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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

A velha mídia passou vergonha com fake news sobre suposta fuga de Bolsonaro - Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo 
 
A velha mídia passou vergonha com fake news sobre suposta fuga de Bolsonaro
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A ação da Polícia Federal ontem atinge o coordenador das redes sociais do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro.  
O filho dele, vereador Carlos Bolsonaro, que está, se não me engano, no sexto mandato. É do Republicanos. 
Ele sempre coordenou as redes do presidente. 
Fizeram busca e apreensão na casa de Jair Bolsonaro, em Angra, na residência de Carlos, na Barra da Tijuca, no escritório, no gabinete de Carlos na Câmara de Vereadores, também no endereço em Brasília, em Formosa e em Salvador. Então atingiu um dos pontos básicos da popularidade de Bolsonaro através das redes sociais. 
E, logo no dia seguinte, a uma live que teve 470.960 pessoas acompanhando ao vivo. 
Isso dá muito mais que 10 vezes aquelas lives do presidente Lula, das quais ele acabou desistindo por falta de audiência.[apesar do 'dedo podre' na hora de votar, os brasileiros não conseguem 'engolir' o que o presidente 'da Silva' expele em suas manifestações via redes sociais.
Este link conduz a um vídeo no qual o senhor de todos os males, decreta enfaticamente que não se deve dar aumento para miseráveis, visto que recebendo qualquer tiquinho de aumento eles não votam no pt = perda total.
Expressa sua recomendação que melhorar, ainda que um tiquinho, a vida dos pobres, dos miseráveis = PT perde votos = eles melhorando de vida não votam no PERDA TOTAL = pt.] 
 
Mas atinge também a velha mídia, que começou o dia com duas fake news, dizendo que quando quando a Polícia Federal chegou, a família Bolsonaro fugiu de lancha no Oceano Atlântico. 
Quando a verdade é que eles tinham saído muito cedo para ver o sol nascer no mar e quando souberam, voltaram para casa e ficaram lá com a Polícia Federal até irem embora. 
Intimou Carlos Bolsonaro a prestar depoimento, teria levado, segundo o deputado Eduardo Bolsonaro, o celular de um dos seguranças ou assessores de Bolsonaro, que não tinha nada a ver com coisa nenhuma. Enfim, a causa teria sido uma ex-assessora do gabinete da Câmara de Vereadores de Carlos Bolsonaro, que teria mandado uma mensagem para Alexandre Ramagem dizendo que estava precisando de ajuda, que era para saber sobre dois processos, dois inquéritos que envolveriam o presidente e três filhos. 
O que é muito difícil de acontecer, porque para abrir um inquérito, para ter um inquérito sobre o presidente da República, tem que ter expressa votação da Câmara dos Deputados. É uma coisa muito, muito grave.

Outra fake news é de que foi encontrado com Carlos Bolsonaro um computador da Abin. Não, foi encontrado um computador da Abin com uma funcionária da Abin, um computador funcional de posse da funcionária, que é mulher do militar que era da Abin no tempo de Ramagem, e que está morando em Salvador e que foi objeto de busca e apreensão também. Foi isso que aconteceu.

Bolsonaro deu uma entrevista na Jovem Pan, reclamando das fake news e dizendo que temem a popularidade dele porque não conseguem descobrir quem mandou o Adélio Bispo esfaqueá-lo. 
E o problema todo é que eles não conseguiram nada de corrupção, de propina, de desvio, então ficam tentando alguma coisa.
 
Itamaraty
Como se sabe, o Itamaraty entrou numa fria, a mando do presidente da República, aderindo àquela queixa da África do Sul, querendo demonstrar no Tribunal Internacional de Haia, da ONU, que Israel seria genocida. E o tribunal decidiu que não, e que sim, o Hamas tem que liberar os reféns. Pois agora, o The New York Times publicou a noticia sobre integrantes do Hamas que são funcionários da agência de assistência e obras da ONU, que opera lá na faixa de Gaza. Um deles, por exemplo, sequestrou uma israelense, o outro distribuiu munição, tinha granadas em casa, um terceiro participou do massacre onde foram mortas 97 pessoas. De 12 ou 13 apontados, dois já estão mortos e nove foram demitidos pela ONU. Mas, a consequência, 12 países cortaram a ajuda, inclusive ajuda pesada, como dos Estados Unidos, da Alemanha, do Reino Unido, do Canadá e do Japão. Só o Brasil que está fora dessa, nesse caso envolvendo a agência que existe desde 1948. E ontem, o ministro de Relações Exteriores de Israel, o Israel Katz, recusou-se a receber o Filipe Lazzarino, que é o comissário-geral dessa agência da ONU. Disse que apoiadores de terrorismo não são bem-vindos. E o governo brasileiro?


Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

terça-feira, 20 de junho de 2023

Parabéns!Mande este texto para aquele seu amigo petista - Paulo Polzonoff Jr.

Vozes

"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.


 
Lula petista
Lula fazendo o L ou o L fazendo o Lula? Jamais saberemos…| Foto: Reprodução/ Twitter


[lamentamos, mas estamos impossibilitados de atender ao ilustre cronista = temos um círculo restrito de amigos e nele não espaço para quem é petista, tenha sido ou em nossa avaliação possa vir a ser; assim, optamos por postar.]
Ontem Lula fez mais uma de suas (dele) lives com Marcos Uchôa. Não sei se você viu. Não sei se alguém viu. Não sei nem se os petistas viram. De qualquer modo, assisti a um recorte, como dizem os jovens. Nesse trecho, um Lula quase franciscano falava de passarinhos e celebrava sua própria vitória e a vitória de seu partido oh-tão-puro sobre o ódio, o fascismo – ou qualquer outro moinho de vento do tipo. [lembrem-se que a maldade na Venezuela dobrou quando o atual ditador viu, ou sonhou, passarinhos.]

Um pouco por masoquismo e outro tanto porque eu tinha que fazer hora antes do barbeiro
, fiquei assistindo àquilo repetidamente. Reparando em cada expressão do rosto do efelentífimo. “Ó o passarinho cantando, ó. Que coisa bonita!”, diz Lula, os olhinhos semicerrados de prazer, para em seguida emendar que nas lives do ex-presidente Jair Bolsonaro não tinha nada disso. “Aqui é beleza, aqui é natureza, aqui é tranquilidade e passividade”, arremata, praticamente compondo uma música do Caetano. Ou do Nando Reis.

Aí, quanto mais assistia ao vídeo, mais me lembrava do Meu Amigo Petista (MAP). Cujo nome não posso citar porque ele tem vergonha
“Vai que o povo do trabalho descobre”, me diz ele, justificando a opção pelo anonimato. 
Como se ninguém tivesse notado a sua felicidade pós-eleitoral, né, cara? Não hesitei. Mandei o vídeo do Lula caetanizando diante do Marcos Que Vergonha Uchôa (que eu confundo com o Tino Pausa Dramática Marcos), ao lado de uma mensagem simples: parabéns. E um monte de emojis de festa.
 
Parabéns!
Porque, reconheçamos, meu amigo petista merece os parabéns. O meu e o seu. Afinal, ele não largou o Lula e o PT nunca. Haja fé em político! 
No Mensalão, por exemplo, ele tinha na ponta da língua a desculpa perfeita para a corrupção petista. Governabilidade. Depois, na chamada Eleição da Ferradura, defendeu Dilma do “machismo” de Aécio Neves. 
E aí veio a Lava Jato e meu amigo petista não largou o osso. 
Pelo contrário, ao fim do parágrafo seguinte encontraremos meu amigo petista indo levar os ossos ao acampamento em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba - onde Lula esteve preso. Por corrupção e lavagem de dinheiro.
 
Haja espírito militante! Ele, meu amigo petista, passou anos ouvindo, primeiro, os panelaços contra Dilma. Depois, o impeachment. 
Em seguida, ele assistiu às cenas de Lula visitando o triplex do Guarujá. 
E nem assim meu amigo petista se abalou. “Globo golpista”, dizia ele. 
Aí veio condução coercitiva. A prisão do Lula. 
Provas e mais provas envolvendo tantos petistas que perdi a conta. E o amigo lá. A fé inabalada. E eu não disse que ao fim deste parágrafo ele estaria levando os ossos ao acampamento de adoração ao Encarcerado? Pois olha ele ali, gritando "Bom dia, presidente Lula" perto da Maria do Rosário.
 
Depois veio o pior. Pior para ele, digo. Bolsonaro foi eleito presidente. Lula preso. Sergio Moro ministro da Justiça. 
O amigo chorou, afogou as mágoas no Bek's e nunca perdeu uma oportunidade de repetir o vocabulário que lhe ensinaram. Primeiro fascista. Depois genocida. E não adiantava as declarações ou os fatos. 
As palavras eram sempre distorcidas e os fatos eram invenção da imprensa comprada pelo imperialismo ianque. Qualquer coisa assim.

Fé cega, faca amolada
Tanta fé em Lula, no Partido dos Trabalhadores e no Sistema, que o amigo jura que é composto por pessoas que defendem a democracia e os direitos dos mais pobres (sério?!), começou a valer a pena quando o ex-condenado foi solto. De uma hora para a outra, a justiça que o amigo petista considerava corrompida ou acovardada passou a ser... justa. Teve início, aí, uma maratona cheia de obstáculos morais que meu amigo petista correu sem nem esboçar cansaço. Mais uma vez, meus parabéns.

Tudo para, hoje, meu amigo petista ouvir o Lula celebrar o cantar dos pássaros. Para ele, meu amigo petista (e provavelmente o seu amigo petista), o Brasil infernal de ontem se transformou nesta terra de esperança de hoje
Ele acredita realmente em tudo o que lhe dizem os camarada. 
Para ele, a palavra dos deputados do PT (e alguns do PSOL e PCdoB) é ouro. 
 Sem qualquer questionamento, meu amigo petista, que se acha um gênio, deposita seu futuro e o futuro dos seus filhos e netos nas decisões tomadas por sindicalistas, intelectuais e uns corruptos confessos. 
E ele ainda ri de mim, que acredito em Deus e me sei falho.
 
Assim segue o MAP pela vida, parasitando um aqui, outro acolá. Se expressando por sarcasmos espertinhos. Concordando com Renan Calheiros num dia e com Reinaldo Azevedo (quem diria?!) no outro. Compostando hoje e pagando imposto com gosto amanhã. Estupidificado. Pena que, temeroso da Covid-19, ele ainda insista em esconder o sorriso parvo por trás de uma máscara de pano, meu amigo petista. 
Que, a esta hora, deve estar se perguntando: será que ele está falando de mim? Estou.

Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 13 de maio de 2023

Deputado do PSD critica falta de aliados locais em evento de Lula no Ceará

Em live do governador, Célio Studart cobrou representatividade de líderes cearenses no palanque em Fortaleza

O deputado Célio Studart (PSD-CE) reclamou da falta de representatividade de líderes locais no palanque de Lula, em Fortaleza. O presidente foi ao Ceará lançar o Programa Escolas de Tempo Integral, ao lado do ministro da Educação, Camilo Santana, ex-governador do estado. 

“Chamaram o Ibaneis Rocha para um evento do Ceará e não ligaram para deputados da base do próprio estado? Vai entender…”, escreveu Studart em comentário da transmissão do evento nas redes sociais do atual governador Elmano Freitas (PT) — veja a foto abaixo. 

Conforme mostrou o Radar, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), foi criticado por deixar aliados cearenses de fora do palanque de Lula. Os três deputados federais do PSD eleitos no Ceará não foram convidados para o evento. 

Nesta semana, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, conversou com a bancada do partido. De acordo com o relato de parlamentares, a conversa foi “tensa” e houve cobranças de ambos os lados. 

Com a votação do novo marco fiscal se aproximando, a relação do governo com o Congresso está turbulenta. A retirada do PL das Fake News da pauta da Câmara e a derrubada de decretos de Lula no marco do saneamento ligaram o alerta do Planalto.

Radar - Revista VEJA


segunda-feira, 11 de julho de 2022

Imprensa lunática - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo

Fazia um tempo que eu não lia a coluna de Vera Magalhães no jornal O GLOBO. 
Fui dar uma conferida para verificar o que a datilógrafa mais bem paga do país anda dizendo por aí. 
E fiquei simplesmente de queixo caído com o grau de inversão em suas narrativas!

Na coluna de hoje, Verinha simplesmente responsabiliza Bolsonaro pela imagem negativa do STF perante... bem, basicamente TODOS! Ela afirma que os bolsonaristas foram bem sucedidos na "campanha de difamação" e que os ministros supremos se sentem acuados (difícil de perceber isso quando mandam prender até deputado ou jornalista de forma arbitrária). Diz Vera:

O presidente conseguiu incutir em apoiadores na Esplanada dos Ministérios e no Congresso a versão segundo a qual o Supremo Tribunal Federal (STF) o impede de governar ou exorbita de suas atribuições. Mesmo políticos que publicamente se colocam como opositores do presidente partilham, em privado, essa avaliação a respeito da atuação dos ministros, o que leva a que, hoje, o Judiciário seja uma ilha isolada na Praça dos Três Poderes. E seus integrantes se percebem dessa maneira.

Imagina só pensar que ministros que fazem campanha política contra o atual presidente, que abrem inquéritos ilegais assim considerados pelos maiores juristas do país, que fazem "live" com influenciadores antibolsonaristas, que se consideram o bem incorporado contra o mal absoluto que seria o próprio presidente, que exigem explicações para as políticas públicas em 24 horas o tempo todo, etc etc etc, imagina só, dizia eu, pensar que ministros que agem assim estariam "exorbitando de suas atribuições"! Onde já se viu?!

Segundo Vera Magalhães, isso não passa de uma "versão", de Fake News
Bolsonaro é tão sinistro que convenceu até o jurista Ives Gandra Martins! As Forças Armadas, que foram convidadas pelo TSE e depois ridicularizadas e ignoradas pelo mesmo TSE, também estariam sob influência do "nefasto" presidente, com seus poderes de hipnose.
 
Nem passa pela cabeça da jornalista de esquerda que os ministros supremos possam, de fato, estar mesmo abusando e muito de suas funções, agindo como militantes partidários. Vera afirma que Bolsonaro é antiestablishment e por isso não é possível "pacificar" a relação. Acerta numa coisa: é o sistema podre todo contra o presidente. 
Ela "só" erra quem é o lado agressor e antidemocrata nessa briga...
 
Claro que, ao rebater as sandices de Vera, estou expondo toda uma imprensa tucanopetista que, por ódio a Bolsonaro, passa pano em todo tipo de abuso supremo
É uma mídia lunática, que vive em um país paralelo, criado em seus delírios ideológicos. 
Nessas fantasias, Bolsonaro é um golpista perigoso, e quem rasga a Constituição diariamente para perseguir Bolsonaro, efetivamente praticando um golpe, são os salvadores da democracia, que estariam "acuados" pelo presidente, coitadinhos...
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Crise entre os poderes - [até as pedras sabiam resultado] - O Globo

Rafael Moraes Moura

Ministros do STF fizeram jogo combinado para deixar caso Francischini na 2ª Turma

Na madrugada da última terça-feira (7), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça paralisou, com um pedido de vista, o julgamento online que decidiria o destino do deputado Fernando Francischini (União Brasil-PR), cassado pelo TSE por disseminar fake news contra as urnas eletrônicas. [o comentário do parlamentar foi proferido 22 minutos antes do encerramento das eleições 2018 - teve o condão de influir no resultado?]

O deputado José Gomes acerta com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, sua filiação ao Progressistas

O deputado José Gomes acerta com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, sua filiação ao Progressistas - Redes sociais/ Divulgação

Judiciário: Liminar de Toffoli mantém no cargo deputado milionário - José Gomes - cassado pelo TSE há mais de 1 ano

Os ministros estavam prontos para analisar no plenário virtual um mandado de segurança contra a decisão do ministro Kassio Nunes Marques que devolvera o mandato ao deputado. A decisão havia chocado o tribunal e acirrado novamente a crise entre o presidente Jair Bolsonaro, aliado de Francischini, e a cúpula do Judiciário.

Mas, apesar de ter surpreendido parte do público e alguns ministros, a iniciativa de Mendonça não foi isolada. Pelo contrário. Foi jogada combinada, parte de uma costura articulada por Mendonça e outros cinco ministros da Corte para deixar o julgamento na 2a turma do Supremo, onde a cassação acabou derrubada. [tem lógica uma hipótese de uma costura; nossa notória ignorância jurídica nos permite opinar que Mendonça poderia, caso fosse de sua conveniência, retardar o desenlace na 2ª turma e manter travado no plenário virtual. Ao efetuar pedido de vista no plenário virtual o ministro André Mendonça fez um ato corriqueiro = o pedido de vista permite mais tempo para o seu autor conhecer melhor o processo.
Ontem, em nosso entendimento, ele poderia apresentar pedido de vista na Segunda Turma - se ele tinha dúvidas fosse o processo quatro dias antes, seria natural que dúvidas ainda restassem - e com isso travar qualquer decisão sobre a matéria. Porém, ...]

A estratégia, relatada à equipe da coluna por quatro fontes envolvidas nas discussões, foi colocada em prática depois de uma série de conversas reservadas entre os ministros ao longo da última segunda-feira (6). E embora representasse uma derrota para ele, até mesmo Nunes Marques participou das negociações.

O principal objetivo dos seis ministros envolvidos na articulaçãoalém de Mendonça e Nunes Marques, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Luiz Fux estiveram envolvidos, em maior ou menor grau –  era evitar algumas armadilhas que a controvérsia colocou no caminho da Corte. 

Judiciário: O ‘ranking do ódio’ contra ministros do STF

A primeira era que, para derrubar a decisão de Nunes Marques, o plenário acabasse desrespeitando a jurisprudência do tribunal que estabeleceu que o STF não deve admitir mandado de segurança contra a decisão individual de um ministro. “Foi uma forma de reduzir danos e evitar um precedente perigoso para o tribunal”, relatou um dos ministros que participaram do arranjo de bastidores. 

Um dos receios era o de que, após o caso Francischini, fosse aberta uma brecha para que todas as decisões individuais de ministros da Corte fossem contestadas em mandados de segurança. 

Com a suspensão do julgamento virtual, Mendonça abriu caminho para que a cassação fosse avaliada na Segunda Turma, respeitando o rito processual previsto para esses casos. Tensão no Judiciário: Antes de Kassio salvar bolsonaristas, outros ministros já haviam derrubado cassações do TSE

Assim, além de evitar que o plenário desrespeitasse a jurisprudência do próprio Supremo, a manobra ainda poupou Kassio Nunes de uma derrota humilhante. No plenário, tudo caminhava para que o aliado de Bolsonaro fosse derrotado por 9 votos a 1. Desde o início da polêmica, Nunes Marques queria manter a análise do tema na Segunda Turma. Na Segunda Turma, o que se discutiu foi a confirmação ou não da liminar de Nunes Marques, e não um mandado de segurança de um dos políticos prejudicados contra a decisão do ministro. Kassio perdeu, mas de 3 a 2. 

Outro integrante da Corte que acompanhou a costura de perto, afirmou: “Evitamos um desgaste de todos os ministros que teriam que conhecer de um mandado de segurança contra um colega. E que no futuro poderiam ser alvos de MS também”.

Há um "entendimento consolidado" no STF no sentido de não aceitar a impetração de mandado de segurança contra ato de seus ministros, exceto nas hipóteses de teratologia, ilegalidade ou abuso flagrante, aponta o professor de direito constitucional Roberto Dias, da Fundação Getulio Vargas. [ao que entendemos um mandado de segurança contra o 'inquérito do fim do mundo', se impetrado tempestivamente,  seria amparado pelas três hipóteses.] “Uma mudança casuística desse entendimento não seria o melhor caminho a seguir, pois geraria um risco desnecessário à estabilidade dos precedentes da Corte”, afirma Dias.

No julgamento do plenário virtual, que acabou interrompido, a relatora do mandado de segurança, ministra Cármen Lúcia, deu um voto em que reconhecia a “excepcionalidade” do caso, admitindo o cabimento da ação contra ato de ministro do STF.  Alexandre de Moraes e Edson Fachin também depositaram seus votos nesse sentido na plataforma online. Não à toa, os três ficaram de fora das articulações que tiraram o caso do plenário. 

Contudo, se escapou de uma armadilha ao deixar o caso de Francischini na Segunda Turma e não analisar o mandado de segurança do suplente, o STF não conseguiu evitar um efeito colateral do julgamento. 

A cassação de Francischini foi a primeira na história do TSE de um parlamentar por difundir fake news, um precedente considerado perigoso por aliados do presidente da República. Nem mesmo Francischini apostava numa vitória no STF, mas o julgamento serviu para dar ainda mais munição ao atual ocupante do Palácio do Planalto.  “Esse deputado não espalhou 'fake news' porque o que ele falou na 'live' eu também falei para todo mundo: que estava tendo fraudes nas eleições de 2018", disse o presidente.

Diante da agressividade de Bolsonaro, um integrante da Corte indagava, na noite de ontem: “E agora, vão cassar Bolsonaro também?[agora? ou no mandato a se iniciar em 1º janeiro 2023? ou, quem sabe,  no que se iniciará em 1º janeiro 2027?]

 Malu Gaspar, colunista - O Globo


sábado, 14 de maio de 2022

Bolsonaro e militares entram na mira de inquérito do STF que investiga organização criminosa - Folha de S. Paulo

O presidente Jair Bolsonaro (PL), militares e integrantes do governo entraram na mira da apuração sobre uma suposta organização criminosa investigada pela Polícia Federal por ataques às instituições e disseminação de desinformação.

Isso ocorre devido à junção da apuração sobre a live de 29 de julho de 2021 -- em que Bolsonaro fez seu maior ataque ao sistema eleitoral brasileiro-- com o caso das milícias digitais, vinculação ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator das apurações no Supremo Tribunal Federal.

Como mostrou a Folha, a investigação da PF sobre a live aponta que o uso das instituições públicas para buscar informações contra as urnas vem desde 2019 e envolveu, além de Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), atrelada ao Gabinete de Segurança Institucional chefiado pelo também general Augusto Heleno.

Além de Bolsonaro e dos dois generais, entram na mira da PF a partir de agora o ex-diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, o ministro da Justiça, Anderson Torres, e o coronel do Exército Eduardo Gomes da Silva, responsável por apresentar as suspeitas de fraudes na live.

Também por ordem de Moraes, o caso das milícias digitais já havia sido abastecido com informações do inquérito das fake news e com dados da investigação aberta para apurar o vazamento do inquérito sigiloso sobre o ataque hacker aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral. O procedimento também herdou o conteúdo do inquérito dos atos antidemocráticos de março de 2020, após pedido de arquivamento feito por Augusto Aras, Procurador-Geral da República indicado por Bolsonaro.

Agora, com o material sobre a live em que Bolsonaro atacou sem provas as urnas eletrônicas, o inquérito é classificado por investigadores como principal anteparo contra possíveis investidas golpistas de Bolsonaro até a eleição e no período pós-eleitoral. Além de servir como espaço para investigar possíveis novos ataques, o inquérito deve se debruçar sobre todos os episódios em que o presidente e seus apoiadores atacaram as instituições e disseminaram desinformação desde 2019.

Devem entrar também na mira do caso das milícias digitais o vazamento do inquérito sobre o TSE, a disseminação de desinformação sobre vacinas e tratamento precoce e os preparativos para o 7 de setembro de 2021 quando o presidente ofendeu Moraes e também fez manifestações de cunho golpista.

O entendimento é que cada um desses episódios é um evento realizado pela mesma suposta organização criminosa investigada pela delegada Denisse Ribeiro, atualmente em licença maternidade. Ao indicar Jair Bolsonaro como figura central nos ataques às urnas, a delegada afirmou em um relatório que a rede investigada nesses casos, e agora unificada no inquérito das milícias digitais, tem entre outros objetivos "diminuir a fronteira entre o que é verdade e o que é mentira".

"A prática visa, mais do que uma ferramenta de uso político-ideológico, um meio para obtenção de lucro, a partir de sistemas de monetização oferecido pelas plataformas de redes sociais. Transforma rapidamente ideologia em mercadoria, levando os disseminadores a estimular a polarização e o acirramento do debate para manter o fluxo de dinheiro pelo número de visualizações", diz relatório da PF.

Segundo a investigação, "quanto mais polêmica e afrontosa às instituições for a mensagem" divulgada, "maior o impacto no número de visualizações e doações, reverberando na quantidade de canais e no alcance do maior número de pessoas".

"Aumentando a polarização e gerando instabilidade por alimentar a suspeição do processo eleitoral, ao mesmo tempo que promove a antecipação da campanha de 2022 por meio das redes sociais."

Na PF, a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, é utilizada para explicar o inquérito das milícias digitais e como ele pode servir para conter as investidas de Bolsonaro e de seus apoiadores. Os investigadores afirmam que, no caso americano, o método de atuação utilizado pelos envolvidos na preparação, na mobilização nas redes e na invasão em só foi entendido após o ocorrido - quando a polícia fez o caminho reverso para chegar aos responsáveis.

Aqui no Brasil, como o método dos bolsonaristas já foi mapeado nas investigações anteriores, o inquérito das milícias digitais servirá para investigar os novos eventos que possam ocorrer com a proximidade das eleições. Eles lembram que, como organização criminosa é um crime permanente, o objetivo a partir de agora é identificar os casos para enquadrá-los e investigá-los como sendo eventos praticados pelo mesmo grupo.

Caso o presidente e seus apoiadores voltem a atacar as instituições, como o TSE, por exemplo, ou disseminar informações falsas, assim como fizeram sobre as urnas, o inquérito poderá servir para investigá-los. Nesse cenário, o episódio da live de 29 de julho é visto como um dos mais emblemáticos pelos porque mostra como Bolsonaro se valeu das instituições para fins pessoais --atacar as urnas eletrônicas.

Além da Presidência, a Casa Civil, então chefiada por Luiz Eduardo Ramos, a Abin, o GSI, comandado por Augusto Heleno e o Ministério da Justiça atuaram para buscar informações utilizadas por Bolsonaro para levantar suspeitas falsas sobre a urna. Anderson Torres tentou utilizar a própria PF ao levar peritos do órgão para uma reunião no Palácio Planalto. Mesmo após os peritos afirmarem que suas análises não apontavam para fraude, Torres participou da live e utilizou os relatórios.

Segundo a PF, além de Torres, o general Ramos e a Abin, sob tutela do GSI de Heleno, sabiam das fragilidades nas teses que seriam utilizadas e mesmo assim continuaram com a organização da live."Foram identificadas diversas inconsistências em pontos relevantes das declarações (depoimentos de Ramos, Ramagem e Torres), as quais convergem em apontar que houve vontade livre e consciente dos envolvidos em promover, apoiar ou subsidiar o processo de construção da narrativa baseada em premissas falsas ou em dados descontextualizados", diz a PF sobre a live.

Um dos exemplos citados pela PF é o do general Ramos, que ainda em 2019 procurou o técnico em eletrônica Marcelo Abrileri em busca de informações sobre uma suposta fraude nas eleições de 2014. Para os investigadores, desde o início era possível ver que os fatos levantados por Abrileri não poderiam ser comprovados."Marcelo elaborou referida planilha (com dados sobre a suposta fraude) tendo como base exclusivamente dados que eram fornecidos pelo site de notícias G1, na tentativa de identificar padrões matemáticos, tendo como motivação o receio de que o 'comunismo tomasse o Brasil'", diz a PF.

Fabio Serapião - Folha de S. Paulo


sábado, 1 de janeiro de 2022

E se o governo mandasse o STF passear? - Revista Oeste

Pode se dizer com grande margem de segurança que não iria acontecer rigorosamente nada

Imagine por um instante — só por curiosidade, certo? (Só por curiosidade; é claro que ninguém aqui está sugerindo nada, pelo amor de Deus, e muito menos qualquer tipo de ato antidemocrático.) Então: imagine por um instante o que aconteceria se um dia desses o presidente da República, ou alguém do seu governo, recebesse a milésima ordem do Supremo Tribunal Federal para explicar “em 48 horas”, ou “três dias”, ou coisa que o valha, por que fez isso ou por que deixou de fazer aquilo, e não desse resposta nenhuma. 
O que aconteceria, em outras palavras, se dissesse ao ministro Barroso, ou ao ministro Alexandre, ou à ministra Rosa, ou qualquer um dos 11: “Olha, ministro tal, vá para o diabo que o carregue”?
 
Como nunca aconteceu até hoje, e como nunca o STF mandou o presidente da República explicar seja lá o que fosse em nenhum governo anterior ao atual, não dá para responder com certeza científica; falta, como se diz, a prova da experiência. Mas, pela Lei das Probabilidades, que no fundo vale bem mais que muita lei aprovada por esse Congresso que está aí, pode se dizer com grande margem de segurança que não iria acontecer rigorosamente nada. Claro, claro: a mídia ia ficar enlouquecida, mais do que em qualquer momento do governo de Jair Bolsonaro, e o centro liberal-civilizado-moderno-intelectual-etc. entraria numa crise imediata de histeria
 
As instituições, iriam gritar todos, as instituições: o que esse homem fez com as nossas sagradas instituições, meu Deus do céu? 
A Constituição Cidadã está sendo rasgada. 
A democracia acaba de ser exterminada no Brasil. 
É golpe. É ditadura militar. 
Mas seria só uma crise de nervos no mundinho da elite, mais nada. 
Na prática, e nas coisas que realmente interessam, o governo poderia mandar o STF não encher mais a paciência, pronto — e não mudaria absolutamente coisa nenhuma.

Os colégios chiques continuariam a aumentar as mensalidades, e a chamar seus alunos de alunes

A população, com certeza, estaria pouco se lixando para a indignação do STF, das gangues políticas, da elite meia-boca a bordo dos seus SUVs, das classes pensantes e dos banqueiros de investimento de esquerda; é possível, aliás, que dissesse “bem feito”
Todo mundo iria continuar trabalhando. Os boletos bancários continuariam vencendo. Os ônibus continuariam saindo das rodoviárias. Os serviços de água encanada, energia elétrica e coleta de lixo, nos lugares em que existem, continuariam funcionando. Ninguém iria desmarcar uma consulta médica, nem faltar a um compromisso, nem fazer qualquer coisa diferente.
 
Nenhum país iria romper relações com o Brasil. Os evangélicos iriam ouvir o pastor nas igrejas. Os portos continuariam a embarcar soja. Os colégios chiques continuariam a aumentar as mensalidades, e a chamar seus alunos de alunes. A centésima primeira variante do vírus iria aparecer num canto qualquer. É possível, até, que a Bolsa de Valores subisse. 
Enfim: a solidariedade, o respeito e o apreço dos brasileiros pelo STF e pelo resto das nossas “instituições democráticas” permaneceriam exatamente onde estão, ou seja, no zero absoluto.
 
E, de mais a mais, o que os ministros do STF, o Jornal Nacional e todos os demais indignados poderiam fazer na prática? 
Chamar o Exército para prender o presidente da República? Chamar a PM de Brasília? Chamar a tropa da ONU? 
Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, esses que estão aí hoje, iriam fazer algum gesto heroico de “resistência”? Rolaria, enfim, o impeachment que não rolou até agora? 
Lula, o PT e a CUT iriam decretar uma greve geral por tempo indeterminado, até a queda do governo? [a CUT ainda existe? 
E o exército do Stédile, o 'general da banda' que comanda o MST, que faria? ]
A verdade é que não existe, na vida como ela é, nenhum meio realmente eficaz para exigir obediência do Executivo se ele não quiser obedecer. Não só do Executivo, por sinal — do Legislativo também não. 
 
Ainda outro dia, por exemplo, aconteceu exatamente isso. Foi a primeira vez, mas aconteceu: a ministra Rosa, em mais um desses acessos de mania de grandeza que são a marca do STF de hoje, anulou uma lei aprovada pela Câmara —, e a Câmara não tomou conhecimento da anulação. Tratava-se, no caso, de um projeto que afetava diretamente o bolso dos deputados, entregando a eles bilhões em “emendas parlamentares”. Aí não: a decisão foi ignorada, a lei continuou valendo e depois de muito fingimento de parte a parte, para disfarçar o naufrágio da decisão do STF, ficou tudo como estava. [o presidente Bolsonaro, seguindo o exemplo da Câmara dos Deputados, também manobrou e levou o ministro Lewandowski a  estender o prazo para o Governo Federal prestar esclarecimentos sobre a vacinação de crianças = que vencia antes do Natal e agora vence após o Dia dos Reis. Mais detalhes AQUI ou AQUI.
Em um dos links fornecidos tem uma estória interessante, folclórica, que   mostra que exigências apoiadas apenas no grito, costumam desautorizar seus autores. 
Por oportuno, destacamos que fazemos nossas as precauções que o ilustre articulista apresenta no primeiro parágrafo ..."só por curiosidade..."]  
 
Não há nenhum sinal, entretanto, de que possa acontecer alguma coisa parecida com a atual Presidência da República. Poucas vezes na história deste país, ou nunca, se viu um governo tão banana quanto o que está hoje no Palácio do Planalto. Tem muita “laive”, passeata de motocicleta e implicância com a vacina, mas comandar que é bom, como determina a lei e como o eleitorado decidiu, muito pouco, ou nada. 
Para começar, o Executivo não controla nem a metade do Orçamento federal; o resto poderia estar sendo gasto no Paraguai. O presidente não manda na máquina pública; não pode nomear nem o diretor da Polícia Federal. Também não pode demitir. Cada um faz mais ou menos o que bem entende, frequentemente em obediência ao PT e a grupos de esquerda. O governo dá ordens que são pura e simplesmente ignoradas. 
 
Decidiu que não poderia haver demissões de empregados que não tivessem tomado vacina; um tribunal qualquer, desses que se reproduzem como coelhos em Brasília, decidiu o contrário e ficou por isso mesmo
As Secretarias Estaduais de Saúde dão ordens opostas às do Ministério da Saúde; o que fica valendo é a decisão das secretarias. 
O procurador-geral da República, nomeado pelo presidente Bolsonaro, dirige uma equipe que lhe faz oposição aberta e direta.

Que raio de governo “autoritário” é esse que não tem autoridade nenhuma?

Um dos maiores aliados do governo, o ex-deputado e dirigente partidário Roberto Jefferson, está na cadeia há mais de quatro meses é, por sinal, o único preso político do Brasil. Outro, o jornalista Allan dos Santos, teve de se refugiar nos Estados Unidos e está com a prisão solicitada à Interpol. Governadorzinhos e prefeitinhos de fim do mundo governam como bem entendem. Qualquer nulidade do Congresso ou da vida política, desde que tenha carteirinha de militante de “esquerda”, vive correndo ao STF para que o governo faça assim, ou não faça assado; é atendido sempre, como nos pedidos permanentes de “explicações”. Que raio de governo “autoritário” é esse que não tem autoridade nenhuma?

É muito interessante, assim, o ponto de vista do ministro Gilmar Mendes sobre essa anarquia cada vez mais grosseira. Segundo Gilmar, diante das realidades que estão aí na frente de todo mundo, o mais sensato para o Brasil seria a adoção do parlamentarismo. É, possivelmente, a única contribuição construtiva jamais dada para o atual debate político por um membro do STF.  
O que adianta ter presidente da República se a Presidência da República não manda nada? 
Para que esse drama de eleição presidencial a cada quatro anos se o eleito, seja quem for, vai passar o tempo todo em crise? 
Eis aí um excelente recado: se não governa, pede para sair.

Leia também “O ministro sem fronteiras”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


domingo, 26 de dezembro de 2021

A verdade sobre a terra - Revista Oeste

Branca Nunes

O movimento De Olho no Material Escolar luta para neutralizar as fantasias sobre o agronegócio difundidas pelos livros didáticos 
 
“Eu sou um indígena. Me chamo Beto. Eu moro na Região Centro-Oeste. Minha casa foi destruída para plantar cana-de-açúcar. Eu e meu amigo não conseguimos trabalho. Nós saímos nas ruas para pedir que não comprem a cana-de-açúcar do lugar que era a nossa casa. 
Não adianta muito.
Ninguém nos ouve e vivemos na pobreza total.
Meus pais se mataram por causa das dificuldades de vida.
Vivo sozinho desde que tinha 14 anos.”
 
Foi essa carta, escrita por uma criança de 10 anos que fazia a lição de casa, o gatilho para a criação do De Olho no Material Escolar. 
O movimento começou quando Letícia Zamperlini contou o que sua filha fora obrigada a escrever para Helen, que contou a Andréia, que repassou para Heloísa, que relatou a Elizana. Hoje, são mais de 4 mil simpatizantes e centenas de associados espalhados por dez Estados brasileiros.

Depois de ler a carta, Letícia — produtora rural como Andréia, Heloísa e Elizana explicou à filha que grande parte daquela dissertação estava distante da verdade. Ela conversou com diretores, professores e pais até constatar que, muito mais do que resultado da má-fé, aquilo decorria do desconhecimento generalizado. E era potencializado sobretudo pelos livros didáticos.

O “De Olho”, como costuma ser chamado pelos associados, é fruto da pandemia. Com as escolas fechadas, as mães, transformadas em professoras, começaram a prestar muito mais atenção no que era ensinado aos filhos — e em como era ensinado.

Depois de uma live em que o agrônomo e ambientalista Xico Graziano mostrou alguns desses exemplos, o grupo passou a receber materiais vindos de todo o país. Por exemplo, para uma pergunta sobre as “condições econômicas e ambientais da pecuária realizada no Brasil”, a resposta considerada correta era “Pecuária causa desmatamento na Amazônia”.

Os “prejuízos da pecuária para o meio ambiente” incluíam afirmações como: “o gado deixa o solo compacto e duro”; “vacas, ovelhas e cabras soltam uma grande quantidade de gases, que poluem o ar”; ou “as fezes e a urina produzidas na pecuária intensiva podem se infiltrar no solo e contaminar as águas subterrâneas”.

Outro livro didático garante que o trabalho escravo não é uma exceção que se restringe a 0,001% do Brasil. “Todos os anos, as autoridades encontram e libertam trabalhadores escravizados nas fazendas do Brasil”, desinforma o texto. “Há muitos proprietários que contratam homens armados para vigiar os trabalhadores e impedir que eles se revoltem.”

Em vez de destacar que hoje 14% do território brasileiro é ocupado por terras indígenas, uma das peças recebidas pelo grupo afirmava que essa população “tem sido expulsa de suas terras ou se vê cercada por grandes plantações”. Nada sobre Roraima, por exemplo, que tem 46% do seu território reservado a tribos indígenas.

Os absurdos continuam com a forma como são usados defensivos agrícolas e fertilizantes, com as jornadas de trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar ou a exposição de trabalhadores ao sol. É como se o Brasil permanecesse estacionado em séculos ou décadas atrás e não fosse hoje uma das maiores potências mundiais, referência tecnológica quando o assunto é agropecuária.

“São inúmeros os exemplos”, diz Letícia. “Todo mundo que nos procura tem uma história para contar. Se você está perto e olha o material escolar, mesmo não sendo do agro, percebe o tom negativo e uma ausência de referências científicas.”  “Não vemos citações da Embrapa, do Ibama ou de órgãos confiáveis.”

As editoras
O grupo já se reuniu com representantes dos ministérios da Educação e da Agricultura, além de ter conseguido das editoras a promessa de revisar o material. Isso animou o De Olho a dar um passo adiante e criar o Vivenciando a Prática. Nesse programa, donos de editoras, professores e alunos conseguem enxergar com os próprios olhos o que é o agro brasileiro.

O primeiro evento aconteceu em Mato Grosso. Quando desceu do ônibus numa fazenda que cultiva cana-de-açúcar, um dos participantes quis conversar com um boia-fria — trabalhadores que cortavam cana com um facão na mão, envolviam o corpo com trapos para não se cortarem e tinham o rosto coberto pela fuligem das queimadas usadas para desfolhar a plantação. “Só se voltarmos algumas décadas no tempo”, avisaram as organizadoras do evento. Hoje, nas grandes plantações, a cana é colhida por máquinas pilotadas à distância através de computadores de última geração. E as queimadas não só estão proibidas como não interessam ao produtor rural, uma vez que matam a matéria orgânica do solo.

O segundo Vivenciando ocorreu no município paulista de Itaberá, na Fazenda Lagoa Bonita, especializada em melhoramento de sementes. Ali, a máquina que mistura as sementes com defensivos tem a mesma tecnologia dos equipamentos de hemodiálise — tamanha é a precisão da quantidade necessária. Por ser o produto mais caro na lavoura, agricultores minimamente informados sabem que o uso de fertilizantes e agrotóxicos deve ser reduzido ao absolutamente necessário.

Voltado principalmente para professores, o evento em São Paulo pretendia fazer com que eles levassem aos alunos o universo de possibilidades proporcionado pelo agro. “Hoje, o agro não emprega apenas agrônomos ou produtores rurais”, explica a engenheira agrônoma Elizana Paranhos. “São necessários químicos, jornalistas, cientistas da computação e diversas outras profissões. E nós precisamos de mão de obra qualificada.”

Se o objetivo inicial era mudar o conteúdo das publicações usadas nas escolas públicas e privadas, o De Olho agora é mais ambicioso. Planeja organizar em 2022 cerca de 50 Vivenciando a Prática em diversos locais do país, além de criar uma biblioteca virtual, sob a supervisão da Escola Superior de Agricultura da USP (Esalq). O portal será uma referência para professores. “Nenhuma categoria profissional nem o Estado Brasileiro preservam mais vegetação nativa do que os produtores rurais”, afirmou Evaristo de Miranda, chefe da Embrapa Territorial, em um artigo publicado na edição 63 da Revista Oeste. Mais de um quarto do território nacional (quase 27%) preserva a vegetação nativa no interior dos imóveis rurais. Líder mundial da proteção ambiental em terras públicas, o Brasil também é o primeiro em terras privadas, além de ter as maiores reservas minerais e biológicas do mund. 

“Precisamos fazer com que as pessoas conheçam o potencial gigantesco desses setores produtivos, em vez de mostrar apenas uma visão negativa”, afirma Letícia. “É preciso dar oportunidade para que as crianças tenham orgulho do que o país produz.”

Leia também “O produtor rural é quem mais preserva o meio ambiente”

Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

A nova cartada da CPI por quebra de sigilo das redes de Bolsonaro

Alexandre Moraes, ministro do STF, pediu mais informações sobre medidas da comissão depois de o presidente associar vacina contra a Covid à Aids [com o devido respeito ao ministro do STF, Alexandre Moraes, entendemos que sua pergunta é sem sentido, por ser notório  que a Covidão fracassou em todos os seus intentos, só restando aos seus membros, especialmente os seus 'donos' tentarem se livrar dos processos que respondem. 
Fora a tentativa apontada nada mais resta a eles - até eleitoralmente a CPI da Covid-19 foi um fracasso......saber mais, clique aqui.]

A CPI da Pandemia respondeu nesta segunda-feira, 1, à solicitação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por mais informações sobre os requerimentos aprovados pelo colegiado de senadores para quebrar o sigilo telemático de conteúdos das redes sociais do presidente Jair Bolsonaro e suspender ou banir as contas dele. Moraes havia dado um prazo de 48 horas para receber as explicações, no âmbito de um mandado de segurança protocolado na Corte pela Advocacia-Geral da União (AGU) em defesa do presidente.

A CPI alega que não investiga Bolsonaro, mas sim o Executivo e o uso das redes sociais usadas pela Presidência, com gastos de recursos materiais e pessoais da União, para “promoção pessoal, promoção institucional e, infelizmente, para disseminação de fake news”.

Apresentadas pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), as medidas que miram as redes sociais de Bolsonaro foram aprovadas pela CPI após o presidente distorcer uma notícia e associar a vacina contra a Covid-19 ao desenvolvimento de Aids, durante uma transmissão ao vivo nas redes. Facebook e YouTube removeram o conteúdo por ser flagrantemente falso.

A comissão parlamentar diz ainda que agiu “conforme mandamento constitucional” e que a suspensão do acesso aos perfis se deu para “evitar a destruição de provas”. “Esses dados integram para todos os fins o relatório final aprovado pela Comissão Parlamentar de Inquérito e são imprescindíveis à consecução das medidas determinadas no documento”, diz o documento.

“As medidas adotadas, a rigor, se voltam à investigação de órgãos públicos informais, a saber, as redes sociais do impetrado, alimentadas e geridas com recursos públicos federais, sendo certo que o Presidente da República, ele mesmo, sequer acessa as referidas plataformas, mas assessores do Poder Executivo”, diz a resposta da CPI a Moraes.

Em outro trecho, o documento cita o vereador Carlos Bolsonaro, filho Zero Dois do presidente, como o responsável pelas redes sociais do chefe do Executivo, “o que afasta a alegada violação de imunidade do Presidente da República”.

Para o colegiado, “a privatização de parte das políticas de comunicação social da Presidência da República, ou a reverso, a estatização da campanha política permanente do impetrado, tem colocado o interesse público primário a reboque de interesses particulares”. [corroborando nossa opinião,  expressa no primeiro comentário, resta claro que  apesar da resposta enrolada, a única coisa que saiu foi a criação da figura de 'órgãos públicos informais'. Fica fácil ao juiz do STF concluir que é falta do que informar ou excesso de incompetência. Talvez as duas coisas tenham a ver com o trânsito de boiada?]

“Tem-se que as lives do Presidente da República não configuram atuação institucional, republicana, a tutelar o interesse público em sua unidade política, como aduziu a Advocacia-Geral da União para fundamentar sua atuação neste “writ”, mas estratégias promocionais faccionais, que só se justificam como ação eleitoral, como incitação a séquito radical com vistas à manutenção no poder”, afirma o advogado do Senado Edvaldo Fernandes da Silva, que assina a resposta.

 Blog Maquiavel - Revista VEJA


terça-feira, 26 de outubro de 2021

Ministro do STF envia à PGR ação sobre live do presidente da República

Luís Roberto Barroso pede a manifestação da PGR sobre os fatos narrados durante a transmissão, que ocorreu na quinta-feira (21)

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso enviou hoje (25) para a Procuradoria-Geral da República (PGR) uma noticia-crime apresentada por parlamentares do PSOL e PDT após a live em que o presidente Jair Bolsonaro compartilhou a informação sobre uma suposta relação entre as vacinas contra covid-19 e a Aids (síndrome da imunodeficiência adquirida). Na decisão, o ministro pede a manifestação da PGR sobre os fatos narrados durante a transmissão, que ocorreu na quinta-feira (21). "Conforme prevê o Art. 230-B do regimento Interno do STF e como de praxe, determino a remessa dos autos à Procuradoria-Geral da República para manifestação", despachou Barroso.[só esse arremedo de oposição, tipo a que os partidecos citados tentam realizar,  é capaz de pretender tornar crime o mero compartilhamento em rede social de uma notícia.
O presidente da República, quando entende necessário transmitir uma informação oficial, de interesse público, tem além do Diário Oficial da União, o recurso de expedir NOTA OFICIAL ou convocar rede nacional de Rádio e TV.]

De acordo com o presidente, a informação se refere a pessoas totalmente vacinadas, ou seja, que tomaram a dose única ou segunda dose da vacina há mais de 15 dias. "Só vou dar a notícia, não vou comentar. Já falei sobre isso no passado, apanhei muito. Vamos lá: 'Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados […] estão desenvolvendo síndrome da imunodeficiência adquirida muito mais rápido do que o previsto'. Recomendo, leiam a matéria, não vou ler aqui porque posso ter problema com a minha live, não quero que caia a live aqui, quero dar informações", afirmou Bolsonaro. 

Em nota divulgada no sábado (23), o Comitê de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia esclareceu que "não se conhece nenhuma relação" entre qualquer vacina contra a covid-19 e o desenvolvimento de Aids. "Repudiamos toda e qualquer notícia falsa que circule e faça menção a esta associação inexistente", diz a nota.

Mais cedo, o Facebook tirou do ar a live do presidente. A remoção do vídeo se estende à conta no Instagram, rede social que também pertence à plataforma. O Youtube também retirou o vídeo do ar, e o canal de Bolsonaro ficará impossibilitado de publicar novos vídeos ou fazer transmissões por sete dias. 

[quanto ao comentário de Aziz: "Aziz repudia fala de Bolsonaro: "Presidência não é um cargo de boteco", julgamos oportuno acrescentar: nem o estado do Amazonas pode ser alvo dos corruptos na área da Saúde - é farto o noticiário da imprensa dando conta que a esposa do Aziz e três irmãos do então governador Aziz, foram presos por corrupção na área da Saúde. Adivinhe quem era na ocasião o governador daquele Estado?]

Agência Brasil


quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Democracia mambembe depois de anos sendo atacada pelo Judiciário - Cristina Graeml

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Democracia ameaçada

Democracia não é uma palavra qualquer, tamanho o significado que carrega. Estranhamente, está quase condenada à sarjeta do dicionário, dada a deturpação que seu significado vem sofrendo. Desde as eleições de 2018 falaram tanto em ameaças e riscos à democracia que finalmente conseguiram, ainda que ao avesso do que pregavam.

A democracia brasileira está realmente ameaçada, mas não é porque o atual presidente é autoritário ou porque os militares querem o poder, como tanto repetem os opositores do governo. É a atuação de juízes, especificamente dos ministros das cortes superiores, que está acendendo um sinal de alerta para o que muitos já chamam de ditadura do Judiciário.  

Minha proposta aqui é demonstrar como ministros do STF vêm desrespeitando a Constituição, invadindo competências de outros órgãos públicos e ferindo um princípio basilar de toda democracia, que é a independência entre os poderes. 
São juízes “superiores” que querem legislar e governar sem nunca terem concorrido a uma eleição. 
Querem, também, fazer papel de investigadores de polícia ou de integrantes do Ministério Público, coisa que não lhes compete. Acham-se no direito de investigar e acusar, além de exercer as funções de juiz propriamente ditas: julgar, ouvir testemunhas e réus, absolver ou condenar e, se for o caso, mandar prender.

Não à toa hoje, na visão de grande parte da população, ministros do STF e, mais recentemente, do TSE, estão fazendo ruir a credibilidade das próprias instituições em que trabalham e provocando um desmonte do que se convencionou chamar de Estado Democrático de Direito. Em vez de começar pelo caso mais recente, o da apresentação de notícias-crime contra o presidente da República para investigá-lo por um crime que nem existe no Código Penal, o de espalhar Fake News, vou fazer uma cronologia do que andou acontecendo no STF nos últimos anos

Leia Mais: Convicções Gazeta do Povo: Sem Estado de Direito não há democracia possível

Afronta à democracia começou em 2016

Nada do que trago aqui é novo, mas como com o passar do tempo a memória parece que vai se apagando, vale o esforço para reavivá-la. Prepare-se para uma lista de decisões que criaram enorme insegurança jurídica, algo que fragiliza o Brasil perante investidores, prejudica a economia, revolta e amedronta a população, e ameaça a democracia.

A primeira decisão antidemocrática importante de lembrar foi a do Ministro Ricardo Lewandowski, que rasgou a Constituição no dia da votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. A Constituição prevê perda de mandato e cassação dos direitos políticos por oito anos para governantes que cometem crimes de responsabilidade, como era o caso. O ministro Lewandowski, porém, que presidia a sessão do impeachment no Congresso, aceitou o pedido de senadores petistas e do então presidente do Senado, Renan Calheiros, e fatiou o julgamento em duas partes, permitindo a manobra. Os senadores aprovaram o impeachment, mas mantiveram os direitos políticos da ex-presidente.

Pela Constituição Dilma deveria ter perdido o cargo e ficado impedida de voltar à vida pública até 2024, mas com os direitos políticos mantidos, ela tentou se eleger já nas eleições seguintes, em 2018. Quem se responsabilizou por fazer valer a lei e, digamos assim, cassou seus direitos políticos, foram os eleitores de Minas Gerais, estado pelo qual a ex-presidente afastada do cargo se candidatou a senadora, mas não conseguiu se eleger.

Ataques à Lava Jato
De 2016 para cá os ministros do STF cometeram vários outros desrespeitos à lei penal e à própria Constituição ao julgarem recursos de réus da Lava Jato. O exemplo mais peculiar talvez tenha sido o de Aldemir Bendini, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobrás, que cumpria pena por corrupção, mas foi solto apenas porque na fase processual tinha sido ouvido antes de réus delatores.  Os advogados deram uma volta jurídica para dizer que o cliente tinha sido vítima de uma injustiça e convenceram os ministros do STF a criar uma regra que não existe no Código Penal: a de que réus delatores não podem ser os últimos a falar.

Pior do que isso foi terem aplicado a regra retroativamente. Anularam a sentença dada pelo então juiz Sérgio Moro, que havia seguido rigorosamente o Código Penal, afinal não podia prever (e seguir) um ordenamento jurídico que seria criado no futuro. Com a sentença anulada, o processo recomeçou do zero, com o réu solto. Depois disso ainda teve o julgamento da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, garantindo a anulação das sentenças dadas ao ex-presidente Lula, numa clara inversão de valores. E a liberação para que o ex-condenado seja candidato.

Prisão após condenação em segunda instância
Mandar soltar milhares de presos foi a investida seguinte da Corte Suprema contra a democracia. Poucos anos depois de terem decidido que a condenação em segunda instância, por um colegiado de juízes, era o limite para mandar um réu para a cadeia, o STF decidiu voltar atrás. A nova ordem foi para que criminosos condenados fiquem soltos até que a Justiça julgue todos os infindáveis recursos, mesmo que não haja mais como recorrer em relação à sentença de culpa.

Neste caso não foi exatamente um desrespeito à Constituição. Simplesmente resolveram mudar a interpretação que haviam feito poucos anos antes sobre o artigo que fala da presunção de inocência e do trânsito em julgado como o limite para alguém ser preso. Ninguém falou, mas todo mundo sabe o porquê dessa mudança de interpretação que colocou na rua o ex-presidente Lula muitos anos antes do fim do cumprimento da pena. Condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, ele acabou sendo solto, levando junto vários outros réus da Lava Jato, além de traficantes, homicidas, estupradores, pedófilos... Em comum o fato de serem todos criminosos que já estavam condenados e não tinham mais chance de mudar a condenação, apenas postergar a finalização do processo com recursos questionando filigranas jurídicas.

Juiz no papel de polícia
Várias outras decisões do STF foram jogando o país num mar de insegurança jurídica, mas alguns episódios em especial deixaram clara a ameaça à democracia.  A abertura dos famigerados inquéritos das Fake News e dos Atos Antidemocráticos encabeçam essa parte da lista, que segue com a prisão de ativistas políticos conservadores e até de um jornalista, Oswaldo Eustáquio, sem acusação formal. Isso é democracia?  O capítulo seguinte foi a prisão do deputado federal Daniel Silveira por crime de opinião (que não existe no Código Penal). E isso em desrespeito à imunidade parlamentar, também prevista na Constituição e ignorada pelos ministros do STF.

Neste Brasil de tamanha confusão jurídica, antidemocrático, na visão dos ministros, é criticar o Supremo Tribunal Federal. É por essas e outras que muitos hoje consideram um atentado à democracia ir para a rua desarmado, sem bandeiras de partidos ou candidatos, em manifestações pacíficas, mas gritando palavras de ordem contra os abusos do Supremo. Já os protestos de vândalos terroristas, carregando facas, pedras e álcool para atear fogo em patrimônio público e privado é considerado e até divulgado como mera manifestação de repúdio a um suposto governo “fascista” e merece a vista grossa dos homens da lei.

Com os inquéritos considerados ilegais pelos maiores juristas do país, juízes estão usurpando funções de outros órgãos, como a polícia e o Ministério Público. O STF não pode abrir inquéritos. Investigação é tarefa policial e não, judicial, ou do Ministério Público. Deveria, portanto, ficar a cargo de promotores e procuradores, jamais, de juízes, nem mesmo os supremos. No caso de crimes contra a administração pública federal, investigar seria tarefa da Procuradoria Geral da República, que se pronunciou sobre os inquéritos dos Atos Antidemocráticos e das Fake News e pediu seu encerramento, sendo ignorada pelo Supremo.

Os ministros Dias Toffoli e Alexandre de Moraes acharam por bem abrir os chamados inquéritos de ofício, embasados não na Constituição, mas num conjunto de regras aplicáveis a uma única instituição, não ao país: o Regimento Interno do STF.  Lá está escrito que o próprio tribunal pode abrir uma investigação se a Corte, enquanto instituição da República, ou qualquer de seus membros, tiver sido vítima de um crime cometido dentro do prédio em que trabalham os ministros. Nos inquéritos das Fake News e dos Atos Antidemocráticos não há sequer crime cometido, muito menos a localização dentro das dependências do Tribunal. Repito que Fake News sequer é crime tipificado no Código Penal.  Os ministros se dizem vítimas de ameaças, injúrias, calúnias e difamação cometidos por usuários de redes sociais e, ao invés de pedirem investigação aos órgãos competentes e processar os autores pelos crimes supostamente cometidos, preferem jogar tudo no balaio genérico das notícias falsas e fazer eles próprios a investigação e o julgamento.

A interpretação é a de que, como as ameaças e difamações ocorrem no ambiente virtual, que os ministros acessam de seus gabinetes de trabalho, a internet pode ser considerada como parte das “dependências do STF”. É como se o mundo inteiro estivesse sob a jurisdição dos 11 ministros do Supremo!  Mais uma vez inventaram uma regra que não existe e o povo que se dane, que respeite, engula e cale-se. Muita gente foi perseguida, veículos de imprensa foram censurados, outros foram alvo de busca e apreensão, pessoas e empresas tiveram bens apreendidos, a vida devassada, teve até gente presa. E um desses inquéritos continua em aberto até hoje.

O inquérito das Fake News, aquele que o ex-ministro Marco Aurélio Mello chamou de “inquérito do fim do mundo”, inclui agora até o presidente da República por causa da revelação que ele fez de que a Polícia Federal investiga uma invasão hacker ao TSE, coisa que o próprio TSE confirmou para a polícia. Não é, portanto, Fake News. Em nenhum país sério quem se diz vítima (os ministros do STF) assumiria as funções de investigador, acusador e juiz. Está tudo errado! Depois de mais de dois anos todo mundo já percebeu que esse inquérito só está aberto para intimidar e coagir pessoas. É ou não é antidemocrático isso?

“Descondenação” de Lula
Esse capítulo merece destaque na absurda lista de ataques à democracia por parte da alta cúpula do Judiciário. O ex-presidente Lula já estava solto, devido à inacreditável mudança na interpretação do STF sobre prisão após condenação em segunda instância, mas continuava sendo um réu condenado, ficha suja, inelegível. Não conseguiram inocentar o ex-presidente, porque as provas de corrupção e lavagem de dinheiro são irrefutáveis, tanto que foram analisadas por mais de dez juízes em três instâncias e eles não apenas confirmaram a sentença inicial, como ainda aumentaram a pena.

Mesmo sem conseguir retirar a culpa, o STF anulou as condenações e, assim, abriu as portas para que Lula possa até se candidatar de novo a presidente da República. Foi a deixa, também, para que saísse espalhando a Fake News de que foi inocentado”.  Aqui cabe uma observação: essa Fake News do Lula e da militância de esquerda, de que ele foi inocentado, não foi incluída no inquérito do fim do mundo, porque não atinge os ministros. Mas atinge o processo eleitoral como um todo, fere a democracia, derruba a credibilidade do Judiciário e demais instituições. E para todos esses males os ministros fecham os olhos.

No passado recente, quando Dilma era presidente e Lula, ainda um suspeito de cometer crimes que estavam sendo investigados, ele atentou contra a reputação dos ministros dizendo que a Suprema Corte era “totalmente acovardada”, mas isso os ministros também não acharam que era Fake News ou passível de punição. Nenhum inquérito foi aberto, não decretaram busca e apreensão de celulares e computadores do ex-presidente para vasculhar com quem ela andava conversando e sobre o quê. Não fizeram nada. Passou!  Anularam as condenações do ex-presidente em mais uma manobra jurídica, decidindo que os processos da Lava Jato envolvendo Lula não poderiam ter sido julgados em Curitiba, por não ser este o foro adequado.

Estranho (ou não) é que só viram isso com anos de atraso, depois de terem julgado vários recursos referentes a processos da mesma investigação, sem nunca terem questionado que as condenações não vinham do foro adequado.  Com mais essa decisão, os processos envolvendo o ex-presidente Lula tiveram que recomeçar, em Brasília. E como tudo voltou à estaca zero, um condenado a mais de vinte anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro ganhou aval para responder em liberdade e, quem sabe, ver os crimes prescreverem por excesso de prazo para apuração e julgamento.

Ativismo judicial contra voto impresso auditável
É claro que o cidadão comum, aquele que trabalha, paga impostos e sustenta a máquina pública, que vai para a rua manifestar sua vontade, pedir por liberdade, respeito à Constituição e mais transparência no sistema eleitoral, está hoje revoltado com tudo o que o STF vem fazendo. Foram tantas manobras para soltar bandidos e permitir que um condenado por desviar dinheiro público, possa, eventualmente, voltar ao poder que é impossível não perceber a tirania através da manipulação das instituições.

As pessoas estão verdadeiramente preocupadas com as ameaças ao Estado Democrático de Direito e com a ditadura vinda do Poder Judiciário. E aí chegamos ao momento atual, com a atuação política descarada de ministros do Supremo e do TSE, o que também é proibido.  Já estava evidente o desrespeito à Constituição, mas é estarrecedor que não tentem sequer esconder que se envolvem em atividade político-partidária. Dois deles, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, decidiram combater abertamente a proposta do voto impresso auditável, que já tinha sido aprovada na Câmara Federal três vezes (e derrubada na Justiça), mas voltava agora com força.

Vale relembrar a movimentação dos juízes do Supremo que resultou na mudança de rumo da votação da PEC do voto impresso na Câmara, algo tido como certo até poucas semanas atrás. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC 135/2019) tinha votos suficientes para passar na comissão especial e seguir para votação em plenário. Uma PEC não pode ser derrubada na Justiça, como aconteceu com projetos de lei anteriores, de mesmo teor. Vendo-se na iminência de ter que adotar o voto impresso já para as próximas eleições, algo com que não concorda, Luís Roberto Barroso, na condição de presidente do TSE, começou uma estranha movimentação contra o trabalho do Poder Legislativo.

Primeiro gravou vídeos garantindo que as urnas são seguras e desmerecendo a Proposta de Emenda à Constituição que, àquela altura, já tinha aprovação popular. Barroso foi além: garantiu que os votos são auditáveis e que as preocupações dos eleitores são infundadas. Não adiantou levar uma enxurrada de “dislikes” nos vídeos, o ministro fingiu não entender o recado de que a população queria ver a PEC aprovada e seguiu insistindo na confiabilidade das urnas. Chegou a gravar vídeos em inglês, francês e espanhol para convencer até eleitores de outros países de que o nosso sistema eleitoral é seguro.
Não bastasse isso, Barroso e o ministro Alexandre de Moraes partiram para um ativismo político ainda mais explícito. Reuniram-se pessoalmente com 11 líderes partidários.

Nós, o povo, os verdadeiros donos do poder e que, como tais, deveríamos ser respeitados, não ficamos sequer sabendo o que foi conversado nessa reunião. Fato é que depois desse encontro vários deputados que faziam parte da comissão especial do voto impresso auditável e que eram a favor da aprovação do projeto, foram substituídos por colegas que são contra. Pensaram que ninguém perceberia a manobra, mas as estranhas movimentações do Poder Judiciário foram ficando cristalinas aos olhos do eleitor. A partir dali começou a guerra para derrubar uma pauta que tem o apoio e é desejo da maioria da população, tanto que centenas de milhares de pessoas foram para a rua, em manifestações gigantescas no dia 1 de agosto, defendendo o voto impresso auditável.

Guerra declarada contra Bolsonaro
Os ministros do STF decidiram esticar a corda e deram prazo para o presidente da República apresentar provas de que o sistema eleitoral brasileiro não é seguro, como se o próprio eleitor não tivesse passado os últimos anos ouvindo relatos de gente que tentou votar em um candidato, mas via a foto de outro aparecer na urna, levantando claras suspeitas sobre possível manipulação das urnas. O presidente Bolsonaro respeitou a ordem judicial e apresentou as provas ao vivo e em cores, como se dizia antigamente. Numa live, junto com o ministro da Justiça, Anderson Torres, mostrou vários indícios de fraudes nas eleições de 2014 e 2018.

É bom lembrar que em 2015, quando o presidente Bolsonaro era deputado, ele foi autor da proposta de implantação de impressoras acopladas às urnas. A ideia era que o eleitor pudesse ver impresso, na hora em que digita o voto, o nome dos candidatos em quem votou e, só depois, confirmar para que o voto impresso caísse na urna e passasse a existir fisicamente, sendo passível de conferência em caso de dúvida. Isso porque desde as eleições de 2014 havia denúncias de profissionais de análise de sistemas e processamento de dados apontando estranhos padrões de gráficos de apuração que jamais aconteceriam pela lógica estatística. O PSDB chegou a contratar uma empresa de auditoria que concluiu que era impossível auditar o sistema eletrônico de apuração.

Além dessa live, com uma série de indícios de possível manipulação do resultado de eleições, o presidente, junto com o deputado Filipe Barros, relator da PEC do voto impresso, deu uma entrevista revelando o conteúdo de uma investigação feita pela Polícia Federal sobre uma invasão de um hacker no sistema do TSE. O hacker ficou seis meses acessando o código fonte de acesso às urnas eletrônicas sem que ninguém descobrisse. Isso só foi descoberto, porque o próprio hacker contou o que tinha feito para um site de tecnologia e o site informou o TSE, que pediu abertura de investigação.

Foi por isso que a Polícia Federal investigou. Para a polícia, o coordenador de tecnologia da informação do TSE confirmou que o sistema do Tribunal tinha sofrido uma invasão. Não bastasse isso ele admitiu que os arquivos de entrada do hacker no sistema haviam sido apagados, algo considerado de extremo amadorismo ou má fé por especialistas em tecnologia. Isso significa que o TSE foi invadido e apagou as provas que poderiam esclarecer melhor o crime.

Notícias-crime contra Bolsonaro

Quando parecia evidente que o assunto estava pacificado e que finalmente os deputados e o próprio TSE haveriam de entender por que a população tanto desconfia das urnas e quer o voto impresso auditável, TSE e STF decidem fazer o quê? Apresentar uma notícia-crime contra o presidente da República. A denúncia é de que o presidente ofendeu o ministro Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. E, o mais inacreditável, espalhou notícias falsas. Falsas! Um inquérito da Polícia Federal agora é falso?
Confissões de um hacker e de um funcionário do próprio TSE são falsas?

Quando ficou muito ridículo sacaram outro trunfo: notícia-crime por vazamento de inquérito sigiloso. Era só o que faltava! O inquérito deixou de ser secreto quando o próprio delegado responsável pelas investigações retirou o sigilo e cedeu parte das informações apuradas pela polícia para o relator da PEC do voto auditável.

Há solução para a democracia brasileira?
Tribunal de Justiça, seja Tribunal Superior Eleitoral ou Corte Suprema, não é delegacia de polícia. Juízes não são delegados nem promotores ou procuradores de Justiça. A Constituição não permite que juízes abram inquéritos e muito menos que, sendo as vítimas, eles próprios investiguem, acusem, julguem e dêem a sentença. Juízes que se metem na política ou que agem ao arrepio da lei são passíveis de impeachment. Deviam perder o mandato para deixar de dar despesas à nação, enquanto geram insegurança jurídica e ameaçam a democracia. Mas aí vem outro grande problema. Apenas uma pessoa pode fazer isso: o senador que está no comando da Casa.

A Constituição, de novo ela, prevê que só o presidente do Senado pode colocar em votação pedidos de impeachment de ministros do STF para, aí sim, os 81 senadores, em conjunto, decidirem o que fazer. E há vários pedidos de impeachment de ministros do STF no Senado, por causa de todas essas decisões inconstitucionais e antidemocráticas citadas neste artigo. É hora de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, dar uma resposta à população, que está vendo os ministros das cortes supremas desrespeitarem as leis, ameaçarem as pessoas e incendiarem o país.

Termino com as observações feitas pelo relator da PEC do voto impresso, deputado Filipe Barros (PSL-PR) no Twitter.

    “Estamos diante da maior campanha de desinformação dos últimos anos. O mais grave: promovida pelo próprio TSE.”
    Filipe Barros, deputado federal (PSL-PR), relator da PEC do voto impresso

E o resumo perfeito do comentarista de política Adrilles Jorge, feito também no Twitter: 
“Barroso disse que Bolsonaro atropela a democracia e o processa por mentir que urnas são violáveis. 
Inquérito da Polícia PROVA que urnas são violáveis. 
Quem deve pagar por ter mentido e atropelado a democracia depois que a mentira de Barroso veio à tona?”

    “Soltaram o maior corrupto do país para ser candidato; cercearam poderes do presidente; calaram , prenderam pessoas sem processo. Agora querem prender e tirar o presidente do poder porque ele falou em eleições limpas. O golpe está dado. Só finge não ver quem dele participa.”

                “Sejamos claros: a justiça eleitoral, comandada pelo STF, através de um inquérito ilegal e imoral, parece orquestrar um golpe preventivo contra um golpe imaginário do presidente. O poder judiciário não pode atropelar 58 milhões de votos. A democracia corre risco.”

Cristina Graeml, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

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