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domingo, 18 de dezembro de 2022

Missão cumprida - Guilherme Fiuza

Revista Oeste

"Como é que eu vou parar tudo pra ficar te dando tapinha na cara? Tá todo mundo olhando pra cá" 

Ilustração: Durantelallera/Shutterstock

Ilustração: Durantelallera/Shutterstock 

— Missão dada é missão cumprida, chefe.

— Ok.

— “Ok”? Só isso?

— Senta lá que o nosso eleito tá chegando.

— Espera aí, chefia. Sabe o trabalho que deu essa missão?

— Sei.

— Pois então. Uma trabalheira dessa pra no final ouvir só um “ok”?

— O que você queria mais?

— Uns tapinhas no rosto.

— Você gosta de tapinha no rosto?

— Gosto.

— Tá bom. Na próxima eu te encho de tapa.

— Na próxima?! Quero agora.

— Agora não dá, querido. Não tá vendo essa plateia imensa de puxa-sacos esperando pra aplaudir o nosso eleito? Como é que eu vou parar tudo pra ficar te dando tapinha na cara? Tá todo mundo olhando pra cá.

— Estou te achando muito frio.

— É impressão sua.

— Não esperava passar em branco num momento como esse.

— Você não passou em branco. Te dei uma olhada de rabo de olho e um tapinha na mão.

— Quero na cara.

— Não faz birra, garoto. Prometo te dar um presente caro.

— Que presente?

— É surpresa.

— Não gosto de surpresa. Fala logo. Não quero ficar de mãos abanando.

— Tá bom. Vou reservar uma multa milionária pra você aplicar. Só você. O seu nome vai ser o único exaltado pelo William Bonner. Nem vou aparecer, a glória vai ser toda sua.

— Ok.

— “Ok”? É assim que você agradece um presentão desses?

— É um bom presente. Mas prefiro os tapas.

— Já te falei que vou dar os tapas também.

— Mas você vai dar depois. O nosso eleito deu antes. Antes até de eu cumprir a missão.

— Cada um estapeia quando pode.

— Eu já te dei a minha cara várias vezes e você nem levantou a mão. Te vejo aí ameaçando todo mundo com essa cara de mau e me dá uma vontade louca de tomar uma bofetada sua, e você nada.

— Desculpe. Ando muito ocupado.

— O nosso eleito também é muito ocupado e não negou fogo.

— Muito ocupado? Ele não faz nada o dia inteiro. Se não fosse eu, ele tava desempregado.

— Ok. Mas ele tem muita festa pra ir. Isso cansa a pessoa.

— Eu também vivo de festa em festa, fora a trabalheira de mandar em tudo e ameaçar todo mundo. Perto de mim, o nosso eleito é praticamente um playboy.

— Perdeu, playboy.

— Eu?

— É.

— Por quê?

— Porque chefão que se recusa a dar tapinha na cara dos paus-mandados não é chefão.

— Não fala isso. Eu quero ser chefão. É tudo que eu quero.

— Vou ver o que posso fazer por você.

— Vê com carinho.

— Quem quer carinho tem que dar carinho.

— Prometo te dar o dobro dos tapas que o nosso eleito te deu.

— Na cara?

— Na cara! E pode ser no meu carro oficial, pra ninguém interromper.

— De jeito nenhum.

— O que foi agora?

— Quero na frente de todo mundo.

— Ah, claro. Que besteira minha. Pode deixar, te encho de tapa na frente de todo mundo.

— Promessa é dívida.

— Missão dada é missão cumprida.

Leia também “A escuridão do TSE”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

DE OLHO NO TSE - Alexandre Garcia

Esta terça-feira (1º) é dia de reabertura do Judiciário, neste ano eleitoral. E entre as primeiras pautas, estão as federações de partidos, inventadas porque as coligações foram proibidas e é preciso saltar por cima da cláusula de barreira que pega os nanicos
- outro tema será a data de início para contar a inelegibilidade de oito anos da Lei da Ficha Limpa, outra hipocrisia igual à primeira, porque o próprio Supremo Tribunal Federal (STF) já lavou a ficha de condenado em três instancias que é hoje candidato, sem esquecer que foi o presidente do Supremo que presidiu o julgamento no Senado que baniu ad hoc da Constituição a inelegibilidade por oito anos da presidente condenada.

Não podemos nos queixar que estejam ocultando algo, porque claramente podemos acompanhar os movimentos. Tudo é feito em nossa cara, talvez na aposta de que não pensamos nem somos capazes de imitar os caminhoneiros canadenses. São evidentes as ações para fustigar o candidato à reeleição.

A obrigatoriedade de um presidente da República comparecer pessoalmente diante de um delegado da Polícia Federal na última sexta-feira (28), pode ser incluída no conjunto de provocações, como apreender o telefone celular do chefe de Estado, ou de impedi-lo de nomear um subordinado, ou de tornar pública reunião interna da Presidência, entre outras.

O tal “vazamento” do inquérito dos hackers no TSE não existiu, porque se refere a documentos distribuídos aos deputados pelo relator da Comissão Especial da PEC do Voto Impresso, deputado Felipe Barros. A comissão aprovou a requisição à Polícia Federal e recebeu os inquéritos de invasão de computadores do TSE. Não havia sigilo sobre os documentos. O delegado federal que trabalhou no caso confirmou, em depoimento, que não havia sigilo no inquérito.

O caso é de extrema gravidade, pois levanta preocupações do eleitor sobre a segurança da contagem de seu voto. Quando o presidente se manifestou sobre a violação do sistema do tribunal, aí apareceu a versão do sigilo desrespeitado, corroborada pela delegada escolhida por Alexandre de Moraes para tocar o caso.

O assunto, de 2018, estava dormido, mas a insistência do ministro Moraes despertou novamente a polêmica. Por que não emitir um comprovante, como fazem as maquininhas de cartões de crédito, como garantia de checagem, se houver dúvida? Seria tão simples. Por que ter medo disso? Além de tudo, o TSE comprou, em 2020, 180 mil urnas da Positivo, com entrada para impressora.  
 
Se as Forças Armadas vão acompanhar, a convite do TSE, certamente não será para endossar qualquer disfunção no cômputo dos votos. O mais difícil para alguns do TSE será deixar cristalina a isenção requerida em relação à disputa eleitoral.
 
 
 
Uma ministra do Supremo recém participou de reunião política em São Paulo. Há poucos meses, oito do Supremo decidiram que o condenado duas vezes em três instâncias, é elegível – e é o principal adversário do candidato à reeleição, que tem sido fustigado por juízes do mesmo tribunal, que integram o TSE. 
Vão ter que fazer um esforço sobre-humano para ganhar confiança do dono da eleição, que é o eleitor, que certamente tem acompanhado de rabo de olho toda a movimentação dos que vão apurar o voto que é origem do poder.
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES