O
presidenciável do PDT, Ciro Gomes, declarou-se convencido de que apenas a sua
vitória pode libertar Lula da prisão. Afirmou que, eleito, devolverá juízes e o
Ministério Público “para a caixinha”. Insinuou que o pior que poderia
acontecer para o condenado petista seria a chegada de um adversário ao
Planalto: “Você imagina se com um cabra desses do outro lado o Lula tem
alguma chance de sair da cadeia. Nenhuma! Só tem chance de sair da cadeia se a
gente assumir o poder e organizar a carga”.
As
declarações foram feitas em entrevista à TV Difusora,
do Maranhão. A
conversa foi ao ar há uma semana, em 16 de julho, quatro dias antes da
convenção em que o PDT aclamou Ciro como seu candidato. Língua em riste, o
personagem criticou a candidatura cenográfica de Lula. Previu que a Justiça Eleitoral enquadrará o líder petista na
Lei da Ficha Limpa em meados de setembro. Só então, vaticinou Ciro, Lula
indicará outro petista para disputar o Planalto no seu lugar.
“Ora, o
Brasil não aguenta um presidente por procuração numa alturas dessas”, declarou Ciro, antes de se
colocar nos sapatos do eleitor: “O camarada vai dizer assim: ‘eu gosto muito
do Lula, mas só porque eu gosto muito do Lula ele vai
apontar outra Dilma?' Não é por nada, é que o país está num momento
muito difícil.O país está precisando de pulso, de liderança, de autoridade, até
para corrigir a carga.”
Foi
nesse ponto que Ciro condicionou a libertação de Lula ao seu hipotético triunfo
nas urnas. O
candidato traduziu o significado da expressão “organizar” ou
“corrigir a carga”. Quer dizer “botar juiz para voltar para a caixinha
dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele. E restaurar
a autoridade do poder político.” É algo que Ciro acredita que apenas ele
será capaz de fazer, “porque ninguém inventa [uma liderança] do dia
para a noite.”
Dois dias
depois, em 18 de julho, Ciro voltaria a insinuar a intenção de atenuar a
autonomia do Ministério Público. Ele chamara o vereador paulistano Fernando
Holiday (DEM) de “capitãozinho do mato”.
Em consequência, tornou-se protagonista de um inquérito por “injúria
racial”. Sem saber que a ordem para a abertura da
investigação partira de uma promotora, explodiu numa palestra:
“Um
promotor aqui de São Paulo resolveu me processar por injúria racial, e pronto.
Um filho da puta desse faz isso, e pronto. Ele que cuide de gastar o restinho
das atribuições dele, porque se eu for presidente essa mamata vai acabar”. Faltou explicar o conceito de ''mamata''.
Faltou também esclarecer que poderes imperiais seriam acionados para exterminar
as atribuições constitucionais do Ministério Público.