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terça-feira, 7 de novembro de 2023

O ENEM, a redação do ENEM, os valores do ENEM e… Ludmilla - VOZES

Paulo Polzonoff Jr. - Gazeta do Povo

"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

"O vira do Piranga"

 ENEM Ludmilla

Ludmilla se fantasiou de Whitney Huston para passar vergonha esquecendo a letra do Hino Nacional. Será tão difícil assim?| Foto: Reprodução/ Twitter

1. O ENEM nasceu como Exame Nacional do Ensino Médio, mas essa historinha para boi dormir não engana mais ninguém – se é que enganou algum dia. 
Hoje, o ENEM se tornou símbolo do fracasso que é a transmissão de conhecimento no Brasil e virou Exame Nacional do Energúmeno Médio. Ou, para usar a definição quase perfeita de um amigo, Exame Nacional da Estupidez Militante.

2. O ENEM é o ápice da educação planificada. É uma abominação. É uma confissão de derrota nascida da preguiça de uma sociedade que relegou ao Estado, na figura sentimentaloide dos professores, a educação de sua prole. O ENEM é o apogeu da doutrinação – mas isso é o de menos. O ENEM é o sacrifício anual da vocação para a excelência no altar de um supostíssimo sucesso profissional.

Questão de lógica
3. Está com tempo? Ótimo. Então vamos ler juntos a questão sobre o agronegócio. Vamos ler com calma. “No cerrado, o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio”, começa o enunciado da questão. Que lógica é essa? Os autores dessa burrice-com-selo-do-MEC parecem pressupor que é a lógica do lucro a qualquer custo. E não é porque Marx ensinou, não. É porque essa gente se olha no espelho e sabe que está disposta a tudo, que paga qualquer preço para se manter no poder. E não consegue conceber um mundo habitado por pessoas que tenham valores menos corrompidos.

4. Adiante, a questão diz que “de um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos”, blá, blá, blá, ”e de outro [que na verdade é o mesmo], o modelo capitalista subordina”, mó, mó, mó, mó [LER COM A VOZ DA PROFESSORA DO CHARLIE BROWN] homens e mulheres à lógica do mercado. Olha ela aí de novo, a tal da lógica como inimiga. Não é à toa. Eles sabem que, para impor o comunismo, é preciso substituir a lógica, qualquer lógica, pela força. Afinal, ironicamente essa é a “lógica” do comunismo: o triunfo da vontade de uns poucos sobre os demais.

5. “Assim, as águas, as sementes, os minerais, as terras (bens comuns) tornam-se propriedade privada”, continua a questão. E, dessa forma, ficamos sabendo que o aluno do ENEM tem de demonizar a propriedade privada simplesmente porque alguém decidiu que as águas, as sementes, os minerais e a terras são “bens comuns”. Provavelmente destinados à exploração sustentável por uma casta de iluminados imunes a qualquer tipo de pecado. E tem gente que ainda acredita nisso.

6. E finalizam a questão com uma lista de outros “fatores negativos”. Fatores negativos de um setor que só tem gerado riqueza e alimentado o mundo. Um setor sem o qual seríamos hoje ainda mais miseráveis do que somos. Um setor que, a despeito da propaganda suja, contribui muito mais para a proteção do que para a devastação do meio ambiente. Um setor cujo pecado é ser bem-sucedido.

7. Mas quais seriam esses fatores negativos? A eles, pois: “a mecanização pesada [é para voltarmos ao tempo do carro de boi? ], a ‘pragatização’ [ãhn?] dos seres humanos e não-humanos [é piada, né? diz que sim, por favor], a violência simbólica [ai!], a superexploração [do quê?], as chuvas de veneno [poesia numa hora dessas?] e a violência contra a pessoa [que pessoa?]”.

Visibilidade
8. Aí teve a redação. O tema era
“Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Fiquei pensando, pensando, pensando. E cheguei à conclusão de que provavelmente tiraria ZERO na redação do ENEM porque, para começo de conversa, desde quando “invisibilidade” é um problema? Diria mais. Diria que, no meu mundo ideal, na utopiazinha que também trago comigo, a invisibilidade deveria ser um objetivo – e não só entre as mulheres que cuidam de idosos, crianças e doentes.

9. Insuportavelmente contemporânea é essa obsessão pela visibilidade. Como se só existissem aqueles que são visíveis nas redes sociais ou nas manchetes de jornal ou nos gabinetes da vida. Como se só fossem dignos aqueles que fazem sucesso. Algum tipo de sucesso. O que vai totalmente na contramão de valores como a humildade e a modéstia – duas palavras que os corretores da redação provavelmente desconhecem.

10. Mas suponho que se no meu texto eu propusesse um, sei lá, Only Fans para cuidadoras, enfermeiras e babás, uma plataforma que desse a elas a tão sonhada (e inútil) visibilidade, minhas chances de tirar uma nota alta a fim de continuar meu processo de doutrinação na universidade pública aumentaria bastante, né? Que lástima!

Ludmilla
11. A especialista em lacração e dublê de cantora Ludmilla foi a escolhida para interpretar o Hino Nacional
antes do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1. Mas teria sido melhor se ela tivesse tentado cantar o hino durante a corrida. 
Assim pelo menos o tal do ronco dos motores teria abafado o vexame do episódio
Porque Ludmilla simplesmente se esqueceu da letra. 
Nem o embromation básico ela conseguiu entoar.

12. Ludmilla que, se calhar, vira tema de redação do ENEM ano que vem. “Desafios para o enfrentamento da tirania do conhecimento e do talento a que são submetidas as cantoras de funk no Brasil”. Ou qualquer outra balela do tipo. Duvida?


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Tragédia na vida banal - Nas Entrelinhas

A repressão policial às manifestações culturais da periferia não é eficaz, apenas amplia a base social do crime organizado. Se fosse, não existiria mais pancadão em São Paulo”

Notável geógrafo, o falecido professor Milton Santos era um observador arguto da vida banal nas periferias do mundo, ou seja, o dia a dia dos cidadãos afetados pela globalização, com suas desigualdades e grande exclusão. Dedicou a vida a analisar sua época, com um olhar crítico sobre o atual modelo de relações internacionais, constituído entre 1980 e 1990, e que está sendo posto em xeque tanto no centro como nas periferias do mundo.

[com o devido pedido de vênia, nos permitimos comentar, com alguma discordância:
- Funk, não é, nunca foi e jamais será cultura, assim seus bailes não são manifestações culturais;
 - a classificação PERIFERIA, envolve vários fatores, alguns nem sempre presentes - mas a localização é um essencial, o que impede considerar a favela de  Paraisópolis,  periferia ;
- os bailes funk precisam ser erradicados e tal necessidade é demonstrada de forma brilhante nas ocorrências citadas (não todas) no antipenúltimo parágrafo desta matéria, da mesma forma que a eficiência das ações policiais é demonstrada na penúltimo - o que incentiva, estimula intensificar as operações, estendendo-as a outros estados.] 

Sua geografia desenvolveu novos conceitos sobre espaço, lugar, paisagem e região, nos quais o fator humano tem um papel central. Sempre pôs uma lupa no uso político dos territórios para compreender o desenvolvimento. Teria hoje 93 anos se fosse vivo e, com certeza, do alto da pilha dos seus 40 livros publicados e com o prestígio de doutor honoris causa em mais de 20 universidades do mundo, [o título citado já teve grande valor;
ainda vale alguma coisa, mas sua desvalorização começou, quando passou a ser concedido  - vários, de diversas universidades  - a um presidiário, provisoriamente, em liberdade.] seria mais uma voz a subir o tom diante da tragédia deste fim de semana em Paraisópolis, a maior favela de São Paulo.

Dizia que a captura das políticas públicas pelos grandes interesses privados acaba por deixar ao relento o cotidiano da população de baixa renda, que se vê obrigada a buscar alternativas de sobrevivência numa espécie de beco sem saída social, porque esses interesses estavam mais voltados para o lucro do que para os objetivos das políticas urbanas e sociais. Segundo ele, a vida banal é desprezada pelo poder público e, no espaço urbano onde essa ausência é maior, surgem as soluções improvisadas, as transgressões e a economia informal (o gás, a gambiarra, o gatonet, a proteção a agiotagem etc.), que muitas vezes acaba capturada pelo crime organizado, que achaca, chantageia e mata, seja ele o tráfico de drogas, sejam as milícias.

O que deseja um cidadão das periferias? Projetar seu próprio futuro, vislumbrar perspectivas dignas da existência, expressar sua maneira de entender o mundo, seja por meio de crenças, manifestações culturais ou práticas sociopolíticas. Ter qualidade de vida, viver num ambiente agradável e sustentável, provido de água, esgoto, energia e meios de comunicação na medida adequada, com assistência médica, acesso à educação e à cultura, meios de transporte e um sistema de abastecimento adequado.

Agrega-se a isso o acesso ao entretenimento e ao lazer, que também são as aspirações da maioria dos jovens brasileiros, porém, para parcela considerável deles, principalmente nas periferias, são inatingíveis. De certa forma, isso se reflete na cultura de periferia, no hip-hop, no funk, nos bailes de charme, no slam e no passinho. Como as políticas públicas não chegam às periferias na escala necessária, é natural que essas manifestações culturais fomentem a economia informal que dela se retroalimenta, do ambulante que vende água mineral, cerveja e destilados aos traficantes que distribuem a maconha, a cocaína e o crack para animar a festa, como também ocorre na maioria das “raves” de classe média, sem que a polícia toque o terror.

Economia criativa
Sem ironia, cada território tem a sua própria “economia criativa”. Festas de funk como o Baile da 17, em Paraisópolis, no qual nove jovens morreram pisoteados na madrugada deste domingo, após uma ação da Polícia Militar, ocorrem em todas as comunidades de periferia das grandes cidades, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. Somente neste ano, foram realizadas 7,5 mil “Operações Pancadão” em São Paulo, nas quais foram efetuadas 874 prisões, 76 apreensões de adolescentes, apreensão de 1,8 tonelada de drogas e de 77 armas, de acordo com a corporação.


Era só uma questão de tempo uma tragédia como essa acontecer. Ninguém tem dúvida de que a violência é um dos principais problemas da nossa vida urbana, mas o endurecimento da política de segurança pública e o estímulo à venda de armas como alternativa de autodefesa para a população não são uma resposta à altura do problema. Além disso, a desconstrução das políticas públicas voltadas para as periferias, principalmente na cultura e na educação, contribui para agravar o problema. A repressão policial às manifestações culturais da periferia não é eficaz, apenas amplia a base social do crime organizado. Se fosse, depois de tantas operações, não existiria mais pancadão em São Paulo. É preciso oferecer aos jovens das periferias alternativas melhores para manifestações culturais, entretenimento e lazer. Bombas de gás lacrimogênio, spray de pimenta, balas de borracha e muita porrada, como vimos em Paraisópolis, só podem resultar em tragédias.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense

 

sábado, 6 de abril de 2019

Guedes poupou Zeca do pior dos insultos: “Você é um filho de Zé Dirceu”

O ministro da Economia mostrou que não é possível dançar minueto com quem só frequenta baile funk

Na sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, realizada nesta quarta-feira, Paulo Guedes travou um combate desigual contra a oposição que aposta no “quanto pior, melhor”. É verdade que essa bancada é formada por representantes do povo, já que foram eleitos democraticamente. Mas o comportamento de seus integrantes garantiria a todos uma carteirinha de sócio-atleta no mais repulsivo clube dos cafajestes.

O combate foi desigual porque Paulo Guedes lutou, sozinho, contra inimigos sem compromisso com a verdade, a ética e a decência. Desorganizada, desarticulada, sem diretrizes estratégicas e sem manobras táticas ensaiadas, os parlamentares da base governista ouviram em silêncio provocações insolentes e agressões verbais intoleráveis. E o presidente da CCJ, Felipe Francischini, também recém-chegado à Câmara, não conseguiu mostrar que existem limites até para a canalhice.

Ainda assim, Guedes soube enfrentar a tropa ensandecida com a competência dos que sabem o que dizem e a valentia dos que têm razão. Quis saber dos oposicionistas histéricos, por exemplo, por que não fizeram, enquanto estiveram no poder, as medidas que cobram agora. O ministro também constatou que quem rejeita uma reforma da Previdência não a reforma dele, mas qualquer mudança não está com a cabeça em ordem. Sobretudo, deixou claro que a reforma é inevitável e inadiável.

Compreensivelmente, perdeu a paciência ao ouvir a infâmia inverossímil do deputado Zeca Dirceu, que o qualificou de “tchutchuca”. No dialeto do funk, tchutchuca é a mulher que sacia,  voluntariamente ou não, os apetites sexuais dos machos — ou tigrões. No revide, Guedes apenas mostrou que não é possível dançar minueto com quem só frequenta baile funk.  Ele nem precisaria botar mãe e avó no meio. Bastaria lembrar que Zeca Dirceu é filho de ladrão, sobrinho de ladrão e ladrão. E nocauteá- lo com o pior dos insultos: “Você é um filho de Zé Dirceu”.

Blog do Augusto Nunes - Veja
 

quarta-feira, 1 de junho de 2016

O funk que estimula estupro de meninas



 Quem vai reprimir bailes e músicas que incitam o "bonde" e o "trem-bala" a usar e abusar do corpo das jovens?
Nesses dias sombrios, em que se discute "a cultura do estupro", lembro um texto que escrevi para ÉPOCA em 2009: "O bonde do funk agora é cultura". Eu perguntava, então: "Quem vai reprimir, no Rio, os bailes que fazem apologia do tráfico e da pedofilia?". Ah, eu só poderia ser da "elite branca racista do asfalto e contra o som de raiz negra". Não? Aí vai o texto na íntegra. De sete anos atrás. Atual como nunca...

"Mas se liga aí novinha, por favor tu não se engane. Abre as pernas e relaxa. Que esse é o Bonde do Inhame. Que esse é o Bonde do Inhame. Esse é o bonde dos cria que enfogueta as novinhas. Esse é o bonde dos cria que enfogueta as novinhas. Vai na treta do Nem que a Kátia tá também eeemmm. Larga o inhame na Silvinha".

Essa letra edificante é exemplo tosco de um funk – o ritmo oficializado como “manifestação cultural” no Rio de Janeiro. Na Assembleia Legislativa, o funk saiu enfim da “tutela da polícia” e passou para o campo da Cultura. Agora, é ilegal a repressão policial aos bailes.  Eu não conhecia o “Bonde do Inhame” até uma semana atrás. No engarrafamento do Túnel Rebouças, no Rio de Janeiro, um motorista sem camisa fazia ecoar o batidão pelas janelas escancaradas. O asfalto tremia. Quem tinha criança no carro despistava para não traduzir “enfoguetar as novinhas” ou “ir na treta do Nem”chefe do tráfico da Rocinha. A letra fazia apologia do tráfico, das drogas e da pedofilia.

Antes que os amigos do funk, os deputados, os acadêmicos e os jornalistas do funk digam que sou de elite e não gosto de “som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado” (“Som de preto”, de Amilcka e Chocolate), queria dizer que nada tenho contra o funk popular e inocente. Tocado sem encher o ouvido alheio.

Entendidos dizem que o funk nasceu do cruzamento da cultura pop e da música negra americana com o cancioneiro popular nacional. “Existe muito preconceito. Acham que funk é coisa de favelado e estimula violência e consumo de drogas”, diz a antropóloga Adriana Facina. Minha manicure vive na Rocinha. É mãe de uma menina de 9 anos. Perguntei o que ela acha da lei que torna o funk um movimento cultural.  “Cultura? É obscenidade, isso sim. Aqui em casa meus filhos estão proibidos de escutar ou cantar funk. As letras são pornográficas. Fico impressionada com mãe que deixa a filha ir nos bailes, de shortinho, top, tudo de fora, sainha sem nada por baixo. No fim dos bailes, todo mundo doidão, porque tem droga livre, botam funks pesados. Tem baile de domingo pra segunda até 7 horas, como se ninguém trabalhasse.”

Queria ver os intelectuais do asfalto morando ao lado de uma quadra com o pancadão varando a madrugada. Se a elite tem direito à Lei do Silêncio, por que os pobres têm de ficar surdos?  Para proteger minha amiga, não posso publicar seu nome. Todos têm medo. Mas, não é cultural? Quem desvirtuou o funk foram os chefes dos morros, não a sociedade civil. Eles se apropriaram de um ritmo legítimo. Hoje, muitos favelados associam funk a bandidagem.

Injusto generalizar. Mas quem fala não é elite. É mãe, trabalhadora, sem coragem de apoiar publicamente a repressão aos bailes. Qual seria o resultado de um plebiscito anônimo nas favelas?  Algumas músicas, vendidas em CDs por camelôs ou tocadas nas ruas, me foram enviadas por moradores de favelas. As letras são chulas, baseadas em estribilhos. Aí vai um exemplo: "Ela vira de frente e vem assim,…Vem x…eca, vem x…eca, bem gostosinho. Ela vira de costas, ô, empina pra mim, ô e vem assim. Vem c…inho, vem… (voz de menina) Você quer meu c...? Você quer minha b…?” (repetida ad nauseam). O funk diz sofrer o preconceito que o samba já enfrentou. É sacrilégio comparar o samba com letras de mulher-fruta e créééu.

O lobby da periferia terá de recuperar a imagem do funk nas comunidades. Adianta só condenar no microfone quem incita a crimes? Os líderes do movimento precisam expurgar quem demoniza os bailes. Um dos autores da lei que tira o funk das sombras, o deputado Marcelo Freixo sugere que o ritmo seja “instrumento pedagógico nas escolas”. Propõe “oficinas profissionalizantes de DJs”.

Não faz sentido mesmo vetar um gosto musical.
Ou fechar os olhos a um fenômeno que movimenta R$ 10 milhões por mês no Rio e gera milhares de empregos, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Mas que se instalem banheiros químicos, câmeras e isolamento acústico, que se proíbam os proibidões. Que se controlem horários. E se fiscalize o consumo.

Eu queria que inhame fosse uma raiz. Que os bondes fossem aqueles sobre trilhos. Que as novinhas continuassem a ser meninas. E que Nem não passasse de um advérbio de negação.

Fonte: Ruth de Aquino – Época

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Inflação atinge classe C e afeta até o funk ostentação



Com a alta nos preços, até o funk ostentação, quem diria, teve de aderir ao ajuste fiscal
O nome é Luan de Melo, mas pode chamá-lo de MC França. Ele tem 19 anos, é um funkeiro em início de carreira e mora no bairro do Itaim Paulista, distante do centro de São Paulo. Luan tem gostos parecidos com os da maioria dos jovens de sua quebrada. Gosta de roupas de marca e frequenta bailes de rua, os “fluxos”. Há três anos, o estilo que dominava essas festas era o funk ostentação, com letras que exaltavam o enriquecimento dos cantores de funk, os MCs (abreviação de “mestres de cerimônia”, os animadores do baile). 

O ano era 2012, nos últimos suspiros da fase de prosperidade brasileira. Depois, veio o esfriamento da economia e, agora, a crise. Outra trilha sonora passou a dominar o fluxo. Vai-se o funk ostentação, que exalta os prazeres caros da vida, e volta com força o estilo que canta outro prazer, ao alcance de todos: o sexo. São músicas que exaltam o corpo, o gozo e a sensualidade. É o pancadão da crise.

“Não é que esses jovens não usem mais produtos de marca. Mas eles tiraram o pé do acelerador”, diz Renato Barreiros, produtor cultural e estudioso da cena funk. “O poder de consumo deles estagnou. Eles se deram conta de que não vai passar disso que é agora.” Barreiros é autor dos documentários Funk ostentação – O filme e No fluxo. É testemunha de como a recessão muda as preferências da classe C, que representa 58% da população brasileira. Luan, o MC França, sente no dia a dia os efeitos do novo cenário econômico. “O dinheiro não dá para manter meus gostos. Antes, gastava R$ 150 na noite. Hoje, isso não dá nem para matar a vontade”,  diz Luan. O que Luan sente, os economistas medem. A evolução anual da economia passou de expansão de 7,5% em 2010 para encolhimento neste ano. No mesmo período, a inflação anual passou de 5,8%, já alta, para 7,9%. Os funkeiros deixam de ostentar e refazem as contas.

Luan mora em casa própria com a mãe e a namorada, grávida de oito meses. Com uma renda familiar próxima de R$ 2.700, Luan reclama de serviços essenciais que passaram a custar muito. “Boa parte do que ganho vai para o transporte. Gasto até R$ 15 por dia nisso”, afirma. Só em São Paulo, a passagem de ônibus subiu mais de 52% desde 2010 – de R$ 2,30 para R$ 3,50. Melo gasta mais de um terço do que ganha com deslocamentos diários. Na casa do MC, os hábitos mudaram. A família gasta mais para comprar menos  no supermercado e vai à feira com menor frequência. O mesmo ocorre com 41% da classe C, segundo o instituto de pesquisas Data Popular. Rarearam as compras em shopping centers, pedidos de pizza em casa e viagens de fim de semana à praia. “A classe C está refazendo o orçamento. Troca marcas caras por baratas, compra menos nos shopping centers e procura os fluxos, bailes mais baratos”, diz Renato Meirelles, presidente do Data Popular. [Luan foi vítima da irresponsabilidade do Lula e da sua ex-criatura Dilma, que levou jovens desavisados a considerar que uma RENDA FAMILIAR de R$2.7000,00 é suficiente para os beneficiários se considerarem classe C.
No máximo, com muita economia, a família que usufrui de tal renda pode apenas se considerar ARREMEDIADA.]

Em geral, os fluxos são organizados pelas redes sociais e feitos na rua, com carros equipados com caixas de som potentes e vendedores ambulantes abastecendo os frequentadores com bebida barata. Em São Paulo, esse tipo de festa, que atormenta a vizinhança, acontece desde 2005, e há relatos de fluxos que reuniram mais de 10 mil pessoas. “Numa balada fechada, você gasta fácil R$ 200. No fluxo, que é de graça, você gasta no máximo R$ 100 e curte do mesmo jeito”, diz Luan. “Por isso, alguns organizadores de bailes fechados, onde a gente cantava, estão deixando de fazer as festas. Não dá o mesmo lucro de antes.” [os tais fluxos deveriam ser proibidos; a única coisa que propiciam é incomodar tremendamente a vizinhança e levar muitos a se embriagarem.]
Quem já trabalhava e pagava contas em crises anteriores se adapta mais facilmente. Entre os adolescentes que começam a entrar no mercado de trabalho, crise é novidade. Tandara Felício, de 18 anos, é estudante de estética e precisa administrar as mudanças. 

Tandara explica que há dois anos começou a trabalhar para ajudar nas contas de casa. “Até então, minha mãe me bancava, mas chegou um momento em que ela não aguentava mais. Conversamos sobre isso”, diz. A jovem frequenta os fluxos desde os 14 anos e percebeu a mudança de trilha sonora. “A ostentação não faz mais sucesso no fluxo, porque eles cantavam uma vida de gente rica, que compra o melhor carro, a melhor moto, a melhor casa, bebida, roupa. Quando acabava a música, a gente olhava em volta e via que não era aquilo”, diz. “Então outros MCs, que viram que a ostentação estava caindo, chegaram com uma coisa que é realidade: as letras de sexo. São coisas que as pessoas fazem, é a realidade. Quando acaba a música, ele ainda tem aquilo ao alcance.”

Como a trilha sonora, o guarda-roupa de Tandara também vem se adaptando. Ela estava acostumada a comprar roupas, maquiagem, sapatos e perfumes caros. Tandara reduziu seu consumo nos últimos anos, pois, segundo ela, ficou impossível manter o padrão da gastança. “Quando lançavam uma coleção nova da marca de sandálias que gosto, eu tinha de ter a coleção toda. Hoje, não tenho dinheiro para isso”, afirma.  As mudanças adotadas na casa de Tandara servem como roteiro de enxugamento de contas para famílias de todas as faixas de renda. A mãe de Tandara trocou os pacotes de internet, telefone fixo e TV a cabo por versões mais modestas, que custam a metade do preço. Conseguiu economizar R$ 135 por mês. A estudante passou a se conter no uso do telefone celular, porque a conta havia passado de R$ 30 para R$ 80. Para se divertir, deixou de ir a lugares que cobram entrada. Deixou o hábito de ir ao shopping center duas vezes por mês. “Antes, a gente comprava muito mais. Agora, mesmo sem comprar tanto, não conseguimos nem poupar alguma coisa”, afirma.

Na classe C, 55% apostam que 2015 oferecerá menos oportunidades de trabalho. A taxa de desemprego ainda está baixa, mas subiu de 6,4% para 6,8%, entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015. Luan ainda não trabalhou com registro em carteira. Diz que sente mais dificuldade em sua procura no mercado de trabalho e, por isso, baixou suas expectativas quanto ao primeiro emprego. Tandara se queixa do que considera falta de oportunidades. “Hoje, a gente tem mais dificuldade de crescer. Acho que estão diminuindo as oportunidades e tem muita gente bem qualificada disputando cada vaga”, diz.

O pessimismo econômico não abalou a confiança da classe C na vida pessoal.  Seis em cada dez mantêm-se otimistas. Acreditam que o bem-estar de cada um depende mais dele mesmo do que dos agentes externos, como o governo. É um bom sinal, diante de tantas mudanças drásticas que afetaram essa classe nos últimos anos. “Espero que as coisas melhorem para que eu possa dar um futuro melhor ao meu filho. Sei que vai ser mais difícil, mas continuo otimista”, diz Luan.

Fonte: Revista Época