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sábado, 2 de junho de 2018

Esqueceram os anos de chumbo do regime de exceção

Esqueceram os anos de chumbo do regime de exceção

[Durante o Governo Militar havia ordem; os que insistem em atribuir aos militares crimes, certamente defendem os maus brasileiros, terrorista e guerrilheiros que assaltavam e matavam covardemente pessoas de bem, inocentes.

O vídeo abaixo prova tudo - e não havia apenas um 'clemente'.

é possível enfrentar um monstro desses - havia muitos - com flores?] 

 Terrorista, que detalha execução, foi anistiado e indenizado

Depois de três décadas de democracia, defender a intervenção militar no Brasil é bandeira de quem está mal intencionado ou mal informado. Aos menores de 50 anos ainda cabe a justificativa da falta de conhecimento histórico. Aos que têm mais de 50, é recomendado que ativem a memória, pois viveram sob um regime de exceção, que desconhecia direitos, determinava o que podia ou não ser publicado, lido ou assistido nos cinemas, teatros e até nas novelas. [havia ordem, havia mais segurança, atendimento nos hospitais públicos, melhor ensino, havia emprego  e tudo o mais que o Brasil precisava para crescer.] Um sistema autoritário que não admitia contestação, que perseguiu, torturou e matou aqueles que ousaram pensar diferente. A história registra que nas duas décadas da ditadura militar que tomou o País em 31 de março de 1964, 475 pessoas morreram ou simplesmente desapareceram por motivos políticos. E ainda hoje há dezenas de mães que não encontraram sequer ossadas para poder velar seus filhos, cujos sonhos foram interrompidos nas casas da morte mantidas pelo regime. Para elas, o verso “saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”, de Chico Buarque de Holanda, não é poesia. É história real!

Em nome de uma suposta moralidade, de uma falsa ordem pública, do combate ao fantasma do comunismo e de um nacionalismo ufanista, parlamentares como Leonel Brizola, Rubens Paiva, Plínio de Arruda Sampaio, Miguel Arraes e Marcio Moreira Alves foram cassados sem nenhum rito jurídico. Em apenas três meses, os militares retiraram os direitos políticos de 441 pessoas, entre elas os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, seis governadores, 55 deputados e senadores. “Quem viveu sob tantos desmandos sabe que defender a volta da ditadura é um imenso equivoco histórico”, observa o ministro Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. “As ditaduras de qualquer viés ideológico retiram dos cidadãos a possibilidade de escolherem seu destino.”

Ao longo dos anos e dos seguidos Atos Institucionais, que rasgaram qualquer norma jurídica vigente e deram ares de legalidade a um regime de arbítrio, professores, artistas e cientistas se viram forçados a viver no exílio ou na clandestinidade. Estudantes eram massacrados. Operários como Manoel Fiel Filho e jornalistas como Vladimir Herzog foram tirados de suas casas sem nenhum mandado, conduzidos às dependências militares e dias depois apresentados como suicidas, apesar de eloquentes provas que descreviam as torturas sofridas em repetidas sessões de pau de arara, choques elétricos e afogamentos, dentre outras práticas ainda mais perversas. A censura barrava qualquer acesso à informação. Aqueles que se atreviam a falar em direitos humanos, direitos civis ou liberdade de expressão eram rotulados como inimigos do Brasil e entravam na lista das próximas vítimas. [quando no Brasil direitos humanos não eram tão louvados, tão cantados em prosa e verso, e eram concedidos apenas aos HUMANOS DIREITOS, eles eram bem mais respeitados do que hoje em que direitos humanos é assunto 'politicamente correto'.]  Em junho de 1964, o sistema já havia listado cinco mil nomes desses supostos inimigos, que passaram a ter todos os passos controlados e conversas gravadas sem nenhum tipo de autorização judicial. Os generais de plantão no Palácio do Planalto gozavam de amplos poderes. “É fácil pedir ditadura quando se vive em uma democracia. Mas é difícil querer democracia quando se vive em uma ditadura, amordaçados e sem liberdade de expressão”, lembra o senador Humberto Costa (PT-PE). [para Humberto Costa, senador petista - uma "excelente" recomendação -  e grande parte dos que condenam o Governo Militar consideram regimes ótimos, que só merecem elogios, os de Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, China e outros.]

Já com o Congresso sob domínio e com poderes para cassar mandatos de parlamentares eleitos sem maiores explicações, em 1968 os militares miraram as baionetas para um fragilizado e capenga Poder Judiciário. Veio o famigerado Ato Institucional número cinco (AI-5) e com ele o fim de qualquer garantia constitucional. Assim, tornavam-se “legais” as prisões arbitrárias, tolerava-se a tortura como instrumento para obter informações e instituía-se oficialmente a censura prévia. Cabia a censores definir o que as pessoas podiam ou não ler ou assistir, inclusive na programação de rádios e tevês. Naquele dezembro de 1968 foi dado ao brasileiro uma “vida de gado”, como diz o compositor Zé Ramalho, referindo-se a um povo que vive alienado à espera da chegada de um messias.

Logo depois de assinado o AI-5, o presidente-general Costa e Silva fechou o Congresso e todas as Assembleias Legislativas. Ele e os governadores, escolhidos sem nenhuma participação popular, passaram a assumir as funções do Legislativo. O mesmo ato ainda deu permissão para que o presidente pudesse destituir de seu cargo qualquer funcionário público, inclusive juízes. “A sociedade sabe muito bem o quanto foi caro reverter esse processo para que fosse retomada a democracia”, afirma o deputado Rodrigo Garcia (DEM-SP). “Custou muitas vidas e defender a intervenção militar nesse momento interessa apenas a quem aposta no quanto pior melhor”, completa o deputado. [o ilustre deputado está gravemente equivocado; a teoria do "quanto pior, melhor" , é  exclusividade da corja lulopetista.] 

Matéria completa em IstoÉ

sábado, 17 de março de 2018

Execução foi recado [ou cobrança, estilo Comando Vermelho]

No Rio de Janeiro, as agências de coerção do Estado foram capturadas pelo crime organizado a partir do seu vértice, num pacto corrupto entre os donos do poder e o crime organizado

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) na noite de quarta-feira, crime que comoveu o país e mobilizou milhares de pessoas no Rio de Janeiro e outras cidades do país, entre as quais Brasília, desafia a intervenção federal no Rio de Janeiro. Não fosse o mandato popular e sua importância na luta contra a violência e em defesa dos direitos humanos, teria a mesma importância dada a outros assassinatos, assim como o de seu motorista Anderson Gomes, também executado. Ou seja, seria apenas um número a mais nas estatísticas de assassinatos não esclarecidos no Rio de Janeiro, estado no qual apenas 11% dos suspeitos de homicídio são denunciados à Justiça.

Marielle e Anderson foram mortos dentro de um carro na Rua Joaquim Palhares, por volta das 21h30 de quarta-feira. Segundo a polícia, bandidos emparelharam ao lado do veículo onde estava a vereadora e dispararam. Marielle foi atingida por quatro tiros na cabeça. A perícia encontrou nove cápsulas de balas no local. Não foi latrocínio, foi execução: os criminosos fugiram sem levar nada. O carro onde estava teria sido perseguido por cerca de quatro quilômetros. “É triste, muito triste, mas essa condição da morte da Marielle não é uma novidade. Basta ver o que aconteceu com a juíza Patrícia Acióli, assassinada em Niterói por combater PMs corruptos. No Brasil é assim: qualquer um que lute contra a corrupção e defenda os direitos humanos está em risco. E as forças de segurança, é claro, não fazem nada”, disse o deputado federal Chico Alencar (PSol-RJ) no velório da vereadora.

As autoridades evitam declarações sobre as razões do crime, mas o assassinato abriu uma disputa política pela agenda da violência, que vinha sendo um monopólio do governo federal desde a decretação da intervenção. Marielle era contra a medida. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, assumiu a responsabilidade de acompanhar pessoalmente as investigações.

Banda podre
A investigação está a cargo da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil. Não será  surpresa se surgir uma versão de que a vereadora foi executada por traficantes. Nos bastidores da intervenção federal, porém, já havia a preocupação com uma possível retaliação da chamada “banda podre” das polícias Civil e Militar. O caso da juíza Patrícia Aciolli citado pelo deputado Chico Alencar é exemplar. O assassinato da vereadora, porém, tem todas as características de retaliação política não somente às atividades desenvolvidas por ela contra as milícias e a violência policial. Os mandantes do crime têm plena consciência de que haveria repercussão política nacional e internacional, com poder de desmoralizar o interventor federal, general Braga Neto, e o recém-nomeado Jungmann.

Os dois estão na berlinda, depois de um mês de intervenção federal, com assassinatos diários de inocentes em assaltos, confrontos entre traficantes ou destes com a polícia. As operações diárias do Exército na Vila Kennedy, por exemplo, para retirada de obstáculos instalados nas ruas, e que são recolocados durante a noite, já estavam começando a ser ridicularizadas. Foram compensadas pela prisão de um delegado corrupto e a vistoria do Exército num quartel da Polícia Militar. As autoridades federais estão desafiadas a identificar os criminosos e puni-los exemplarmente.

Numa entrevista, o traficante Antônio Bonfim Neto, de 41 anos, o Nem da Rocinha, que está preso na penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, ao jornal espanhol El Pais, pôs o dedo na ferida ao apontar associação entre o tráfico de drogas e a banda podre da polícia fluminense. Há um “cluster” de negócios nas favelas do Rio de Janeiro, do qual fazem parte as bocas de fumo, os gatos elétricos, as TVs piratas, a distribuição de gás e o achaque aos comerciantes e empreendedores a título de proteção. No Rio de Janeiro, as agências de coerção do Estado foram capturadas pelo crime organizado a partir do seu vértice, num pacto corrupto e perverso entre os donos do poder e o crime organizado. Será duro desalojá-los.

[exercendo seu direito de ser bem informado, tendo acesso a mais de uma fonte de notícia,  clique aqui.

Blog nas Entrelinhas - CB - jornalista Luiz Carlos Azedo 
 

sexta-feira, 16 de março de 2018

Mais um cadáver, entre milhares


Assassinato de vereadora afronta a democracia

A execução de Marielle Franco precisa ter uma investigação rápida e eficiente, para que seus autores sejam identificados e punidos exemplarmente

[por respeito aos nossos dois leitores, julgamos necessário esclarecer que não temos, nem nunca tivemos, nada contra a vereadora Marielle Franco;
Ouvimos falar dela pela primeira vez anteontem, dia 14/03/2018, à noite, e lamentamos profundamente a sua morte, o seu assassinato;

da mesma forma que lamentamos a morte de crianças vitimadas por balas perdidas, policiais assassinados, mulheres grávidas vítimas de balas e milhares de inocentes que são dizimados pela violência que assola o Brasil, com destaque para o Rio de Janeiro.

Por isso, colocamos como título deste POST: "Mais um cadáver, entre milhares"  tendo em conta nosso entendimento que qualquer ser humano assassinado, independentemente de sua posição social, política,  merece o nosso pesar, o nosso lamento.

Tão bárbaro quanto o assassinato da vereadora, foi o empresário morto em Cachambi, na frente do filho de cinco anos - a comoção foi a mesma  e a necessidade dos assassinos serem identificados e punidos é a mesma.

O mesmo entendimento vale para qualquer ser humano assassinado.] 

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), na noite de quarta-feira, no Estácio, é um símbolo contundente do descontrole a que chegou a segurança no Rio, situação de anomia que levou à intervenção federal. Fatos sucessivos mostram que o estado virou uma espécie de terra de ninguém. Mata-se a qualquer hora, em qualquer lugar, por qualquer motivo. Marielle e seu motorista, Anderson Pedro Gomes, foram executados com pelo menos 13 disparos, por volta das 21h30m, quando ela seguia de carro para casa. O crime, que chocou o país e repercutiu internacionalmente, aconteceu numa região central da cidade, próximo à sede da prefeitura e ao Hospital Central da Polícia Militar. Quase naquele mesmo horário, um empresário foi morto na frente do filho de 5 anos, durante uma tentativa de assalto no Cachambi, Zona Norte do Rio.


Mas o assassinato de Marielle é bem mais do que um novo número na estatística de homicídios dolosos — ano passado, foram 5.332 em todo o estado. Porque, além do contexto da violência, representa um atentado contra as instituições e a democracia. Inadmissível num estado democrático de direito. Marielle, de 38 anos, quinta vereadora mais votada da cidade nas eleições de 2016, com o apoio de 46,5 mil eleitores, era uma legítima representante da sociedade na Câmara Municipal, onde estreou em 2017, empunhando bandeiras como os direitos humanos e das mulheres.


Era uma crítica da violência e, numa de suas últimas mensagens postadas numa rede social, perguntava: “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe”? Também chamava atenção para a truculência policial. Na semana passada, denunciou uma ação de PMs do quartel de Irajá na Favela de Acari. Nesse sentido, o que acontece hoje no Rio é fato de extrema gravidade, que obviamente ultrapassa os limites do estado e ganha proporções nacionais. Fica evidente que, nessa insana escalada da violência em território fluminense, criminosos estão agindo como máfia, atacando agora agentes públicos e poderes constituídos. Um caminho perigosíssimo, que requer um basta imediato do Estado e de toda a sociedade. E, uma das questões incômodas, mas que precisam ser enfrentadas, é que alguns desses grupos mafiosos estão infiltrados no Estado. Como as milícias e o tráfico, que ditam suas leis nefastas e tentam se legitimar ocupando cadeiras nas casas legislativas.


Muitas dúvidas ainda pairam sobre as circunstâncias da morte de Marielle Franco e de seu motorista. Segundo as primeiras investigações, os indícios são de execução. Resta saber quem teria motivos para calar a vereadora. Pessoas próximas disseram que ela não recebera qualquer ameaça de morte.Por tudo isso, o assassinato de Marielle Franco precisa ter uma investigação rápida e eficiente, para que seus autores sejam identificados e punidos exemplarmente. Essa é a oportunidade para que se exerça de fato o trabalho de integração entre as diversas forças de segurança proposto pela intervenção federal no Rio. Elucidar esse caso é dar uma resposta à sociedade. [resposta que deve, pelo menos a principio, ser dada à Sociedade por qualquer cidadão assassinado e aos seus familiares.
É um direito de quem perde um ente querido, especialmente assassinado, saber quem foi o autor e ter a certeza de que foi, ou será, punido severamente.] E, ao mesmo tempo, reafirmar o estado democrático de direito num momento em que ele é perigosamente ameaçado pelo banditismo.

O Globo - Editorial 

sábado, 4 de novembro de 2017

A polícia que morre

A morte do coronel Teixeira, assassinado no Rio de janeiro, deflagra um confronto político e escancara como estão expostos os agentes na guerra contra o tráfico 

Um grupo da turma de formandos de 1993 da Polícia Militar do Rio de Janeiro tinha um encontro marcado para a sexta-feira, dia 27 de outubro. Eles se reuniriam para celebrar a nomeação de um colega ao comando da Academia Dom João VI, instituição onde os aspirantes dão o passo inicial na carreira. A comemoração foi cancelada. Os amigos se encontraram, mas para compartilhar uma dor extrema. Na véspera, o coronel Luiz Gustavo Lima Teixeira, de 48 anos, um dos integrantes mais queridos do grupo, morrera com um tiro no peito. Ele voltava de uma cerimônia militar. O comandante Teixeira vinha num Gol branco, descaracterizado, com o cabo Nei Filho ao volante. Por volta de meio-dia da quinta-feira, dia 26, o cabo parou atrás de um Audi (roubado três dias antes perto dali) numa esquina de fluxo intenso no Méier, subúrbio do Rio. 
DEDICAÇÃO
O coronel Luiz Gustavo Lima Teixeira. Ele morava próximo ao batalhão e ajudou a reformar a unidade (Foto: Reprodução)
 
Do Audi, saíram quatro bandidos armados, que, ao reconhecer a farda do comandante, abriram fogo. Teixeira morreu com um tiro que lhe atingiu a aorta e tombou no asfalto, de bruços, com a porta do carona aberta. O cabo Nei trocou tiros com os bandidos e saiu com ferimentos nas duas pernas. O Gol sofreu mais de 20 perfurações nas laterais, capô e para-brisa. Os bandidos fugiram a pé. Eles chegaram a render um taxista, mas desistiram de embarcar. Um deles subiu na garupa de um motociclista que também havia sido rendido. Teixeira foi levado para o hospital Salgado Filho, onde morreu.

>> Vida de PM no Rio: desprezados, doentes e com medo

O Rio é o estado onde policiais mais matam, mas também mais morrem no Brasil. Teixeira foi o 111º policial assassinado neste ano – dado que logo ficaria defasado. Até a quinta-feira (2), esse número subiria para 114. Teixeira foi o primeiro comandante de batalhão a fazer parte da estatística. Sua morte deflagrou um confronto político. O ministro da Justiça, Torquato Jardim, fez críticas por atacado à polícia fluminense, com ênfase na atuação dos comandantes. “Comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio”, disse o ministro ao jornalista Josias de Souza. Jardim insinuou que a quantidade de tiros disparados em Teixeira sugere que a morte do comandante foi um “acerto de contas”, e não o desdobramento de uma tentativa de assalto.

>> As vítimas de farda no Rio de Janeiro

O ministro demonstrou desconhecer detalhes fundamentais: afirmou que Teixeira estava à paisana, quando, na verdade, o coronel vestia farda. Na guerra carioca, a simples descoberta de uma carteira de identificação policial é uma sentença de morte para o portador. “O prêmio que Teixeira ganhou pela morte em serviço é ter sido chamado de ladrão pelo ministro”, revolta-se o coronel João Fiorentini Guimarães, seu colega de turma. A família de Teixeira, a Associação de Oficiais da PM e o governador Luiz Fernando Pezão vão processar o ministro Jardim. Instado a apresentar evidências que embasem declarações tão contundentes, que poderiam ensejar uma investigação federal, o ministro da Justiça calou-se.

“O prêmio que o Teixeira ganhou por morrer em serviço é ter sido chamado de ladrão pelo Ministro”, diz seu amigo João Fiorentini 

Na segunda-feira passada (30), três dias após o sepultamento do coronel, aquele grupo de amigos foi à posse do coronel Rogério Quemento Lobasso na Academia da PM, cerimônia que havia sido adiada na sexta-feira. Ocasiões assim costumam ser festivas, embaladas pelos acordes da banda da instituição. Mas, naquele dia, a solenidade ganhou ares de homenagem póstuma ao comandante assassinado. Não houve sequer clima para a execução do Hino Nacional, como é praxe. Os amigos fizeram questão de ir ao apartamento número 5 do alojamento, onde as lembranças afloraram com nitidez. 

Foi ali que parte da turma que ingressou em 1991 na Academia viveu em internato durante os três anos de curso. Quinze alunos, divididos pela ordem de classificação no concurso, conviviam naquele quarto. Teixeira era o 33. Eles se espalhavam por beliches duplos, a cama do futuro comandante sempre impecavelmente arrumada, com o lençol esticado sem fazer vinco. Era chamado de Teixeirinha ou Zé Carioca, por causa do nariz adunco semelhante ao do papagaio dos quadrinhos. Luxo raro entre aqueles jovens,  o aluno 33 tinha um Fusca caramelo, sempre abarrotado de gente na saída para a folga de fim de semana. Nascia assim, mais de 25 anos atrás, a amizade entre os aspirantes, que hoje está na segunda geração. Essa patota de amigos, cuja maioria hoje ostenta a patente de coronel, ganhou até uma alcunha: AP-5, em referência ao apartamento onde se conheceram. O último encontro com a presença de Teixeira foi há cerca de um mês, num quiosque na orla.

 Abnegado, meticuloso, metódico e bem-humorado são algumas das características de Teixeira destacadas por seus contemporâneos de farda. “A palavra que melhor o define é agregador”, diz o coronel Daltro Antônio Ferrari Júnior, outro integrante do AP-5 e secretário-chefe da Casa Militar do Espírito Santo. Teixeira ascendeu na carreira transitando entre a área operacional e a acadêmica. Depois de se formar aspirante, ele fez o curso de perícia criminal, com especialização em grafia de documentos e no estudo dos efeitos da luz. Atuou na área estratégica da Secretaria de Segurança Pública, foi subcomandante do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) e comandante da Guarda Palaciana, no Palácio Guanabara, além de chefiar batalhões. À frente do 16º BPM, ao participar de uma operação no Complexo do Alemão, foi atingido por estilhaços de bala no rosto, braços e pernas.

Desde o ano passado, Teixeira liderava o 3º BPM, que cobre 22 bairros, entre eles o Jacarezinho, área em constante conflagração. “Ele ficou muito feliz quando soube que seria designado para aquele batalhão”, conta o coronel Oderlei Santos, outro AP-5 e comandante do Batalhão de Petrópolis, na Região Serrana. Teixeira nasceu e cresceu no Méier, onde fica a última unidade que comandou. Morou com os pais e depois com a mulher numa vila, até se mudar para o endereço atual, que fica na mesma quadra do 3o Batalhão. Da varanda de seu apartamento dá para ver o pátio do BPM. Com parcerias com a iniciativa privada, Teixeira fez uma reforma, que consertou o telhado e pintou o prédio. Está em curso a recuperação do relógio no topo do torreão frontal, seu xodó. “Teixeira sempre exibiu a empolgação de um iniciante na profissão”, diz o coronel Lobasso, parceiro do comandante desde os tempos de 2o grau em um colégio no Méier. Nos escassos intervalos de folga, Teixeira gostava de ir com a mulher, Késia, e os filhos, Carolina, de 17 anos, e Rafael, de 12, aos jogos do Vasco. Sua mulher e a filha vestiam a camisa do time no velório. Ele também colecionava bonecos de personagens da Disney.

A segurança pública do Rio atravessa uma das mais graves crises de sua história. A falência financeira solapou especialmente o programa das unidades de pacificação nas favelas. O tráfico e as milícias formadas por policiais e bombeiros corruptos retomam territórios com voracidade, desfaçatez e crueldade. “Aumentaram os confrontos de 2014 para cá, com o uso de armas pesadas que foram contrabandeadas para o Rio”, diz Ubiratan Angelo, ex-comandante-geral da PM e coordenador de segurança humana da ONG Viva Rio. “A malha de policiamento está descoberta. Há um desequilíbrio entre os policiais de batalhões e os da UPP.”


A expansão dos enfrentamentos resultou na disparada dos autos de resistência, que é a morte nos confrontos com policiais. Em paralelo, houve uma escalada no homicídio de policiais – de 18 ocorrências, em 2012, no ápice da pacificação no estado, para os 132 registros no ano passado, de acordo com o Anuário da Violência publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A maioria desse casos acontece durante a folga dos agentes. A investigação sobre a morte do coronel Teixeira está a cargo da Divisão de Homicídios, que identificou Matheus do Espírito Santo Severiano, de 22 anos, como um dos participantes. Matheus tem passagem pela polícia por tráfico e esteve preso até junho deste ano. O delegado Rivaldo Barbosa descarta a hipótese de execução, aventada pelo ministro da Justiça.

Fonte: Revista Época