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terça-feira, 20 de junho de 2023

Parabéns!Mande este texto para aquele seu amigo petista - Paulo Polzonoff Jr.

Vozes

"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.


 
Lula petista
Lula fazendo o L ou o L fazendo o Lula? Jamais saberemos…| Foto: Reprodução/ Twitter


[lamentamos, mas estamos impossibilitados de atender ao ilustre cronista = temos um círculo restrito de amigos e nele não espaço para quem é petista, tenha sido ou em nossa avaliação possa vir a ser; assim, optamos por postar.]
Ontem Lula fez mais uma de suas (dele) lives com Marcos Uchôa. Não sei se você viu. Não sei se alguém viu. Não sei nem se os petistas viram. De qualquer modo, assisti a um recorte, como dizem os jovens. Nesse trecho, um Lula quase franciscano falava de passarinhos e celebrava sua própria vitória e a vitória de seu partido oh-tão-puro sobre o ódio, o fascismo – ou qualquer outro moinho de vento do tipo. [lembrem-se que a maldade na Venezuela dobrou quando o atual ditador viu, ou sonhou, passarinhos.]

Um pouco por masoquismo e outro tanto porque eu tinha que fazer hora antes do barbeiro
, fiquei assistindo àquilo repetidamente. Reparando em cada expressão do rosto do efelentífimo. “Ó o passarinho cantando, ó. Que coisa bonita!”, diz Lula, os olhinhos semicerrados de prazer, para em seguida emendar que nas lives do ex-presidente Jair Bolsonaro não tinha nada disso. “Aqui é beleza, aqui é natureza, aqui é tranquilidade e passividade”, arremata, praticamente compondo uma música do Caetano. Ou do Nando Reis.

Aí, quanto mais assistia ao vídeo, mais me lembrava do Meu Amigo Petista (MAP). Cujo nome não posso citar porque ele tem vergonha
“Vai que o povo do trabalho descobre”, me diz ele, justificando a opção pelo anonimato. 
Como se ninguém tivesse notado a sua felicidade pós-eleitoral, né, cara? Não hesitei. Mandei o vídeo do Lula caetanizando diante do Marcos Que Vergonha Uchôa (que eu confundo com o Tino Pausa Dramática Marcos), ao lado de uma mensagem simples: parabéns. E um monte de emojis de festa.
 
Parabéns!
Porque, reconheçamos, meu amigo petista merece os parabéns. O meu e o seu. Afinal, ele não largou o Lula e o PT nunca. Haja fé em político! 
No Mensalão, por exemplo, ele tinha na ponta da língua a desculpa perfeita para a corrupção petista. Governabilidade. Depois, na chamada Eleição da Ferradura, defendeu Dilma do “machismo” de Aécio Neves. 
E aí veio a Lava Jato e meu amigo petista não largou o osso. 
Pelo contrário, ao fim do parágrafo seguinte encontraremos meu amigo petista indo levar os ossos ao acampamento em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba - onde Lula esteve preso. Por corrupção e lavagem de dinheiro.
 
Haja espírito militante! Ele, meu amigo petista, passou anos ouvindo, primeiro, os panelaços contra Dilma. Depois, o impeachment. 
Em seguida, ele assistiu às cenas de Lula visitando o triplex do Guarujá. 
E nem assim meu amigo petista se abalou. “Globo golpista”, dizia ele. 
Aí veio condução coercitiva. A prisão do Lula. 
Provas e mais provas envolvendo tantos petistas que perdi a conta. E o amigo lá. A fé inabalada. E eu não disse que ao fim deste parágrafo ele estaria levando os ossos ao acampamento de adoração ao Encarcerado? Pois olha ele ali, gritando "Bom dia, presidente Lula" perto da Maria do Rosário.
 
Depois veio o pior. Pior para ele, digo. Bolsonaro foi eleito presidente. Lula preso. Sergio Moro ministro da Justiça. 
O amigo chorou, afogou as mágoas no Bek's e nunca perdeu uma oportunidade de repetir o vocabulário que lhe ensinaram. Primeiro fascista. Depois genocida. E não adiantava as declarações ou os fatos. 
As palavras eram sempre distorcidas e os fatos eram invenção da imprensa comprada pelo imperialismo ianque. Qualquer coisa assim.

Fé cega, faca amolada
Tanta fé em Lula, no Partido dos Trabalhadores e no Sistema, que o amigo jura que é composto por pessoas que defendem a democracia e os direitos dos mais pobres (sério?!), começou a valer a pena quando o ex-condenado foi solto. De uma hora para a outra, a justiça que o amigo petista considerava corrompida ou acovardada passou a ser... justa. Teve início, aí, uma maratona cheia de obstáculos morais que meu amigo petista correu sem nem esboçar cansaço. Mais uma vez, meus parabéns.

Tudo para, hoje, meu amigo petista ouvir o Lula celebrar o cantar dos pássaros. Para ele, meu amigo petista (e provavelmente o seu amigo petista), o Brasil infernal de ontem se transformou nesta terra de esperança de hoje
Ele acredita realmente em tudo o que lhe dizem os camarada. 
Para ele, a palavra dos deputados do PT (e alguns do PSOL e PCdoB) é ouro. 
 Sem qualquer questionamento, meu amigo petista, que se acha um gênio, deposita seu futuro e o futuro dos seus filhos e netos nas decisões tomadas por sindicalistas, intelectuais e uns corruptos confessos. 
E ele ainda ri de mim, que acredito em Deus e me sei falho.
 
Assim segue o MAP pela vida, parasitando um aqui, outro acolá. Se expressando por sarcasmos espertinhos. Concordando com Renan Calheiros num dia e com Reinaldo Azevedo (quem diria?!) no outro. Compostando hoje e pagando imposto com gosto amanhã. Estupidificado. Pena que, temeroso da Covid-19, ele ainda insista em esconder o sorriso parvo por trás de uma máscara de pano, meu amigo petista. 
Que, a esta hora, deve estar se perguntando: será que ele está falando de mim? Estou.

Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 1 de agosto de 2021

Urna Eletrônica - Gazeta do Povo

Entenda por que Bolsonaro está ganhando de goleada o debate da urna eletrônica

Formadores de opinião, políticos e o próprio TSE colocaram-se como reféns do processo de Desinformação Participativa.

Madeleine Lacsko - Matéria de 30 julho 2021

Reflexões sobre princípios e cidadania

Eu não sei se você confia na urna eletrônica ou não, mas tanto faz para o artigo. Aqui falamos de confiança e desinformação, a relação entre as duas. 
Vi nas redes sociais diversos inteligentinhos dando por encerrada a discussão com aquela live de ontem, que mais parecia episódio de Hermes e Renato. 
Nos próximos dias, você comprovará exatamente o oposto, o assunto está mais vivo ainda. 

urna eletrônica voto impresso PEC

Gritaria e confusão marcam o debate público sobre urna eletrônica.| Foto: TSE/Divulgação

Não existe uma única discussão sobre urna eletrônica e confiabilidade das eleições, há duas discussões muito diferentes. A primeira e mais antiga é a discussão técnica sobre eventuais falhas, objetiva e movida por fatos. A mais popular, no entanto, é a discussão politizada em que fatos não importam. Cria-se a dúvida sobre a honestidade do outro lado e ponto final, nada de certezas.

Nas redes sociais, quem desaprova o presidente Jair Bolsonaro está soltando foguetes com a live de ontem. Crêem ser a prova cabal da mentira que ele conta sobre fraudes em eleições. Já os fãs do presidente podem até não ter gostado da falsa promessa de apresentar provas, mas acham os questionamentos pertinentes. Nada disso é discussão técnica e, por isso, o presidente ganha o debate.

Jair Bolsonaro tem uma vantagem discursiva objetiva: ele não precisa provar nada, só criar dúvidas sobre o que o outro lado apresenta. [já que o projeto defendido por Bolsonaro busca apenas dotar a votação eletrônica de meios palpáveis para garantir que não houve fraude.]   O outro lado, por sua vez, tem de apresentar explicações que não deixem brecha para questionamento, algo impossível. Questionamos até as verdades, é natural do ser humano duvidar até da própria fé.

