O Estado de S.Paulo
Sem Lava Jato e com ‘fiscais do Messias’, logo chegaremos a 1980. Viva o Centrão!
Além da pandemia, que parece arrefecer, mas já matou mais de 125 mil
brasileiros, o Brasil convive neste momento com ameaças a vários alvos
bem definidos: Lava Jato, reforma administrativa, ministro Paulo Guedes e
liberalismo do governo, vacinação em massa contra a covid-19 e preços
de alimentos. Pairando sobre tudo isso, um mesmo fantasma que insiste em
rondar o País: retrocesso.
[talvez por uma falha 'neuronal', lemos no subtítulo "1980" como 'setembro 1964', ou 'dezembro 1968' = datas em que medidas corretivas sérias foram adotadas no Brasil, que muitos, erroneamente e mal orientados - emprenhados pelos ouvidos - consideram retrocesso.
ENGANO!
- Apesar do acerto do apresentado na segunda frase do penúltimo parágrafo, o subtítulo se refere a 1980 = Sarney, o 'criador' do engodo "fiscais do Sarney", foi presidente de 85 a 90 (surgindo no seu governo a famigerada Nova República), assim perde sentido envolver o presidente Bolsonaro com aquela malfadada atividade de fiscalização exercida por alguns cidadãos nos tempos do Plano Cruzado;
- Considerar que a segunda turma do STF é pró-réu, também não parece acertado - aquela turma tem dois ministros que costumam votar a favor dos réus e dois que votam diferente, o que produz um empate levando a uma situação comum em julgamentos = o empate favorece o réu.
Situação que ocorre por falha no RISTF, que poderia estabelecer que quando uma turma - em função de afastamento temporário de um dos seus integrantes, devido a razões de saúde - passasse a julgar com número par de excelências, um outro ministro do STF ou do STJ fosse convocado.
O silêncio regimental leva a que seja seguido o principio: 'empate favorece o réu';
- o Centrão entra de graça na matéria, talvez mais para uma 'malhada' no presidente Bolsonaro = algo tipo um estertor dos derrotados.]
O cerco à Lava Jato une a esquerda de Lula à direita de Bolsonaro, PGR,
ministros do Supremo, cúpula e líderes do Congresso e parte da mídia,
com tudo caminhando para um gran finale de efeitos explosivos: o
julgamento sobre a suspeição do ex-ministro Sérgio Moro nas condenações
do ex-presidente Lula, que passaria de réu a vítima e de preso a
candidato. O aperitivo foi quando a Segunda Turma do STF, por empate, que é
pró-réu, anulou as condenações do Banestado e depois sustou ação penal
contra o ministro do TCU Vital do Rêgo. A sobremesa, em cascata, será
quando os advogados entrarem aos montes com recursos (que já devem estar
prontos) pedindo “isonomia” para os seus presos e condenados.
“Se estava tudo tão errado assim na Lava Jato, vamos ter de soltar o
Sérgio Cabral e devolver o dinheiro, mansões, lanchas, joias e diamantes
do Sérgio Cabral?”, adverte um ministro do próprio Supremo, refletindo
um temor que cresce na opinião pública na mesma rapidez com que caem os
instrumentos e agentes da Lava Jato.
Já a reforma administrativa, que nove entre dez autoridades reconhecem
como “fundamental”, mas só de boca para fora, está sem pai e sem mãe. O
presidente Jair Bolsonaro, que trancou a proposta por dez meses, não
quer e vai querer cada vez menos mexer com o funcionalismo – ou qualquer
coisa que possa ameaçar sua reeleição em 2022. E Paulo Guedes e Rodrigo
Maia, ambos fortemente a favor da reforma, romperam bem na hora
decisiva.
Ex-Posto Ipiranga e ex-superministro, Guedes promete muito, entrega
pouco, perdeu as graças do presidente, rompeu com a ala forte do governo
e agora se mete numa briga juvenil com o homem-chave das reformas e do
seu futuro no governo. E de um jeito ridículo. Proibir seus secretários
de conversar com o presidente da Câmara?! Bem, Maia apresentou uma
reforma da própria Câmara e foi cuidar da reforma tributária. Guedes que
se vire. Com quem? Não se sabe.
E que tal ter na Presidência alguém que usa o cargo para fazer
propaganda de um medicamento sem comprovação científica em nenhuma parte
do mundo e para desestimular o uso obrigatório da vacina para livrar o
País da maldição da covid-19? Por quê? Porque ele governa o Brasil
misturando seus achismos com conselhos de terraplanistas que apostavam
em no máximo 2.100 mortos. Já chegam a 125 mil, mas Bolsonaro continua
firme com eles.
A última do presidente é apelar para o “patriotismo” dos donos de
supermercados para segurar os preços.
É evidente que a disparada dos
preços já começou, em função de pandemia, dólar, estoques da China.
E
que o governo não tem ideia do que fazer. Além de apelar a empresários,
talvez seja hora de orar. Milhões de pessoas sem emprego, com alta de
preços de arroz, feijão e óleo... Boa coisa isso não dá.
Como alertou o colega José Fucs, é a volta aos anos 1980. A polícia (ou o
Exército?) laçando bois no pasto, “fiscais do Messias” prendendo
gerentes nos supermercados ao som do Hino Nacional. Nada com
liberalismo, tudo com populismo e perfeitamente de acordo com cegueira
ideológica, meio ambiente, Educação, saúde, política externa, cultura,
inclusão, respeito à divergência, combate à corrupção e... censura
quando se trata de Flávio Bolsonaro. De retrocesso em retrocesso, logo
chegaremos a 1980. E viva o Centrão.
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo