Marcelo Corassa e Felipe Marques da Costa
Médicos discutem as estratégias que precisam ser reforçadas para conter o câncer de pulmão. Parar de fumar e detectar a doença mais cedo estão entre elas
IMPACTANTE: tumores no pulmão continuam sendo desafio de saúde pública. (Foto: Hemera/Thinkstock/VEJA)
Apesar de representar 20% do total de tumores malignos em nível mundial, o câncer de pulmão detém a maior taxa de mortalidade, superando a soma dos cânceres de próstata, mama e intestino. Mesmo com todo o progresso no tratamento, a busca por detecção precoce é um esforço constante que, somado a inovações diagnósticas e terapêuticas, representa um avanço para tornar a doença potencialmente curável.
No Brasil, a situação não é diferente. Em 2023, estima-se que será o câncer de pulmão será o terceiro câncer mais comum em homens e o quarto mais comum em mulheres, porém o primeiro em termos de mortalidade para ambos os sexos.
Comecemos pelo principal fator de risco para a doença, o fumo. Embora a noção de que o cigarro é prejudicial à saúde seja amplamente disseminada e esteja até mesmo inscrita nas embalagens do produto, as taxas de tabagismo continuam alarmantemente altas.
Cerca de 85% dos casos de câncer de pulmão estão diretamente associados ao cigarro, e é sabido que a interrupção desse hábito, independentemente da duração do vício, resulta em uma redução significativa da mortalidade acumulada por câncer de pulmão, sem mencionar os demais benefícios que traz à saúde como um todo.
O primeiro passo para transformar a atual situação do câncer de pulmão é promover a interrupção do tabagismo, seja com cigarros tradicionais, seja com eletrônicos. Essa medida é essencial para reduzir a incidência da doença. Mesmo para pacientes já diagnosticados com o tumor, a cessação precoce pode levar a um prognóstico melhor.
Existem diversas estratégias na luta contra o tabagismo. Educação sobre os males que ele pode provocar é fundamental, principalmente ao direcionar esforços para a parcela mais jovem da população. Para aqueles que já são fumantes, abordagens estruturadas a partir de programas que combinem psicoterapia e medidas farmacológicas têm altas chances de sucesso. Contar com ajuda profissional nessa empreitada faz diferença.
Atualmente, a indicação é limitada a indivíduos entre 50 e 80 anos que fumam ou interromperam o tabagismo há menos de 15 anos e cuja carga tabágica é maior que 20 maços/ano. O cálculo da carga tabágica é simples, sendo realizado a partir da multiplicação do número de anos de consumo de cigarro pelo número de maços consumidos por dia.
No campo do tratamento, por muito tempo todos os progressos associados à tão aclamada imunoterapia foram direcionados a pacientes com doença avançada, ou seja, aqueles sem perspectiva de cura. No momento desta publicação, existem pelo menos cinco grandes estudos internacionais que examinam o uso dessa estratégia baseada em “acordar” o sistema imune para atacar o câncer em pacientes antes ou após a cirurgia, todos com resultados extremamente promissores.
* Marcelo Corassa é oncologista e líder da Unidade de Câncer de Pulmão e Neoplasias do Tórax da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo; Felipe Marques da Costa é chefe da equipe COPAN de Pneumologia da BP de São Paulo
Letra de Médico - Revista VEJA