O debate público sobre urnas eletrônicas tem colocado no mesmo balaio os dois tipos de discussão, a técnica e a política. Quem perde com isso? A verdade e o eleitor. Há técnicos sérios e reconhecidos que questionam a segurança das urnas, mas o questionamento deles não é nem parecido com o que mostra o presidente da República. O jogo chama-se "Desinformação Participativa", que expliquei com desenhos numa newsletter há alguns meses.

Quem criou este conceito foi a professora Kate Starbird, da Universidade de Washington. Ela leciona "Design e Engenharia Centrados no Ser Humano". A explicação dela é o monitoramento da acusação de fraude eleitoral feita por Donald Trump. Ela coleta dados das redes e analisa reações até entender como cidadãos comuns e adultos realmente acham que estão ameaçados a ponto de invadir o Capitólio. Assim como ocorre na questão das vacinas, o julgamento moral sobre o grupo impede que qualquer coisa seja tratada de forma clara e objetiva. Quem é a favor da vacinação tende a ver o grupo antivacina como monolítico, radical e movido a teorias conspiratórias. Não é verdade.

A maioria gigantesca tem questionamentos e medos muito humanos e pertinentes, como demonstra um levantamento do Departamento de Psicologia Comportamental da Universidade de Virginia. Ocorre que estas pessoas são ridicularizadas por questionar, mesmo com pontos muito objetivos e pertinentes. Imediatamente são carimbadas pelos inteligentinhos como antivacinas terraplanistas fanáticos.

O professor de Psicologia da NYU Jay Van Bavel acredita que quase a totalidade das confusões turbinadas pelas redes sociais é causada por um fenômeno chamado Realismo Ingênuo. Achamos que avaliamos os fatos de maneira objetiva e racional, o que é cientificamente impossível na espécie humana. Quando nos deparamos com alguém que conclui de maneira diferente, imediatamente pensamos que é burro, louco ou mal intencionado. Vale para vacina e urna eletrônica.

Esse fenômeno cria uma discussão surrealista sobre qualquer tema importante. A maioria das pessoas julga que sua opinião sobre segurança das urnas e possibilidade de fraude eleitoral é objetiva. Nunca é. O que somos e sentimos está presente em todas as análises que fazemos, por isso existe o método científico, pela nossa consciência de que todos temos inúmeros vieses. Quando juntamos assuntos tão importantes à dinâmica de redes, começa uma discussão que não tem relação com o tema. É um campeonato de virtude moral, em que um grupo precisa desqualificar de forma agressiva tudo o que pareça vindo do adversário. Bolsonaro falou "A" das urnas? Então preciso provar que é "B". A questão é se o que ele falou coincide com as dúvidas dos cidadãos ou não.

Durante a live do presidente ontem, o TSE foi divulgando informações que rebatiam ponto a ponto o que Bolsonaro dizia. O site do tribunal parece inteiramente dedicado a desmentir os boatos sobre urnas eletrônicas. É óbvio que deve ser feito e é parte importante do trabalho, mas não é a principal. Enquanto se debate um mundo de boatos, as questões legítimas dos cidadãos ficam sem resposta.  O processo de combate a campanhas de desinformação é complexo e tem base em confiança. Como confiar em alguém que debocha dos seus medos e dúvidas em vez de responder? Como confiar em alguém que iguala seus questionamentos legítimos a teorias conspiratórias de grupos radicais?

É evidente que a desinformação só piora as coisas e a responsabilidade disso é de quem cria esse debate político tóxico e emocional. Mas não é entrando nessa pauta e ignorando os questionamentos da maioria das pessoas que a questão será resolvida.O jornalismo está rendido à lógica das redes sociais e a comunicação institucional no Brasil vai pelo mesmo caminho. É ultraje de um lado, justiçamento do outro e os fatos que se danem. Hoje, os bravos guerreiros da virtude e da verdade falam da postura mentirosa do presidente, que prometeu provas e não mostrou. Também ridicularizam o acupunturista de árvores que seria fonte das dúvidas. Mas ninguém nem sabe quais são as dúvidas, anseios e medos das pessoas reais.

Sem avaliar - com pesquisas quantitativas, qualitativas e monitoramento de redes - quais são as dúvidas e medos predominantes sobre um tema, não é possível esclarecer e tranquilizar as pessoas. O grande ponto no caso das urnas eletrônicas é que ninguém entende muito direito como elas funcionam. Em vez de explicar, boa parte dos formadores de opinião dedica-se a debochar de quem considera que comprovante impresso seria uma garantia contra fraudes. Você já desconfiou que estava sendo traído ou roubado por alguém? Quando estamos nessa situação, pingo no i é letra. Tudo é sinal que confirma nossas suspeitas. Quem tem dúvidas sobre a urna eletrônica está assim. Os motivos da suspeita não estão sendo nem monitorados. Cria-se assim um público ideal para a captura no ciclo da Desinformação Participativa. É o que ocorreu na live de ontem, diante da reação dos formadores de opinião.

Estão todos seguindo a pauta feita pelo presidente Jair Bolsonaro, preocupados unicamente com o que ele fala ou deixa de falar. Ele é o presidente da República, tende a ser o centro das atenções. Mas não podemos esquecer dos demais 210 milhões de brasileiros. Por que questionam a urna? Quais os pontos que precisam ser esclarecidos? Muito provavelmente não são os mesmos do acupunturista de árvore.
Ocorre que, enquanto as dúvidas legítimas não são endereçadas, há uma campanha de desinformação. As pessoas não compreendem o funcionamento da urna e são ridicularizadas quando perguntam. De repente, ao ver um fenômeno que não entendem, concluirão que trata-se de fraude. E postar vídeos de suspeita de fraude em redes sociais pode gerar muito status.

A Desinformação Participativa é um ciclo que envolve políticos e seus assessores, influenciadores digitais, microinfluenciadores digitais e o cidadão comum, que está nas redes por esporte ou masoquismo. Um cidadão comum que veja algo estranho nas urnas e poste um vídeo dizendo que é fraude pode ser reconhecido socialmente por todos que admira. Ontem, um deles foi citado pelo presidente da República. Pense na sensação de reconhecimento que isso gera no grupo. Mais pessoas sentirão vontade de postar vídeos mostrando que há fraudes, mesmo que não exista fraude nenhuma. Os mal intencionados e mentirosos são uma ínfima proporção, quase sempre envolvendo políticos, seus assessores e grandes influencers, segundo o trabalho da Universidade de Washington. A gigantesca maioria é de pessoas que realmente acreditam ter visto algo concreto e importante.

Os inteligentinhos, no entanto, querem que essas pessoas todas vão pastar. A partir de hoje, você verá um esforço coordenado pedindo que o YouTube derrube a live do presidente Bolsonaro sobre urnas. Além de ser patético, é uma violação de Direitos Humanos relegar essas decisões a plataformas, conforme estipulado na 47a Assembleia do Conselho de Direitos Humanos da ONU este mês. Danem-se os Direitos Humanos se o alvo é Jair Bolsonaro? Sim. E toca mobilização da olimpíada de virtudes para derrubar o tal do vídeo. Não vai adiantar nada porque alguém sobe de novo, ele vai repetir, só aumenta a confusão em torno do tema. Esse tempo e energia poderiam ser gastos em algo útil: discutir a segurança do software de votação e esclarecer dúvidas legítimas das pessoas.

Quem diz isso não sou eu, é alguém bem mais inteligente, o professor Diego Aranha, do departamento de Ciências da Computação da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.  
Ele aposentou-se no Brasil e passou a dar aulas lá depois que questionou tecnicamente alguns pontos sobre urna eletrônica. 
Quais seriam os pontos? Ele próprio considera impossível fazer debate técnico no meio do turbilhão de desinformação e desmentidos. É preciso parar a bola.

O professor Diego Aranha é ferrenho opositor do governo Bolsonaro. Viu a live e considerou patética e grave a geração aleatória de dados para tratar de um tema tão sério. Ele fez, em 2017, vários testes e montou um site falando das vulnerabilidades do software da urna eletrônica. Nada do que ele aponta você viu ontem na live nem nas correntes de Whatsapp, mesmo naquela que cita o nome do professor e foi popularizada por uma deputada. Você só viu criação de dúvida tosca e nós merecemos mais respeito dos nossos governantes.

E não é só com os políticos que falta clima para discussão técnica, com o TSE também. 
O tribunal tem feito um trabalho incansável para desmentir ponto a ponto tudo quanto é boato lançado. São informações técnicas e verificáveis. 
No entanto, fica faltando a parte de explicar aquilo que é dúvida real da população
O que mudou desde que o próprio TSE regulamentou a impressão do voto?

Há um artigo científico, publicado em revista internacional respeitadíssima e com revisão por pares, apontando objetivamente questões técnicas de vulnerabilidade no software da eleição. Ao fugir deste debate mas engajar na rinha de sexagenários com o presidente da República, o presidente do TSE fica refém da polarização.

Vou terminar com um clichê delicioso da política. À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta. É disso que se trata o debate da urna eletrônica. Criar suspeita ou dúvida é fácil, basta mexer com nossos medos diante da bagunça institucional brasileira. O TSE tem diante de si a tarefa monumental de fazer o brasileiro acreditar em alguma instituição.

Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

quarta-feira, 25 de março de 2020

A saúva e o Brasil - Alexandre Garcia


Gazeta do Povo

Brasil de joelhos  


Há 200 anos, o naturalista francês Auguste de Saint Hilaire, que percorreu o Brasil por seis anos, advertiu: “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”.

Nesses tempos de recolhimento que nos fazem pensar, a advertência continua atual. A formiga já está sob controle, mas há muitas saúvas que insistem em acabar com o país, ainda que depois da devastação, nada mais tenham para se sustentar. Entre elas está a saúva do masoquismo. Não precisamos sofrer para pagarmos nossos pecados e ganhar a vida eterna. Se ficarmos à mercê dos arautos do medo, seremos presa dessa saúva. Intimida e reina.

Nessa virose, aplaudimos enterros e corruptos e ignoramos heróis. Amyr Klink atravessou remando sozinho o Atlântico Sul, da Namibia à Bahia, e não lhe caiu um único pedaço de papel picado nas grandes avenidas do país. A professora Helley Batista deu a vida salvando 25 crianças na creche de Janaúba há dois anos, mas é uma desconhecida na maioria das escolas brasileiras. Entregamos os impostos gerados pelo nosso trabalho aos que saqueavam nossas estatais e serviços públicos e não apenas ficamos calados, mas os reelegemos.

Agora o herói é o coronavírus. O Brasil está posto de joelhos diante dele. Virose, neurose, psicose, são apenas rimas e não são a solução. Estão sendo cautelosos os economistas que preveem uma profunda recessão se continuarmos assim. Na verdade, o que estamos semeando se chama depressão. Sem produção não há arrecadação para custear a saúde e pagar o funcionalismo. Sem produção não se pagam impostos, nem credores, nem empregados. Sem caixa companhias aéreas não pagam combustível e não decolam. Sem dinheiro não se come. E dinheiro não cai do céu nem vem de graça como o vírus. Municípios com zero coronavírus foram paralisados por prefeitos com neurose agravada pela proximidade da eleição municipal.

Não há soluções simples. A Itália pôs todos em casa e os jovens levaram o vírus para os idosos acamados em domicílio. É preciso proteger os de saúde já debilitada, e considerar que o Brasil é um país continente. O que é preciso fazer em São Paulo, não será preciso no Pará. O que é preciso fazer onde houver um único caso, não será necessário em lugar sem registro algum do vírus.

Quase 30% da população da Itália são de idosos; a nossa maioria é de 85% de não-idosos
Europeus ainda fumam muito; nós estamos entre os países com menos fumantes, como menos gente de risco. Então, é preciso a cada dia avaliar a atividade do vírus e a atividade econômica. E dar a ambos a dose certa para preservar os brasileiros.

Alexandre Garcia, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo