Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
O calcanhar de aquiles do sistema eleitoral brasileiro,
que fragiliza (e, no limite, inviabiliza) a nossa democracia, permanece
exposto: a própria existência de uma Justiça Eleitoral
Foto: Reprodução/Shutterstock
“Perdeu, mané, não amola.”
(Luís Roberto Barroso, ministro do STF, respondendo a um cidadão brasileiro em Nova Iorque, em 15 de novembro de 2022)
Na cidade que nunca dorme, em evento patrocinado pela empresa de João Doria (e, portanto, legalmente impróprio para magistrados), o ministro Alexandre de Moraes disse que a “desinformação”, supostamente causada pela ausência de regulamentação na internet, está corroendo a democracia brasileira. Ato contínuo, produziu ele mesmo uma grosseira peça de desinformação, ao reincidir na mentira segundo a qual o relatório do Ministério da Defesa, encaminhado ao TSE no dia 9/11, não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral.
Recorde-se que, em nota do dia 10/11,o próprio Ministério da Defesa fez questão de contraditar essa interpretação, ao afirmar textualmente que o relatório produzido não excluiu a possibilidade de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas.
Mas, não bastasse esse desmentido à fake news produzida pelo TSE, a nota foi além, solicitando esclarecimento sobre aspectos sensíveis do processo eleitoral.
O Ministério da Defesa menciona três pontos em especial:
a) um possível risco à segurança na geração dos programas das urnas eletrônicas, devido à ocorrência de acesso dos computadores à rede do TSE durante a compilação do código-fonte;
b) a precariedade dos testes de funcionalidade das urnas, que não foram suficientes para afastar a possibilidade da influência de um eventual código malicioso capaz de alterar o funcionamento do sistema de votação; e c) as restrições ao acesso adequado dos técnicos ao código-fonte e às bibliotecas de software desenvolvidas por terceiros, inviabilizando o completo entendimento da execução do código.
A nota conclui afirmando não ser possível“assegurar que os programas que foram executados nas urnas eletrônicas estão livres de inserções maliciosas que alterem o seu funcionamento”.E cobra do TSE, com urgência, “a realização de uma investigação técnica sobre o ocorrido na compilação do código-fonte e de uma análise minuciosa dos códigos que efetivamente foram executados nas urnas eletrônicas”, investigação a cargo de uma comissão técnica independente, formada por especialistas da sociedade civil e representantes das entidades fiscalizadoras. A resposta de Moraes veio no estilo que tem se tornado marca registrada da militância togada que se imagina dona do país: o deboche. Atribuindo o teor da nota a motivações políticas, o supremo censor da República ironizou sua pretensa inconclusividade: “Pode ser que no universo tenha ou não tenha vida extraterrestre”.
Sem ter como dar uma resposta satisfatória para além do escárnio, Moraes e seus pares resolveram escalar a censura como forma de proibir a pergunta.
Mas o calcanhar de aquiles do sistema eleitoral brasileiro, que fragiliza (e, no limite, inviabiliza) a nossa democracia, permanece exposto: a própria existência de uma Justiça Eleitoral, com tantas atribuições, inclusive a de organizar as eleições, algo que não acontece no restante do mundo.
Com 90 anos completos, o TSE — essa jabuticaba concebida pelo ditador Getúlio Vargas, em maio de 1932 — é o único órgão integrante da Justiça brasileira que detém funções administrativas e normativas que extrapolam seu âmbito jurisdicional. Embora seja chamado de“Tribunal”,a Corte assume toda a administração executiva, gerencial, operacional e de normatização do processo eleitoral brasileiro. “É um exemplo único no mundo” — admitiu o ministro do STF Dias Toffoli ao Jornal do Senado, em setembro de 2010.
Mas, além de tamanha concentração de poder já ser em si mesma um problema— concentração que leva as autoridades eleitorais a se apresentarem frequentemente como encarnação da democracia, e não apenas como seus garantidores nominais —, o fato é que, na prática, a Corte Eleitoral não consegue dar conta de tantas atribuições, delegando boa parte delas a empresas terceirizadas (sob controle do TSE apenas em tese). Sendo muitas dessas empresas estrangeiras — e, pior ainda, ligadas a políticos e partidos políticos —, há muitos atores externos com acesso privilegiado ao nosso sistema eleitoral, atores com capacidade potencial de interferir na transmissão de programas, na transmissão de dados e na contagem dos votos.
Sendo extremamente vulneráveis as urnas eletrônicas de primeira geração (conhecidas pela sigla DRE, de direct recording electronic voting machine) —vulnerabilidade já demonstrada por técnicos independentes, como o professor Diego Aranha, da Unicamp—, o acesso concedido a agentes externos com potenciais interesses políticos e financeiros no resultado das eleições brasileiras torna-se um problema de segurança nacional.
Como concluíra o relatório de auditoria independente contratada pelo PSDB em 2014:“Os riscos catastróficos/gravíssimos significam que a urna brasileira estaria vulnerável a diversos tipos de ataques, desde atos de sabotagem para atrapalhar as eleições até atos que poderiam mudar os resultados da última eleição e, pior, sem deixar rastros que poderiam detectar indícios de fraudes, como relatado anteriormente”.
Das várias medidas relativas ao processo de preparação, organização e processamento das eleições no Brasil, o TSE está diretamente a cargo de apenas um terço, que inclui o cadastramento dos candidatos, a divulgação dos resultados, a auditoria das campanhas, a certificação das campanhas e a diplomação dos eleitos.
Os outros dois terços de medidas operacionais — que incluem coisas como a programação do software das urnas eletrônicas, a fabricação das urnas, o armazenamento e a segurança das urnas, a coleta de dados dos eleitores, o carregamento dos softwares nas urnas, o transporte das urnas, a coleta dos votos, o transporte dos votos para os cartórios eleitorais, a transmissão dos votos para os TREs e o TSE e o processamento dos resultados — são conduzidos por empresas terceirizadas e indivíduos convocados para o dia da eleição,com pouca supervisão do TSE e nenhum compromisso formal com o eleitorado brasileiro.
Os técnicos demonstraram ser relativamente simples fraudar eleições na ausência de contagem física dos votos, e nas quais o boletim de urna apenas confirma uma fraude já realizada no interior do software
Uma dessas terceirizadas, que dominou o mercado brasileiro por muito tempo, é a empresa Diebold Election Systems Inc. Antes de ser substituída pela Positivo Tecnologia — empresa fundada pelo senador Oriovisto Guimarães (Podemos),que venceu a licitação para fabricar as urnas das eleições de 2022 —,a Diebold fabricou as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições brasileiras de 2000 até 2020.
Envolvida numa série de suspeitas de ilegalidade desde quando, em 2003, o seu diretor-executivo, Walden O’Dell, se envolveu na campanha de arrecadação de fundos para o então presidente e candidato à reeleição, George W. Bush (ver, sobre o tema, reportagem do New York Times), a empresa teve suas urnas escrutinadas por experts em segurança da informação.
No escândalo conhecido como Hursti Hack — a partir do nome de um dos participantes do escrutínio, o programador finlandês Harri Harras Hursti —, uma série de falhas graves de segurança foi identificada nas urnas eletrônicas fabricadas pela Diebold.
As falhas foram detectadas em um conjunto de testes de “hackeamento” promovido pela ONG Black Box Voting, em parceria com os produtores do documentário Hacking Democracy, lançado pela HBO, em 2006. Testes similares foram conduzidos por especialistas da Universidade de Princeton,que também conseguiram “hackear” as urnas e alterar a contagem de votos.
Devido às fragilidades no sistema e às suspeitas de comércio de votos por parte de seus executivos, a Diebold foi banida de vários Estados norte-americanos.
E, depois de ter dois presidentes afastados, parou definitivamente de fabricar urnas eletrônicas nos EUA, entregando, no ano de 2009, a sua divisão de eleições para a Dominion Voting Machines — que então participou das eleições norte-americanas mais suspeitas da história, que deram a vitória a Joe Biden, contra Donald Trump, em 2020.
Enquanto tudo isso se passava nos EUA, a Diebold permaneceu tranquilamente no mercado brasileiro, alheia à vigilância do TSE. De 2002 a 2020, foi a fornecedora exclusiva das urnas brasileiras, ganhando todas as concorrências e contando com pareceres favoráveis por parte da Justiça Eleitoral.
A tal ponto foi seu monopólio no nosso mercado eleitoralque a filial brasileira da Diebold se tornou responsável por quase 50% do faturamento global da empresa.
Num tempo em que questionar as urnas de tipo DRE e exigir o voto impresso auditável eram gestos ainda relativamente corriqueiros no país — e não, como hoje, motivo de escândalo e acusações de blasfêmia —, Queiroz travou com a jornalista o seguinte diálogo: Mariana Godoy (MG): “Eu queria saber o seguinte: ‘O senhor na época em que foi eleito deputado federal teve quase 100 mil votos, teve 94 mil votos e foi considerado um bom parlamentar. Por que não foi reeleito?”.
Protógenes Queiroz (PQ):“Fraudes nas urnas eletrônicas. Sério. Inclusive isso dito logo depois de o resultado ser proclamado, várias pessoas que… Dizem até que isso é conversa de parlamentar perdedor, mas muitas pessoas confirmaram que votaram em mim, e o voto não apareceu na urna. Eu não me dei por satisfeito com aquela situação; me dirigi ao dr. André, que era o procurador-geral da República, o dr. Pedro Barbosa Pereira Neto, com os meus mapas eleitorais, analisamos nós três, no gabinete da Procuradoria Regional da República, e nós três ficamos assustados com as coincidências de urnas com zero voto onde havia eleitores que tinham votado.Tinha que ter pelo menos um voto, tinha zero voto! E muitas urnas… O trabalho não foi muito bem-feito de fraude, porque a fraude foi estampada, e imediatamente o procurador-geral da República, o dr. André, chegou à conclusão de que tinha que fazer uma representação de fraude, à época, ao presidente do TSE, Dias Toffoli, ministro do STF. Essa representação ficou tramitando, eu retornei à Polícia Federal, em fevereiro de 2015, com o encerramento do meu mandato, e eu mesmo fui investigar a minha fraude. E consegui identificar um dos fraudadores; denunciei isso ao Ministério Público Regional Eleitoral…”
MG: “Ele admite a fraude?”
PQ:“Ele admite a fraude. A fraude foi feita pela empresa na época, em ambiente da Diebold, que era a empresa que fabrica as urnas eletrônicas, que é responsável pelo software das urnas eletrônicas. Ele é um dos técnicos engenheiros operacionais, é um técnico de Osasco, inclusive, e ele falou como fraudou a minha eleição e como fraudou outras inclusive”.
MG: “Outras?”
PQ: “Outras eleições. Ele colaborou para fraudar eleição de governador, da própria última eleição da presidente Dilma contra o Aécio Neves”.
MG: “O senhor está dizendo que um técnico que trabalha com as urnas eletrônicas falou que houve fraude favorecendo a ex-presidente Dilma?”
PQ:“A ex-presidente Dilma Rousseff. Ele fraudou. Ele prova tecnicamente como foi feita a fraude. Ele materializa como foi feita a fraude”.
A denúncia de Queiroz, ignorada e posteriormente apagada do noticiário, condizia com o que foi identificado nos testes da Universidade de Princeton com as urnas da Diebold.
Na ocasião, inserindo um programa malicioso de alteração de resultados, os técnicos demonstraram ser relativamente simples fraudar eleições na ausência de contagem física dos votos, e nas quais o boletim de urna apenas confirma uma fraude já realizada no interior do software.
Tudo o que precisavam era ter acesso à urna já carregada por menos de um minuto, inserir o cartão de memória carregado com o programa alterado, ligar a urna até ela dar o boot inicial e, em seguida, desligá-la. Finda a votação, o programa se autodeletava, sem deixar traço. Uma outra forma de fraude — realizada a qualquer momento prévio ao carregamento das urnas com o software inicial — consistia em inserir um programa-vírus na mídia de carregamento(o “pen drive”), que então contaminaria todas as urnas que carregasse. A fraude batia com denúncias frequentes de urnas sendo ligadas antes das eleições ou substituídas sem motivo aparente.
O fato é que, desde que surgiram os sistemas eletrônicos de votação, o “negócio do voto” — para usar o título da já citada reportagem do NYT —, se tornou muito mais sofisticado e especializado.
Se, por um lado,sempre houve fraude, adulteração e comércio ilegal de votos, o ambiente eletrônico tornou tudo mais obscuro e de difícil identificação, tanto assim que quase todos os países do mundo abandonaram os sistemas de votação integralmente eletrônicos, sem VVPAT(voter verifiable paper audit trail, ou “documento de auditoria em papel verificável pelo eleitor”).
Como tudo o mais, o negócio do voto globalizou-se, e cada eleição nacional envolve players do mundo inteiro, com os mais variados interesses, quer pecuniários e mercenários, quer político-ideológicos.
Com o seu sistema centralizado, e a baixa capacidade de fiscalizaçãoe controle das terceirizadas envolvidas no processo, o Brasil é particularmente vulnerável a esses interesses e a possíveis interferências externas, para não dizer de eventuais manipulações internas.
E, para piorar a situação, tudo o que as autoridades eleitorais e sua imprensa amestradatêm oferecido em relação a essa vulnerabilidade são arrogância, autoproteção e autoritarismo.
Mais que para garantir a transparência e a confiabilidade do processo, tudo o que fazem é tentar censurar e intimidar o eleitor desconfiado, que, por consequência óbvia, termina mais e mais desconfiado.
