INsegurança Pública no DF - Número de traficantes presos na Asa Norte cresceu 50% neste ano
[se as prisões aumentaram 50% o tráfico cresceu 200%. As drogas tradicionais e as sintéticas correm soltas.]
Depois
das cenas de faroeste ocorridas na 309 Norte, provavelmente motivadas
por drogas, moradores se dizem assustados. Só nos primeiros meses do
ano, o número de traficantes presos na região cresceu 50%
A possibilidade de a morte do taxista Luís Eduardo dos Santos, 34
anos, estar ligada ao tráfico de drogas alerta para a prática desse
crime na Asa Norte. A vítima foi morta em um posto da gasolina da 309
Norte, onde funciona uma loja de conveniência 24 horas, com direito a
troca de tiros e a uso de uma espingarda Winchester calibre 38. Pela
região, moradores reclamam do uso constante de drogas, acompanhado de
excesso de bebidas. Números da Polícia Militar confirmam o problema.
Somente neste ano, 30 traficantes foram presos na Asa Norte — 50% a mais
que no mesmo período de 2016, quando 20 acabaram detidos pela
corporação. As apurações da Polícia Civil também indicam que o homicídio
do taxista foi premeditado. Mensagens no celular da estudante de
gastronomia Rafaela Teixeira de Souza, 28 anos, única detida até o
momento, revelam a intenção de tirar a vida de alguém.
No
diálogo, não fica claro se o alvo era Luís Eduardo, morto durante a
troca de tiros. Na conversa via mensagem pelo Facebook, Rafaela pergunta
a um rapaz se ele tem uma arma e diz que vai matar. “Mas é que deu
merda. Vou mata (sic). Me ajuda?”, escreveu. O homem questiona quem ela
pretende assassinar. A mulher não responde. Ela também envia um áudio
para o colega. “Me ameaçaram, ameaçaram meu namorado com uma arma. Eu
consegui uma aqui e duas facas. Eu sei que você não quer que eu faça
isso. Mas agora, véi, vai rolar.” Ainda na quinta-feira, Rafaela se
apresentou como testemunha do crime à 5ª Delegacia de Polícia (Área
Central), mas acabou detida por envolvimento. Nas imagens registradas no
circuito do posto, ela aparece ao lado do carro do atirador.
A Justiça decretou, ontem, a prisão preventiva de Eduardo Adrien
Cunha Neto e Rafael Arcanjo Gomes de Abreu. Os dois estavam com Rafaela
no carro. Eduardo, que é namorado da estudante de gastronomia, foi quem
atirou por cerca de 40 segundos contra o taxista. A vítima bebia no
local acompanhada de outras pessoas, que fugiram durante os tiros. Um
deles, inclusive, levou a arma que o taxista usou para revidar. Até o
fechamento desta edição, a Polícia Civil ainda não tinha identificado
quem acompanhava Luís momentos antes do tiroteio. Eduardo e Rafael são
considerados foragidos pela corporação.
Familiares
e amigos se despediram ontem de Luís. O velório ocorreu na Capela 7 do
Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Ao menos 50 pessoas
acompanharam a cerimônia. O pai dele, Francisco Alves Lobo, 68, estava
consternado e não quis falar sobre o assunto. Um irmão, que não se
identificou, disse que ele estava em processo de cadastro para ser
taxista. “Não atuava em aplicativo, apenas circulava nas ruas”, resumiu.
A Secretaria de Mobilidade e o Sindicato dos Taxistas (Sinpetaxi-DF)
informaram que Luís não tinha cadastro como taxista.
Medo
No local do crime, ficaram os rastros do tiroteio. No
teto do posto de gasolina, que funcionou normalmente ontem, há duas
marcas de tiros. Na placa de trânsito próxima à entrada do
estabelecimento, há outros dois furos. O crime assustou os brasilienses,
principalmente, por ter acontecido em horário considerado de movimento —
por volta das 6h30, quando as pessoas seguem para o trabalho e pais
levam crianças para escolas próximas da localidade. Morador da 110
Norte, o engenheiro Jaime Mano destacou a sensação de insegurança. “Esse
crime mostra que estamos à mercê do perigo. Além desse local, existem
outros críticos. Bem próximo daqui, na 508, temos que lidar com a
ameaças de guardadores de carros. O uso de drogas está em todo lugar,
principalmente nas entrequadras.”
No dia seguinte ao tiroteio, as marcas das balas no posto e na placa em
frente ao estabelecimento lembravam as cenas de violência
Esta foto não foi efetuada em uma favela do Rio ou de qualquer outra grande cidade; e sim, no Plano Piloto de Brasília - ex-área nobre da Capital Federal
A quadra onde
ocorreu o crime era, até então, considerada segura devido a uma
especificidade: em um dos blocos, residem ministros. Portanto, em
determinados horários, a quadra passa por vigilância de policiais
federais. Quem mora nas proximidades do posto reclama que já registrou
por lá o uso de drogas, bebidas e até cenas de sexo ao ar livre. O
presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Brasília, Alcino
Marçal Almeida, alerta que ocorrências eram constantes no
estabelecimento. “Já havíamos alertado em diversas ocasiões sobre esses
perigos, mas acabou ocorrendo esse crime. Ficamos com uma sensação de
insegurança. Com essa morte, agora, esperamos que seja feito algo
efetivamente”, destaca.
Para Cássio Thyone,
integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o crime ocorrido na
Asa Norte é apenas um reflexo do que ocorre em todo o Distrito Federal.
“Como brasilienses, tendemos a nos surpreender quando os fatos ocorrem
no Plano Piloto. A criminalidade não é restrita à periferia ou a locais
menos abastados”, destaca. Para o especialista, é preciso uma apuração
precisa para saber os fatos que culminaram no crime, seja relação com
drogas, seja por outros motivos. “O fato é que, nesse tiroteio, poderiam
ter ocorrido vítimas que não têm qualquer ligação com o consumo de
entorpecentes. Alguém que estava simplesmente passando próximo ao
local”, aponta.
Ocorrências
Se
durante o dia a Asa Norte é bem movimentada pela grande presença de
empresas, à noite o movimento é na W3. Por lá, além da prostituição, há
registros de tráficos de drogas. A Polícia Militar aponta a localidade
como crítica, por isso, segue em constante monitoramento de toda a
região. “As características são de traficantes circulando com poucas
quantidades de drogas. Eles escondem parte das porções em vários pontos
próximos de onde comercializam para dificultar o militar encontrar o
entorpecente. A consequência é que, em algumas ocasiões, eles são
detidos, mas enquadrados apenas como usuários. A corporação usa do
serviço de inteligência para monitorar e prender esses traficantes”,
detalhou o porta-voz da corporação, major Michelle Bueno. Somente neste
ano, a corporação prendeu 76 pessoas por uso e porte de entorpecentes.
Em 2016, foram 104 detidos.
Quatro perguntas para Marcelo Durante, subsecretário de Gestão da Informação da Secretaria de Segurança Pública
Embora
alguns crimes tenham caído, como o de homicídios, na rua, a população
se queixa da sensação de insegurança. O que reflete essa onda de medo
entre moradores do Distrito Federal?
Uma coisa é o
crime, outra coisa é o medo. Independentemente se a pessoa ou alguém da
família tenha sido ou não vítima de uma ocorrência, só de ela saber que o
caso existe e assistir a isso na televisão, a sensação de
vulnerabilidade já é internalizada. E esse sentimento cresce à medida
que as condições de iluminação e higiene não são favoráveis.
Infelizmente, com o processo da aposentadoria, houve baixa no efetivo da
polícia e, quando as pessoas não veem policiais, o medo pode ser
provocado. Hoje, no Distrito Federal, cerca de 13% da população é vítima
de crime, mas 78% é vítima do medo. Justamente porque a sensação de
insegurança é mais do que simplesmente o crime. Se, por um lado, a gente
tem enfrentado o problema de criminalidade, precisamos, por outro, de
políticas direcionadas para o medo. E isso está acontecendo com ações
visando combater e reduzir a sensação de vulnerabilidade por meio de
programas.
Quais os principais crimes que baixaram?
Estamos
tendo resultados ainda mais exitosos referentes aos homicídios. Se, no
ano passado, tivemos a menor queda em 22 anos, apenas no primeiro
trimestre deste ano, tivemos uma redução de 23% nos casos. Se nos
mantivermos assim, será o menor número em 25 anos. Em relação aos
roubos, fizemos uma ação importante com a Anatel para que os celulares
roubados não possam ser cadastrados novamente para gerar uma segunda
linha. Acreditamos que, com isso, haverá um impacto muito significativo
nessa incidência de crime, principalmente porque em 70% dos casos de
roubo e furto o objeto mais visado é o celular. [o incompreensível é que o registro do IMEI - que impede que o telefone roubado seja utilizado com outro número - existe há mais de dez anos e não é feita a divulgação.
As autoridades da segurança pública, não só do DF mas de todo o Brasil, deveriam fazer uma divulgação intensa da existência do IMEI e que seu uso tornará o celular roubado impossível de ser negociado - com o uso intensivo do IMEI comprar celular roubado é tão interessante quanto comprar medidor da CEB ou hidrômetro da CAESB, ninguém quer.
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Identificar o IMEI do seu celular é simples:
- pode ser encontrado retirando a tampa traseira, as vezes sem necessidade de remover a bateria;
- ou digitando *#06# quando você digita o último # surge o IMEI de cada um dos chips do seu telefone.
O número do IMEI não muda mesmo quando o chip é trocado
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Embora
os casos contra a vida tenham reduzido, quando eles acontecem à luz do
dia, como ocorreu na Asa Norte, dão a sensação de aumento da
criminalidade. Por que isso tem acontecido?
Percebemos
os crimes muito relacionados com a questão de droga e tráfico. Quando
acontece algo contra o patrimônio, envolvem grupos articulados, que
entram em conflitos entre si. Por outro lado, estamos conseguindo uma
redução especialmente em relação ao caráter da passionalidade nos
crimes, o que é importante, mas, em compensação, as situações de
latrocínio têm ganhado nos crimes letais intencionais. Outro problema
sério é a reincidência, em que precisamos lidar em conjunto com a
Justiça.
A Secretaria de Segurança Pública incorporou ou pretende adotar algum modelo de combate aos crimes de outras cidades?
A
nossa estratégia central hoje de segurança pública, de lidar com áreas
críticas, identificando as características das regiões e atuando em cima
dos dados, é a abordagem de Gestão Orientada para Resultados. Essa foi a
solução de problemas em Nova York e de intervenções em Minas Gerais e
em São Paulo. São cidades que focaram em áreas críticas e atuaram não
apenas com a ação da polícia, mas melhorando as condicionantes urbanas.
Diálogo
Leia a transcrição da conversa de Rafaela Teixeira de Souza com um amigo em que planejam o crime:
Rafaela: Amigo, tem arma aí?
Amigo: é vc msm? O que ouve? (sic)
Rafaela: Sou eu. Mas é que deu merda. Vou matá (sic). Me ajuda.
Amigo: Mata (sic) quem?
Rafaela: Amigo tem? Busco aí.
Amigo: Para com isso.
Rafaela: Já consegui uma. Sobrinho ninguém faz osso comigo.
Amigo: Rafa, o que tá (sic) acontecendo???
Rafaela
(em áudio): Me ameaçaram, ameaçaram meu namorado com uma arma. Eu
consegui uma aqui e duas facas. Cês tão de mimimi (sic). Eu sei que você
não quer que eu faça isso. Mas agora, véi, vai rolar.
Amigo: (Três emotions de carinhas assustadas)
Rafaela: Sobrinho, tentaram me matar
Amigo: Já tirou essa loucura da cabeça?
[conforme é habitual todos os envolvidos no tiroteio continuam soltos; Rafaela foi presa por ter procurado uma Delegacia de Polícia.]
Fonte: Correio Braziliense