, predominantemente) afasta a OMS de seu éthos original de promover uma abordagem democrática e holística à saúde pública e aproxima a organização de abordagens corporativas baseadas em commodities que “geram lucro para seus financiadores privados e corporativos” (David Bell). Mais de 80% do orçamento da OMS hoje vem de fundos “especificados” na forma de contribuições voluntárias tipicamente destinadas para doenças e projetos específicos na forma especificada pelo financiador. 

Aulas de História
“A história não se repete, mas ensina”, afirma o prólogo do livro Sobre a Tirania: Vinte Lições do Século XX para o Presente, de Timothy Snyder. Se ao menos nos dedicássemos a ensinar, haveria lições para aprender sobre o tanto que já avançamos no caminho da tirania do autoritarismo pandêmico e como, se os planos da OMS avançarem, a pandemia da covid-19 pode revelar que foi apenas o começo.

“Não obedeça de antemão”, alerta a Lição 1, e de fato hoje pareceria que a obediência voluntária foi dada de forma tão descuidada pelos cidadãos do mundo em 2020-22 — o uso de máscaras, o lockdown, a aceitação de novas vacinas. Todas essas medidas, e outras, foram incorporadas às propostas como diretivas potencialmente obrigatórias, a serem impostas a Estados membros e, em consequência, aos cidadãos individuais.

“Defenda as instituições”, aconselha a Lição 2, uma vez que “as instituições não se protegem sozinhas”; trata-se de um lembrete preocupante à luz da autodesignação da OMS nessas propostas, como “a autoridade coordenadora e orientadora para as reações internacionais de saúde pública”: uma designação que colocaria expressamente a organização acima dos Ministérios Nacionais da Saúde e dos Parlamentos eleitos e soberanos.

A Lição 3, “Cuidado com o Estado de partido único”, nos faz lembrar que “os partidos que reconstruíram os Estados e suprimiram os rivais não foram onipotentes desde o começo”. A OMS não finge ser um partido político, mas tampouco vai precisar fazer isso depois de se ordenar a controladora global exclusiva não apenas de identificação de pandemias e pandemias em potencial, mas também da elaboração e da execução das respostas, enquanto garante para si mesma uma vasta rede de monitoramento de saúde e uma força de trabalho global — parcialmente financiada pelos impostos das nações sobre as quais a OMS vai se impor — proporcional ao seu novo status supremo.

“Lembre-se da ética profissional” Lição 5 — teria sido um conselho sensato em 2020, mas, por mais que lamentemos o abandono da ética médica da nossa perspectiva em 2023 (“se os médicos tivessem obedecido à regra que proíbe cirurgias sem consentimento”, lamenta Snyder em relação à tirania do século 20), as propostas da OMS garantiriam que esses desvios dos pilares fundamentais da ética na medicina — consentimento informado, desconsideração pela dignidade humana, pela autonomia sobre o próprio corpo e até pela liberdade em relação a experimentos — podem se tornar a norma aceita, em vez de uma exceção deplorável.

Atenção, alerta Snyder, com “o desastre repentino que exige o fim dos mecanismo de controle… esteja atento às noções fatais de emergência e exceção”. Divulgadas como um passo necessário para a conquista da coordenação e da cooperação de saúde pública global, as propostas da OMS criariam uma administração e uma infraestrutura de monitoramento permanente e global, cuja razão de ser será buscar e reprimir emergências sanitárias.

O financiamento dessa rede virá de interesses privados e corporativos e deve se beneficiar financeiramente das possíveis reações baseadas em vacinação; assim, as oportunidades de exploração privada de crises de saúde pública serão enormes. E, ao ampliar e antecipar as circunstâncias em que esses poderes podem ser acionados — deixa de ser preciso haver uma emergência de saúde pública “real”, basta uma emergência “potencial” —, podemos esperar que a ameaça de um Estado de emergência excepcional se torne uma característica semipermanente da vida moderna.

“Acredite na verdade”, afirma a Lição Dez — uma vez que “abandonar os fatos é abandonar a liberdade” , é adequada à nossa era orwelliana de “duplipensar”, os slogans ganham status de religião e a ideologia se faz passar por integridade: “Seguro, esperto e gentil” (dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, 2020). O que George Orwell diria, podemos nos perguntar, da Unidade de Combate à Desinformação do Reino Unido e do Ministério da Verdade dos Estados Unidos, ou das propostas que não apenas permitem, mas exigem que a OMS desenvolva capacidade institucional para impedir a disseminação de desinformação e fake news – e ungida como a única fonte de informação de verdade sobre a pandemia?  
George Orwell | Foto: Wikimedia Commons

O que Hannah Arendt diria das intrusões de 2020-22 do Estado na vida privada dos indivíduos e das famílias e dos consequentes períodos de isolamento e — em decorrência da adoção do isolamento forçado e da segregação como ferramentas de saúde pública respeitáveis — da elevação dessa destruição da vida privada a uma norma aceita mundialmente? “Assuma responsabilidade para com o mundo”, afirma Snyder na Lição 4. Poderia haver um símbolo mais potente das manifestações de lealdade visíveis da sociedade ao novo normal do que os rostos cobertos por máscaras de 2020-21?

“O preço da vigilância é a eterna liberdade” é uma citação não menos verdadeira por ser erroneamente atribuída a Jefferson, mas depois da vida em meio aos escombros do autoritarismo fracassado da covid-19 por três anos. Talvez estejamos próximos demais para compreender quanto já nos afastamos da democracia liberal.

Mesmo que alguém concordasse sinceramente com o enfoque da OMS nos preparativos para pandemias e com as respostas intervencionistas geradas por ele, atribuir poderes tão amplos a uma organização supranacional (quanto mais a um indivíduo dentro dela) seria assombroso. Isso, como a reação à pandemia ilustrou de forma tão brutal, a versão otimizada para o lucro do “bem maior” almejado pela OMS tende a entrar em conflito com a saúde e o bem-estar das crianças, nos pede para aderir a um erro grotesco contra nossas crianças e jovens.

A lição mais importante de Snyder talvez seja “Destaque-se. No momento em que você dá o exemplo, quebra-se o encanto exercido pelo statu quo”. O Reino Unido foi suficientemente investido de soberania nacional para se retirar do Reino Unido um exemplo de democracia em comparação com a OMS não eleita; sem dúvida seria impensável navegar por propostas que fariam o Reino Unido a abrir mão de sua soberania sobre políticas públicas fundamentais de saúde, sociais e econômicas para a OMS.

Molly Kingsley é cofundadora da UsForThem, uma iniciativa de pais formada em maio de 2020 contra o fechamento das escolas. Desde então, o grupo teve a adesão de milhares de pais, avós e profissionais em todo o Reino Unido e outros locais, defendendo a ideia de que as crianças sejam priorizadas na reação a pandemias e em outras situações

Leia também “O espetáculo sinistro das ditaduras”
 

sábado, 18 de junho de 2022

Cuidado com o Zeitgeist! - A Sociedade Secreta dos Pensamentos Politicamente Incorretos e Potencialmente Perigosos - Gazeta do Povo

Vozes - Paulo Polzonoff Jr.
 
Num dia qualquer , o parvo e faminto “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” foi sequestrado e intimado a fazer parte de uma sociedade secreta. Num dia qualquer , o parvo e faminto “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” foi sequestrado e intimado a fazer parte de uma sociedade secreta.Num dia qualquer , o parvo e faminto “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” foi sequestrado e intimado a fazer parte de uma sociedade secreta.

Num dia qualquer , o parvo e faminto “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” foi sequestrado e intimado a fazer parte de uma sociedade secreta.| Foto: Pixabay

Era um dia assim como hoje. “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”, que de politicamente incorreto e potencialmente perigoso só tinha a cara e o jeito de andar, caminhava à toa pela Vie de las Sinapses, olhando as vitrines e se demorando para atravessar as ruas. Sempre ensimesmado e perdido, o coitado. De repente, um carro parou bruscamente ao lado dele. Do automóvel emergiram dois brutamontes. “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” não teve tempo de fazer nada. Nem de dizer o próprio nome. Quando percebeu, já estava encapuzado e sendo colocado no porta-malas do veículo.

Hoje convencê-lo-ei a nunca, jamais, em hipótese alguma usar mesóclise


O destino era ali perto. Os brutamontes tiraram o capuz de “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” e mandaram que ele agisse com naturalidade. “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” riu e teve vontade de dizer que não sabia agir de outra maneira, mas achou melhor ficar quieto. Entraram os três no Elecubrations Tower, um edifício torto de cinco mil andares, com vista para a Amígdala e o Hipotálamo. Dizia a lenda que apenas o loucos habitavam aquele prédio, mas “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” não conhecia a lenda. Elegantemente coagido por seus raptores, ele entrou no elevador.

Que abriu suas portas amplas, cada qual do tamanho de um nanocampo de futebol, para um corredor aparentemente infinito. Seguiram os três até onde se cruzam as paralelas. Lá esperavam por eles cinco pensamentos estranhos, vestindo trajes ridículos que combinavam moda inca e escandinava. Acho. De algum lugar, soaram trombetas ritualísticas. E até um gongo – ou fui só eu que ouvi? Os brutamontes se afastaram e “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” ficou ali, esperando ansiosamente que alguma coisa acontecesse. Ou que lhe oferecessem ao menos um aperitivo.

Finalmente o mais velho dos pensamentos, “Toda Autoridade Pode Ser Questionada”, deu um passo à frente. As trombetas silenciaram. Com uma voz retumbante, ele pediu desculpas pela rispidez de seus capangas, mas aproveitou a ausência de “Todo Clichê É Uma Porcaria” para explicar que tempos como os que eles estavam vivendo exigiam medidas drásticas. E até um pouco estúpidas. “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” não disse nada. “Toda Autoridade Pode Ser Questionada”, então, achou que era uma boa hora para se apresentar e apresentar os demais.

- Somos a Sociedade Secreta dos Pensamentos Politicamente Incorretos e Potencialmente Perigosos – explicou para um “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” atento, ainda que faminto. Mas pode nos chamar de SS. É, é. Eu sei. Se preferir, chame de 2S4P1I. Nós nos reunimos aqui todas às quintas-feiras para jogar truco e falar bobagem. E também mantemos um abrigo onde os pensamentos mais politicamente incorretos (aqueles cabeludos mesmo) podem passar toda a vida sem incomodar ninguém.

“O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”
continuou em silêncio. Até que estava interessante a palestrinha. Foi quando atravessou correndo o salão um pensamento estranho: baixinho, peludo, gordinho e manco. E nu. Passou gritando um “aaaaaahhhhhh!” desesperado. Sem saber se podia rir daquilo, “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” riu mesmo assim. Que se dane!

- Não ligue. Este é o “Tá Tudo Muito Confuso. Não Tô Entendendo Nada!”. Ele é chucro assim mesmo. Como eu falava antes de ser interrompido, somos uma sociedade secreta. Por isso nos vestimos assim, com essas capaz e esses balangandãs. E é por isso também que temos todos esses símbolos aqui atrás, ó. Ah, esqueci de apresentar meus colegas. E de me apresentar. Eu sou o “Toda Autoridade Pode Ser Questionada”. Virei Grão-Doutor depois que “Fumar É Bom” morreu de câncer. À minha esquerda tenho os Grão-Mestres “O STF Está Moralmente Corrompido” e “A Democracia Tem Defeitos” e os Grãos-Graduados “Urnas Eletrônicas Não São Confiáveis” e “O Poder Do Voto É Ilusório”.

- E eu? Não vai me apresentar, não? – perguntou “Ideologia de Gênero É Algo Diabólico”.

- Ah, sim, temos também o “Ideologia de Gênero É Algo Diabólico”. Isto é, enquanto o Departamento Jurídico permitir. - “Toda Autoridade Pode Ser Questionada” soltou um longo e melancólico suspiro. Tão longo que ele ainda está suspirando. Calma. Agora, sim, acabou o fôlego. Retomando: - E é justamente por isso que estamos recrutando pensamentos aleatórios em todos os neurônios possíveis desta cabecinha privilegiada. É que corremos um grande perigo. Estamos sendo exterminados um a um. E às vezes até dois a dois.

- E, desta vez, não é pelo Superego! – esclareceu “A Democracia Tem Defeitos”.

- Não é pelo Superego. Que Deus o tenha! É pelo... Pelo... Pelo... – “Toda Autoridade Pode Ser Questionada” parecia incapaz de mencionar o nome de seu algoz. – Pelo Zeitgeist & a Máfia dos Slogans.

- Zeitgeist é o “Espírito do Tempo” em alemão – explicou o pernóstico “Urnas Eletrônicas Não São Confiáveis”. – E a Máfia dos Slogans todo mundo conhece. Just Do It, Brasil Um País de Todos, Lute Contra a Extinção... Difícil quem nunca se deparou com um desses bandidos.

- E é contra eles que precisamos lutar. Ou pelo menos sobreviver. Nosso truco, nossas bobagens e nosso abrigo para pensamentos politicamente corretos correm perigo. E você, filho, tirou a sorte grande. Você talvez não saiba, mas é uma grande honra fazer parte da nossa sociedade secreta, que já teve filiais nas mentes dos grandes gênios da humanidade. Leonardo da Vinci, Newton, Shakespeare...

- E nas de alguns idiotas também – interveio “O Poder Do Voto É Ilusório”, sem mencionar nomes. E precisa?

Todo mundo riu. “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”, mesmo sem entender a piada, riu também, na esperança de que depois de todo aquele palavrório lhe servissem ao menos um salaminho. As gostosas risadas foram interrompidas mais uma vez por “Tá Tudo Muito Confuso. Não Tô Entendendo Nada!” e seu espetáculo deprimente que unia nudez, banha e histeria.

- E então, filho. Você aceita o desafio? Oferecemos plano de saúde, plano odontológico e participação nos resultados. Dependendo, dá até para ver com o RH se descolam uma vaga no estacionamento para você. Ah, sim, e você também ganha essa roupinha linda aqui – disse “Toda Autoridade Pode Ser Questionada”. Antes que “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” pudesse responder, porém, o Grão-Doutor perguntou. – Qual o seu nome, filho?

- “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” – respondeu “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”.

- Acabei de te explicar. Somos a Sociedade Secreta dos Pensamentos Politicamente Incorretos e Potencialmente Perigosos, a SSPPIPP, mas pode chamar de SS mesmo. A maldade está nos olhos de quem quiser interpretar isso errado. Não tô nem aí. Nós estamos sendo ameaçados. Zeitgeist. Slogans. Etc. Quer se juntar a nós?

- Quero – respondeu “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” só para acabar de uma vez com aquilo e ainda sonhando com canapés e docinhos.

Os grãos-pensamentos se entreolharam. Naquele silêncio mancomunado, cada qual vislumbrava o dia em que, com a ajuda daquele pensamentozinho com cara de parvo ali, recuperariam o controle da mente privilegiada que habitavam.

- Ótimo. Vou mandar providenciar a carteirinha. Mas como é o seu nome, meu filho?

- “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” – respondeu “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”.

- Mas não é possível! Já expliquei duas vezes! Parece que não vai ser dessa vez que nossa sociedade terá um gênio novamente... Qual o seu nome, filho?

- “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” – respondeu “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”.

E ficaram nessa durante algumas horas. Até que a Máfia dos Slogans, liderada pela amazona “A Democracia Corre Perigo!”, invadiu a sala. Zeitgeist veio logo atrás, empunhando a assustadora Espada do Cala-Boca. Os pensamentos politicamente incorretos até tentaram sacar suas armas, mas Zeitgeist & Máfia dos Slogans foram mais rápidos e mataram todo mundo. Menos “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”, que parecia invisível em sua parvoíce.

Enquanto tudo isso acontecia no Elucubrations Tower, não muito longe dali, no Café des Pensées , “Só Sei Que Nada Sei” e “Amai ao Próximo Como a Ti Mesmo”, alheios às ameaças que os cercavam, jogavam dominó.
Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Os 51 milhões de Guedes não roubados “versus” os 10 trilhões do pt, roubados- Sérgio Alves de Oliveira

Os 51 milhões de Guedes não roubados “versus” os 10 trilhões do pt, roubados

O enorme destaque dado pela grande mídia à aplicação financeira de Paulo Guedes,  ministro da Economia, numa “offshore”do paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas,no valor em dólares americanos correspondente à quantia de 51 milhões de reais, sem que haja qualquer indício, acusação, ou mesmo suspeita de origem ilícita, já que não é nada raro um banqueiro, como Guedes, como também qualquer jogador de futebol famoso, mesmo que “reserva” dos grandes times, possuir quantia desse porte, sem dúvida foi muito além do destaque dado por essa mesma grande mídia aos 10 trilhões de reais roubados do erário pela esquerda enquanto governou.

A eventual irregularidade para fins éticos ou tributários da aplicação dos 51 milhões de Guedes, num paraíso fiscal, significa mais ou menos um valor que corresponde a duas milhões (2.000.000) de vezes MENOS do que a quantia roubada do erário pela esquerda de 2003 a 2016. Mas as páginas dos jornais e o tempo de rádio e televisão dedicados à pretensa irregularidade de Guedes tem sido imensamente superior à cobertura que (não) deram aos 10 trilhões roubados pelo PT, enquanto governo.

A “Lenda dos Nove Desconhecidos” remontaria à época do Imperador Ashoka (304 a.C - 232 a.C),das Antigas Índias. Seriam eles nove sábios, cada qual deles dominando determinada ciência, que eram mantidas secretas pelo fato dos povos não estarem ainda preparadas pera dominá-las. O primeiro desses livros, considerado o mais importante de todos, tratava da “´propaganda” e da “guerra psicológica”,porque os sábios tinham plena consciência que aquele que dominasse essas ciências também poderia dominar o mundo.

Mas as versões dadas pela imprensa aos fatos podem configurar ,e de fato muitas vezes configuram,“propaganda”,ou “guerra psicológica”. Foi o que fizeram com os 51 milhões aplicados no paraíso fiscal por Guedes, conseguindo com isso abafar, inverter e corromper valores, fazendo cair no esquecimento os desvios de 10 trilhões durante os governos do PT. Transformaram os “10 trilhões” do PT,roubados, em “merreca”, e os “51 milhões” de Guedes,não roubados,quase batendo no PIB.

Os “camaradas”, íntimos e sócios da grande mídia,que roubaram “trilhões” do erário, usaram e abusaram da famosa frase de Lenin:”Acuse os adversários do que você faz,chame-os do que você é”. Tentaram sepultar os 10 trilhões que roubaram, substituindo-os pelo investimento de 51 milhões que Guedes fez no paraíso fiscal.

É por essa razão que os sábios da “Lenda dos Nove desconhecidos”,do tempo do Imperador Ashoka, que diziam que o mundo poderia ser dominado pela propaganda e pela guerra psicológica, estavam absolutamente certos. O que o PT roubou (10 trilhões) enquanto governou praticamente desapareceu, por força da grande mídia, frente aos 51 milhões aplicados por Guedes nas Ilhas Virgens Britânicas.

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo 

 

sexta-feira, 30 de julho de 2021

A verdade ressuscitada - Augusto Nunes

Documentário sobre Cuba rasga fantasias dos devotos de ditaduras

Com o uniforme de oficial de cordão carnavalesco, um charuto hospedado no canto da boca, Fidel Castro está de saída do Congresso do Partido Comunista Cubano promovido em 1975. No poder há 16 anos, o ditador quarentão está em boa forma: depois de discursar por 20 horas seguidas, não exibe sinais de cansaço. Só parece intrigado com aquele carrinho de bebê ao lado de três cinegrafistas que acompanham a movimentação da lenda em seu apogeu. Fidel se aproxima do carrinho que, em vez de passageiros da primeira infância, transporta instrumentos indispensáveis a quem trabalha no mundo do cinema. Mira o jovem desconhecido e pergunta quem carrega aquilo: ele ou ela? Ele é Jon Alpert, ainda um novato na arte que o transformaria em celebridade. Ela é Keiko Tsuni, mulher de Alpert. Câmeras de vídeo digital da primeira geração são bastante pesadas, explica o marido. Fidel ensaia a retirada e é detido pelo convite audacioso: “Tem uma mensagem para o povo dos Estados Unidos?”. Assim começou a primeira conversa entre o jornalista principiante e o homem que havia dois anos não concedia entrevistas à imprensa ianque.

O mais loquaz orador do Caribe ficou uns poucos segundos em silêncio antes de declamar a mensagem. Louvou as virtudes dos norte-americanos comuns, elogiou os esforços dos intelectuais e trabalhadores e desejou-lhes sorte. “Quanto ao governo”, ressalvou, “todos sabem que não há nenhuma simpatia entre os governos de Cuba e dos Estados Unidos.” Foi a primeira (e a mais curta) das muitas conversas que teriam nas quatro décadas seguintes. Em 2016, às vésperas do 90º aniversário do ditador aposentado, encontraram-se pela última vez na casa de Fidel em Havana. O anfitrião depauperado autografa o colete de trabalho do visitante. Agora um sessentão grisalho, Alpert beija o rosto da lenda em seu crepúsculo. Ele voltaria semanas depois para filmar o sepultamento do fundador do regime comunista. Ao partir de Havana, levava o material que faltava para a edição do melhor de todos os grandes documentários que concebeu: Cuba e o Cameraman, lançado nos EUA em 2017 e incorporado recentemente ao catálogo brasileiro da Netflix.

Documentaristas interessados no resgate de períodos históricos vivem derrapando em roteiros que enfileiram entrevistas cara a cara tão excitantes quanto um desfile militar na Bolívia. Alpert reconstituiu a trajetória de Cuba entre os anos 70 e a morte de Fidel amparado num microcosmo composto de interlocutores selecionados com argúcia e sensibilidade — e dividido em três núcleos. Os irmãos Borrego são agricultores que aram a terra com juntas de bois. O negro Luis Amores e seus amigos sobrevivem com transações comerciais situadas na difusa fronteira que separa a contravenção do crime. E Caridad tenta resistir ao lado do casal de filhos à desesperança que começou com a renúncia ao sonho de prosperar como enfermeira. Os diálogos e imagens resultantes das visitas aos vértices desse triângulo e das conversas com Fidel fazem de Cuba e o Cameraman o mais soberbo, tocante, honesto e revelador documentário sobre a Era Fidel. 

Graças às sucessivas incursões pela ilha, Alpert se torna uma espécie de primo norte-americano dos integrantes do elenco e um amigo temporão do líder revolucionário. Nada disso impede que veja as coisas como as coisas são e conte o caso como o caso foi. Na primeira viagem a Havana, era um admirador dos revolucionários triunfantes. A visita derradeira foi feita por mais um ferido pela decepção. Em nenhum momento o cameraman emite juízos de valor, opina ou argumenta. O que mostra dispensa manifestos e discurseiras. Ao longo de 154 minutos, o palco do drama estaciona no tempo ou piora. Só não mudam os carrões norte-americanos que sacolejam nas ruas seja qual for o ano, o dia ou a hora da visita de Alpert.

Sem barulhos nem berreiros, o documentário implode mitos e crendices plantados pelos jardineiros do paraíso socialista no Caribe. O sistema de educação é gratuito e universal, certo? “Gostaria de comer mais”, diz uma estudante instada a revelar seu maior desejo. Nenhum cubano passa fome? “Ninguém consegue carne há muitos meses”, lamenta uma mulher na fila do racionamento ao saber que, naquela semana, sua família teria de contentar-se com um pão por dia. Num encontro com os Borrego, Alpert constata que um dos irmãos perdera a voz para o câncer na garganta. Na cena seguinte, ele conversa no hospital desprovido de remédios onde o lavrador ficara internado. Assombrado com a aparência e a idade do instrumento jurássico utilizado na cirurgia, Alpert pergunta ao médico quanto o governo lhe paga por mês. Vinte dólares, ouve. Desolado, o documentarista aparece na visita seguinte com um aparelho que, acoplado ao pescoço, reproduz um som vagamente parecido com a voz humana. A euforia do agricultor octogenário revela as diminutas dimensões dos sonhos possíveis.

O mais repulsivo dos negacionismos é negar que uma ditadura é uma ditadura

Em 1975, as gordas mesadas remetidas pela União Soviética espalharam pela ilha a sensação de que as promessas revolucionárias seriam enfim cumpridas. A enxurrada de rublos financiou casas populares, novas escolas, equipamentos hospitalares, medalhas olímpicas, mais comida e outras razões para animar os intermináveis discursos de Fidel com gritos de Patria o Muerte. Nos anos 80, prédios em decomposição, a universalização da falta de água, o sumiço da coleta de esgoto e outras carências aflitivas prenunciaram mais uma estação tempestuosa. A queda do Muro de Berlim em 1989 e a dissolução da União Soviética dois anos depois anteciparam o pior dos invernos. É o único trecho do documentário que mostra Fidel Castro, um poço de certezas aparentemente inesgotável, sem saber o que dizer. 

Em algumas aparições, para espanto da plateia, vê-se um homem ligeiramente parecido com gente como a gente. Sempre traduzindo em voz alta para o inglês o que ele próprio acabara de dizer em espanhol, Alpert filma e narra momentos em que Fidel exibe o peito nu para provar que não usava coletes à prova de bala, ou garante que não teme atentados porque só morreria quando chegasse a sua hora, ou esparrama o corpo pela cama do quarto na Missão Cubana em Nova York, onde baixara para discursar na Assembleia-Geral da ONU. A bordo do avião que o trouxera de Havana havia um único cidadão norte-americano. Jon Alpert, naturalmente.

Cuba e o Cameraman confirma que o embargo decretado pelos Estados Unidos causa estragos de bom tamanho, mas infinitamente inferiores aos provocados pela economia planificada. Somem a cerveja, o rum, o leite, a carne. Multiplicam-se os exploradores do mercado negro, os traficantes de drogas, os ladrões, entre os quais os que consumiram em churrascos os animais que compõem o patrimônio dos Borrego. Camuflada pela ditadura comunista, a penúria em expansão é escancarada no documentário que, ao mostrar Cuba como Cuba é, torna bem menos surpreendente a onda de protestos que agitou a ilha há poucas semanas. Pena que Alpert não estivesse lá para filmar a verdade torturada por liberticidas sem remédio. O mais repulsivo dos negacionismos é negar que uma ditadura é uma ditadura. E não há patrulha mais torpe do que a que tenta silenciar quem enxerga a nudez do reizinho de estimação.

Essas torpezas ajudam a entender por que a chegada ao Brasil de Cuba e o Cameraman foi escondida pela Netflix e ignorada pelos segundos cadernos dos jornais. No País do Carnaval, os chamados críticos de cinema ficam com cara de criança que viu Nossa Senhora quando topam com idiotices do calibre de Democracia em Vertigem. E têm orgasmos múltiplos quando Petra Costa capricha na voz de quem canta incelenças desde o estágio no berçário. O documentário sobre Cuba comprova que uma Petra só teria chances de juntar-se à equipe que o produziu caso se escondesse no carrinho de bebê. Nesse caso, é provável que Fidel preferisse afastar-se às pressas. E não teria conhecido Jon Alpert.

Leia também “A escuridão da face externa”

Revista Oeste 


segunda-feira, 20 de julho de 2020

A política da negação - Fernando Gabeira

Em Blog

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Hacker ameaça com novas revelações - Veja

Um agosto para não pôr defeito



Por que os advogados de Walter Delgatti Neto, vulgo “O Vermelho”, que confessou à Polícia Federal ter invadido os celulares de mil autoridades, entre elas os chefes dos três poderes da República, soltaram uma nota, ontem, onde informam a quem interessar possa que todas as informações obtidas pelo hacker estão guardadas por “fiéis depositários” tanto no Brasil como no exterior?

Se a advertência não for um blefe, a resposta é simples, segundo pessoas que acompanham de perto as investigações: trata-se de uma ameaça. Delgatti Neto quer dizer com isso que se não for bem tratado poderá revelar informações às quais a Polícia Federal não teve acesso quando apreendeu documentos, celulares e computadores que ele usava até ser preso na semana passada. O mesmo tipo de advertência foi feita pelo jornalista Glenn Greenwald, um dos editores do site The Intercept Brasil, quando começou a publicar há pouco mais de um mês as mensagens trocadas entre si pelos procuradores da Lava Jato de Curitiba, e as de Deltan Dallagnol com o então juiz Sérgio Moro. É um cuidado natural que se toma em casos como esse.

Moro avisou ao presidente Jair Bolsonaro que ele foi hackeado. Vazou da Polícia Federal a notícia de que também foram hackeados os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, e ministros do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, fora ministros do governo e até jornalistas. Quem pagará para ver se os advogados de Delgatti Neto mentiram em sua nota?  Brasília passou o último fim de semana fervendo. E ferverá ainda mais a partir desta semana quando políticos e ministros de tribunais superiores retornarem das férias do meio de ano do Congresso e do Judiciário. Agosto começará na próxima quinta-feira. E diz a lenda que não existe mês mais aziago para a política brasileira. Duvida? Alguns fatos sustentam a lenda.

Em 13 de agosto, em um acidente aéreo, morreu Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e então candidato a presidente da República. Em 22 de agosto, o ex-presidente Juscelino Kubistchek morreu em um acidente de carro. Em 24 de agosto, o presidente Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no coração. Em 25 de agosto, Jânio Quadros renunciou à presidência da República.
Foi também em agosto que uma trombose cerebral retirou da presidência da República o general Arthur da Costa e Silva, substituído por uma junta militar. E em agosto foi derrubada a então presidente Dilma Rousseff por meio de um processo de impeachment. Assumiu o vice Michel Temer, que seria alvo de três denúncias de corrupção e preso ao final do seu mandato.

Por enquanto, ninguém se arrisca a especular sobre os possíveis desdobramentos do mais grave episódio de espionagem da história eletrônica do país, mas que haverá, haverá. Em agosto, a Câmara votará em segundo turno a reforma da Previdência; o nome do garoto Eduardo, aspirante a embaixador do Brasil em Washington, será votado na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
E o site The Intercept promete revelar algumas das mais comprometedoras informações armazenas nos seus arquivos. Emoção não faltará.

 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

As habilidades de Dilma



É preciso acabar de uma vez por todas com a lenda segundo a qual a presidente Dilma Rousseff enfrenta imensas dificuldades políticas porque não é afeita ao varejo das negociações com o Congresso e porque ela tampouco se anima a se expor aos eleitores em busca de popularidade. O desastre de sua presidência não resulta dessas características, e sim de sua incontestável incapacidade de diagnosticar os problemas do País e de ministrar-lhes os remédios adequados. A esta altura, a maioria absoluta dos brasileiros, de todas as classes sociais, já se deu conta de que o problema de Dilma não é sua reclusão ou sua ojeriza aos políticos, mas simplesmente sua incompetência. Prometeram-lhes uma “gerentona” e lhes entregaram uma estagiária. 

Portanto, tende a ser inútil a mais nova ofensiva de comunicação planejada pela assessoria da presidente com o objetivo de reverter o mau humor do País em relação ao governo petista. Inútil porque, enquanto se tenta mostrar uma Dilma mais “humana”, que é o que pretendem os marqueteiros do Planalto, conforme revelado em recente reportagem do Estado, os problemas concretos que resultam de sua má gestão continuarão a assombrar os brasileiros na vida real, especialmente o desemprego, a queda da renda e a inflação. 

A mudança na comunicação de Dilma é tratada como questão de urgência urgentíssima, pois a pressão sobre a presidente é intensa. Estão programadas para o dia 16 de agosto manifestações que, a julgar pela pronunciada queda de popularidade da presidente, devem ter grande afluência e visibilidade. Além disso, crescem as suspeitas de que as falcatruas constatadas pela Operação Lava Jato podem ter ajudado a irrigar as campanhas eleitorais petistas, inclusive a de Dilma. E há também a percepção de que a irresponsabilidade fiscal da presidente ao longo de seu primeiro mandato, maquiada por truques contábeis, pode resultar em um processo que comprometa de vez o seu mandato. Tudo isso se dá em meio à certeza de que sua base no Congresso é apenas nominal, não representando nenhuma garantia de sustentação, especialmente em meio ao azedume da opinião pública nacional com o espantoso escândalo de corrupção na Petrobrás e com o desastre na economia.

Anuncia-se que o novo arsenal de comunicação de Dilma incluirá a participação da presidente em programas populares de TV e também a criação de um site chamado Dialoga Brasil, em que ministros responderão a dúvidas, sugestões e críticas dos internautas sobre programas do governo. Além disso, Dilma pretende fazer um giro por cidades do Nordeste com a difícil missão de tentar demonstrar que ainda tem popularidade – ela teve expressiva votação na região na eleição de 2014, mas mesmo lá, segundo as últimas pesquisas, a desaprovação a seu governo disparou. 

As recentes tentativas de Dilma para melhorar sua imagem foram feitas a partir de iniciativas pessoais, com resultados embaraçosos – ela chegou a saudar a mandioca e a elogiar a “mulher sapiens” em um discurso. Além disso, ao dizer que defenderia seu mandato “com unhas e dentes”, Dilma trouxe o tema do impeachment definitivamente para a pauta política. Até os áulicos da presidente consideraram essas manifestações desastrosas. 

Agora, porém, a mobilização do Planalto parece se dar de acordo com as diretrizes de seu padrinho, o ex-presidente Lula, que várias vezes cobrou de Dilma que viajasse mais pelo País e encostasse “a cabeça no ombro do povo” para ouvir suas queixas. Lula também pretende viajar pelo Nordeste e convencer os movimentos sociais a se mobilizar na defesa de sua afilhada. A estratégia para “vender” um governo ativo, com uma “agenda positiva”, foi combinada por Lula com Dilma em um encontro no  Alvorada na semana passada, segundo o jornal O Globo. 

Dilma, Lula e os petistas agarram-se assim à crença de que basta melhorar a comunicação com os eleitores para que esse combalido governo comece a respirar e a dar a volta por cima. De fato, a atividade política é baseada em imagem, marketing e slogans, mas, como mostram as agruras de Dilma, só isso não é suficiente: se a embalagem do produto vendido estiver vazia, o consumidor se sentirá enganado e não tornará a comprá-lo.

Fonte: Editorial – O Estado de São Paulo