Provam-no as multidões de brasileiros que saem às ruas do país e do mundo indignadas não apenas com o resultado eleitoral, mas com o caráter vicioso e desequilibrado de todo o processo.
O que dificilmente se conseguirá com isso é recuperar a credibilidade do sistema e, sobretudo, do tribunal que o conduz de maneira tão soberba.Como se diz por aí, o problema do malandro é justamente o de achar que todo mundo é mané…
Não é esse o Supremo Tribunal Federal a que a Nação aspira e a Constituição prescreve
“No Supremo, não se faz justiça quando se quer, se faz justiça quando se pode”, Ministro Moreira Alves
“De todas as nossas paixões e apetites, o amor ao poder é o de natureza
mais imperiosa e insociável, pois a soberba de um homem exige a
submissão da multidão.”
A frase é do historiador Edward Gibbon
(1737-1794), autor da monumental obra Declínio e Queda do Império Romano
(Ed. Companhia das Letras, SP, pág. 93). Na doutrina da Igreja
Católica, soberba, ira, luxúria, gula, avareza, inveja e preguiça são
pecados capitais, manifestações de revolta contra Deus que provocam a
destruição moral do homem e a condenação ao inferno. Segundo o Moderno
Dicionário da Língua Portuguesa, Michaelis, por soberba entende-se a
manifestação ridícula e arrogante de orgulho ilegítimo, que tem como
sinônimos perfeitos orgulho, presunção.
Conquanto presente na vida privada, na qual se manifesta em ridículas
demonstrações de vaidade combinadas com mediocridade, a soberba é
encontrada mais frequentemente na vida pública,quando se projeta de
forma agressiva, sem disfarces, sob a proteção do espírito de corpo, da
vitaliciedade, do mandato, da toga. A Praça dos Três Poderes é cenário ideal para manifestações de soberba.
Poucos que a habitam conseguem escapar à atração do pecado. Por lá
também passaram homens e mulheres despidos de vaidade. No período em que
residi em Brasília, conheci exemplos de humildade e modéstia no
Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Não eram muitos. A fútil
sensação de estar investido do exercício do poder, e de que este é
infinito no tempo e no espaço, põe a perder boas vocações para a vida
pública, esquecidas de que do êxito ao exílio a distância é diminuta.
O Supremo Tribunal Federal (STF) permaneceu décadas protegido pelo manto
da discrição. Enquanto esteve sediado no Rio de Janeiro (1829-1960),
raros eram os brasileiros, alheios ao reduzido círculo das profissões
jurídicas, que o conheciam. Nomes de ministros permaneciam ignorados
pela maioria da população. Exceção feita a decisões de repercussão
histórica, como as encontradas na obra do ministro Edgard Costa Os
Grandes Julgamentos do Supremo Tribunal Federal (Ed. Civilização
Brasileira, RJ, 1964), debates entre ministros e intervenções dos
grandes advogados ficavam confinados às páginas do Diário da Justiça e a
repertórios de jurisprudência, não reverberando entre pessoas do povo.
Livros jurídicos sobre o STF proporcionavam limitadas edições, jamais
alçando à categoria dos mais vendidos. O regimento interno do tribunal
era assunto de pouco interesse, sendo raros os advogados interessados em
consultá-lo. O ministro Celso de Mello, decano da Corte, é autor do
opúsculo Notas sobre o Supremo Tribunal (Império e República),
radiografia gráfica que dá a conhecer as alterações de denominação do
órgão de cúpula da Justiça brasileira. O STF já se chamou Casa de
Suplicação do Brasil, instalada pelo príncipe regente dom João em
15/5/1808; Supremo Tribunal de Justiça, denominação adotada pela
Constituição de 1891; Corte Suprema, nome que lhe deu a Constituição de
1934; e, finalmente, Supremo Tribunal Federal a partir da Carta
Constitucional de 1937.
A vida recatada do STF sofreu brusca alteração após a promulgação da
Constituição de 1988, com o advento da TV Justiça e a transmissão ao
vivo das sessões.Não existem armas tão perigosas quanto o microfone e a
câmera de televisão. São mais letais do que o fuzil.Presidi o Tribunal
Superior do Trabalho (TST) antes da TV e da mudança para o prédio
projetado por Oscar Niemeyer, destinado a disputar com o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) em área construída e magnificência, como são
as obras do célebre arquiteto. Reconheço as diferenças.
Desde as greves de São Bernardo valorizo o poder da mídia. No exercício
da liberdade de que está investida, constrói e destrói reputações no
espaço de minutos. Já aposentado, foi-me concedida a oportunidade de
acompanhar as transmissões dos julgamentos pelo STF e de constatar como
senhoras e senhores que se deveriam resguardar sob a proteção da toga
aceitaram se envolver em exibições de poder e erudição e não vacilaram
nas manifestações de orgulho, rivalidade e ira.
Não sou eu quem o diz. Valho-me do livro Os Onze – O STF, seus
Bastidores e suas crises(Ed. Companhia das Letras),escrito pelos
jornalistas Felipe Recondo e Luiz Weber, que põe a nu as entranhas do
Supremo Tribunal com impiedosa revelação da realidade camuflada por
expressões do tipo“eminente ministro” e “vossa excelência”. Reveladora é
a passagem em que o ministro Edson Fachin declara que, entre advogado,
professor e ministro, a diferença é“aquele paninho” ele tem “em cima
das costas” (pág. 129).
Mesmo para o cético observador é cruel saber que a guarda da
Constituição, promulgada sob a proteção de Deus para instituir um Estado
democrático destinado a assegurar a liberdade, a segurança, o
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, como diz o
Preâmbulo, está nas mãos de ministras e ministros conduzidos pela
soberba.“A vitaliciedade do cargo transforma os ambientes em cápsulas da
personalidade de cada ministro, os quais também impõem suas normas de
estilo ao gabinete” (pág. 50). Na visão dos autores de Os Onze, o STF
dos nossos dias se transformou em arquipélago de 11 ilhas
incomunicáveis, ou Estados autônomos e independentes, cada um deles
capaz de declarar guerra ao Estado inimigo– o colega ao lado –, fazer
sua própria política externa – com os outros Poderes – e pautar-se por
um regramento próprio (pág. 44).
Não é esse o Supremo a que o povo aspira e a Constituição prescreve. A
continuar assim, acabará por dar razão ao impetuoso deputado Eduardo
Bolsonaro, que ameaçou fechá-lo com um soldado e um cabo.
O Estado de S. Paulo - Almir Pazzianotto Pinto, advogado, ex-ministro do Trabalho e ex-presidente do TST
Ministro da Justiça e procuradores foram vítimas da própria ilusão de impunidade
Esta semana começou com a divulgação de pretensos diálogos por Telegram
entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e os
procuradores da força-tarefa da Lava Jato, coordenados por Deltan
Dallagnol, revelando um pretenso acordo entre eles na condução de um
processo da operação. Se forem verdadeiras – e nada até agora pode ser
dito em contrário, com a agravante de os acusados em suas manifestações
não as terem negado –, essas conversas, só pelo que foi divulgado até
agora, são nitroglicerina pura na política, na Justiça, no governo e no
Brasil.
As alegações apresentadas são desprezíveis. O jornal online The
Intercept Brasil, que publicou as mensagens, é veiculado no País, desde
agosto de 2016, pela empresa americana First Look Media, criada e
financiada por Pierre Omidyar, fundador da eBay. E editada pelo advogado
também americano, especialista em Direito Constitucional e
ex-jornalista do diário britânico The Guardian Glenn Greenwald; pela
cineasta, documentarista e escritora Laura Poitras; e pelo jornalista
investigativo (natural dos EUA) Jeremy Scahill, especialista em assuntos
de segurança nacional e autor do livro Blackwater: The Rise of the
World’s Most Powerful Mercenary Army. Greenwald é casado com o
brasileiro David Miranda, eleito vereador do Rio de Janeiro pelo Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL) e, atualmente, deputado federal na vaga
de Jean Wyllys, que renunciou à cadeira na Câmara para sair do País,
onde se dizia ameaçado. Adversária do impeachment da petista Dilma
Rousseff, a publicação não é certamente imparcial. E daí? A Constituição
federal garante o direito de qualquer veículo de comunicação exercer
livre manifestação de opinião, desde que não publique mentiras.
A parcialidade questionada pela notícia, que explodiu como uma bomba de
efeito devastador domingo (9/6), à noite, é a do ex-juiz da 13.ª Vara
Criminal de Curitiba, em teoria pilhado em combinações estratégicas com
procuradores federais em ação sob seu julgamento. Conforme o que foi publicado até agora e na expectativa de que novos
fatos venham a ser revelados pelo responsável pela divulgação, esse
herói nacional, por mercê de seu desempenho na operação em tela, teria
interferido no trabalho do MP. A iniciativa feriria o princípio básico
da isenção do julgador, proibido de manifestar qualquer parti pris na
tarefa de decidir quem tem razão: o Ministério Público, que, em nome do
Estado, acusa o suspeito, e a defesa do acusado. Caso sejam mesmo
autênticas as mensagens trocadas entre Moro e Dallagnol, levando em
conta o fato de os outros diálogos até agora revelados não representarem
abusos de conduta, mas apenas opiniões pessoais, a revelação é grave.
A eventual inclinação do juiz a aceitar os argumentos dos procuradores,
em detrimento das negativas apresentadas insistentemente pelos
defensores de Lula, os levará a pedir a anulação da sentença em primeira
instância do processo sobre recebimento de propina e ocultação de
patrimônio do triplex do Guarujá. Não implica, contudo, a automática
inocência do réu, que dependerá de serem reformadas decisões unânimes de
duas instâncias superiores, a segunda e a terceira, sobre o caso. De
igual forma, a presunção tem sido contestada em outras varas. Há nova
condenação do mesmo réu em idêntico juízo, da lavra da substituta
eventual de Moro, Gabriela Hardt, e que o substituto permanente, Luiz
Antônio Bonat, já encaminhou para ser julgada na Oitava Turma do
Tribunal Federal Regional da 4.ª Região, em Porto Alegre. Assim, Lula
responde a sete processos. No mais recente, o juiz Vallisney de
Oliveira, da 10.ª Vara da Justiça Federal em Brasília, o tornou réu com
Palocci e Paulo Bernardo, sendo o trio acusado de ter acertado receber
US$ 40 milhões (R$ 64 milhões, à época) em propinas pagas pela
empreiteira então presidida por mais um réu, Marcelo Odebrecht.
Ou seja, é bem longo e árduo o caminho perseguido pela defesa de Lula
para soltá-lo. [caso ocorra o absurdo da soltura de Lula - poderá ser solto por progressão de regime (isso se até sua eventual mudança de regime do fechado para o semiaberto, a segunda condenação, prolatada pela juíza Gabriela Hardt, não tiver sido confirmada pelo TRF-4; confirmada, Lula automaticamente permanecerá em regime fechado, devido a nova sentença alterar o prazo para progressão;
e ocorrendo a confirmação, estando Lula no semiaberto, volta para o fechado pela mesma motivação.] A ser provado em processo judicial, que costuma ser lento
e complicado, o que foi revelado até agora mais prejudica Moro e os
procuradores da Lava Jato, em especial Dallagnol, do que beneficia o
presidiário mais famoso do Brasil,pilhado em vários passeios pelo
Código Penal. Mesmo que The Intercept Brasil não tenha esgotado sua
munição contra o ex-juiz da Lava Jato,será difícil a escalada do
Himalaia de acusações por Lula, a não ser que a divulgação tenha sido
autorizada por um juiz. Aí, a permanência de Moro no Ministério da
Justiça ficaria insustentável. E isso dependerá menos da reação daopinião pública, que o idolatra e não confia nas instâncias superiores
do Judiciário, às quais caberá julgá-lo, mas das circunstâncias
políticas, que poderão levar o presidente Jair Bolsonaro a abrir mão do
justiceiro, se passar a ser considerado suspeito de parcialidade. [com a devida vênia ao ilustre articulista, consignamos que as provas sendo ilegais, visto sua obtenção por meios criminosos, não possuem validade .
Também há sérias dúvidas sobre a veracidade do conteúdo, já que sua publicação não é suportada por uma das mais elementares formas de garantia de autenticidade - captura de tela, além do fato de que é comum a conversa ampla entre juízes, procuradores, advogados, etc.
Abaixo pequeno trecho do despacho exarado pelo ministro Fachin,STF, em voto proferido em processo referente ao presidiário petista:
"Cumpre
consignar que ninguém está acima da lei, especialmente da
Constituição: nem
administradores, nem parlamentares, nem mesmo juízes.
Procedimentos heterodoxos
para atingir finalidade, ainda que legítima, não devem ser
beneplacitados."
Se for institucionalizado no Brasil o costume de praticar crimes para punir outros, estaremos sob, para dizer o mínimo, a Lei de Lynch.]
Assim, até novembro de 2020, daqui a um ano e meio, quando o decano do
Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, se aposentar, é de
duvidar que mesmo uma mão forte do chefe do governo bastaria para
alçá-lo ao pináculo da Justiça, mantendo a promessa que até agora, tudo
indica, mantém. Até então, o herói popular das manifestações de rua de
2016 para cá terá muitas noites para lamentar a mistura de
infantilidade, soberba e senso de impunidade que conduziu seus surtos de
adolescência leviana e bastante tardia. Seu companheiro em travessuras
virtuais, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol,
também lastimará o instante em que acreditou na lorota de que o
aplicativo russo é um meio de comunicação pessoal à prova de hackers.
Estes dificilmente serão identificados. Pois, talvez seja de bom alvitre
avisar que a experiência pregressa não autoriza expectativas favoráveis
no caso.
A seus carrascos, que ora comemoram, é útil lembrar que restará a Moro e
Dallagnol a saída pelo voto, pois parecem manter a devoção popular. [ excelente o transmitido por este parágrafo, visto que o até agora liberado não fornece motivos para os que apoiadores de Moro e procuradores deixem de apoiá-los e o povo avaliará que o que eles fizeram era necessário para combater a corrupção.
Como bem disse o ministro Barroso: "a corrupção ocorreu...".]
A
preguiça de dialogar com políticos, os surtos de ira e a soberba estão entre os
erros que fizeram Dilma perder a presidência da República
Gula
Dilma emagreceu 20 quilos no período de pouco mais
de um ano e emagreceu o país ao fazê-lo mergulhar na pior recessão econômica de
sua história desde os anos 30 do século passado. Nem
por isso deixou de atentar contra o pecado da gula.
Presidente
algum, nem mesmo os da ditadura de 64, se empenhou tanto em concentrar o poder
como Dilma o fez. Seu apetite era insaciável. Confiou em poucos auxiliares. E mesmo desses costumava duvidar
quando lhe diziam o que não queria ouvir. “Não,
você não entende de nada disso”, gritava se a opinião de um a contrariasse.Dilma jamais inspirou ternura ou respeito
entre os que a cercavam. Inspirava temor. Certa vez, de
tão assustada com o que ela lhe disse,uma ministra da área social fez pipi na calça. Um executivo de
empresa moderna delega poderes, estabelece metas e cobra resultados. Dilma
cobrou resultados sem delegar suficientes poderes. Foi uma gerente à moda antiga e, como tal, ineficiente.Na organização de esquerda na qual
militou nos anos 70, ganhou fama como tarefeira. Fazia o que lhe mandavam. E só se distinguiu por isso.
Avareza
Ganha um
fim de semana com Dilma no Palácio da Alvorada quem apontar uma dezena de pessoas alvos de elogios feitos por ela. Risque
a palavra elogio do vocabulário capenga de Dilma. O que move gente, o que a leva a superar limitações, é o
reconhecimento. Sem ele não se consegue desempenho acima da média. A maioria dos ministros escolhidos por Dilma destacou-se por
sua mediocridade ou falta de iniciativa. Mas mesmo os que não eram
medíocres, acabaram se igualando aos demais por falta de incentivo.
Fernando
Haddad, atual prefeito de São Paulo, largou o Ministério da Educação. Nelson
Jobim, o Ministério da Defesa para não ter que brigar com Dilma. O ex-ministro Edison Lobão, de Minas e Energia, resignou-se a
tocar um ministério com nomes indicados por Dilma para os cargos mais
estratégicos. Aproveitou o tempo disponível para fazer negócios e se dar
bem. É hoje investigado pela Lava Jato.
Luxúria
O desejo egoísta por todo o prazer corporal e
material está longe de marcar o desempenho de Dilma como presidente. Mas o desejo de sentir-se
superior em relação aos seus semelhantes é também uma forma de luxúria, e desse
mal ela padeceu.Enquanto foi ministra de Lula, comportou-se face a ele como uma humilde
cumpridora de ordens. Uma vez, acertou-se com Geddel Vieira Lima, então
ministro da Integração Nacional, sobre o trecho por onde deveria começar a
transposição das águas do rio São Francisco. Depois, ela o acompanhou à uma
reunião com Lula. Ouviu Geddel dissertar sobre as vantagens do trecho
escolhido, mas calou-se quando Lula discordou. Então passou a defender o ponto
de vista de Lula.
A
necessidade de afirmação de Dilma agravou-se tão logo ela foi eleita para
suceder Lula. Exigiu, a partir dali, ser tratada como “presidenta”. Jamais furtou-se a humilhar os que somente tolerava. Expulsou um general do elevador privativo
do Palácio do Planalto.Fez chorar José Sérgio
Gabrielli, presidente da Petrobras.E
deixou em pânico o jardineiro do Alvorada ao culpá-lo pela bicada de uma ema
no cachorro que ela ganhara de presente do ex-ministro José Dirceu.
Ira
Um dos ministros do governo inicial de Dilma deu-se
ao prazer de anotar os frequentes surtos de ira que a acometia. Quando já colecionava 16
episódios em dois anos, abdicou do trabalho. Os surtos haviam se banalizado. Alguns se tornaram famosos em 13 anos
de governos do PT.
Dilma era
ministra das Minas e Energia e recebia um deputado da oposição quando Erenice
Guerra e um assessor irromperam em seu gabinete. Erenice limitou-se a estender
um papel para Dilma, que depois de lê-lo, explodiu: “Esses caras estão pensando o quê? Que vão botar aqui?” – e apontou
para a própria bunda. “Aqui, nem a
ditatura pôs”. Tão logo Erenice e o assessor saíram, Dilma começou a
gargalhar. Virou-se para o deputado e disse:
“Essa gente tem de ser tratada assim”. Picou o papel e retomou a conversa. Como presidente, Dilma protagonizou o que
ficaria conhecido como“A guerra dos cabides”. Irritada com a arrumação
do seu guarda-roupa no Alvorada, começou
a jogar cabides em Jane, a camareira. Que reagiu jogando cabides nela. Jane
acabou demitida, mas depois presenteada com outro emprego em troca do seu
silêncio.
Inveja
Quem se
acha não inveja seus semelhantes. A não
ser que reconheça que pelo menos um deles possa lhe ser superior.A inveja de Lula responde por uma série
de atritos que Dilma teve com ele, prejudicando seus governos. No primeiro,
logo de saída, ela quis mostrar que não seria tolerante como Lula fora com
suspeitos de corrupção. Nascia, ali, a “faxineira
ética”, capaz de demitir sete ministros em menos de um ano. Nos anos
seguintes, aconselhada por Lula, ela readmitiu alguns e empregou representantes
dos outros para garantir apoio à sua reeleição. A faxineira ética teve vida curta.
Havia um
pacto não escrito firmado por ela com Lula que permitiria o retorno dele à
presidência em 2014. Dona Marisa, mulher de Lula,
jamais perdoou Dilma por ter passado seu marido para trás. Dilma é mulher de confronto. Lula só
confronta da boca para fora. Ela ganhou a parada, mas, por pouco, não
perdeu a eleição para Aécio Neves, candidato do PSDB. Ganhou, também, a mágoa
de Lula para sempre. “Eu errei, não
deveria ter escolhido essa mulher”, repete ele à exaustão.
Preguiça
De dar
longos expedientes, certamente não. De ler relatórios e de anotá-los, também
não. De meter-se em tudo, inclusive no que não deveria, tampouco. A preguiça de
Dilma, talvez a forma mais perversa de preguiça, foi de ouvir, de conversar, de
trocar ideias, de conviver com pessoas.Dilma é uma mulher solitária e atormentada
por seus demônios. Amava o pai. Não se dava bem com a mãe, e ainda não se dá.
Considera a filha “insuportável”,
como uma vez confessou. A mãe mora com ela no Alvorada. Mas antes morava com o
ex-marido de Dilma em Porto Alegre.
Quando a Câmara aprovou o
impeachment, o
ministro Jaques Wagner sugeriu a Dilma que telefonasse para cada um dos 137
deputados que haviam votado contra. Seria um gesto simpático. Wagner entregou a
Dilma a lista dos 137 com pelo menos dois ou três números de telefone de cada
um. Destacou quatro telefonistas para
fazerem as ligações. Dilma não quis.
O vice Michel Temer telefonou
para quase todos os 367 deputados que votaram a favor do impeachment. Muitas razões explicam a queda
de Dilma, mas talvez a principal seja o fato de ela não gostar de ninguém e de
ninguém gostar dela.
Soberba
A vaidade é o pecado preferido do carismático
personagem vivido por Al Pacino no filme“Advogado do
Diabo”. A soberba talvez tenha sido o pecado preferido de Dilma. Por
soberba, ela desprezou os políticos em geral, e a maioria deles em particular. Evitou aproximar-se deles. Evitou
recebê-los. Tratou-os como cargas que era obrigada a carregar. Ao
então deputado Paulo Rocha (PT-PA), referindo-se à sua atividade na Câmara, uma
vez ela observou: “Não sei como você
suporta isso”. Há mais de três anos que o ex-senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) pede para ser recebido por ela – sem sucesso.
Diante do risco de a Lava Jato
bater à sua porta antes da reeleição, Dilma divulgou uma nota que afastava qualquer
culpa dela, mas que deixava Lula exposto à suspeita de
que a roubalheira na Petrobras fora obra dele, sim. Pode ter sido. Mas
pode ter sido de Dilma também.Por mais
que a soberba a impeça de reconhecer,
ela e Lula estarão ligados para sempre pela história do país. Para o bem ou
para o mal. Hoje, são as conveniências, apenas elas, que os fazem encenar
uma parceria que já se desfez.