Revista Oeste
"Como é que eu vou parar tudo pra ficar te dando tapinha na cara? Tá todo mundo olhando pra cá"
— Missão dada é missão cumprida, chefe.
— Ok.
— “Ok”? Só isso?
— Senta lá que o nosso eleito tá chegando.
— Espera aí, chefia. Sabe o trabalho que deu essa missão?
— Sei.
— Pois então. Uma trabalheira dessa pra no final ouvir só um “ok”?
— O que você queria mais?
— Uns tapinhas no rosto.
— Você gosta de tapinha no rosto?
— Gosto.
— Tá bom. Na próxima eu te encho de tapa.
— Na próxima?! Quero agora.
— Agora não dá, querido. Não tá vendo essa plateia imensa de puxa-sacos esperando pra aplaudir o nosso eleito? Como é que eu vou parar tudo pra ficar te dando tapinha na cara? Tá todo mundo olhando pra cá.
— Estou te achando muito frio.
— É impressão sua.
— Não esperava passar em branco num momento como esse.
— Você não passou em branco. Te dei uma olhada de rabo de olho e um tapinha na mão.
— Quero na cara.
— Não faz birra, garoto. Prometo te dar um presente caro.
— Que presente?
— É surpresa.
— Não gosto de surpresa. Fala logo. Não quero ficar de mãos abanando.
— Tá bom. Vou reservar uma multa milionária pra você aplicar. Só você. O seu nome vai ser o único exaltado pelo William Bonner. Nem vou aparecer, a glória vai ser toda sua.
— Ok.
— “Ok”? É assim que você agradece um presentão desses?
— É um bom presente. Mas prefiro os tapas.
— Já te falei que vou dar os tapas também.
— Mas você vai dar depois. O nosso eleito deu antes. Antes até de eu cumprir a missão.
— Cada um estapeia quando pode.
— Eu já te dei a minha cara várias vezes e você nem levantou a mão. Te vejo aí ameaçando todo mundo com essa cara de mau e me dá uma vontade louca de tomar uma bofetada sua, e você nada.
— Desculpe. Ando muito ocupado.
— O nosso eleito também é muito ocupado e não negou fogo.
— Muito ocupado? Ele não faz nada o dia inteiro. Se não fosse eu, ele tava desempregado.
— Ok. Mas ele tem muita festa pra ir. Isso cansa a pessoa.
— Eu também vivo de festa em festa, fora a trabalheira de mandar em tudo e ameaçar todo mundo. Perto de mim, o nosso eleito é praticamente um playboy.
— Perdeu, playboy.
— Eu?
— É.
— Por quê?
— Porque chefão que se recusa a dar tapinha na cara dos paus-mandados não é chefão.
— Não fala isso. Eu quero ser chefão. É tudo que eu quero.
— Vou ver o que posso fazer por você.
— Vê com carinho.
— Quem quer carinho tem que dar carinho.
— Prometo te dar o dobro dos tapas que o nosso eleito te deu.
— Na cara?
— Na cara! E pode ser no meu carro oficial, pra ninguém interromper.
— De jeito nenhum.
— O que foi agora?
— Quero na frente de todo mundo.
— Ah, claro. Que besteira minha. Pode deixar, te encho de tapa na frente de todo mundo.
— Promessa é dívida.
— Missão dada é missão cumprida.
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Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste