Análise Política
Os dados da inflação não vieram bons nesta semana, especialmente o que
os economistas chamam de núcleo do índice, não tão vulnerável aos
choques de um ou outro item. A taxa parece resiliente. Nuvens
carregadas, que prenunciam turbulências econômicas e políticas. Mantidas
as atuais metas inflacionárias, o Banco Central dificilmente afrouxará
os juros, se é que não vai apertar. E é pule de dez que, nesse caso, o
governo não ficará só reclamando pela imprensa. [pergunta: o que o desgoverno do petista pode fazer além de vociferar, expelir bobagens?
Usar a maioria no CMN para afrouxar medidas necessárias ao combate a inflação, certamente, não vai melhorar o conceito do atual governo. FATO: o desgoverno acabou - aliás, o boquirroto que declararam presidente e que sempre fala demais, e bobagens, se vangloriava de que começou a governar antes da posse; só que, estupidamente, parou de governar imediatamente antes da posse. Que fez a trupe que ocupa o Poder Executivo da União de útil para o Brasil e os brasileiros - especialmente os mais pobres? do dia 1º janeiro até hoje? (72 dias corridos). Citando uma realização: aumentou o salário mínimo em R$ 18. CLIQUE AQUI PARA OUTRAS.
A tática governamental, por enquanto, tem sido dar sinais de que vai
caminhar com alguma responsabilidade fiscal, na expectativa de
sensibilizar o mercado e influenciar positivamente as expectativas,
criando assim as condições para o BC não ter outro caminho a não ser
desapertar a corda no pescoço da economia. Na teoria, pode funcionar. O
problema talvez sejam os fatos, sempre teimosos. Os últimos números da
inflação enquadram-se nessa categoria.
Um fato é o juro real do Brasil ser líder no mundo. Outro fato é a
inflação estar num patamar desconfortável para a autoridade da moeda,
pois mesmo com o juro obeso as taxas caminham longe do atingimento da
meta. [em outubro/22, mês em que o risco do petista ser eleito aumentou, a inflação iniciou um discreto viés de alta, intensificado em janeiro/2023 e continua crescente.] Onde está o nó?
A tarefa legal do BC é buscar a meta, mas o
governo acha o alvo atual irrealista.
Na teoria, não seria complicado
resolver: o governo tem dois dos três votos do Conselho Monetário
Nacional, pode subir a meta.
É possível que o Planalto esteja preparando terreno para fazer isso. E
vem aí o projeto de uma nova âncora fiscal, [projeto próximo, em inutilidade, ao da criação da moeda única.] para substituir o falecido
teto de gastos. Por enquanto, revogou-se parcialmente a desoneração dos
combustíveis e taxaram-se as exportações de petróleo, num esforço para
aumentar as receitas e ajudar o resultado primário. Um sinal bem claro
de que o governo não economizará esforços para arrecadar. [arrecadar, não podemos esquecer, via AUMENTO DE IMPOSTOS.]
Ao mesmo tempo, não dá sinal de nenhum esforço para cortar gastos. O que
tampouco deve provocar surpresa. A linha econômica em execução segue as
convicções dos eleitos. É verdade que havia alguma fé em que a frente
ampla para eleger Luiz Inácio Lula da Silva produziria, talvez por
geração espontânea, um governo algo liberal e austero na economia. Neste
caso a fé não parece, por enquanto, capaz de mover montanhas.
Tivesse maioria parlamentar confortável, o governo certamente partiria
para uma reforma mais estrutural, acabando com a autonomia do BC. Sem
isso, precisará ater-se ao seu próprio cercadinho, e é bom, portanto,
ficar de olho numa eventual elevação da meta de inflação.
O que traz o
risco de mais deterioração de expectativas, e daí mais aperto vindo do
BC.
Só que, na prática, é o caminho hoje disponível para o governo agir
sem depender do Parlamento.
Onde aliás o Executivo vive uma encruzilhada. Não tem uma maioria firme,
nem goza de um potencial alinhamento programático, algo que sempre
reduz o custo de manter uma base funcional.
O governo é de esquerda e o
Congresso inclina-se à direita.
Na teoria, este poderia ser disciplinado
com verbas e cargos, mas nem todo o estímulo material transformará
bancadas eleitas em alinhamento com Jair Bolsonaro numa cidadela em
defesa do programa do PT.
Lula, experiente, sabe que corre o risco de concessões maximalistas que
produzam, no máximo, apoio congressual minimalista. E resiste. O risco
para ele está em a desaceleração econômica, agravada pelo esforço do BC
para conter a inflação, trazer uma corrosão de popularidade que empodere
os hoje candidatos a amigos, inimigos até outro dia e que não teriam
nenhuma dificuldade para voltar a ser. [afinal, os interesses do Brasil e dos brasileiros estarão sempre acima dos desejos da malta esquerdista.]
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político