Valores
são cobrados por bancos pela execução de programas como Bolsa Família e Minha
Casa Minha Vida
O
governo deixou de pagar mais de R$ 1 bilhão à Caixa Econômica Federal e ao
Banco do Brasil
referentes a taxas de administração de programas
sociais como Bolsa Família, Financiamento Estudantil (Fies), Minha Casa Minha
Vida e do Programa de Aceleração do Crescimento (PACo). Os bancos
oficiais foram contratados pelos ministérios para executar os programas e
deveriam ter sido remunerados por essa prestação de serviço.
Um parecer da Advocacia Geral da
União (AGU),
elaborado em março, relaciona a falta de pagamento
dessas taxas de administração de programas vinculados a dois ministérios à
manobra conhecida como “pedalada
fiscal”, que está em análise no Tribunal de Contas da União (TCU) e poderá
levar à rejeição das contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff. As “pedaladas” foram
manobras para segurar repasses aos bancos oficiais, que se viram
obrigados a arcar com pagamentos dos programas sociais.
MAIOR
PARTE DA DÍVIDA É DE 2014
No caso do Bolsa Família, a dívida remonta a 2003, primeiro ano do programa e do
mandato do ex-presidente Lula. Mas a principal fatia da dívida com os bancos,
de R$ 630,3 milhões, foi contraída em
2014, ano em que a presidente Dilma Rousseff foi reeleita.
No
passado, deixaram de ser pagas R$ 337,3 milhões em taxas de administração do Bolsa Família e R$ 293 milhões do Fies. A falta
de pagamento levou a Caixa Econômica a representar contra dois ministérios na
Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal, que funciona na
AGU e tem o objetivo de solucionar conflitos no governo. Mas não houve acordo.
Um
processo foi instaurado em 2014 para que a Caixa
tentasse receber uma dívida de R$ 93,5 milhões do Ministério do Desenvolvimento
Social (MDS), responsável pelo Bolsa Família. O valor, informado pela
AGU, é referente a taxas de administração do programa que deixaram de ser pagas
pela pasta entre 2003 e 2010. Por uma divergência entre as partes quanto ao
valor da dívida, o processo foi arquivado sem conciliação na Câmara. Os atrasos
voltaram a ocorrer nos últimos dois anos.
Em 2013, a Câmara da AGU recebeu outro processo, em que a Caixa cobrou
R$ 188,2 milhões do Ministério das Cidades pelas taxas administrativas na
execução do programa Minha Casa Minha Vida e do PACo.. A falta de
pagamento se refere ao período de 2006 a outubro de 2014. Mais uma vez, não
houve acordo entre o governo e o banco.
A AGU
confirmou ao GLOBO que todos os processos
foram abertos a partir de reclamações da Caixa sobre o
represamento de recursos, que ficou conhecido como “pedalada fiscal”. O TCU considerou que a prática das “pedaladas” serviu para melhorar artificialmente as contas públicas e infringiu a Lei
de Responsabilidade Fiscal (LRF). Na análise das contas de 2014, Dilma
precisou se explicar sobre a manobra e sobre outros indícios de irregularidades
fiscais. O julgamento do parecer no TCU está previsto para agosto.
O R$ 1 bilhão que deixou de ser pago a
título de taxa de administração dos programas não fez
parte, até agora, das auditorias do TCU. Segundo cálculo do tribunal, as
“pedaladas” envolveram, ao todo, R$
40 bilhões entre 2009 e 2014. Ontem, o ministro do Planejamento, Nelson
Barbosa, foi ao gabinete do ministro Augusto Nardes, do TCU, para reforçar a defesa
da presidente. Nardes é o relator das contas de 2014.
As
taxas do Bolsa Família deixaram de ser pagas à Caixa durante todo o ano de
2014. O
Ministério do Desenvolvimento culpou o Tesouro pela interrupção dos repasses. Também em 2014, o governo deixou de pagar as taxas de
administração do Fies devidas à Caixa e ao Banco do Brasil, agentes
financeiros do programa de crédito estudantil.
O total das faturas do Fies
apresentadas pelos dois bancos chega a R$ 413,3 milhões (R$ 130,9 milhões do BB e R$ 282,4 milhões da
Caixa). Desse montante, R$ 293 milhões ainda não foram quitados.
No caso do Ministério das Cidades, a dívida principal é de R$ 126,7 milhões,
referente ao período de 2006 a outubro de 2014. A atualização monetária
corresponde a mais R$ 61,4 milhões, de acordo com a AGU.
MINISTÉRIO
CONTESTA OS VALORES
O
Ministério do Desenvolvimento informou, por meio da assessoria de imprensa, que
ainda discute com a Caixa os valores referentes à prestação de serviços de 2003
a 2010. “Não é possível fazer qualquer
referência a valores neste momento”, informou. “Em relação ao atual contrato de prestação de serviços, as negociações
estão em andamento.”
O Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) informou que “o pagamento das
taxas de administração do Fies está previsto para ser feito no segundo semestre
de 2015”. O Ministério das Cidades reconheceu “restrições” para firmar um
acordo: “A nova gestão solicitou o
desarquivamento do processo e a dilatação dos prazos de pagamento”, informou
a pasta. “O ministério efetuou o primeiro
pagamento à Caixa”, disse.
A Caixa
sustentou que “os procedimentos junto à
AGU são normais e decorrem conforme previsto em lei”. “Tais procedimentos foram
exitosos, na medida em que propiciaram a evolução das negociações”, disse o
banco.