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segunda-feira, 25 de julho de 2022

Guia da Verdade Eleitoral - Guilherme Fiuza

Revista Oeste

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Como ninguém pensou nisso antes? Um grande filtro contra as impurezas proferidas por aí — que vai te salvar de falar as coisas erradas, te ajudando a só falar as coisas certas. 
Decidimos então não mencionar aqui o tipo de coisa que não se deve falar — a julgar pelas primeiras medidas de depuração já tomadas —, contribuindo assim com a limpeza da atmosfera eleitoral.

Preferimos elaborar uma lista positiva, das coisas que com certeza você poderá falar despreocupadamente sem que o TSE, as plataformas digitais, os checadores, os verificadores, os carimbadores e os fiscais do consórcio de imprensa caiam em cima de você. Anote a seguir as verdades que você poderá dizer a partir de agora:

  1. Lula não sabia.
  2. As urnas eletrônicas do Brasil, do Butão e de Bangladesh são a vanguarda da transparência e da segurança eleitoral.
  3. Renan Calheiros deu um show de ética e ciência na CPI da Covid. Força, Renan.
  4. A Lava Jato foi uma conspiração das elites contra o PT. Como disse com propriedade um famoso advogado, se o crime já foi cometido mesmo, não faz sentido punir.
  5. Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Luiz Edson Fachin são obcecados pelo equilíbrio entre os Poderes.
  6. O TSE mandou apagar os arquivos com os dados das eleições de 2018, porque o passado passou e pra frente é que se anda. O fato de que o sistema eleitoral brasileiro foi violado naquelas eleições não muda nada, porque, conforme o princípio acima enunciado, se o crime já foi cometido mesmo, por que perder tempo com ele?
  7. O sistema eleitoral brasileiro é inexpugnável.
  8. Lula tem 1 milhão de amigos — todos com mania de emprestar tudo para ele.
  9. Muita gente nas ruas de verde e amarelo é ato antidemocrático.
  10. Quebrar tudo alegando defesa de minorias é ato democrático.
  11. Bolsonaro mandou incendiar a Amazônia.
  12. Quem fez a Reforma da Previdência foi o Rodrigo Maia.
  13. Filme simulando o assassinato do presidente é arte. Pedir voto auditável é onda de ódio.
  14. Triplex é um apartamento de três andares e Atibaia é um lugar aprazível.
  15. Os pedalinhos de Atibaia são testemunha de momentos inesquecíveis.
  16. Vaccari, Delúbio, Valério, Silvinho, Duque, Cerveró, Dirceu, Bumlai, Odebrecht, Pinheiro e grande elenco são personagens marcantes da história brasileira.
  17. Gilmar Mendes chorando numa sessão do STF enquanto elogiava o advogado de Lula é uma das cenas mais comoventes da televisão brasileira.
  18. Tudo que a Anitta disser é verdade e não precisa de checagem, porque afinal de contas ela é a Anitta.
  19. Governadores aumentando impostos é responsabilidade fiscal. Governo federal cortando impostos é ameaça ao teto fiscal.
  20. Se após este resumo você ainda tiver dúvidas sobre o que pode falar, não se precipite. Antes de abrir a boca por aí, peça ao Randolfe para perguntar lá no Supremo se isso pode.

Leia também Obrigado, Danuza Leão

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste

 

domingo, 6 de setembro de 2020

De retrocesso em retrocesso - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Sem Lava Jato e com ‘fiscais do Messias’, logo chegaremos a 1980. Viva o Centrão!
Além da pandemia, que parece arrefecer, mas já matou mais de 125 mil brasileiros, o Brasil convive neste momento com ameaças a vários alvos bem definidos: Lava Jato, reforma administrativa, ministro Paulo Guedes e liberalismo do governo, vacinação em massa contra a covid-19 e preços de alimentos. Pairando sobre tudo isso, um mesmo fantasma que insiste em rondar o País: retrocesso.

[talvez por uma falha 'neuronal', lemos no subtítulo "1980" como  'setembro 1964', ou 'dezembro 1968' = datas em que medidas corretivas sérias foram adotadas no Brasil, que muitos, erroneamente e mal orientados - emprenhados pelos ouvidos -  consideram retrocesso.
ENGANO!

- Apesar do acerto do apresentado na segunda frase do penúltimo parágrafo, o subtítulo se refere a 1980 = Sarney, o 'criador' do engodo "fiscais do Sarney", foi presidente de 85 a 90 (surgindo no seu governo a  famigerada Nova República), assim perde sentido envolver o presidente Bolsonaro com aquela malfadada atividade de fiscalização exercida por alguns cidadãos nos tempos do Plano Cruzado;

- Considerar que a segunda turma do STF é pró-réu, também não parece acertado - aquela turma tem dois ministros que costumam votar a favor dos réus e dois que votam diferente, o que produz um empate levando a uma situação comum em julgamentos = o empate favorece o réu.
Situação que ocorre por falha no RISTF, que poderia estabelecer que  quando uma turma - em função de afastamento temporário de um dos seus integrantes,  devido a razões de saúde - passasse a julgar com número par de excelências,  um outro ministro do STF ou do STJ fosse convocado.
O silêncio regimental leva a que seja seguido o principio: 'empate favorece o réu';
- o Centrão entra de graça na matéria, talvez mais para uma 'malhada' no presidente Bolsonaro = algo tipo um estertor dos derrotados.] 

O cerco à Lava Jato une a esquerda de Lula à direita de Bolsonaro, PGR, ministros do Supremo, cúpula e líderes do Congresso e parte da mídia, com tudo caminhando para um gran finale de efeitos explosivos: o julgamento sobre a suspeição do ex-ministro Sérgio Moro nas condenações do ex-presidente Lula, que passaria de réu a vítima e de preso a candidato. O aperitivo foi quando a Segunda Turma do STF, por empate, que é pró-réu, anulou as condenações do Banestado e depois sustou ação penal contra o ministro do TCU Vital do Rêgo. A sobremesa, em cascata, será quando os advogados entrarem aos montes com recursos (que já devem estar prontos) pedindo “isonomia” para os seus presos e condenados.

“Se estava tudo tão errado assim na Lava Jato, vamos ter de soltar o Sérgio Cabral e devolver o dinheiro, mansões, lanchas, joias e diamantes do Sérgio Cabral?”, adverte um ministro do próprio Supremo, refletindo um temor que cresce na opinião pública na mesma rapidez com que caem os instrumentos e agentes da Lava Jato.

Já a reforma administrativa, que nove entre dez autoridades reconhecem como “fundamental”, mas só de boca para fora, está sem pai e sem mãe. O presidente Jair Bolsonaro, que trancou a proposta por dez meses, não quer e vai querer cada vez menos mexer com o funcionalismo – ou qualquer coisa que possa ameaçar sua reeleição em 2022. E Paulo Guedes e Rodrigo Maia, ambos fortemente a favor da reforma, romperam bem na hora decisiva.

Ex-Posto Ipiranga e ex-superministro, Guedes promete muito, entrega pouco, perdeu as graças do presidente, rompeu com a ala forte do governo e agora se mete numa briga juvenil com o homem-chave das reformas e do seu futuro no governo. E de um jeito ridículo. Proibir seus secretários de conversar com o presidente da Câmara?! Bem, Maia apresentou uma reforma da própria Câmara e foi cuidar da reforma tributária. Guedes que se vire. Com quem? Não se sabe.

E que tal ter na Presidência alguém que usa o cargo para fazer propaganda de um medicamento sem comprovação científica em nenhuma parte do mundo e para desestimular o uso obrigatório da vacina para livrar o País da maldição da covid-19? Por quê? Porque ele governa o Brasil misturando seus achismos com conselhos de terraplanistas que apostavam em no máximo 2.100 mortos. Já chegam a 125 mil, mas Bolsonaro continua firme com eles.

A última do presidente é apelar para o “patriotismo” dos donos de supermercados para segurar os preços. 
É evidente que a disparada dos preços já começou, em função de pandemia, dólar, estoques da China. 
E que o governo não tem ideia do que fazer. Além de apelar a empresários, talvez seja hora de orar. Milhões de pessoas sem emprego, com alta de preços de arroz, feijão e óleo... Boa coisa isso não dá.

Como alertou o colega José Fucs, é a volta aos anos 1980. A polícia (ou o Exército?) laçando bois no pasto, “fiscais do Messias” prendendo gerentes nos supermercados ao som do Hino Nacional. Nada com liberalismo, tudo com populismo e perfeitamente de acordo com cegueira ideológica, meio ambiente, Educação, saúde, política externa, cultura, inclusão, respeito à divergência, combate à corrupção e... censura quando se trata de Flávio Bolsonaro. De retrocesso em retrocesso, logo chegaremos a 1980. E viva o Centrão. 

Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo