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sábado, 13 de março de 2021

Decisão desastrada de Fachin muda jogo político e reforça polarização

Ao anular todos os processos contra Lula numa tentativa (frustrada) de proteger Moro, o ministro do STF implode a Lava-Jato e atira o país em incertezas

Edson Fachin nunca escondeu sua admiração pela Lava-Jato e o grande apreço pelo trabalho do ex-juiz Sergio Moro. Nos últimos meses, o ministro estava visivelmente preocupado com o destino da maior operação de combate à corrupção da história. Havia sinais concretos de que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), da qual ele é um dos membros, aceitaria um pedido de suspeição de Moro impetrado pela defesa do ex-presidente Lula. Essa hipótese, se confirmada, não só anularia a principal condenação imposta ao petista como abriria caminho para que outros acusados também escapassem da Justiça. Seria, segundo ele, o início da implosão total da Lava-Jato, a senha para uma anistia geral, a confirmação de que os poderosos continuavam acima da lei. Fachin resolveu agir. Na segunda-feira 8, numa decisão monocrática, extemporânea e surpreendente, ele mesmo se encarregou de implodir tudo — e ainda foi além. Numa única canetada, anulou todos os processos contra Lula, restabelecendo os direitos políticos do ex-presidente, escancarou de vez a porta da impunidade pela qual outros criminosos poderão passar a partir de agora e conspurcou a imagem do STF.
 
Fachin e a decisão sobre Lula
A decisão de Fachin, mais que surpreender, chocou por se apresentar como uma manobra jurídica para proteger a reputação de Sergio Moro. Por mais nobres que sejam os objetivos, não é o papel que cabe a um magistrado. A operação tabajara começou a se materializar no fim de semana. Desconfiado de que o pedido de suspeição entraria em pauta na terça-feira 9, o ministro disparou uma bateria de mensagens de texto para o presidente do Supremo, Luiz Fux, defendendo a necessidade de proteger o legado da Lava-Jato, mas não deu pistas do que pretendia fazer. Uma das hipóteses era agendar o julgamento de algum figurão apanhado na investigação. Não houve tempo para levar o plano à frente. 
 
Na manhã de segunda-feira, Fachin soube que o pedido de suspeição de Moro seria realmente analisado no dia seguinte. Sem muito tempo para elaborar, a ideia que surgiu foi anular os processos contra Lula, argumentando que os casos envolvendo o ex-presidente não tinham conexão direta com o escândalo da Petrobras e, portanto, não deveriam ter tramitado na Justiça Federal em Curitiba. Imaginava que essa medida tornaria sem efeito o pedido de suspeição, salvaria a biografia do ex-juiz e ainda preservaria uma parte da Lava-Jato — mas conseguiu apenas produzir uma das maiores patacoadas jurídicas da história do STF.Edson Fachin passou a borracha nas duas condenações de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro e em outros dois processos que ainda estavam em curso (veja o quadro). 
 
Sem as imputações, o petista não se enquadra mais na Lei da Ficha Limpa, recupera seus direitos políticos e, se desejar, pode disputar as eleições presidenciais do ano que vem (veja a reportagem na pág. 28). Fachin, ressalte-se, não inocentou Lula, mas lhe conferiu um salvo-conduto para seguir a vida, sem a perspectiva de voltar a ser incomodado pela lei. O ministro determinou que os processos anulados sejam refeitos na Justiça Federal em Brasília — uma tese que pode­ria fazer sentido lá trás, mas não agora. Com essa mudança de competência, de acordo com cálculos de especialistas, o julgamento na primeira instância seria concluído, na melhor das hipóteses, em cinco anos. Ou seja, sem considerar eventuais incidentes, o ex-presidente receberia sua sentença em 2026, quando estará com 81 anos. Em caso de condenação, vale lembrar, ainda há possibilidade de vários recursos na segunda instância, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no próprio STF. Em suma, as chances de uma nova punição são praticamente nulas. 
 
(....) 
 

O ministro Gilmar Mendes, porém, ignorou a decisão do colega e pautou o julgamento da suspeição de Moro, que recomeçou na terça-feira, mas foi interrompido por um pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques, a quem caberá o voto de minerva. O placar está empatado por 2 a 2. Mendes, aliás, já estava com sua decisão pronta havia algumas semanas, mas, como ainda tinha dúvidas sobre o voto de Nunes Marques, segurou sua apresentação. A atabalhoada decisão de Fachin acabou acelerando o processo. Ou seja: a intenção de salvar Moro não surtiu efeito, colocou de todo modo o ex-juiz no banco dos réus e ainda provocou diversos efeitos paralelos. Entre eles, a implosão da Lava-Jato e o recrudescimento da polarização entre esquerda e direita no país. “Ainda que eu tenha restado vencido na maioria dos casos em que se reduziu a competência da vara, apliquei a agora orientação majoritária do colegiado”, disse Edson Fachin a VEJA.

Embora as chances de vitória sejam remotas, o procurador-geral da República, Augusto Aras, anunciou que vai recorrer ao plenário do STF para tentar reverter a decisão do ministro de anular os processos contra o ex-presidente. Por enquanto, ela está valendo apenas para Lula, mas isso, de acordo com juristas, é questão de tempo. “Réus e delatores que fecharam acordos em Curitiba e eventualmente não estão satisfeitos com os benefícios podem argumentar que seus crimes nada tiveram a ver com a Petrobras”, adverte a desembargadora aposentada Cecília Mello. O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, condenado a 55 anos de prisão, e o doleiro Alberto Youssef, um dos primeiros colaboradores a descrever em detalhes o esquema de corrupção que operava na estatal, já acionaram seus advogados para avaliar todas as possibilidades. Para proteger Sergio Moro, o ministro Edson Fachin reforçou a percepção de que o rigor da lei é um princípio de ocasião que não vale para todos.

Clique aqui, MATÉRIA COMPLETA

Com reportagem de Gabriel Mascarenhas

Publicado em VEJA, edição nº 2729 de 17 de março de 2021

 

sexta-feira, 16 de junho de 2017

O jogo político de Janot

IstoÉ teve acesso a gravações da Lava Jato que mostram as ações políticas na PGR para atender aos interesses pessoais de Janot

 As mais recentes ações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, muitas das quais controversas, revelaram que ele vinha trafegando numa linha tênue e perigosa que separava a boa e necessária liturgia jurídica de seus interesses pessoais e políticos

O que ISTOÉ traz agora em suas páginas indica que Janot pode ter ultrapassado e muito essa fronteira. Trata-se de duas ligações telefônicas, ainda sob sigilo judicial, interceptadas pela Polícia Federal, no âmbito da operação Lava Jato, obtidas com exclusividade pela reportagem de ISTOÉ. Na gravação, com pouco mais de 13 minutos de duração, a procuradora da República Caroline Maciel, chefe da PGR no Rio Grande do Norte, mantém uma conversa estarrecedora com o colega Ângelo Goulart. No diálogo, Caroline o alerta sobre os perigos de um eventual apoio dele a Raquel Dodge, candidata à sucessão do procurador-geral da República e tida como “inimiga” de Janot. 

Gravações mostram procuradores da República reclamando das perseguições de Janot

De acordo com Caroline, “a tática de Janot é apavorar quem está do lado de Raquel”. Sete dias depois da conversa, ocorrida em 11 de maio deste ano, Ângelo teve sua prisão decretada pelo próprio Rodrigo Janot. “A conversa que rola é que você estaria ajudando Raquel. Estou te avisando porque parece que a guerra está num nível que eu não consigo nem imaginar porque eu não sou desse tipo de coisa. Inclusive, pelo que eu senti, a tática de Janot é apavorar quem estiver do lado de Raquel”, afirmou.

Outro trecho é ainda mais revelador sobre um possívele impróprio modus operandi na PGR. Guarda relação com as investidas da procuradoria-geral da República contra parlamentares. Deixa claro que as ações envolvendo políticos nem sempre estão assentadas, como deveriam, no estrito exame da lei. Sugerem que investigações podem estar contaminadas por ambições tão individuais quanto inconfessáveis. 

Em tom de desespero, devido ao clima beligerante instalado na procuradoria, Caroline afirma que, por ter franqueado apoio a Raquel Dodge, o presidente do DEM e senador José Agripino Maia (RN) entrou na alça de mira da Procuradoria-Geral da República. Segundo Caroline, outro procurador da Lava Jato compartilha da mesma apreensão. “É o seguinte. O Rodrigo (Rodrigo Telles de Souza, procurador da Lava Jato no STF) está muito preocupado porque ouviu (…) ele disse que se fala lá nessa história de (senador) José Agripino (DEM-RN) ter prometido apoio a Raquel. E querem de alguma forma agora lascar José Agripino. (…) Aí Rodrigo é um que está apavorado. ‘É, estou com medo de acontecer alguma coisa, agora Janot vai partir pra cima e não sei o quê…’ Eu disse: Meu Deus do céu, ele tá apavorado, senti que ele está apavorado. Porque Rodrigo (Teles), coitado, ele não é ligado a ninguém”.

Os áudios são devastadores e tisnam a imagem do procurador-geral da República num momento crucial para a Lava Jato e de suma importância para o País, a três meses do encerramento do seu mandato. Mostram que Janot pode estar se movimentando ao sabor de suas conveniências particulares e políticas, o que coloca em suspeição não só as ações pretéritas do procurador-geral como as futuras. Não foram leves as últimas munições disparadas por Janot, como o controverso acordo com os donos da JBS, – celebrado no afogadilho e marcado pela condescendência com os delatores investigados – as prisões de Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e de Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG), e a própria denúncia contra o ex-presidente do PSDB. 

Como não é nada desprezível o arsenal que Janot vem preparando para breve. Nos próximos dias, ele deve denunciar o presidente da República, Michel Temer, por corrupção passiva e organização criminosa. A questão que se impõe agora, diante das revelações trazidas por ISTOÉ, é: terá o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, legitimidade para levar adiante ações de tamanha envergadura com potencial para influir não só na atual disposição das peças do tabuleiro do poder político, como na sucessão presidencial de 2018?



 SILÊNCIO CONVENIENTE O ministro Edson Faquin ainda deve explicações sobre jantar com delator da JBS

O alerta a Angelo Goulart
Em conversa mantida no dia 11 de maio deste ano com o procurador da República, Ângelo Goulart, a colega Caroline Maciel mostra grande preocupação com o eventual apoio dele a Raquel Dodge, arqui-inimiga e candidata à sucessão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Segundo ela, Janot quer “destruir todo mundo nos arredores” e que sua “tática é apavorar quem está do lado de Raquel”. Sete dias depois da conversa, Ângelo teve sua prisão decretada.


Caroline  Maciel    Eu  soube da informação que (Rodrigo)Janot está pensando em ficar, em tentar permanecer, e quer destruir todo mundo nos arredores. A conversa que rola é que você estaria ajudando Raquel (Dodge, candidata à PGR e opositora de Rodrigo Janot).

Goulart Eu?
Caroline Maciel Estou te avisando porque parece que a guerra está num nível que eu não consigo nem imaginar porque eu não sou desse tipo de coisa.
Goulart Mas da onde apareceu isso, gente? Nem contato com a Raquel eu tenho?
Caroline Maciel Inclusive, pelo que eu senti, a tática de Janot é apavorar quem estiver do lado de Raquel. Claro que tem gente que nem liga. Mas tem gente que…
Caroline Maciel Parece que o negócio tá…
Goulart Incoerente. Ontem ele (Janot) pediu um favor para ver um negócio no TSE para ele (Goulart atuava na vice-procuradoria-geral eleitoral, com uma mesa de trabalho no TSE inclusive).

Vícios de origem
Assim como Agripino Maia, Temer também inclina-se por Raquel Dodge para substituir Janot. Ela é a candidata preferida não só de Temer, como de auxiliares do presidente – tudo o que o procurador- geral menos quer, como demonstram claramente os áudios. Se, como dizem as gravações, Agripino seria perseguido pela PGR por articular apoio à arqui-inimiga de Janot na procuradoria-geral, por que o mesmo não poderia estar acontecendo com outros políticos, o presidente da República incluído? Janot, nesse contexto, pode ter declarado guerra aberta ao presidente Temer por sua inclinação a favor de Raquel. Em qualquer País sério do mundo, as deliberações de Janot seriam seriamente questionadas, para dizer o mínimo, por conter vícios de origem.

A própria prisão do procurador Ângelo Goulart foi precedida de eventos nebulosos. Como é notório, Goulart é o procurador que foi preso em 18 de maio deste ano, acusado de receber dinheiro para repassar informações ao empresário Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, a respeito de investigações que o envolviam. A prisão foi decretada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, a pedido da Procuradoria-Geral da República. Fachin, a propósito, ainda deve explicações a respeito de um suposto jantar com a presença de Joesley e Ricardo Saud, executivo da JBS, durante sua campanha à vaga de ministro. A informação sobre os vazamentos de Goulart foi passada à PGR pelo próprio Joesley Batista em delação premiada. Na famosa conversa mantida entre Joesley e Temer, o empresário comunica ao presidente sobre a ‘compra’ de um procurador da República para ajudar os acionistas da holding com informações sobre as investigações em andamento. Segundo o dono da JBS, Goulart recebeu suborno para repassar informações sigilosas sobre a Operação Greenfield, que investiga corrupção, lavagem de dinheiro e fraudes em fundos de pensão de funcionários de estatais. Ocorre que, inicialmente, Joesley negou aos procuradores que o aliciamento ao procurador fosse para valer. Classificou-o como “blefe” e “bravata”. Dias depois, quando as negociações com a Procuradoria avançaram, ele resolveu mudar o depoimento e asseverou que, sim, a compra do informante era real. Diante das revelações trazidas à baila agora por ISTOÉ é licito indagar: o que pode ter provocado a reviravolta? Mais: o possível apoio de Goulart a Raquel Dodge pode ter sido determinante para a mudança de versão e a conseqüente prisão do procurador, uma vez que Joesley e a equipe de Janot estavam indiscutivelmente afinadas e interessadas em correr com uma delação “boa para ambas as partes”?

Clima de guerra
A julgar pelas palavras da procuradora Caroline Maciel, identificada na conversa como “Carol”, trata-se de um cenário plausível. Durante toda conversa, ela demonstra sua angústia em relação à guerra interna responsável por incendiar a PGR nos meses que antecedem a nova eleição ao cargo de procurador-geral da República, que terá novo ocupante em setembro. Desde março, as movimentações para a disputa vêm se intensificando e o clima se deteriorando na mesma proporção. O diálogo indica que a atmosfera na Procuradoria é de caça às bruxas, em que os procuradores têm medo de serem associados a algum candidato específico e sofrer retaliações após o resultado – um temor que deveria passar a léguas de distância de um órgão como o Ministério Público Federal, criado exatamente para denunciar abusos e atos criminosos contra a sociedade. 


“Esse negócio é muito ruim, esse ambiente”, lamenta Ângelo em dado momento do diálogo. A procuradora corrobora: “Muito ruim. Eu estou te falando porque eu adoro você. E vi seu nome virando pelos meios lá. Ficou tipo assim, como inimigo (de Janot). Eu não gosto dessas coisas não, Ângelo”. Ela volta ao tema ao dizer que “os ânimos estão muito piores do que se pensava. “Eu tô apavorada, que eu não gosto disso, não.”

Em tom de desespero, a procuradora Caroline Maciel conta como políticos entraram na alça de mira da PGR depois de apoiarem a adversária de Janot: “Querem de alguma forma lascar Agripino”

Quando o diálogo aconteceu, ainda não havia se encerrado o prazo de apresentação das candidaturas para a eleição pelo comando da PGR, o que só se concretizou no dia 24 de maio – 13 dias depois. Àquela altura, Janot ainda cogitava concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Por isso, num trecho da conversa, Caroline fala numa “estratégia de guerra” para Janot se manter no cargo. “Tô te dizendo isso porque a coisa lá parece que vai ser pesada, pelo menos a estratégia de guerra, e tá se falando lá pelo gabinete que Janot vai tentar ficar só pra Raquel não ficar”, afirma ela, para logo em seguida reforçar. “Se você quiser apoiar que você quiser, você pode apoiar. Isso tem que ser uma coisa democrática. Meu Deus do céu. Mas parece que tá assim: se você está com um você é inimigo do outro. Ai, meu Deus, isso não existe para mim”. Procurada por ISTOÉ na quinta-feira 15, a procuradora-chefe da PGR no Rio Grande do Norte, Caroline Maciel, reiterou as afirmações extraídas do áudio. “Não estava defendendo nem a candidatura de Raquel nem de Janot”, quis deixar claro.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acabou recuando da ideia de um novo mandato, principalmente depois do esgarçamento da relação com Temer, em consequência da divulgação do acordo de delação premiada com os irmãos Wesley e Joesley Batista, da J&F. Mesmo assim, Janot permanece empenhado, mais do que nunca, em evitar a ascensão de Raquel Dodge. Em 2015, ela obteve 402 votos dos colegas e ficou em terceiro lugar na preferência para ocupar o posto. 

A escolha dela pelo presidente da República pode representar o ponto final da era Janot na PGR. Concorrem contra ela, Nicolao Dino e Mário Bonsaglia,  hoje os preferidos do procurador-geral. Janot receia sobretudo que Raquel, uma das responsáveis pela Operação Caixa de Pandora, contrarie interesses de seu grupo na procuradoria. Por “contrariar interesses” leia-se abrir uma série de investigações internas e instaurar processos administrativos capazes de colocar em xeque as ações de Janot – muitas das quais nadas republicanas, como indicam as gravações reveladas agora por ISTOÉ – à frente do órgão.


A perseguição a Agripino
A procuradora da República Caroline Maciel diz a Angelo Goulart que, por ter prometido apoio a Raquel Dodge, o senador José Agripino Maia (RN), presidente do DEM, virou alvo da Procuradoria-geral da República. “querem de alguma forma agora lascar José Agripino”, revelou ela.

Goulart – Olha, na boa, Carol, eu estou c. (palavrão) e andando para isso. Eu tenho consciência do que eu faço. Então, quer achar? Acha. Não fiz nada demais, nada demais.
Caroline Maciel – É o seguinte. O Rodrigo (Rodrigo Telles de Souza, outro procurador da Lava Jato no STF) está muito preocupado porque ouviu (…) ele disse que se fala lá nessa história de (senador) José Agripino (DEM- RN) ter prometido apoio a Raquel. E querem de alguma forma agora querem lascar José Agripino (Agripino responde a inquérito no STF e teve seus sigilos quebrados em apuração sobre suspeita de propina paga a ele pela OAS).
Goulart – Então, tô nem aí.
Caroline Maciel – Agora, Rodrigo (Teles), coitado, acho que estão fazendo aquela tática tipo assim: “Raquel vai destruir todo mundo”, sabe? Aí Rodrigo é um que está apavorado. “É, estou com medo de acontecer alguma coisa, agora Janot vai partir pra cima e não sei o quê…” Eu disse: Meu Deus do céu, ele tá apavorado, senti que ele está apavorado. Porque Rodrigo (Teles), coitado, ele não é ligado a ninguém.
Goulart – Mas isso aí… o que ele vai poder prejudicar? Vai prejudicar em que, cara?
Caroline Maciel – Não sei, sei lá. Enfim, fico apavorada com esses negócios. Mas estamos lá: seu santo nome em vão no meio e o meu também.
Goulart – O seu também?
Caroline Maciel – O meu também porque eu estou sendo acusada de ter intermediado o acordo de José Agripino com Raquel (Dodge) (risos) Coitada de mim. A única vez que tive com José Agripino fiquei foi me tremendo todinha com as coisas, porque eu não sou acostumada com esse negócio.
Caroline Maciel – Cacete… Então meu santo nome está lá, dizendo que eu estou intermediando o encontro de José Agripino com Raquel. Só que é óbvio que quem intermedeia esses encontros é Luciano Maia, que é primo dele.

A “estratégia de guerra” de Janot para permanecer na PGR
Neste trecho da conversa, a procuradora da República Caroline Maciel fala sobre o clima beligerante na PGR e o possível vale-tudo para que Rodrigo Janot permaneça no cargo por mais um mandato. “a coisa lá parece que vai ser pesada, pelo menos a estratégia de guerra … e tá se falando lá pelo gabinete que o Janot vai tentar ficar só pra Raquel não ficar”
Goulart – Esse negócio é muito ruim, esse ambiente.
Caroline Maciel – Muito ruim. Eu estou te falando, porque eu adoro você. E vi seu nome virando pelos meios lá. Ficou tipo assim como inimigo.
Goulart – É um jogo, cara, tá um clima horrível isso aí.
Caroline Maciel – É nesse jogo acaba que gente que não tem nada a ver pode se prejudicar, sabe?
Caroline Maciel – Eu tô te dizendo isso porque a coisa lá parece que vai ser pesada, pelo menos a estratégia de guerra e tá se falando lá pelo gabinete que o Janot vai tentar ficar só pra Raquel não ficar.

Raquel Dodge, sucessora?

(...)

 MATÉRIA COMPLETA em ISTO É

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Ministro Barroso, indicado por Dilma, tenta desqualificar crime de responsabilidade como razão para impeachment - Sua Excelência deveria se abster de opiniar sobre assuntos de outro Poder

Crime de responsabilidade não basta para destituir presidente, diz Barroso

Barroso defendeu que "pessoas razoáveis e bem intencionadas" têm bons argumentos ou para afirmar que o processo contra a presidente afastada é ilegítimo ou para pensar o contrário

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou nesta quarta-feira, 8, que crime de responsabilidade não basta para desencadear um processo de impeachment no País. Em uma palestra para alunos da Universidade de Brasília, ele sustentou que, embora tenha havido infrações em outros governos, a perda de apoio político é condição indispensável para o afastamento do presidente da República. "O impeachment depende de crime de responsabilidade. Mas, no presidencialismo brasileiro, se você procurar com lupa, é quase impossível não encontrar algum tipo de infração pelo menos de natureza orçamentária. Portanto, o impeachment acaba sendo, na verdade, a invocação do crime de responsabilidade, que você sempre vai achar, mais a perda de sustentação política", afirmou o ministro ao fazer uma crítica sobre o sistema político do País

O argumento é semelhante ao que sustenta a defesa da presidente afastada Dilma Rousseff no processo de impeachment. Segundo ela, os supostos crimes pelos quais responde no Senado foram cometidos por outros presidentes no passado sem maiores consequências. As chamadas pedaladas fiscais, por exemplo, foram adotadas tanto por Luis Inácio Lula da Silva quanto por Fernando Henrique Cardoso, os dois antecessores de Dilma.

Barroso defendeu, no entanto, que "pessoas razoáveis e bem intencionadas" têm bons argumentos ou para afirmar que o processo contra a presidente afastada é ilegítimo ou para pensar o contrário. Na avaliação dele, se, por um lado, a perda de popularidade não justifica o afastamento da petista, a falta de sustentação política para aprovar medidas capazes de tirar o País da crise não ajuda a situação dela.

"Eu acho que quem acha que (o impeachment) é golpe tem fundamentos razoáveis para dizer que não há uma caracterização evidente de crime político e, na verdade, está-se exercendo um poder do ponto de vista de quem foi derrotado nas eleições. Esse é um discurso plausível. O outro é: a presidente não tinha mais sustentação política para fazer o que o País precisava, e a maior parte da sociedade e a maior parte do Congresso acharam que era melhor afastá-la".


Jogo político

O ministro rechaçou a possibilidade de o STF tomar uma posição a respeito do assunto e disse que, se a Corte escolher um lado, perde a legitimidade. "Não é papel do Supremo jogar o jogo político quando ele chega nesse estágio. Essa deixa de ser uma questão de certo ou errado e passa a ser uma questão de escolhas políticas. Não é papel do Supremo fazer escolhas políticas", defendeu.

Indicado por Dilma em 2013 para ocupar uma cadeira no STF, Barroso foi relator
da decisão sobre o rito do impeachment no ano passado, após o julgamento em que o argumento dele saiu vitorioso ao admitir a tese do governo petista de que os deputados apenas autorizavam o andamento da denúncia, mas a decisão de instaurar o processo dependia do Senado.

Pouco antes de Dilma ser afastada, o ministro chamou atenção ao fazer duras críticas ao PMDB, partido do qual faz parte o presidente em exercício Michel Temer. "Meu Deus do céu! Essa é a nossa alternativa de poder", afirmou o Barroso sem saber que estava sendo filmado pelo sistema interno de TV do STF sobre a hipótese de Temer e seus aliados assumirem o governo.

Fonte: Correio Braziliense